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    Já com o Hayato, na cidade de Okinawa, ele estava limpando o terraço da frente do templo de sua mestra, já fazia algum tempo desde que ele tinha chegado a tal lugar, e desde que pisou o pé lá, os treinos estavam sendo muito intensos, o Hayato estava sofrendo a cada dia nas mãos daquela mulher psicopata

    Mas era o preço a se pagar para ficar minimamente forte e ter a capacidade de proteger a quem ele mais ama na sua vida, tudo aquilo era por causa da Yuna e dos seus amigos

    O vento noturno corria suave por entre os telhados antigos do templo, movimentando os sinos pendurados sob as extremidades da madeira. O delicado tilintar ecoava pelo pátio vazio, acompanhando o brilho frio da lua cheia que iluminava todo o terreno. O templo onde Hayato treinava ficava numa das áreas mais antigas de Okinawa, afastado das luzes vibrantes do centro da cidade, guardando um silêncio quase sagrado.

    Hayato estava sentado nos degraus da entrada frontal, com os cotovelos apoiados nas pernas e o olhar perdido no céu. O suor seco ainda marcava sua camiseta escurecida pelos treinos, e suas mãos doíam suavemente, com pequenos cortes que ele nem tinha percebido durante o dia.

    Era difícil. Difícil demais.

    Mas quando ele fechava os olhos, o rosto de Yuna aparecia. O sorriso tímido. A forma como ela sempre tentava fingir que não se preocupava com ele. Os amigos — Yoru, Ben, Hiroshi, todos eles — vinham em flashes na memória. Era por eles que ele estava ali. Era por eles que suportava aquela mulher maluca que quase o colocava para treinar até desmaiar.

    Os sinos soaram de novo.

    Ele ouviu passos leves vindo de dentro do templo. Passos quase inaudíveis, mas ainda assim identificáveis. Ninguém andava tão silencioso quanto Aiko.

    A porta correu suavemente, e a figura dela apareceu. Usava um moletom grosso por cima do top de treino, calça de tecido leve, e tinha o cabelo preso em um coque meio solto, alguns fios caindo sobre o rosto. A expressão dela era tranquila, mas seus olhos — sempre eles — carregavam algo pesado, antigo… quebrado.

    Ela caminhou até Hayato sem dizer nada e sentou ao lado dele, as mãos apoiadas nos degraus de pedra. O silêncio durou alguns segundos, até que ela finalmente falou:

    — Noite bonita, não é? — murmurou.

    — É… — Hayato respirou fundo. — Aqui parece que o tempo anda diferente.

    — Porque anda mesmo. — Aiko sorriu de lado. — Lugares como este preservam memórias. E memórias têm peso.

    Ele virou o rosto para ela.

    — Memórias?

    Aiko não respondeu de imediato. Olhou para a lua. Inspirou profundamente. Depois continuou, com um tom mais sério:

    — Hayato… quanto mais forte você fica, mais esse peso cresce. — Ela cruzou os braços. — Você acha que treinar até quase vomitar vai ser o seu maior problema? Não vai.

    Hayato franziu o cenho.

    — Eu… já imaginava que seria difícil, mas…

    — Não, você não imaginava. — Aiko cortou, firme, mas não rispida. — Você vai enfrentar coisas que nenhum manual de combate pode explicar. Pessoas que nasceram apenas para destruir. Gente que vive para testar até onde vai a sua vontade de proteger o que ama. — Ela virou o rosto, encarando-o de frente. — E quando você perder alguém, Hayato… quando você falhar… esse peso vai querer te esmagar.

    O coração dele apertou.

    — Mestre… eu…

    — Você acha que está pronto para isso? — A voz de Aiko entrou fundo como uma lâmina fria.

    Hayato engoliu em seco.

    — Eu… eu quero ficar forte. Por todos eles. Quero proteger eles, mesmo que eu tenha que—

    — Mesmo que tenha que perder algo em troca?

    Hayato hesitou. O silêncio dele já era uma resposta.

    Aiko respirou fundo e ajeitou o moletom, puxando a barra da calça para cima da perna esquerda. Hayato arregalou os olhos. A pele não continuava dali.

    Era uma prótese metálica, com detalhes pretos e azulados, cheia de marcas de uso. A perna dela — da altura da coxa para baixo — não existia mais.

    Ela permaneceu assim, como se aquilo fosse apenas mais uma visão comum sob a luz da lua. Então, com um tom calmo, perguntou:

    — Você quer saber o que aconteceu?

    Hayato ficou sem ar por um segundo. Depois, lentamente, respondeu:

    — Sim… quero.

    Aiko apoiou o braço sobre o joelho e inclinou-se para trás, como se estivesse voltando décadas.

    — Antes de você nascer, antes mesmo da sua geração existir… houve a última batalha da primeira geração. A batalha de Ōtsu. — Aiko continuou olhando o horizonte. — Quando tudo terminou, quando o sangue secou no chão e a fumaça finalmente se dissipou… Kira se levantou.

    Hayato conhecia esse nome. Todo mundo conhecia.

    — A Kira?

    — Sim. — Aiko assentiu. — Ela sobreviveu. E decidiu que aquela geração precisava de um fim simbólico. Então… ela procurou cada um dos reis das regiões, um por um, e tirou um membro de cada deles. Um braço. Uma perna. Uma mão. Como forma de decretar que a era deles havia terminado.

    — Isso… isso é loucura…

    — É. — Aiko riu sem humor. — Mas a Kira nunca foi normal. E quando ela chegou até mim… — Aiko tocou a própria coxa, no fim da carne. — Ela levou isso. Me deixou incapaz de usar 100% do meu Thunder Boxing. Arrancou minha maior arma.

    Hayato ficou paralisado. O vento pareceu mais frio de repente.

    — Mestre… eu sinto muito…

    — Não sinta. — Ela levantou o olhar. — Eu sobrevivi. Porque era isso ou desaparecer. E é aqui que entra a sua reflexão da noite, Hayato.

    Ela se aproximou um pouco mais.

    — Força não é só bater mais forte ou aguentar mais dor. Força é aceitar tudo o que você perde no caminho… e ainda assim continuar andando. Mesmo que seja com uma perna a menos.

    Hayato sentiu aquilo atravessar o peito. Algo dentro dele tremeu.

    Aiko percebeu.

    — Você está disposto a pagar esse tipo de preço? — perguntou, séria. — Está mesmo preparado para perder, para ser quebrado, para se reconstruir, para tomar decisões que vão mudar quem você é?

    Hayato respirou profundamente, fechando os punhos.

    Ele pensou em Yuna. Pensou no sorriso dela. Pensou nos amigos. Pensou em tudo que já tinha sofrido… e no que ainda sofreria.

    E então respondeu:

    — Sim. Eu tô. Mesmo que doa. Mesmo que me destrua. Eu quero me tornar alguém capaz de proteger eles.

    Aiko o encarou por cinco longos segundos.

    Então seu rosto suavizou.

    — Boa resposta, Hayato.

    Ela se levanta com leve dificuldade — não por fraqueza, mas pelo suporte da prótese — e lhe dá um leve tapa na cabeça.

    — Amanhã começamos um novo tipo de treino. E eu prometo… — ela sorriu perigosamente — vai ser muito pior do que tudo que você passou até agora.

    Hayato arregalou os olhos.

    — E-ei! C-como assim pior?!

    Aiko já estava entrando no templo.

    — Boa noite, Hayato.

    — Mestre?! Ei, volta aqui! — Mas ela apenas deu um aceno preguiçoso e sumiu porta adentro.

    O jovem suspirou fundo, mas não conseguiu evitar um leve sorriso.

    Ele estava com medo. Muito medo.

    Mas também estava decidido.

    No outro lado da cidade, sob a luz fraca de postes antigos, Ben terminava sua última série de flexões usando um banco da praça como apoio. O suor escorria pelo rosto dele, enquanto suas veias saltavam nos braços. Ele treinava todos os dias, independentemente da hora, para não ficar para trás de Yoru.

    A praça estava quase vazia, exceto por alguns gatos vadios e o som distante de carros na rua principal.

    Ben respirava fundo, prestes a levantar, quando sentiu algo estranho.

    Um arrepio.

    Uma sensação de peso no ar.

    Ele levantou o olhar.

    Um homem vinha caminhando em sua direção.

    Cabelos brancos caindo sobre os olhos, quase escondendo parte do rosto. Uma tatuagem estranha — como costuras — atravessava o pescoço e parte do braço direito. Ele fumava um cigarro com postura relaxada, mas… algo na presença dele era simplesmente errado.

    O ar parecia ficar mais pesado a cada passo que ele dava.

    Ben automaticamente ficou de pé, respirando mais rápido. Ele não sabia o que aquele cara era, mas sabia que não era alguém comum.

    O homem parou a poucos metros dele.

    — …Você é o Ben? — perguntou com voz calma, arrastada.

    Ben franziu o cenho.

    — Sou. Quem é você?

    O homem soltou a fumaça lentamente.

    — Só preciso de uma informação. Você conhece o Yoru?

    O corpo de Ben imediatamente entrou em batalha interna.

    Aquela aura…

    Aquela pressão…

    Era algo maligno. Denso. A chiar no fundo da mente.

    Ben deu um passo para trás, tenso.

    — Por que você quer falar com o Yoru?

    O homem sorriu levemente, virando o rosto como se estivesse olhando para o nada.

    — Quero conversar com ele. Só isso.

    Ben sentiu seu coração acelerar.

    “Só isso” não era convincente. Nem um pouco.

    — Não sei quem você é… mas não vou te dizer nada até me explicar quem diabos você é.

    O homem ergueu o cigarro nos lábios e deu uma tragada profunda, depois jogou a fumaça para o céu.

    Ele avançou um passo.

    A aura ficou ainda mais sufocante.

    Ben sentiu a perna tremer — algo que ele nunca admitiria em voz alta.

    Então o homem sorriu.

    Um sorriso frio.

    Um sorriso de alguém que já matou antes.

    — Meu nome não importa. Mas o Yoru… ele vai precisar saber que eu cheguei.

    Ben engoliu seco.

    O ar parecia congelar.

    Algo muito ruim… muito perigoso… estava começando.

    E ele sabia que não deveria deixá-lo passar.

    Mas aquele homem…

    Aquele homem não era alguém que Ben poderia enfrentar sozinho.

    Apenas observando, Ben tinha certeza:

    O mundo deles estava prestes a ficar muito, muito mais perigoso.

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