Capítulo 65 - Wonderheart Studio II
Dois anos haviam se passado. O movimento grunge estava totalmente enraizado, com camisas de flanela e Doc Martens sendo o visual preferido. Logo após assumir o cargo, Bill Clinton havia feito inúmeras promessas de “mudança” após uma sucessão de administrações republicanas.
Um frenesi de horas extras, muitas xícaras de café e inúmeras edições. Natalie ainda estava nos estágios iniciais de sua carreira de dubladora, e os testes se mostraram mais desafiadores do que ela havia previsto. Joseph, por outro lado, usou seus medos como combustível para uma intensa explosão criativa.
Uma ode à ambição comum foi a WonderCrescent, a incipiente empresa de animação instalada precariamente acima de um lotado restaurante tailandês. Sempre houve um toque de capim-limão e pimenta no ar, um lembrete agridoce de sua paixão e da natureza perigosa de sua busca criativa.
O espaço apertado era uma confusão desconexa de móveis incompatíveis, storyboards colados em todas as paredes disponíveis e prateleiras abarrotadas de guias de animação e obras de arte. Usados como sofás improvisados, os velhos pufes geralmente estavam cheios de desenhos de personagens amassados e canecas de café quebradas.
Em meio ao caos, um novo capítulo discreto em suas vidas começou. Depois de se relacionarem romanticamente, Natalie e Joseph encontraram inspiração e conforto no companheirismo um do outro. Intervalos para risadas e discussões sobre seus sonhos frequentemente resultavam de sessões volúpias noturnas.
Ambos estavam levando um ao outro a novos patamares em seu relacionamento, que era uma combinação de trabalho em equipe criativo e apoio mútuo. O relacionamento reciprocamente benéfico deu ao WonderCrescent uma energia especial que não era apenas profissional, mas também profundamente emocional, pessoal e cheia de potencial.
Joseph sentiu-se vivo pela primeira vez em dez anos. O propósito da animação evoluiu de ser apenas um meio de fuga para se tornar uma válvula de escape criativa, ajudando-o a descobrir uma voz que falava mais alto do que qualquer outra que ele já havia usado em uma sala de reuniões. Havia algo diferente nos olhos de Joseph Russell agora, uma centelha selvagem e excitante que gritava possibilidades e um futuro cheio de cores vivas, em vez do cinza estereotipado das planilhas. Ele ainda era o mesmo Joseph Russell, o homem com uma existência cuidadosamente organizada.
Ao lado da pessoa que amava, Natalie o levou a dar um salto de fé, que o libertou não apenas de um trabalho, mas de uma vida pela metade.
Seu primeiro empreendimento, um curta de animação intitulado “The Grumpy Gargoyle”, foi um trabalho de amor. Financiado por um orçamento apertado e alimentado por galões de café e madrugadas, era uma profusão de cores e personagens excêntricos. Tratava-se de um conto esquisito que apresentava Grogg, a gárgula perpetuamente descontente com um gosto surpreendente pela ópera, e os Irmãos Gnomio, um bando de consertadores nômades que navegavam o mundo com cogumelos bioluminescentes enormes – o toque caprichoso de Natalie.
Apesar das críticas elogiando sua originalidade e a dublagem de Natalie, os números de vendas permaneceram teimosamente baixos. The Grumpy Gargoyle teve, infelizmente, uma recepção morna.
As estimativas de vendas para dezembro eram ruins, com apenas 3.500 unidades vendidas – muito longe das 10.000 unidades planejadas. A conhecida sensação de decepção estava começando a dominar o otimismo habitual de Joseph. Seus empreendimentos artísticos não eram exatamente apoiados pelo clima político, que enfatizava muito a contenção econômica. Como resultado, o financiamento para atividades artísticas e culturais foi reduzido em 20%.
Embora o setor de animação estivesse prosperando graças a obras-primas da Disney, ele não era muito convidativo para os recém-chegados, o que tornava difícil obter os subsídios necessários. Os críticos, que ainda estavam encantados com a animação audaciosa e aventureira que regia o mundo pós-Guerra Fria, achavam que seu trabalho era cativante, mas que faltava um certo quê. As contínuas guerras culturais colocaram a animação no meio do fogo cruzado.
Os liberais estavam desesperados por tudo o que abordasse as preocupações sociais de frente, enquanto os conservadores viam como uma diversão frívola qualquer coisa que fosse, mesmo que de certa forma, surpreendente. WonderCrescent parecia ocupar uma incômoda terra de ninguém criativa com sua mistura peculiar de humor e fantasias.
Uma noite, enquanto os últimos raios do sol poente lançavam longas sombras no chão do estúdio, Natalie desabou num pufe, com a testa franzida.
— Talvez tenhamos tomado a decisão errada. — Pegou um fio solto do tecido desgastado. — O primeiro projeto foi… uma ideia divertida, é claro, mas ainda assim foi um fracasso. Claro, todo mundo está um pouco aborrecido hoje em dia com as notícias e tudo mais, mas talvez o simples não seja mais engraçado.
Joseph, sentado em um banquinho com um bagel meio comido na mão, balançou a cabeça.
— Olha, os números de vendas não estão exatamente incendiando o mundo, e isso dói, não vou mentir. Mas talvez fracasso seja um pouco duro. Criamos algo único, algo que fez as pessoas rirem, mesmo que fosse um pouco cínico.
Ele deu uma mordida hesitante em seu bagel, estremecendo quando uma semente de papoula se alojou entre seus dentes.
— As críticas não pagam as contas, Joseph. E o aluguel vence na próxima semana. Talvez devêssemos ter continuado com nossos empregos diários. Pelo menos assim, não estaríamos vivendo de pão e água.
— Ei, esses pãezinhos constroem o caráter. — Balançou a comida na sua mão com uma tentativa fraca de defendê-lo. — Sério, eu sei que as coisas estão difíceis. Mas desistir agora parece… errado. Como se estivéssemos traindo o sonho, sabe? O sonho de criar algo que faça as pessoas rirem, que ofereça um pouco de esperança nestes tempos absurdos.
Natalie olhou para ele por cima do pufe.
— Errado? Por quê? Por que nos dedicamos a esse sonho maluco de um desenho com sua comitiva gnômica? Por que achamos que as pessoas se importariam com um monstro de pedra ranzinza com problemas com pombos? Talvez o mundo simplesmente não tenha lugar para Grogg e seu tipo de humor cínico. A nossa chance de nos tornarmos o próximo Matt Groening ou Seth MacFarlane é uma fantasia tão estranha quanto uma gárgula falante.
As brincadeiras evaporaram, substituídas por um silêncio extenuante, pontuado apenas pelo distante lamento de uma sirene. Joseph, com a última mordida de seu bagel esquecida, encontrou o olhar de Nat, uma centelha de frustração intensificando suas feições.
— Vamos lá, meu amor. Não nos compare a esses gigantes da animação. Eles fazem shows com patrocinadores corporativos e banners coloridos. A WonderCrescent é diferente. Nós temos coração, caramba! Estamos fazendo algo significativo, mesmo que esteja enterrado sob uma camada de reclamações de Grogg.
— Significado? — Bufou. — Joseph, com todo o respeito, o único significado que Grogg parece oferecer é uma dose saudável de pavor existencial. As pessoas estão cansadas. Cansadas do ciclo interminável de notícias, das brigas partidárias em Washington, da sensação de que o sonho americano está lentamente se transformando em uma relíquia suja de uma era passada.
— Exatamente! — respondeu, aumentando a voz. — É por isso que precisamos de Grogg! Ele é a personificação dessa frustração, a voz cínica que todos abrigam secretamente. Mas o problema é o seguinte, Nat. Sob todos esses resmungos, há esperança. Grogg pode reclamar do estado do mun…
— Esperança envolta em uma camada de cinismo ainda é cinismo, Joseph. — Interrompeu. — Talvez o mundo precise de uma risada, uma risada genuína, não um lembrete de que tudo é uma merda. Talvez o mundo precise de menos Grogg e mais, não sei, de um gato falante que resolve mistérios ou um grupo de adolescentes com poderes mágicos salvando o planeta.
Joseph sentiu uma onda de raiva crescer dentro dele, um forte contraponto ao medo corrosivo que lentamente apertava suas entranhas.
— Então você está desistindo? Simples assim? Construímos WonderCrescent do zero, derramamos nosso sangue e suor. Você está realmente disposta a jogar tudo fora porque o primeiro desenho animado não foi um rolo compressor de audiência?
— Não é tão simples assim, Joseph. — A voz dela suavizou-se, uma pitada de arrependimento surgindo. — Eu acredito no WonderCrescent, eu realmente acredito. Mas também acredito na praticidade, só que…
— Tá, tá bom, minha querida. — Suspirou, sorrindo depois. — Vamos esquecer isso e relaxar um pouco. Vem cá.
Os lábios de Natalie curvaram-se num sorriso travesso, do tipo que continha a promessa de uma tempestade de verão – linda, mas potencialmente explosiva. O ar crepitava com uma energia recém-descoberta, uma voltagem que transcendia a centelha criativa que compartilhavam.
As brasas moribundas do sol lançavam longas sombras pelo estúdio, pintando o espaço desordenado em tons de laranja e roxo. Seus corações conheciam a linguagem dos sentimentos não ditos muito melhor do que as palavras, e isso ficou evidente no silêncio que caiu entre eles.
Nat levantou-se do pufe e andou em direção a ele. O aroma de lavanda, fraco, mas inebriante, chegou até Joseph, um contraponto sutil ao aroma persistente de café e tinta do dia anterior.
Chegando à sua frente, se inclinou, os dedos roçando sua bochecha em um gesto que enviou uma descarga elétrica através dele. Seu toque era leve, como uma borboleta pousando em uma flor, mas carregava o peso de mil confissões não ditas.
Ela diminuiu a distância entre eles sem dizer uma palavra, seus lábios encontrando os dele em um beijo terno, mas forte. Com o material desbotado de suas calças proporcionando uma familiaridade reconfortante, ela se aninhou em seu colo e Joseph a envolveu em seus braços.
Começou devagar, uma exploração suave de lábios e calor. O sabor de café e canela permaneceu na língua de Nat, um contraponto ao aroma almiscarado da colônia de Joseph que enchia seus sentidos. À medida que o beijo se aprofundava, uma faísca se acendeu, um fogo alimentado pela paixão compartilhada e pelos desafios tácitos que enfrentaram juntos.
O mundo que os cercava pareceu desaparecer, deixando apenas a sensação do corpo dela pressionando contra o dele e seus corações acelerados como a única fonte de realidade.
O cheiro de poeira e tinta se misturou com a doçura de seu perfume, criando uma névoa inebriante na luz fraca. A risada deles, um som abafado nascido da mudança repentina, misturou-se ao zumbido distante da cidade lá fora.
As mãos de Natalie se desviaram, sentindo as curvas das costas de Joseph, seus músculos tensos e depois relaxados sob sua carícia. Calor e desejo deixaram rastros em sua pele enquanto os dedos dele traçaram padrões.
As mãos de Joseph foram para seus quadris. Ele a puxou para mais perto, seus corpos se alinhando perfeitamente. Natalie soltou um gemido suave, o som vibrando através de ambos, aumentando a tensão elétrica que os unia. Eles se moviam como um só, guiados por um ritmo instintivo, a fricção entre eles aumentando o prazer e a intimidade.
Levantou-se da cadeira e a colocou sentada em cima de uma bancada, amassando os papeis com rascunhos. Com a respiração aquecida em sua pele, os lábios de Joseph moveram-se da boca até o pescoço.
Peça por peça, suas roupas foram retiradas, deixando apenas o calor de seu corpo e a profundidade de sua intimidade entre eles. O cheiro do terno combinando se misturava ao perfume de lavanda, fazendo a pele de Natalie parecer atraente e acolhedora.
As mãos dele se moveram sobre o corpo dela, tocando a pele lisa das coxas, o formato arredondado dos quadris e o volume dos seios. Uma faísca era acesa a cada contato, e o fogo ficava mais quente a cada momento que passava.
O sabor um do outro era inebriante, uma mistura de suor e doçura que os fazia desejar mais. A boca de Joseph desceu, traçando beijos pela clavícula, esterno, até chegar à pele sensível do abdômen. Ela engasgou, suas mãos se enroscando em seus cabelos, incitando-o.
Gemeu baixinho, sua respiração áspera e curta quando os dedos dele finalmente abriram caminho entre suas pernas.
Ele seguiu o formato de seu lugar mais íntimo com um toque delicado e brincalhão a princípio. Mas o toque de Joseph tornou-se mais exigente à medida que as ancas dela começaram a balançar ao ritmo dos seus dedos e os seus gemidos tornaram-se mais altos. Com movimentos lentos e deliberados, ele inseriu um dedo dentro de sua vagina e depois outro.
A boca de Joseph voltou a beijar seu pescoço, sua língua e lábios movendo-se em sincronia com seus dedos enquanto ele a empurrava até o limite. Natalie sentiu a primeira onda de seu orgasmo cair sobre ela e agarrou-o, prendendo-o pelos ombros. A intensidade de sua liberação ficou evidente na sala cheia de seus gritos.
Vrrr
De repente, um zumbido baixo cortou a cena idílica. O telefone de Natalie, abandonado na poltrona próxima, vibrava insistentemente.
Joseph, com o olhar momentaneamente desviado de seus seios particularmente interessantes, percebeu. Ele se inclinou mais perto, avistando a tela iluminada do telefone.
— É importante?
A mão de Natalie pairou sobre suas bochechas, trazendo-o de volta para si, um sinal revelador de que algo estava errado.
— Uh, n-não. Não é ninguém. V-vamos voltar… por favor.
A testa de Joseph franziu ligeiramente. Sua hesitação foi uma revelação absoluta. Ele encontrou o olhar dela, uma pitada de diversão brincando nos cantos de seus lábios.
— Parece que alguém está tentando entrar em contato com você.
— Coisas de trabalho. Você sabe como esses relatórios trimestrais podem ser, pesadelos de dados sem fim.
O comportamento habitual de Natalie foi substituído por uma contração nervosa em sua mandíbula. Sua diversão desapareceu, substituída por uma preocupação que apertou seu estômago.
— Trabalho, hein? Engraçado, porque para uma defensora ferrenho da desintoxicação digital, você parece terrivelmente ligada a esse telefone agora. A menos, é claro, que seu telefone tenha feito uma discagem fantasma.
— Não faça a rotina do namorado ciumento, especialmente durante uma ligação de trabalho. Você sabe que desprezo o microgerenciamento tanto quanto qualquer pessoa.
Um silêncio tenso preencheu o espaço entre Natalie e Joseph, pontuado apenas pelo zumbido insistente de seu telefone, que parou segundos depois.
— Meu amor, na verdade não é nada. Apenas um colega com uma pergunta de última hora sobre os fundos da campanha de Sanders. Você sabe como as coisas ficam um pouco malucas durante as primárias.
Joseph a estudou, sua expressão ilegível. A menção do Senador Sanders, um crítico veemente da atual agenda Neo-Globalista, pareceu acionar um interruptor dentro dele. Um músculo em sua mandíbula se apertou.
— A campanha de Sanders? Mas eu pensei que você estava no caminho certo com a Iniciativa Globalista. Você até mencionou ter participado daquele evento de arrecadação de fundos ostentoso em Mônaco no mês passado.
As bochechas de Natalie queimaram com uma mistura de raiva e atitude defensiva.
— As coisas mudam. Pode ser que eu esteja começando a ver as falhas em toda a sua utopia de governo mundial ou questionando a ética de resgatar megacorporações falidas enquanto as pessoas nas ruas não podem pagar pelas necessidades básicas.
Joseph riu, zombando, um som sem humor.
— Não se faça de ingênua comigo. Você é uma dubladora ambiciosa, e a Iniciativa Globalista é a escada rolante de ouro. Por que a súbita mudança de opinião?
O telefone tocou mais uma vez e desta vez vibrou no assento com maior intensidade. Natalie se assustou, seu olhar passou da tela para o rosto de Joseph. O brilho duro da verdade parecia apagar as risadas e os momentos que foram tirados.
Russell foi a fonte do conflito sem palavras que separava seu rosto; ele não estava mais tendo o prazer que sentia no início. Andou em sua direção, atraído como uma mariposa pela luz do telefone. O pegou e se virou para a tela, que tinha o nome “Noah” claramente exibida contra um fundo escuro.
O nome o atingiu como um soco no corpo. O sangue em Joseph gelou. Uma acusação silenciosa pairou no ar, a sugestão de possível traição que estava apodrecendo entre eles.
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