Índice de Capítulo

    Capítulo 02:

    Um Quase Executivo

    Tradutor: Zekaev

    — … e foi meio assim que aconteceu!

    Haruhiro ainda não conseguiu superar o que havia acontecido, mesmo quando relatou a história para seus companheiros. Ranta, Moguzo, Shihori, Yumi e Mary estavam sentados em um canto na parte de trás da Taverna Sherry enquanto escutavam Haruhiro, mas não eram só eles. As pessoas que bebiam próximo deles também se atentaram à conversa. Toda aquela atenção deixou Haruhiro um pouco embaraçado.

    Ele limpou a garganta e continuou. — De qualquer forma, o grupo de Renji é incrível. E Renji como guerreiro é além de incrível. Aquele orc, Ishh Dogrann, parecia muito forte também, no meio da luta eu pensei que Renji estivesse seriamente ferido. Mas não, não foi o caso, apesar de todo aquele sangue. Ele só fingiu para enganar o orc. Até eu acreditei que ele não podia mais usar o braço esquerdo, então Ishh Dogrann..

    O’Queeee! — Ranta interrompeu. — Então você está dizendo que a desvantagem dele era, na verdade, um trunfo? E ele escondeu isso até ficar numa desvantagem ainda maior?! Foda-se! Grandes coisa! Eu poderia ter feito isso também! Cem por cento de certeza que eu também conseguia!

    Yumi olhou friamente para ele. — Você sabe que morreria se falhasse, não é?

    Eu não ia falhar! De jeito nenhum que eu ia falhar! E isso é um fato incontestável!

    Shihori, que acabou comprando um chapéu novo, também olhou desdenhosa. — Como pode ter tanta certeza?

    O quê? Um… Porque… — Ranta calou-se pensativo. No final, parece que ele não conseguiu encontrar um motivo. — Estúpida! Eu não preciso de nenhuma razão de merda! Eu simplesmente sei! AUTOCONFIANÇA! É só uma questão de autoconfiança!

    Mary suspirou baixinho e trouxe sua caneca de cerâmica para os lábios. — Eu acho que isso é verdade.

    Veja! Mary concorda comigo! Vocês são todos amadores e ela é uma veterana, então ela está certa e vocês estão erradas! Amadores!

    Mas o excesso de confiança também pode te matar. — Mary acrescentou, olhando para Ranta.

    Er- — Ranta parecia não ter como discutir.

    Mary falou a verdade. Ela sabia disso melhor que qualquer um. Três companheiros do seu grupo original morreram por conta desse erro. Porque as coisas correram muito bem para eles no início, acabaram superestimando sua própria capacidade e o resultado foi trágico.

    M-mas ainda assim… — Proferiu Moguzo. Como de costume, seu elmo estava sobre a mesa, ao lado dele. — … o grupo de Renji não é pouca coisa. Todos nós chegamos aqui ao mesmo tempo, mas eles estão muito acima de nós…

    Uma vez que Haruhiro tinha terminado “A Lenda de Renji”, os outros clientes que circundavam sua mesa para ouvir riram bem-humorados e bateram no ombro de Haruhiro.

    Trabalhem duro e peguem eles, Caçadores de Goblins! — Disseram-lhes, aquele apelido surgiu novamente.

    Ranta mostrou a língua para eles enquanto sussurrava. — Caiam fora. Não chame a gente por esse nome!

    Não fique tão nervoso. — Disse Yumi, descansando o queixo com as duas mãos. — Yumi acha que estamos indo bem no nosso próprio passo.

    Você quer dizer nosso próprio ritmo, Yumi. — Haruhiro corrigiu levemente, concordando com a cabeça. — E eu concordo. Quer dizer, agora que eu vi Renji em ação com meus próprios olhos, é como se ele tivesse avançado na velocidade da luz. Não tem como imitá-lo e, para ser honesto, mesmo se tentarmos, não acho que vamos ganhar algo se dermos muita atenção pra ele…

    Para alcançar… — Mary começou, mas rapidamente se calou.

    Seu olhar foi para o chão, como se ela estivesse tentando dizer algo que não queria. Talvez ela estivesse recordando dos seus preciosos amigos perdidos.

    Se acabar em uma situação onde não podemos fugir, podemos perder tudo. — Haruhiro acrescentou.

    Vocês não têm nenhuma ambição! — Ranta apontou para Yumi, depois para Haruhiro e, por fim, para Shihori. — Vocês sabem o quão patéticos parecem?! Sem dor, sem ganhos! Sem coragem, sem glória! Sem risco, sem retorno! Se você quer um alto retorno, então você tem que ser um homem de verdade e arriscar tudo!

    Haruhiro sentiu seu temperamento subindo. — Eu acho que é melhor minimizar os riscos e maximizar o retorno da melhor forma possível. Na verdade, isso é o que temos feito o tempo todo.

    — “O que temos feito o tempo todo”. — Ranta zombou em um tom de considerável desdém. — Vou dizer aqui e agora: é por isso que estamos no fundo do poço! Você não percebe? Cara, olhe ao seu redor!

    O que há para ver? — Haruhiro disse ceticamente, no entanto, olhou em volta da taverna.

    Quando o fez, percebeu o motivo de Ranta. Entre todos os membros da Lua Vermelha reunidos na Sherry, a aparência deles era a pior. Mas Haruhiro sentiu que não podia fazer nada sobre isso. A maioria de suas armaduras e armas eram usadas e, porque no alojamento em que moravam não tinha espaço, levavam todos os seus pertences com eles.

    Não importava se estavam em Damroww ou na Sherry, eles usavam sempre a mesma roupa, não importa onde fossem.

    Será que vocês sequer pensaram nisso antes? — Ranta, impaciente, batia na mesa com o dedo. — Por que Renji está em um nível completamente diferente? Ele começou ao mesmo tempo que nós! Parem de ficar dizendo merda como “não há nada que possamos fazer sobre isso”. Estamos numa situação diferente agora!

    Moguzo baixou a cabeça e olhou para Ranta. — O que você quer dizer com isso?

    Ranta continuou. — Pelo que ouvi, um novo lote chegou. Nós não somos mais os recém-chegados. Antes do nosso grupo, teve um grupo de três. Na verdade, eles sequer compraram seus contratos da Lua Vermelha. O nosso grupo tinha doze membros, mas este grupo que chegou é ainda maior. Eles estão todos treinando em suas guildas agora, mas isso vai acabar logo. Eles vão formar grupos e talvez até mesmo comecem a trabalhar em Damroww.

    E daí? — Yumi respondeu, fazendo beicinho. — Se eles vierem, deixe-os vir. Se formos gananciosos e quisermos manter a área só para nós, não vamos entrar em apuros? E Yumi pensa que com mais grupos em Damroww, todos nós podemos nos juntar para atacar grandes grupos de goblins.

    Haruhiro reconhecia a opinião de Yumi, mas ele descobriu que não conseguiria receber os recém-chegados com tanta alegria como ela faria. Sem contar a Mary, o grupo de Haruhiro era o menos experiente de todos os membros da Lua Vermelha. Eles não podiam fazer nada pois eram os mais fracos e ineficazes.

    Mas era como Ranta disse. Haruhiro percebeu que eles eram o pior grupo da Lua Vermelha e, enquanto fossem novatos, talvez não houvesse qualquer coisa que pudessem fazer sobre isso. Mas a situação estava prestes a mudar. Eles não seriam mais os recém-chegados.

    Se eles não levarem isso a sério, seriam superados pelo “novo lote”. E isso ia além de ser apenas patético.

    Eu não acho que é uma boa ideia ser muito apressado. — Mary disse, como se lesse a mente de Haruhiro.

    Talvez ela esteja certa. Mesmo que queira correr para avançar, eles só são capazes de fazer o que já fazem. Talvez algumas pessoas pudessem ignorar os perigos, mas não Haruhiro. Seria bom se o fracasso significasse que eles poderiam tentar novamente, mas o fracasso poderia significar a morte. Melhor avançar passo a passo, devagar e com cautela.

    Mas uma pequena voz dentro de Haruhiro sussurrou. Tem certeza de que está realmente avançando? Tem certeza de que ainda está realmente evoluindo? Ou você está apenas caminhando em círculos?

    E se… — Haruhiro começou, mantendo propositalmente o olhar na mesa ao invés de encontrar os olhos de alguém. — Isso é uma hipótese, se… tentássemos ir para outro lugar? Não podemos continuar caçando goblins para sempre, certo? Eu não acho que seja uma má ideia ir para outro lugar, talvez. É claro que não tem que ser agora, mas parece que vamos ficar estagnados se continuarmos em Damroww por mais tempo. E, se começar a ficar monótono, podemos ficar descuidados ou algo parecido. Eu acho que, talvez, a gente precise de algo novo e excitante. Mas é só uma ideia, quero dizer…

    Haaaruhiroooo. — Disse Ranta, com um sorriso de orelha a orelha. — Você tem umas ideias muito boas de vez em quando. É uma pena que seja só de vez em quando! E é claro que eu sou completamente a favor da sua ideia!

    Nesse caso. — Yumi respondeu sem perder tempo. — Yumi não é.

    Então nem eu. — Disse Shihori.

    Claramente a rejeição de Yumi e Shihori foi baseada em sua antipatia com Ranta. Moguzo não respondeu de imediato, mas sua expressão era a de alguém pensativo. E quanto a Mary? O que ela pensa? Haruhiro não conseguia imaginar o que ela estava pensando.

    Eu realmente não estou propondo nada. — Disse Haruhiro, esfregando a parte de trás de sua cabeça. — Isso é apenas uma hipótese. Algo para pensar, talvez. Mas nós já exploramos a cidade velha de Damroww de ponta a ponta e eu acho que, talvez, seja uma boa ideia pensar sobre o que vamos fazer a seguir.

    — “Fazer a seguir”? — Yumi brincava com sua trança dupla, balançando-as para direita e para esquerda. — Se as coisas estão bem hoje, não é bom o suficiente? O que há de errado com continuar fazendo a mesma coisa todos os dias? Nós não tivemos nenhuma briga realmente perigosa ultimamente e estamos ganhando dinheiro também. Está tudo bem da maneira que está.

    Isso é porque você não tem nenhum desejo de subir na vida! — Ranta mostrou a língua para ela. — Talvez você não seja humana, porque se você fosse, você iria querer crescer. Você é como uma bebê porca com tranças!

    Bebês porquinhos são fofos! — Yumi atirou de volta. — Mas uma vez que bebês porquinhos se tornam grandes porcos velhos, eles não são tão bonitos, então Yumi acha que é melhor para os porquinhos não crescer!

    O quê? — Disse Ranta. — Por que estamos falando de porcos, de repente? O que porcos tem nada a ver com a nossa conversa?! Não tenho a menor ideia do que você está falando!

    Isso é porque Ranta é estúpido. A culpa não é da Yumi. — Yumi respondeu secamente.

    Pare de culpar outras pessoas o tempo todo! E eu não sou estúpido, você que é estúpida!

    Idiota! Retardado! Imbecil!

    Foda-se!

    Vocês poderiam parar, por favor? — Moguzo disse, mas foi muito suave e suas palavras não surtiram qualquer efeito.

    Haruhiro tomou um gole da limonada em sua caneca de madeira. Ele estava com muita pressa para avançar? Ele já não podia afastar o sentimento, a necessidade de pegar o ritmo, mas ele não esperava que seu grupo ficasse igual ao de Renji. Afinal, eles estavam em um nível completamente diferente. Mesmo assim, está tudo bem para eles apenas permanecerem assim?

    Ele podia entender Yumi, mas e se eles fossem superados pelo “próximo lote”? Haruhiro definitivamente não ficaria bem com isso. Talvez ele ficasse meio chateado se isso acontecesse. Talvez… muito chateado.

    Qual era o seu principal objetivo? Para todos os efeitos práticos, até agora, foi apenas sobrevivência. Para viver um dia após o outro e manter, pelo menos, um padrão de vida mínimo.

    Eles tinham seus contratos da Lua Vermelha agora, então podiam permanecer no seu alojamento atual gratuitamente. Era de má qualidade, mas servia para manter a chuva e o vento longe. E, uma vez que a habitação não era mais que um lugar para dormir, o dinheiro economizado por não pagar pela moradia era muito bem vindo. Comida barata estava disponível, se fossem cuidadosos e escolhessem os lugares certos.

    Mas ficar em alojamentos velhos e se alimentar em locais baratos não era tão fácil. Seria bom se eles pudessem alugar um bom quarto por um mês, ou, pelo menos, uma semana. Havia mais bens pessoais ao redor ultimamente, então eles estavam carregando uma boa quantidade de coisas onde quer que fossem.

    Se continuassem trabalhando em Damroww, certamente teriam condições de melhorar a habitação… um dia. Eles não precisam correr riscos e não têm que se esforçar demais. E se decidissem encarar um novo desafio e acabassem encontrando um desastre?

    Talvez morram. Talvez tenham êxito. Um desastre completo significa que eles certamente morrerão, simples assim. Como Manato. Haruhiro não quer que ninguém morra. Ele não queria cometer esse erro de novo.

    Considerando que é a vida deles em jogo, então qual o problema em continuar o que estão fazendo? No entanto, quando Haruhiro pensou sobre isso, percebeu que, depois de terem comprado seus contratos da Lua Vermelha, passaram a visitar Damroww com menos frequência e não aprenderam novas habilidades, nem compraram mais armas e armaduras. Eles estavam fazendo isso sem qualquer propósito real.

    O entusiasmo de todos foi muito maior enquanto se esforçavam para cumprir um objetivo real. Havia uma necessidade de se tornarem melhores. Todos sabiam que, se não ficarem mais fortes, nunca seriam capazes de ter sua vingança.

    Mas esses dias acabaram. Foi um trabalho bem feito, uma missão concluída.

    Ou assim sentia Haruhiro ao inferir que, em algum momento, entre o antes e o agora, eles ficaram acomodados.

    Isso não queria dizer que continuar como estavam agora era ruim. Significava, simplesmente, que se acostumaram à vida que estão levando. Haruhiro não via isso como algo necessariamente ruim, mas supôs que, cedo ou tarde, chegaria a hora em que seriam forçados a mudar.

    Quando ninguém ofereceu quaisquer outras opiniões, a discussão terminou sem qualquer conclusão real.

    Umm, devemos ir dormir? — Shihori timidamente sugeriu.

    Haruhiro e os outros se levantaram, disseram boa noite à Mary na saída e começaram seu caminho de volta ao alojamento.

    No meio do caminho, Haruhiro parou. — Vocês vão na frente. — Ele disse aos outros. — Eu vou, uh…

    Onde você está indo? — Yumi piscou. — Algo errado?

    Err… banheiro! Sim, o banheiro! Eu não acho que posso segurar até chegarmos no alojamento, então…

    Ranta bufou levemente. — Basta ir atrás de uma moita ou algo assim. Tem um monte de mato em volta. A gente te espera.

    Porque agora, Haruhiro pensou com irritação, quando eu preciso que o Renta aja naturalmente, ele tenta ser cortês? Ele provavelmente não está fazendo isso de propósito, Haruhiro se irritou.

    De jeito nenhum que eu vou mijar numa moita. — Haruhiro respondeu. — Eu vou encontrar uma loja ou algo assim e usar seu banheiro.

    É claro, “Sr. alta-classe”. — Ranta zombou. — Tanto faz.

    Ranta e seus companheiros não irritantes foram em direção ao alojamento, enquanto Haruhiro voltou para Sherry. Ele pensou ter visto Mary retornar à taberna depois de saírem e, com uma rápida olhada ao redor, confirmou ao entrar.

    Mary estava sentada sozinha na extremidade do balcão. Ele se aproximou e apontou para o assento ao lado dela. — Mary. Posso me sentar?

    Mary parecia um pouco surpresa, mas concordou. — Claro. Você não tinha ido embora?

    Eu pensei o mesmo de você. — Haruhiro respondeu com um leve sorriso enquanto se acomodava no assento. — Você está realmente bebendo? Algo alcoólico?

    Como se estivesse um pouco embaraçada, Mary baixou o olhar e puxou a caneca de cerâmica mais perto de si mesma. — Eu estava no clima para uma última taça de hidromel.

    É hidromel com licor? Então eu acho que vou tomar uma também.

    A razão de Haruhiro retornar foi para conversar com Mary sobre um determinado assunto, mas ele achou difícil começar. Era um assunto difícil de abordar com todos presentes, mesmo que a conversa fosse apenas entre os dois.

    A menina tomou um gole de hidromel. A cor do hidromel não era amarela, mas avermelhada. Outros ingredientes devem ter sido adicionados nele. Haruhiro tomou um gole e descobriu que era doce com um toque de azedo.

    É temperado com um pouco de xarope de framboesa. — Mary informou.

    Ah, entendi. Eu pensei que fosse um pouco frutado. É bom.

    Aconteceu alguma coisa?

    Err…

    Patético. Haruhiro repreendeu a si mesmo. Sua incapacidade de iniciar a conversa foi patética. Eu sou estupido. Completamente estupido.

    Mary, você já esteve em muitos grupos, certo? Eu só queria perguntar…

    Haruhiro imaginou ter visto uma mudança na expressão de Mary e soube imediatamente que ele cometeu um erro. Mary era uma companheira de verdade agora, mas isso não significava que ela deixou seu passado para trás, nem que ela voltou a ser alegre como antes. Era compreensível não querer lembrar daqueles eventos.

    Mary, porém, deu-lhe uma pequena sacudida de cabeça. — Está tudo bem. Continue.

    Sério? Eu não quero fazer você se sentir desconfortável porque, bem, eu não quero, uh, sabe… Quer dizer, eu fui o único que trouxe a coisa toda à tona. — Haruhiro estava falando bastante nervoso.

    O que você quer me perguntar?

    Talvez ele esteja imaginando coisas, mas a expressão de Mary pareceu endurecer.

    Eu estava pensando. — Haruhiro disse cuidadosamente. — O que você acha do nosso grupo. Sobre como fazermos as coisas. Não, espera… Na verdade, não o grupo. Apenas eu.

    Como você faz o que, Haru?

    Err… É meio estranho eu falar de mim dessa maneira, mas eu sou, você sabe, meio que o líder?

    Meio? Você é o líder ou não?

    Hum, talvez? Eu estou agindo como um líder, mas…

    Mary fechou os olhos e pensou por um momento antes de responder. — Com minha experiência, os líderes podem ser divididos em dois tipos gerais.

    Tipos?

    O ditador e o executivo. Eu que inventei estes títulos, por isso não leve-os muito a sério.

    Haruhiro assentiu. —O ditador é alguém forte, certo? Alguém que comanda as pessoas pela força? Ou algo assim?

    Precisamente. A maioria deles possuem personalidades inflexíveis e têm a capacidade de forçar a lealdade dos outros. Os outros do grupo operam de acordo com a vontade dele apenas e, se eles não obedecem, logo são punidos ou expulsos do grupo. Os membros que não podem ser completamente felizes com a liderança dessa pessoa não duram.

    Renji é este tipo de líder. Haruhiro pensou. Ninguém ousaria desobedecê-lo.

    E o executivo é o oposto? — Perguntou Haruhiro. — Mais diplomático?

    Exato. Eles são carismáticos e eloquentes. Levam as opiniões dos outros em consideração. Eles não têm de ser especialmente fortes ou hábeis em combate, na verdade eles podem ser bastante inúteis no combate. À primeira vista, parece estranho que esse tipo de pessoa seja o líder, mas eles podem resolver disputas entre os membros do grupo e fazer todos trabalharem juntos como uma equipe.

    Certo. O ditador e executivo. Entendi. E… qual deles sou eu?

    Ele definitivamente não é o tipo de ditador, isso estava muito longe de sequer ser uma dúvida. Portanto, restava o executivo. Mas ele não é muito carismático ou articulado. E, mesmo que possua certa força de vontade, não é o suficiente para inspirar lealdade.

    Mas, apesar de Haruhiro saber que não satisfazia vários pontos, se houve um tipo que ele aspirava tornar-se, era o executivo.

    Manato era desse tipo? Não importa o quanto ele pensasse sobre isso, Manato era definitivamente o lutador mais forte do grupo. No entanto, ele não forçava ninguém a obedecê-lo. Todos obedeciam e o seguiam por vontade própria.

    Existe algo entre o ditador e o executivo? — Perguntou Haruhiro.

    É claro. — Respondeu Mary. — Eu estava super generalizando. Não há uma linha clara separando os dois. Há o ditador arquetípico, mas também existem líderes que são uma mistura de ditador e executivo. Às vezes, também depende da situação.

    Em outras palavras, todo líder é diferente. E eu posso estar em qualquer lugar entre os dois.

    Sim. Desculpe, eu sei que minha resposta não foi realmente útil. — Mary acrescentou.

    Não, foi útil. — Haruhiro tranquilizou-a. — Se eu tivesse que escolher um, eu diria que eu sou o tipo executivo, eu acho. Certo?

    Eu acho que sim.

    Hmm. — Haruhiro desviou o olhar para o teto. — Eu acho que, como um executivo, talvez eu precise ser mais assertivo. E dizer coisas como, “eu quero fazer isso”, “preciso fazer isso”, “é melhor se nós fizermos”, ou algo assim. Dentro do nosso grupo, a única pessoa que realmente fala o que pensa é o Ranta. O resto de nós apenas segue com o fluxo.

    Você se sente um pouco perdido?

    Bem, não é que eu não me sinto PERDIDO. — Haruhiro se cortou. — Ah, viu só? Eu continuo indo e voltando.

    Os cantos da boca de Mary pareceram tremer levemente. De repente, Haruhiro lembrou mais uma vez do quão bela é Mary. Estavam apenas eles dois aqui, sem nem um conhecido… Não, ele não pode pensar em coisas assim pois, se confundir as coisas, a relação entre eles ficaria estranha.

    Era bom para ele estar aqui agora? Ele realmente não podia deixar de pensar que Mary não estava confortável com ele aqui.

    — … você se sente como se fosse indesejado? — Mary perguntou.

    Uh, eu disse isso?

    Eu escutei você dizer algo parecido. Talvez seja só eu. — Disse Mary.

    Haruhiro forçou-se a sorrir. Descuidado. Estava pensando em voz alta e Mary quase o ouviu. Eu preciso obter um melhor controle de mim mesmo, ele pensou. Eu não posso ficar falando sem pensar. Eu sou o líder do grupo, então tenho que agir de acordo.

    Mas não era como se ele fosse o líder, por querer ser. Ele era o líder, por não haver outra escolha.

    Sobre a conversa de mais cedo… — Mary começou.

    Haruhiro percebeu. Mary definitivamente estava sendo atenciosa com ele. Ela estava preocupada por causa dele.

    C-Certo. — Haruhiro forçou uma expressão neutra novamente. — “Mais cedo”? O que você quer dizer?

    Sobre trabalharmos em outro lugar além de Damroww.

    Oh. Yumi e Shihori foram contra, só porque Ranta era a favor, assim a conversa parou por aí. Ranta estúpido.

    Se você não está sugerindo isso por impaciência, então eu acho que é uma opção a considerar. — Mary enfatizou.

    Na verdade, Haruhiro admitiu, uma parte dele guardava um pouco de pressa para avançar. Ele queria ser honesto com Mary, mas também não queria parecer apressado, especialmente para ela. Porém, talvez seja tarde demais para isso.

    Entendo. Mas se fosse para ir para um lugar diferente, então onde?

    Era quase como se ela tivesse a resposta preparada.

    As Minas Siren. — Mary sugeriu sem hesitação. Sua expressão estava completamente vazia.

    Mas foi aí que… — Haruhiro começou, mas logo parou. Não foi nas Minas Siren, onde os antigos companheiros de Mary morreram? Lá, ela lutou contra o Deathpatch e seus subordinados e perdeu três companheiros. Ele se lembrou dos nomes: o guerreiro Michiki, o ladrão Ogg e a maga Mutsumi.

    O que aconteceu com eles? Recuperar seus corpos foi impossível. E, porque seus corpos não foram cremados, certamente caíram sob a maldição do Rei Imortal. Não era melhor evitar tal lugar? Ou talvez seja de fato o próximo lugar para ir? Haruhiro não tinha ideia de quando começou a considerar a questão.

    Ele acabou pedindo a Mary várias informações relativas aos kobolds antes de irem embora.

    De qualquer forma, não era uma decisão a ser tomada imediatamente, então ele decidiu pensar mais sobre o assunto depois de esfriar a cabeça. Esse era o plano, mas não aconteceu bem assim.

    Ele estava de volta à velha cidade de Damroww no dia seguinte.

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