O primeiro raio de sol trespassou a escotilha do camarote de Nix, atingindo seus olhos como uma adaga. Ela gemeu, enterrando o rosto no travesseiro embebido de suor e rum. O Semente do Caos murmurava sob seus pés, uma vibração reconfortante que contrastava com o martelar infernal em suas têmporas. Fragmentos da noite anterior surgiam como relâmpagos dolorosos: o gosto amargo do rum barato, o riso rouco de Madoc, o peso de seu braço sobre seus ombros enquanto cambaleavam pelo cais… e o nome que escapara de seus lábios no delírio etílico. *Echo*.

    Um baque seco na porta fez Nix saltar.

    — Capitã! — a voz de Vênus era um misto de preocupação e irritação. — Se não sair dessa toca em dois minutos, jogo água fria nessa cabine!

    Nix arrastou-se para fora do beliche, sentindo o mundo girar. Seus óculos repousavam em cima de uma carta aberta – a mensagem de Echo. O pergaminho parecia acusador à luz do dia. Ela enfiou os óculos no nariz, ignorando a náusea, e abriu a porta.

    Vênus estava lá, os braços cruzados sobre o avental manchado de farinha. Segurava uma tigela fumegante.

    — Coma. — Ordenou, empurrando a tigela nas mãos trêmulas de Nix. Era um caldo espesso e escuro, cheirando a raízes amargas e gengibre. — Panacéia mandou. Diz que cura ressaca de deus grego bêbado.

    Nix engoliu um gole. O líquido queimou, mas uma onda de alívio quase imediato lavou parte da névoa em seu cérebro.

    — Obrigada — murmurou, a voz rouca. — E… Madoc?

    — No convés, admirando seu ‘bebê’ de madeira. — Vênus franziu o nariz. — Ainda acho que ele é um perigo ambulante, Nix. Mas… ele te trouxe pra casa ontem. Inteira. Isso conta.

    Nix sentiu um calor estranho no rosto, não totalmente atribuível ao caldo. A noite com Madoc fora… inesperada. Menos flerte, mais confidências trocadas entre golos de rum. Ela vira além do mulherengo charmoso – o homem que desafira um capitão tirano, que respeitava o mar, que a olhara com genuína admiração enquanto ela falava do Semente. Uma semente de amizade, ou algo mais, começara a brotar na bagunça etílica. Era confusa, mas agradável.

    — Ele é bom no que faz, Vênus. — Nix defendeu, tomando outro gole do caldo. — E precisamos de um navegador.

    — Hum. Só não deixe seu coração felino se enrolar nas cordas que ele certamente vai jogar. — Vênus advertiu, mas seu tom era menos hostil. — Agora vista-se. Panacéia está impaciente. E o navio… está estranhamente quieto.

    Nix vestiu seu casaco de couro remendado e botas. Ao subir para o convés, o ar salgado da manhã limpou os últimos vestígios da névoa mental. O sol nascia sobre o Cais das Lágrimas, tingindo as águas poluídas de tons dourados e revelando a névoa baixa que se agarrava às docas podres. E lá estava ele.

    Madoc. Não dentro do navio, mas na própria passarela, parado como uma estátua. Seus ombros largos bloqueavam parcialmente a visão do porto, seus olhos fixos não no horizonte, mas nas intrincadas runas esculpidas no casco do Semente do Caos. Havia uma reverência em sua postura, uma concentração profunda que Nix nunca lhe vira. Ele parecia… hipnotizado. Ou avaliando.

    — Bom dia para zarpar, não é, Capitã? — A voz de Panacéia ecoou do parapeiro. Ela estava sentada como um corvo observador, seu longo cachimbo de prata soltando espirais de fumaça turquesa que cheiravam a jasmim e metal queimado. — A menos que seu novo navegador planeje ficar aí plantado o dia todo admirando a madeira. É bonita, eu sei, mas não navega sozinha.

    Madoc voltou-se, e ao ver Nix, seu rosto iluminou-se com o sorriso charmoso habitual, mas seus olhos obsidiana ainda retinham um brilho de assombro.

    — Bom dia, Capitã. — Ele cumprimentou, subindo finalmente ao convés. Seus passos eram firmes, sem vestígio da noite anterior. — Este navio… é uma obra-prima. Senti-o… respirar. Dá até arrepios.

    — Ele gosta de você. — Nix sentiu um sorriso involuntário formar-se em seus lábios, alimentado pelo alívio da ressaca e pela memória da noite. O Semente emitira um leve zumbido, quase um ronrono, quando Madoc pôs a mão no corrimão. — Ou pelo menos, não te odeia ainda.

    — Alto elogio vindo de um gigante de madeira encantada. — Madoc riu, o som rouco ecoando no convés silencioso. Ele caminhou até o leme, passando os dedos sobre o osso de kraken polido com uma curiosidade tátil. — Quando partimos? Essa escolta para os seus amigos Jïa não vai se fazer sozinha.

    — Assim que… — Nix começou, mas foi interrompida por um som.

    Não um grito. Um *lamento*.

    Um gemido agudo, metálico e profundamente angustiante rasgou o ar, vindo do próprio *casco* do Semente do Caos. Foi um som visceral, de dor ou alerta máximo, que fez o sangue de Nix gelar instantaneamente. Panacéia saltou do parapeito, o cachimbo caindo no convés com um tinido. Vênus surgiu como um raio da cozinha, uma faca de cozinha empunhada, seus olhos de dragão escarafunchando a névoa.

    — Que diabos foi isso?! — Madoc rugiu. O charme evaporou-se, substituído por uma tensão animal instantânea. Sua faca longa apareceu em sua mão como por magia, seu corpo girando num eixo, olhos varrendo o cais e as águas escuras com a precisão de um radar. Cada músculo estava tenso, pronto para o combate.

    — O *Semente*! — Nix gritou, o coração batendo contra as costelas. O medo foi um banho gelado, lavando qualquer resquício de ressaca ou camaradagem. O cheiro doce do jasmim misturou-se ao odor metálico do perigo iminente. — Ele está gritando! Alerta! É uma armadilha!

    Como se suas palavras fossem um sinal, as sombras *dentro* da névoa ganharam vida. Figuras emergiram das brumas como espectros forjados no aço. Mais de uma dúzia, vestindo armaduras negras de escamas de obsidiana que sugavam a luz fraca da manhã. Máscaras prateadas sem feições, sem olhos, apenas superfícies polidas refletindo a imagem aterrorizada de Nix. Assassinos do Templo da Lua. Silvos cortantes preencheram o ar enquanto ganchos de escalada de aço silenciavamente se cravavam com estalidos secos no convés de madeira viva e no casco. Eles escalavam com a agilidade sinistra de aranhas, cercando o navio em segundos.

    — **ZARPA! AGORA!** — O grito de Nix foi um rugido primal, ecoando o grito de angústia do seu navio. Ela atirou-se ao leme, as mãos agarrando o osso de kraken com força branca. O contato foi imediato, elétrico. O pânico do Semente inundou-a – imagens de lâminas, sombras, intenções assassinas. Panacéia e Vênus, movidas por instinto puro, correram para os cabos das velas e as amarras, suas faces pálidas.

    O *Semente do Caos* respondeu. Com um rugido profundo que pareceu brotar das profundezas do oceano, o navio vivo *arrancou*-se do cais. Cordas grossas que o prendiam estouraram como fios de teia. As velas, antes inertes, inflaram-se como peitos de um grande pássaro de rapina, capturando um vento que só ele sentia, um vento nascido do seu próprio desespero. A proa afiada cortou as águas escuras e poluídas do porto com fúria repentina, levantando uma cortina de água suja.

    Madoc transformou-se em um redemoinho de morte. Ele não tentou ajudar com as velas; seu domínio era o combate. Saltando para a amurada do navio que já ganhava velocidade, equilibrou-se com a graça inata de um gato de navio. Sua faca era um relâmpago prateado, um borrão que cortava os cabos de aço dos ganchos com golpes precisos e brutais, um após o outro. *Snap! Snap! Snap!* Assassinos que tentavam pular para o convés em movimento encontravam sua lâmina cortando o ar onde seus pescoços estariam, ou eram arremessados para trás por chutes poderosos que os lançavam de volta às águas escuras do porto. Ele movia-se com uma economia de movimento assustadora, cada ação calculada para máxima eficiência letal.

    Um deles, no entanto, era mais rápido. Um vulto escuro e alado mergulhou da névoa como um míssil. Plumagem negra como breu, garras dianteiras afiadas como punhais de obsidiana, uma máscara prateada sem fendas. O Homem-Pássaro. Ele evitou a lâmina de Madoc com uma reviravolta impossível no ar, aterrissando no convés escorregadio com um baque surdo, já atacando. As garras rasgaram o ar onde o peito de Madoc estivera um instante antes.

    A luta que se seguiu foi frenética, um duelo de velocidade e ferocidade que paralisou Nix por um instante, mesmo lutando com o lema enlouquecido. O Homem-Pássaro era uma fúria alada, atacando com bicadas rápidas e golpes de garra que buscavam pontos vitais. Madoc, maior e mais forte, bloqueava, desviava com torções corporais mínimas, contra-atacava com golpes curtos e brutais que abalariam um touro. O que gelou o sangue de Nix não foi apenas a habilidade, mas a *familiaridade*. Madoc parecia *antecipar* cada movimento do assassino alado. Conhecia seus feints, seus padrões de ataque, como se tivesse treinado contra ele centenas de vezes. Com um movimento fluido e brutal, ele apanhou o braço direito do Homem-Pássaro num bloqueio imobilizador, torceu com força suficiente para ouvir-se um estalo de osso, e desferiu um golpe seco e preciso com a base da mão livre na base do pescoço exposto do inimigo. Um estalo seco, decisivo. O corpo do Homem-Pássaro ficou mole instantaneamente, desabando no convés como um saco de ossos, inconsciente.

    — Capitã! Um presente interrogável! — Madoc gritou, ofegante mas com um triunfo rouco na voz. Ele arrastou o corpo inerte pelo convés escorregadio até o pé do mastro principal. Sua faca ainda pingava um líquido escuro que não era água. Seus olhos obsidiana, ao encontrarem os de Nix por um instante, foram rápidos em se desviar, focando no prisioneiro. Mas naquele breve contato, Nix viu algo além do cansaço do combate. Viu uma centelha de… *reconhecimento*? Ou cautela extrema?

    O *Semente do Caos* ganhava mar aberto, deixando para trás o Cais das Lágrimas e os assassinos restantes, cujos gritos de raiva frustrada perderam-se na distância e no rugido triunfante, agora mais calmo, do navio. Um último gemido saiu do casco, mais baixo, quase um suspiro de alívio. A névoa finalmente se dissipou sob o sol pleno, revelando o oceano infinito, mas também nuvens monstruosas se acumulando no horizonte distante.

    Nix correu até o mastro, Panacéia e Vênus a seus calcanhares. O Homem-Pássaro estava inconsciente, suas asas poderosas dobradas num ângulo não natural, a máscara prateada levemente deslocada, revelando um queixo forte e pele retinta sob ela. Panacéia, com a destreza de séculos, recolheu uma adaga que escorregara do coldre do prisioneiro. A lâmina curta e sinistra tinha um brilho viscoso, roxo-negro, como óleo sob a luz do sol.

    — Veneno de Érebo… — murmurou a fada anciã, levando a ponta da lâmina cautelosamente ao nariz e franzindo o rosto de repulsa. — Destilado de pesadelos. A única coisa que mata sonhos… e coisas piores. Eles não querem apenas te capturar, querida. Querem te *apagar*.

    Nix não ouviu direito o aviso final de Panacéia. Seus olhos estavam fixos em Madoc, que limpava metodicamente sua faca longa com um pano. A adrenalina ainda zumbia em suas veias, mas uma frieza nova, mais penetrante que o vento do mar, instalava-se em seu núcleo. A forma como ele lutara… não era apenas habilidade. Era *intimidade*. Intimidade com os movimentos, com os padrões, com a *natureza* daqueles assassinos. A eficiência letal e cirúrgica. O modo como antecipara o ataque do Homem-Pássaro. Algo encaixou em sua mente com um estalo seco e doloroso. As palavras de Panacéia sobre encontrar um navegador “confiável” soaram como a mais cruel das ironias.

    — Você… — Nix começou, a voz surpreendentemente baixa e controlada no silêncio súbito que se seguiu à fuga, quebrado apenas pelo estalar das velas e o gemido contido do navio. — Você *reconheceu* seus movimentos. Sabia exatamente como ele atacaria. Como se… como se conhecesse o treinamento deles.

    Madoc congelou. O triunfo esmaeceu de seu rosto, substituído por uma máscara de granito liso. Seus olhos negros, sempre tão impenetráveis, desviaram-se dos dela por uma fração de segundo crucial – tempo suficiente para Nix ver a sombra que passava por eles. Ele engoliu em seco, a mandíbula tensionada sob a barba por fazer.

    — São assassinos do Templo, Capitã. — Sua voz saiu rouca, ele forçou uma nota de casualidade que soou falsa como um sino rachado. Ele baixou a cabeça, fingindo inspecionar a lâmina já limpa. — Treinados em padrões. Previsíveis quando se sabe o que procurar. O que a senhorita Panacéia e os boatos do Cais ensinam.

    A mentira pairou no ar, pesada e tóxica como o veneno de Érebo na adaga do prisioneiro. A desconfiança que Nix vinha alimentando desde que Madoc aparecera, e que a noite de bebedeira e confidências quase fizera dissipar, transformou-se em certeza gelada. Era mais que desconfiança; era *reconhecimento*. Ela olhou para o Homem-Pássaro inconsciente, depois para Madoc, o “navegador” que manejava uma faca com a mesma destreza que parecia manejar cartas náuticas. Sua primeira viagem como capitã. Sua nova e estranha tripulação. Tudo desmoronava antes mesmo de deixarem a vista da costa.

    O resto do dia desenrolou-se como uma dança de navalhas, executada sobre o convés que ainda retinha o eco do grito de alerta do Semente. Madoc, envolto em uma aura de profissionalismo impenetrável, assumiu o papel de navegador com uma eficiência que beirava o perturbador. Ele desenrolou mapas que pareciam conter os segredos sangrentos do mundo, pergaminhos antigos e cartas náuticas rabiscadas com anotações em códigos que Nix não reconhecia. Suas mãos, as mesmas que horas antes manejavam uma faca com destreza letal, agora traçavam rotas com uma precisão cirúrgica.

    — Aqui — indicou ele, o dedo indicador pousando sobre um emaranhado de ilhotas insignificantes num arquipélago remoto. — Uma passagem estreita, escondida atrás de um arrecife traiçoeiro. As correntes são mortais, mas evitam os principais canais de patrulha do Templo. — Seu olhar escuro, impenetrável como obsidiana, deslizou para Nix. — Só navegável com vento favorável e um timoneiro… excepcional.

    Nix observava, silenciosa. Observava não apenas as rotas, mas o homem que as traçava. Cada movimento era econômico, calculado. Ele apontava para zonas de perigo — bancos de areia móveis marcados com pequenos ‘X’, rotas comerciais densas cruzadas com linhas vermelhas, pontos fortificados do Templo da Lua assinalados com cruzes minúsculas e precisas. Seu conhecimento era íntimo, visceral, militar. Não era o saber de um cartógrafo ou de um comerciante. Era o saber de quem conhecia os pontos fracos, as brechas, os caminhos que só interessa a quem quer passar despercebido… ou atacar.

    Enquanto ele falava, explicando correntes e ventos predominantes com uma voz neutra e plana, Nix estudava cada microexpressão que tentava formar-se em seu rosto anguloso e era imediatamente suprimida. Cada pausa infinitesimal antes de responder a uma pergunta direta. Cada vez que seus olhos escuros, ao levantarem-se do mapa, evitavam conscientemente o seu olhar turquesa, fixando-se no horizonte, no mastro, em qualquer coisa que não fosse ela. Madoc era uma fortaleza. A única linguagem que parecia fluir dele agora era a do profissionalismo frio e eficiente, uma muralha erguida após a luta no convés.

    Ao final da tarde, quando as sombras começavam a se alongar e o ar já carregava uma umidade pesada e estranha, Madoc ergueu-se da mesa improvisada. Os mapas estavam espalhados como a pele esticada de um mundo desconhecido e perigoso. Sua voz, ao quebrar o silêncio carregado, manteve a mesma neutralidade, mas seus ombros, sob o tecido simples do casaco, pareciam suportar um peso invisível.

    — Provisões, Capitã — anunciou ele, o termo soando formal e distante. Apontou para os registros de carga que Vênus, observadora e taciturna, depositara sobre a mesa. — Estamos perigosamente baixos. Água potável para uma semana, talvez. Farinha, sal… até o rum medicinal da Senhorita Panacéia está no fim. — Seu olhar, frio e calculista, desviou-se brevemente para o vulto amarrado ao mastro principal. O Homem-Pássaro permanecia inconsciente, imóvel, um trapo sujo enfiado na boca como mordaça. — Não daremos conta de uma travessia longa até o Berçário. Especialmente mantendo um… convidado indesejado que consome recursos e vigilância.

    Enquanto as palavras finais ecoavam no ar repentinamente quieto, o mundo exterior escureceu. Não foi o crepúsculo gradual, acolhedor. Foi uma escuridão repentina e sufocante, como se um manto grosso e pesado tivesse sido lançado sobre o céu, apagando o sol moribundo em um instante. Nuvens monstruosas, de um verde-azulado doentio e pulsante, rolavam no horizonte como uma maré viva, engolindo a última faixa de luz. O vento, que até então brincava nas velas do Semente, transformou-se num uivo feroz e cortante, um gemido de besta enfurecida. Ondas, antes apenas encrespadas, ergueram-se como montanhas negras e começaram a bater com força crescente e ameaçadora contra o casco. O navio, robusto e vivo, gemeu profundamente, rangendo sob o estresse súbito, rolando e arfando com violência inédita. Era como um animal nobre sentindo o cheiro inconfundível de um predador primordial.

    Madoc não precisou olhar para os mapas. Seus olhos obsidiana ergueram-se para o céu que se fechava como um punho gigantesco, e seu tom, quando falou novamente, adquiriu uma seriedade absoluta, gravada em aço, que não admitia questionamentos.

    — E parece — continuou ele, a voz projetando-se sobre o rugido crescente do vento e o estalo das velas tensionadas — que o verdadeiro teste para o seu navio, Capitã, e para esta tripulação improvisada, está vindo ao nosso encontro. — Ele apontou uma mão firme para o horizonte negro, onde agora relâmpagos silenciosos, sem trovão, pulsavam como veias púrpura dentro das nuvens verdes sinistras. — Uma tempestade das profundezas. Não um mero aguaceiro. É o tipo que parte quilhas ao meio e afunda ilhas. O tipo do qual não se volta.

    Nix seguiu a direção de seu dedo. O cenário que se desdobrava diante deles era digno de um pesadelo antigo. O mar, outrora uma vastidão cintilante, transformava-se num campo de batalha caótico de água negra e espuma doentia, um caldeirão prestes a ferver. Então, lentamente, seu olhar voltou-se do horizonte apocalíptico para o rosto impassível de Madoc. Seus traços eram iluminados por um relâmpago distante que lançava sombras profundas e dançantes sob seus olhos impenetráveis. A tempestade física que se aproximava era um monstro tangível. Mas dentro de Nix, outra tempestade, feita de desconfiança cortante e promessas quebradas, rugia com força igual. As coisas não podiam piorar? Elas já *eram* o pior. O inferno, tanto no mar revolto quanto dentro do frágil casco de madeira do Semente do Caos, estava apenas começando. A adaga de veneno de Érebo, guardada por Panacéia, e o prisioneiro silencioso amarrado ao mastro eram lembretes mudos e sinistros: o perigo mais mortal, aquele que respirava ao lado deles, talvez já estivesse firmemente a bordo.

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