Capítulo 21: Testemunhas Acorrentadas
“Jax! Não faça isso! É uma ordem!”
A voz de Zeon era uma faca de aço gelado no canal da unidade, uma ordem destinada a parar um trem de carga de cem toneladas. Mas a estática crepitante da aceleração total dos propulsores do ‘Martelo’, rugindo em desafio, foi sua única resposta. A ordem não foi apenas ignorada; foi engolida pela fúria cega de Jax.
Para Zeon e Anya, o inferno particular de Jax contra o Nemesor desencadeou o seu próprio.
“Ele quebrou a formação!” Zeon rosnou, não para Anya, mas para si mesmo, sua mente tática assistindo com horror enquanto seu ‘tanque’ abria uma lacuna fatal em sua defesa. “Toda a linha está exposta!”
O Nemesor era o rei no tabuleiro, mas sua horda de peões e torres aproveitou a abertura instantânea. A tática alienígena dos Nictis era impecável: eles ignoraram o ‘Martelo’ suicida, cuja atenção estava singularmente focada em seu lorde, e desabaram sobre os dois Kations restantes.
“Capitão, Messor! Às suas costas! Portal!” A voz de Anya soou como um tiro no canal da unidade.
Zeon mal teve tempo de girar o ‘Espectro’, a lâmina de plasma de seu Kation sibilando para encontrar a foice entrópica de um Messor que havia se materializado diretamente atrás dele. Ele estava preso, forçado a uma dança mortal de combate corpo-a-corpo, seus propulsores queimando ao máximo para escapar dos ataques de portal da criatura.
Enquanto isso, nas vigas góticas acima, a caçadora se tornou a presa. O ‘Vidente’ de Anya era ágil, mas os Messores eram cirurgiões dimensionais. Um portal púrpura, do tamanho de uma porta, abriu-se no ar rarefeito, atrás dela.
Anya reagiu por puro instinto, seus propulsores laterais disparando, jogando seu Kation para o lado no exato momento em que duas foices entrópicas cortaram o ar onde ela estivera.
Crack-thoom.
Ela disparou seu rifle Gauss por cima do ombro, um tiro impossível sem mira que atingiu o portal que se fechava.
“Dois Messores,” ela relatou, sua voz tensa enquanto se reposicionava em outra viga. “Eles não estão tentando me matar. Eles estão me pastoreando. Estão me forçando a recuar, para longe de qualquer ângulo de tiro que eu possa ter do Nemesor.”
A impotência era sufocante. Ambos estavam acorrentados em suas próprias batalhas, forçados a assistir à cena que se desenrolava no corredor principal.
Eles viram o flash magnífico do arsenal completo de Jax. A esfera de plasma, os mísseis, a chuva cinética. Por um glorioso segundo, Zeon ousou ter esperança.
Então, eles viram a realidade se desfazer.
“Impossível,” Anya sussurrou, seus sensores tentando processar o que seus olhos viam. “O plasma… dobrou-se. As leituras cinéticas… zero.”
“Ele está desviando o espaço,” Zeon respondeu, sua voz um rosnado baixo enquanto ele bloqueava outro ataque de seu Messor. “É um escudo de realidade. Nossas armas são inúteis.”
E então, através do caos de suas próprias batalhas, a voz de Jax voltou pelo canal da unidade, e era um som que assombraria Zeon para sempre.
“Meu braço…” A voz era um sussurro incrédulo. “Ele… ele tirou meu braço!”
O coração de Zeon parou por um instante. Ele viu, com o canto do olho, a silhueta do ‘Martelo’ recuando desajeitadamente, e a visão de seu braço de canhão principal caído no chão enviou uma onda de fúria fria por sua espinha. Ele empurrou seu Kation para a frente, tentando se livrar de seu atacante para ajudar, mas o Messor era implacável, seus portais se abrindo e fechando, forçando Zeon a ficar na defensiva.
“Ele está brincando comigo…” O terror na voz de Jax era palpável. “Capitão, ele está me… me desmontando! Ele nem está se movendo!”
Anya sentiu uma náusea que não tinha nada a ver com a manobra de seu Kation. Ela estava assistindo, em seu sensor de longo alcance, enquanto o Nemesor, como um cirurgião sádico, cortava casualmente o casulo de mísseis do ‘Martelo’. Ela viu o Kation de Jax mancar, e ela podia sentir a dor fantasma do piloto através da pura agonia em sua voz. Ela tentou travar a mira.
“Não consigo travar! O Messor continua bloqueando minha linha de tiro!” ela gritou, a frustração quebrando sua calma.
“MORRA! MORRA, SEU FILHO DA PUTA!”
Eles viram o Kation caído, o último ato de desafio de Jax arremessando a laje de pedra. E viram a pedra passar através do Nemesor como fumaça.
E então, o silêncio. Um silêncio no canal de Jax que era mais alto do que qualquer alarme.
Naquele segundo de silêncio, a batalha ao redor deles também pareceu parar. Zeon finalmente conseguiu desmembrar seu Messor com um tiro de plasma a queima-roupa. Anya, tendo finalmente desmembrado um de seus perseguidores com um tiro cinético preciso, pousou em uma viga superior.
Por um momento, os três membros da unidade estavam em seus lugares. O ‘Espectro’ no chão. O ‘Vidente’ nas vigas. E o ‘Martelo’, quebrado, aos pés do Nemesor.
O Lorde Nictis flutuava sobre o Kation caído. Ele estava… esperando.
“O que ele está fazendo?” Anya sussurrou, o terror evidente em sua voz.
Foi quando o visor de Zeon se iluminou com uma nova leitura. Uma que ele conhecia muito bem.
“O reator,” Zeon disse, sua voz uma mistura de horror e um orgulho terrível. “Ele vai sobrecarregar o reator! Jax!”
Anya viu também. “As leituras de energia estão fora de escala! Ele vai explodir!”
Eles observaram, agora livres de seus próprios inimigos por um segundo terrível, mas completamente impotentes. Eles viram o Nemesor parar, observar o Kation caído por agonizantes segundos. Zeon entendeu. Ele não está com medo. Ele está… esperando. Aquele… bastardo sádico. Ele estava roubando de Jax seu último triunfo.
“Não…” Zeon sussurrou.
Eles o viram atacar, não com o pânico de quem foge de uma bomba, mas com a precisão casual de quem rouba um último suspiro.
Eles viram o impossível. A lâmina passou através do ‘Martelo’ sem deixar marcas.
Então, o Kation de Jax se partiu.
Não houve explosão. Não houve fogo. Não houve a gloriosa detonação do reator que Jax tentara alcançar. O mecha de assalto pesado simplesmente se desfez em dois. A linha de corte era diagonal, perfeita, do ombro esquerdo ao quadril direito.
As duas metades, perfeitamente cauterizadas por uma energia que não queimava, mas apagava, caíram no chão em direções opostas. Elas atingiram la obsidiana com um baque surdo e final, um som pesado e sem vida que foi o único elogio fúnebre de Jax.
Anya soltou um único soluço sufocado pelo comunicador, um som agudo de dor que foi cortado quase que instantaneamente pela sua disciplina férrea. Seus punhos, dentro do cockpit do ‘Vidente’, estavam brancos de tão apertados nos controles.
No visor de Zeon, o sinal vital de Jax simplesmente… desapareceu. Não se tornou cinza. Não exibiu la palavra “FALECIDO”. O ícone, o nome, a própria entrada de dados, simplesmente deixou de existir, deixando um espaço em branco na lista da unidade.
Zeon não disse nada. Ele apenas… observou o espaço vazio onde o nome ‘Jax’ costumava estar. Uma raiva fria, mais fria que o vácuo, começou a preencher o buraco que o choque havia criado.
O canal de comunicação, antes preenchido com os gritos de Jax, ficou mortalmente silencioso.
O sacrifício fora roubado.
O Nemesor virou lentamente sua cabeça, seus olhos de estrela morta passando pelos restos fumegantes do ‘Martelo’ e focando, através do corredor, diretamente no ‘Espectro’ de Zeon.
A batalha pelo Pavilhão de Adel mal havia começado.

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