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    Capítulo 02:

    Ao acaso

    Tradutor: Zekaev

    Depois de retornar à Allpea, venderam o saque, dividiram os lucros, jantaram e voltaram para o familiar alojamento dos soldados da força reserva. Após o banho, Haruhiro foi para seu quarto e estava pronto para dormir, exceto pelo fato de não sentir a mínima vontade de fazer isso agora. A lâmpada pendurada na parede já havia sido apagada. Sem contar os dois beliches recheados de palha, essa lâmpada era a única outra mobília no quarto.

    Haruhiro queria despedir-se da pousada e encontrar um lugar melhor para ficar. Não era como se eles não tivessem a capacidade financeira para isso, mas, por algum motivo, ele ainda se achava indeciso. Haruhiro rolou para o lado enquanto se deitava na parte de cima do beliche. Moguzo estava na parte de baixo do beliche oposto, e Ranta ocupava a parte de cima da mesma. A cama abaixo de Haruhiro permanecia vazia.

    Um quarto para quatro pessoas, mas atualmente apenas três o ocupavam. Antes, as quatro estavam ocupadas. Haruhiro começou a sussurrar o nome de seu companheiro morto, mas parou. Ele começou a descer.

    Haruhiro? Perguntou Moguzo. Algo errado?

    Ranta estava roncando um pouco, já adormecido.

    Uh… Ele não conseguiu encontrar boas respostas para evitar a pergunta. Errado? Não, não tem nada errado. Sério…

    Assim que as palavras saíram da boca, ele percebeu que poderia ter dito algo como: “Eu vou ao banheiro” – se arrependeu de não ter pensado nisso antes.

    Você vai sair? Pressionou Moguzo.

    Oh, não. Eu apenas… vou lá fora. Só pegar um pouco de ar fresco. — Respondeu Haruhiro.

    Ele estava simplesmente dizendo a primeira coisa que vinha à sua mente, criando uma atmosfera desconfortável. Mas Moguzo decidiu não insistir.

    Ah, tudo bem então. Disse Moguzo.

    Sim. Foi um longo dia, não foi? E você parece muito cansado, então descanse um pouco.

    Certo. Boa noite, Haruhiro.

    Haruhiro saiu do quarto indagando se realmente deveria ir e pegar um pouco de ar, mas, decidiu não fazê-lo. Ele realmente não sentiu vontade de sair. Se Moguzo decidisse conversar com ele ou algo assim, provavelmente não deveria ter deixado a sala em primeiro lugar. Uma parte de Haruhiro desejou pela oportunidade de conversar com Moguzo.

    Mas ele não podia.

    Por quê? Haruhiro acreditava que sabia exatamente o porquê, mas, ao mesmo tempo, não conseguia compreender completamente. Ele simplesmente… não podia confiar em Moguzo, mesmo sabendo que Moguzo é uma pessoa honesta. Haruhiro estava confiante de que Moguzo não é alguém que sai por aí alardeando tudo que ouve. Mas esses fatores não constituem o real problema.

    Haruhiro entrou no pátio do primeiro andar da pousada e, inclinando as costas contra a parede, quase sofreu um colapso mental. Uma lâmpada, que parecia antiga, forneceu um pouco de luz, então não estava escuro, mas também não era o suficiente para o salão ser considerado bem iluminado.

    Não era como se pudesse falar sobre isso, mesmo que houvesse outra pessoa. Ranta está fora de questão. Ele imaginou que, se conversasse com Yumi, a conversa poderia terminar em algo estranho. E Shihori… agora que pensou sobre isso, ele nunca teve qualquer tipo de conversa séria com Shihori. Ele não podia nem imaginar o que seria uma conversa privada com ela.

    E Mary? Ela definitivamente poderia escutá-lo. Mas ele supôs que confiar nela não era necessariamente uma coisa boa. Parte disso porque ele não queria depender muito dela: queria que ela o visse como um cara legal, não um tipo de pirralho fraco – mas havia outro motivo também.

    Como Mary foi a última a entrar na equipe, Haruhiro acreditava que ela se sentia em débito com o grupo e que sempre procurava formas de compensar isso. Haruhiro não queria que ela pensasse que ele estava monetizando esses sentimentos. Mas talvez fosse só imaginação mesmo.

    Ele sequer entende por que se sente tão confuso. Até agora, tiveram a sorte de evadir as situações mais perigosas. Se a sorte não estivesse com eles todo esse tempo, todos já estariam mortos. Eles ficaram extremamente infelizes quando Deathmatch apareceu logo após a luta com os ex-companheiros da Mary, porém, Haruhiro teve a sorte de matá-lo. O azar e a sorte são como amantes inseparáveis.

    Talvez ele só estivesse insatisfeito. Encontrava-se constantemente pensando na equipe, de todo o coração e desesperadamente. Sempre julgando suas próprias decisões e considerando tudo pelo bem de seus companheiros. E quanto aos outros? Eles estavam apenas curtindo a vida sem se preocupar. Preocupavam-se apenas em aprender novas habilidades, comprar equipamentos melhores e ficar mais forte. E, embora tenham se tornado mais fortes, eles ainda estavam no fundo do poço, assim como qualquer soldado da força reserva. Só porque assassinaram o Deathpatch e Kemuri, dos Daybreakers, pagou-lhes uma rodada de bebidas, não significa que são grandes guerreiros nem nada do tipo.

    Eles não derrotaram o Deathpatch por serem hábeis ou fortes, mas por pura sorte. E isso é algo que Haruhiro nunca esquecerá.

    Por que nenhum dos outros conseguiu entender algo tão simples? Apenas Haruhiro entendeu. Apenas Haruhiro percebeu que foi um acaso do destino que os salvou. Era realmente bom deixar as coisas assim? O excesso de confiança é perigoso e traz consequências horríveis. Os outros tinham que entender isso, mas eles são todos…

    Ugh, pro inferno com isso! Ele rosnou, empurrando as mãos pelos cabelos.

    Se tornou realmente insuportável ter que refletir sobre esse assunto continuamente. Se todos estivessem bem com isso, então é o que bastava para ele. Quando começou a ficar de pé, ouviu algum tipo de som vindo do corredor. Passos. Alguém percorria o caminho da entrada.

    Ele poderia reconhecer vagamente as silhuetas, mesmo com a iluminação escassa. Duas pessoas, ambas meninas, mas não pareciam ser Yumi e Shihori. Os recém-chegados, talvez? Ele ouviu que havia um novo grupo de recrutas da força reserva por aqui. Ele se encontrou com dois ou três meninos nos banheiros, mas esta era a primeira vez que ele viu as meninas. Talvez agora seja um bom momento para voltar para a sala.

    No entanto, Haruhiro não se moveu. Então, e se fossem meninas? Ele deveria, pelo menos, verificar se eram bonitas ou não e, se tivesse sorte, poderiam se tornar amigos e até se conhecerem… mais intimamente. Ele não podia negar que guardava algum tipo de segundas intenções, mas também não admitia. Bem, seja o que for. Ele se agachou contra a parede, não olhando na direção das garotas, mas mantendo o olhar fixamente na parede à frente dele, de modo que não parecesse estar apenas olhando para o espaço vazio ou qualquer coisa do tipo.

    Era assim que ele estava fazendo. Estou sendo estúpido? Ele se perguntou. As meninas devem pensar que ele é um estranho ou algo assim. Ele podia dizer, pelo som dos passos, que se aproximavam dele cautelosamente.

    Tudo bem, eu sou inofensivo. Haruhiro pensava, um pouco ansioso. Venha mais perto, não vou fazer nada, então você não precisa se preocupar… Mas se ele não ia fazer nada, então deveria ter saído antes de se aproximarem. As coisas ficam estranhas desta forma, mas não é como se isso fosse um acontecimento singular, ou é? Isso acontece de vez em quando, certo? Sim.

    As duas meninas estavam passando por ele agora – passaram – quando uma delas parou de repente. Por que ela parou? O que estava acontecendo? Notaram ele?

    Haruhiro olhou para elas. Ele estava certo: a menina de cabelos curtos olhava para ele, com os olhos bem abertos. Parecia que seus globos oculares caíriam a qualquer momento. Ele notou círculos escuros sob os olhos dela. Aqueles lábios sensuais e os cabelos deram a Haruhiro a impressão de que ela era o tipo difícil de abordar. Ainda sim, Haruhiro encontrou-se um pouco fascinado.

    E por que ela estava olhando para ele tão intensamente?

    Choco? A outra garota sussurrou, colocando uma mão no ombro da menina de cabelo curto. Ela era alta e com cabelos curtos. Qual é o problema?

    Hum… Haruhiro respondeu à menina de cabelos curtos. Choco?

    Choco… esse nome…

    Sim? A menina de cabelos curtos respondeu, inclinando a cabeça para o lado.

    Ele estava agachado em frente a um objeto grande e brilhante como uma caixa. Alguém estava de pé ao lado dele. Uma garota de cabelos curtos. Choco. Esse era o nome dela…

    Ei! O que foi isso agora? Ele não conseguiu lembrar. Ele não sabia. Mas… Choco. Choco. Ele sabia o nome dela. Apenas o nome? Não, mais do que isso. Ele lembrou daqueles olhos e os círculos escuros abaixo deles. Aqueles lábios sensuais. Ele lembrou do cabelo. Ele a conhecia.

    Um …Você me… Haruhiro começou, mas não sabia o que dizer.

    O que ele poderia dizer? Eu poderia perguntar, “você me conhece”? Ou algo assim? Mas se o reconhecesse, ela já teria dito algo. Portanto, isso não parecia um daqueles emotivos reencontros de amigos de longa data. Ela olhava para ele como se algo nele tivesse capturado sua atenção. Da mesma forma que ele estava olhando para ela. Se esse fosse o caso então…

    A outra garota interpelou. Já que você está aqui, significa que também é membro da Lua Vermelha, certo? Você precisa da Choco para alguma coisa?

    Não. — Respondeu Haruhiro. Não é isso…

    Então nós vamos embora. — Disse a outra garota.

    Ah, tudo bem. Disse Haruhiro.

    Vamos Choco. — Chamou a menina, e Choco respondeu. Sim.

    As duas saíram rapidamente, mas antes de desaparecerem de vista, Choco virou-se e olhou para Haruhiro. Seus olhos se encontraram. Mas Choco rapidamente virou de volta. Haruhiro foi invadido por uma sensação que era um misto de surpresa e desconforto. Ou talvez não sentisse nada

    Choco…. Haruhiro sussurrou.

    E, se Choco pudesse ouvi-lo, provavelmente se sentiria ainda mais desconfortável. Ela pode realmente ser aquela pessoa?

    Nah. Haruhiro disse a si mesmo. Deve ser só coincidência.

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