Índice de Capítulo

    Renato abriu as asas e voou em direção a Peste. Com a espada em punho e o olhar determinado no rosto. Era pura fúria.

    Os olhos do cavaleiro se enegreceram de ódio, e de sua sombra, uma nuvem de insetos saiu voando. Moscas, mosquitos, vespas. Vermes rastajaram, deixando um rastro úmido no chão.

    E a nuvem de insetos atingiu Renato e o cobriu totalmente.

    — Mas nem ferrando! — rosnou Renato, e o fogo brilhou. Era seu principal elemento, afinal, e sempre que o garoto se enchia de fúria e espírito de luta, percebia o coração queimando.

    E as chamas o envolveram feito um casulo incandescente, e os insetos de Peste foram todos carbonizados.

    E, como se a própria natureza estivesse confusa com aquilo que acontecia, uma fina camada de gelo surgiu sobre o chão.

    Peste achou aquilo um absurdo, mas preferiu recuar um pouco para não ser pego pelo fogo e nem pelo gelo. Nem ele sabia o que poderia acontecer se tocasse naquilo.

    Sem perder tempo, posicionou o arco.

    No meio das chamas, o garoto não pôde ver a flecha se aproximando, e quando a notou, era tarde demais, e ele foi atingido no peito.

    Uma dor agonizante atravessou seu cérebro, e ele caiu no chão.

    A visão ficando turva, os olhos queimando.

    Peste sorriu, soberbo e triunfante.

    — Um bom e velho aneurisma cerebral…

    Mas a luz verde curativa de Mical envolveu o garoto e a dor desapareceu.

    Peste arqueou as sobrancelhas e olhou na direção da fonte daquele poder.

    Viu Mical, no alto do tanque de guerra, só com metade do corpo para fora da escotilha. Ela direcionava os braços em direção a Renato, curando-o com sua benção angelical.

    Ao lado dela, Tâmara lhe protegia, numa posição tática com um joelho dobrado sobre o aço do teto do tanque, para ter maior apoio com seu enorme fuzil. Cada disparo de sua arma explodia um putrefato em vários pedaços de ossos sem vida.

    O cavaleiro se irritou profundamente com o atrevimento dessas pessoas. Eles pensavam mesmo que poderiam ganhar? Deveriam entender a própria pequenez!

    Com um gesto de sua mão, os ossos que jaziam mortos no chão foram despertados uma vez mais para a vida. Eram os Rejeitados pela Sepultura, afinal, e não importava quantas vezes caíssem, sempre se levantariam. Aquele era o poder da Morte.

    — Tá de sacanagem! — Belfegor estalou a língua ao ver se levantando todos aqueles que ele mesmo abateu.

    Abigor, no alto, com as asas abertas, gargalhou, coberto pela carne podre de suas vítimas.

    — Eu tô só começando! — gritou, eufórico, enquanto esmagava um Putrefato com as próprias mãos.

    Mas Abigor era louco e não se importava com a morte iminente. Talvez, ele nem pudesse morrer, pensou Renato.

    Mas aquela era claramente uma batalha destinada ao fracasso. Não importava quantos rejeitados pútridos abatessem, eles sempre se reerguiam. A única forma de vencer era derrotando Peste.

    Mas o desgraçado era forte demais!

    O garoto apertou o punho da espada em sua mão. O suor descendo pela testa começou a arder os olhos. A respiração era pesada. Estava cansado.

    — Mical e Tâmara estão aqui — murmurou o garoto. — Não posso deixar que…

    A profecia de Hoopoe passou por sua cabeça, como um mal presságio. Renato espantou para longe os pensamentos. Aquela não era hora de sentir medo. Era hora de lutar!

    Ele gritou de ódio, empunhando a espada e avançando em direção a Peste.

    Mas algo aconteceu.

    Um som. Grave e constante, parecido com um violoncelo. Depois, outro som mais agudo feito uma trombeta. Tambores de guerra rufaram.

    E os rejeitados abriram suas asas apodrecidas e voaram em direção às alturas.

    Alguma coisa estava interferindo, entrando na luta.

    E no alto, a luz encontrou a podridão.

    Anjos desceram das nuvens carregando espadas de fogo, e relâmpagos rasgavam os céus com violência.

    E os dois exércitos se chocaram nas alturas.

    Raziel pousou ao lado de Renato.

    — Não permitirei que fiques com toda a glória da batalha — disse o arcanjo. — As legiões celestiais também lutarão.

     Renato assentiu.

    — Então vambora!

    E os dois voaram direto para Peste.

    Belfegor estava cercado por putrefatos quando os anjos chegaram até ele.

    O demônio encarou, por um momento, os anjos, que lhe devolveram o olhar de desconfiança.

    Eles quase se atacaram, mas a alabarda de um rejeitado se aproximou demais do rosto de um anjo, e o guerreiro celestial moveu sua Espada do Perdão, fazendo seu adversário explodir em ossos.

    E Belfegor também moveu sua Espada do Pecado, atacando outro rejeitado que se aproximou demais dele.

    E, por um momento ínfimo e improvável, uma trégua silenciosa foi selada. Demônios e anjos eram inimigos naturais, mas durante esta batalha, e apenas nesse momento, estavam do mesmo lado.

    Nem mesmo os deuses que assistiam a luta à distância acreditaram no que viram.

    Renato e Raziel alcançaram Peste, desviando de suas flechas doentias.

    O cavaleiro largou o arco e se preparou para um confronto corpo a corpo.

    Suas armas eram as unhas em seus dedos, e as falanges ósseas mais duras do que aço que se projetava de suas mãos.

    E foi com elas que ele bloqueou o ataque de Renato e Raziel, quando eles atacaram juntos.

    Unhas se chocando contra as lâminas.

    Renato atacava à sua esquerda e o anjo pela direita.

    Movendo a espada lateralmente, de cima para baixo, de baixo para cima…

    Procuravam uma fresta na defesa quase intransponível de Peste.

    O cavaleiro conseguia bloquear a maioria dos ataques, e aqueles que não bloqueava, ele desviava sem muitos problemas; e em contrapartida, contra atacava usando as unhas.

    A velocidade deles era descomunal!

    Olhos humanos não veriam nada mais do que um borrão.

    Até mesmo criaturas sobrenaturais poderiam ter dificuldade de ver a luta.

    O chão rachou debaixo de seus pés.

    O ar vibrava com a pressão de toda aquela energia hermética.

    Alguns anjos até tentaram alcançá-los, mas o Exército dos Rejeitados se mostrou um obstáculo formidável.

    A unha de Peste riscou o rosto de Raziel.

    A lâmina angelical cravou um risco na pele pálida e necrosada do cavaleiro, no antebraço.

    A espada de Renato abriu um corte no peito do cavaleiro, ao mesmo tempo em que aquelas unhas lhe dilaceravam a carne do pescoço.

    A carótida de Renato, lacerada, disparou um jato de sangue vermelho vivo para fora do pescoço.

    A visão ficou turva por um instante, mas o poder de Mical foi rápido e eficiente, e o sangramento parou em instantes.

    E, sem perder tempo, Renato golpeou com a espada, girando no próprio eixo para ganhar maior velocidade e força no golpe.

    Peste tentou contra atacar, mas Raziel se moveu em volta do cavaleiro e deslizou sua lâmina nas costelas dele.

    Por causa da dor do ferimento, Peste vacilou por um instante. Tirou o foco de Renato para tentar golpear o anjo.

    Foi quando a Espada do Pecado penetrou num dos olhos do cavaleiro.

    Renato teria afundado a lâmina até atravessar o crânio, mas Peste conseguiu se afastar rapidamente, evitando um ferimento ainda maior.

    O sangue preto e fedido como chorume sujou a lâmina polida da Espada do Pecado.

    Raziel aproveitou para atacar também.

    Peste tentou se afastar; talvez até fugir.

    Mas a Espada do Perdão perfurou seu peito; e o anjo movimentou a espada dentro do peito, para causar um ferimento ainda mais mortal.

    E Renato, com um golpe rápido e certeiro, atravessou sua lâmina através do pescoço do cavaleiro.

    A cabeça de Peste caiu no chão antes mesmo de seu corpo tombar. 

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