— Meu amor, não é o que você pensa.

    — Não é o que eu penso? Haha. — A risada de Joseph foi amarga. — Então me esclareça, Natalie. O que devo pensar quando vir o nome dele no seu telefone?

    — E-ele é apenas um amigo. — disse rapidamente, com a voz trêmula. — Trabalhamos juntos no projeto de caridade, você sabe disso.

    — Só um amigo? — repetiu, seu tom zombeteiro. — Então por que sinto que sou o último a saber de tudo que está acontecendo entre vocês dois?

    — Porque não há nada acontecendo, Joseph. Você está deixando seu ciúme tomar conta de você.

    — Ciúmes? — Balançou a cabeça, descontente. — Não se trata de ciúme. Trata-se de confiança. Ou melhor, da falta dela.

    O ar estalava de tensão quando Joseph, desafiando cada fibra do seu ser, apertou o botão de chamada. O alto-falante se encheu de uma voz que enviou uma ponta de gelo em suas veias. Era uma voz repleta de charme praticado, gotejando uma familiaridade que fez com que um grunhido possessivo subisse pela garganta de Joseph.

    [Olá, linda, como você está? Estive pensando na semana passada e em como nos divertimos. O que você acha de nos encontrarmos no mesmo lugar e… recriarmos essa magia? Você sabe o que eu quero dizer. Estava até pensando em pegar uma garrafa daquele vinho que você adora. Como isso soa? Deixe sua noite de sexta-feira livre para mim.]

    A mão de Joseph apertou o telefone, os nós dos dedos ficando brancos. O mundo pareceu encolher, a cena idílica do parque se deformando em uma imagem espelhada distorcida de um parque de diversões. 

    Ele não respondeu. As palavras ficaram presas em sua garganta, um coquetel amargo de traição e fúria. Em vez disso, ele lentamente virou o telefone para Natalie, seu olhar era de um cinza tempestuoso. A acusação pairava pesadamente no ar, uma pergunta silenciosa que exigia uma resposta.

    [Nat? Você está aí?]

    A resposta de Joseph veio com um tom cortante, carregado de sarcasmo e uma intensidade subjacente.

    — Oh, isso parece familiar. — respondeu, sua voz tingida de amargura. — Vamos sim nos encontrar no mesmo lugar. Vinho incluído, claro. Diga-me, Natalie, devo limpar minha agenda para sexta-feira também? 

    [Espera, quem é você?]

    Congelada num quadro de horror, observou-o com olhos arregalados e aterrorizados. A negação brilhou em seu rosto, rapidamente substituída por uma compreensão da verdade que Joseph agora segurava em suas mãos.

    — E-eu posso explicar…

    — Você não precisa explicar mais nada.

    As imagens de tempos melhores, as lembranças do amor manchadas pelas mentiras, pareciam zombar deles no silêncio que se seguiu. Cada coisa clamava por memórias reduzidas a cinzas, suas cores outrora vivas, mortas e monótonas.

    Joseph tentou encontrar qualquer indício da verdade irreal que ele tanto queria que fosse falsa. Mas lá estava, refletido em seus olhos cheios de lágrimas, duro e intransigente. O engano dela fez com que a base de confiança que ele havia construído ao longo de dois anos desmoronasse, deixando apenas escombros em seu rastro.

    Russell percebeu naquele mesmo instante que nada mais seria como antes.

    Joseph estava ali, uma estátua esculpida na pedra de sua própria descrença. A traição penetrou em suas veias como um veneno de ação lenta, entorpecendo-o para tudo, menos para a dor crua e pulsante. Sua voz, quando finalmente emergiu, era um sussurro, irregular e quebrado, ecoando os fragmentos de seu coração.

    — Dois anos, Natalie. Dois anos da minha vida, dados a você sem reservas, sem dúvidas. E é assim… é assim que você me retribui?

    As lágrimas dela caíram livremente, mas os olhos de Joseph estavam secos. Sua tristeza era profunda demais para chorar. O mundo ao seu redor ficou turvo, todas as cores silenciadas pela névoa cinzenta de sua dor.

    — Como você pode? Como você pôde mentir para mim, para nós, por tanto tempo? Alguma coisa foi real ou eu era apenas um tolo dançando na sua sombra, cego pelo amor? — Andou na direção de Nat e sua voz ficou mais forte, alimentada pela raiva fervendo sob sua pele. — Eu confiei em você para tudo. Meu coração, minha alma, meu futuro. E você pegou tudo e enterrou na terra. Você alguma vez me amou ou eu era apenas uma conveniência, um substituto até que algo melhor aparecesse?

    Ela abriu a boca para falar, mas ele ergueu a mão, silenciando-a. O tempo das explicações havia passado; não havia nada que ela pudesse dizer que pudesse curar a ferida aberta em seu coração.

    — Eu te dei o melhor de mim e você me retribuiu com mentiras e enganos. Você nos destruiu, Natalie. Nada sobrou. Sem perdão, sem segundas chances. Apenas esta… esta concha vazia onde costumava estar meu amor por você. Valeu a pena? Ele valeu a pena?

    [Espera, espera, você nunca me contou que namorava. Eu não tô entendendo mais nada.]

    Os soluços dela encheram a sala, mas não lhe trouxeram consolo. As paredes pareciam fechar-se ainda mais, o quarto era um túmulo para o amor que morrera neste lugar. Ele sentiu um vazio frio se instalar dentro dele, um abismo onde antes estava seu coração.

    — Espero que ele tenha valido a pena. Porque você me perdeu. Para sempre.

    A mão de Joseph apertou a caneta-tinteiro que ele pegou da mesa, a mesma mesa onde ele despejou sua alma em esboços e sonhos, agora uma lembrança cruel do amor que ele havia criado com tanto esforço. O metal frio da caneta pressionou sua palma, uma sensação de ancoragem em meio à tempestade de suas emoções. Ele se aproximou de Natalie, que estava sentada no balcão, com as costas apoiadas na parede, encurralada tanto física quanto emocionalmente.

    — Vê isso? — Segurou a caneta entre eles. — Isso foi um presente seu. Você disse que simbolizava a criatividade, o nosso futuro, as histórias que escreveríamos juntos. Isso não passa de uma piada.

    Os olhos de Natalie se arregalaram de medo. Sua respiração era curta e superficial, com o peito arfando com uma mistura de culpa e pavor.

    — Cada linha que desenhei, cada palavra que escrevi, foi uma prova do meu amor por você. Mas você… você transformou tudo em mentira. Você pegou algo puro e belo e transformou em algo feio e grotesco.

    Joseph pressionou a caneta contra a parede perto da cabeça dela, a ponta cravada no gesso, deixando uma pequena marca de raiva. O som do metal raspando na parede foi uma pontuação áspera em suas palavras.

    — Vou te contar uma coisa. Eu costumava trabalhar para o Terceiro Reich em Londres. Sim, eu era uma engrenagem na máquina da opressão e da guerra. Minhas mãos, agora manchadas com a tinta dos meus desenhos, já foram manchadas pela culpa da submissão e do silêncio.

    Ele respirou fundo, as memórias voltando com uma clareza dolorosa.

    — Eu era jovem, ingênuo e desesperado por um propósito. Eles me ofereceram estabilidade, direção. Eu não entendi toda a extensão daquilo em que fazia parte até que fosse tarde demais. A essa altura, eu estava preso, cúmplice dos horrores que se desenrolaram. Cada ordem que segui, cada documento que assinei, deixou uma cicatriz em minha alma.

    O aperto de sua mão contra o pescoço dela foi se intensificando.

    — Não foi fácil sair de lá. Fugi, na verdade, na esperança de deixar aquela vida para trás, para construir algo melhor, algo puro. Conhecer você, me apaixonar por você, me deu essa esperança. Você foi minha salvação. Uma chance de expiar, criar em vez de destruir.

    Ela lutava para empurrar seu braço, mas sua força era inútil.

    — Agora, ao descobrir a sua traição, parece que a história se repete. As mentiras, o engano, tudo se repete. É como se eu estivesse de volta àquele lugar escuro, cercado por sombras e desconfiança. 

    Os olhos dele imploravam por uma explicação que pudesse dar sentido ao caos dentro dele. 

    — Por que, Natalie? Depois de tudo, por que você faria isso? Meu passado não era um fardo suficiente? Você teve que adicionar sua própria traição ao peso que já carrego?

    Os lábios de Natalie tremeram. O abismo entre eles se alargava, um abismo cheio dos destroços de seu amor.

    [E-espera aí! Vamos conversar antes!]

    O aperto de Joseph apertou ainda mais a caneta-tinteiro, sua ponta afiada brilhando com intenções malévolas. Seu coração batia forte no peito, cada batida era um rufar de tambores levando a um inevitável e sangrento crescendo. Os olhos de Natalie se arregalaram de horror, sua respiração ficando entrecortada.

    — Por quê?!

    Enfiou forçadamente a ponta pontiaguda da caneta profundamente em sua vagina, rasgando músculos e pele. Um gêiser de sangue jorrou da ferida, descolorindo os azulejos brancos com os restos da fé despedaçada.

    Natalie soltou um grito. Suas mãos foram automaticamente para onde estava doendo, tentando parar o sangramento. Ele olhou nos olhos de Joseph, os olhos arregalados de tristeza e desespero enquanto procurava sinais do homem que um dia amou.

    Mas Joseph estava além da razão, consumido por um turbilhão de raiva e tristeza. A outra mão dele disparou para frente, apertando o pescoço dela com um aperto semelhante a um torno, interrompendo seus gritos, transformando-os em algo estrangulado e sufocado.

    A caneta permaneceu incrustada em seu ventre. O sangue continuou a fluir, acumulando-se ao redor de seus pés. As lágrimas se misturaram ao líquido carmim em seu rosto. Sua respiração vinha em soluços irregulares e pesados.

    A força de Natalie diminuiu, seu corpo ficou flácido à medida que a vida se esvaía dela. Seus olhos, antes tão vibrantes, ficaram embotados, a luz dentro deles tremeluzindo e desaparecendo como uma chama moribunda. Suas mãos, manchadas com seu próprio sangue, caíram do ferimento, pendendo inutilmente ao lado do corpo.

    O aperto de Joseph em seu pescoço aumentou, os nós dos dedos ficaram brancos com a força de sua raiva. Ele podia sentir o pulso dela enfraquecendo sob seus dedos. 

    O tempo parecia desacelerar, cada segundo se estendendo até uma eternidade de sofrimento. A sala estava silenciosa, exceto pelo som úmido e borbulhante da respiração difícil de Natalie e pelo gotejar constante de sangue no chão.

    Quando seu corpo ficou frouxo, Joseph soltou seu pescoço, recuando para vê-la cair no chão. Ela ficou ali, cercada por uma poça de sangue que se espalhava, com os olhos fixos no teto. A caneta, escorregadia de sangue, projetava-se obscenamente de sua vagina, a pontuação final de sua trágica história.

    O peito de Joseph subia com o esforço de sua respiração, sua mente era um turbilhão caótico de emoções. Ele olhou para suas mãos manchadas de sangue, a realidade de suas ações caindo sobre ele como um maremoto. 

    A mulher que ele amava, a mulher em quem confiava, jazia morta a seus pés, com o sangue em suas mãos, literal e figurativamente.

    Os joelhos de Joseph dobraram e ele caiu ao lado do corpo sem vida de Natalie, as lágrimas misturando-se com o sangue no chão. Ele queria respostas, queria entender por que ela o traíra. Mas agora, com ela morta pelas mãos dele, essas respostas nunca viriam. A única coisa que restou foi o vazio, a dor oca da perda e do arrependimento, e a mancha indelével da violência que ele causou.


    1998. 

    Um estúdio de animação encontrava-se no seu auge, a Wonderheart Studio, produzindo desenhos animados para crianças. Superficialmente, era um refúgio de maravilhas infantis, com desenhos coloridos que traziam sorrisos a milhões de rostos, mas para Joseph, era sua redenção.

    Um acidente terrível, uma tragédia abafada – os detalhes permaneceram um segredo bem guardado. Mas a culpa, um peso importante, o levou a criá-lo. Em meio às risadas dos personagens de desenhos animados e ao barulho frenético das mesas de animação, ele buscou consolo. 

    Ele não era ingênuo. O negócio da animação era uma indústria acirrada, repleta de concorrência. Os outros departamentos – licenciamento, marketing, distribuição – eram uma fonte constante de tensão. Eles viam o Wonderheart como um produto, uma vaca leiteira CGI a ser ordenhada até secar. Joseph percebeu a avareza refletida nos olhos injetados e nos sorrisos que ofereciam aos potenciais investidores. 

    Detestava a miopia deles. O estúdio era mais do que apenas resultados financeiros; era um refúgio, um santuário para ele e para a equipe de animadores talentosos que reuniu. A criatividade reinou suprema, livre do frio cálculo das margens de lucro. Mas os lobos estavam circulando, sua fome era uma ameaça ao mundo frágil que ele construiu. 

    Um de seus funcionários tentou convencer Joseph a tornar a empresa independente, com o objetivo principal, sobretudo, de não perder empregados valiosos. Mais tarde, um grande entusiasta interessou-se e investiu no estúdio. Russell hesitou porque ofereceu apenas 50 milhões de dólares no total. 

    Foram principalmente vendidos a agências governamentais, bem como para fins de desenvolvimento acadêmico, de saúde e de investigação científica. No entanto, um departamento respeitável acabou por comprar todos os computadores necessários para o seu trabalho de criação de um sistema informático de animação.

    Mesmo assim, Joseph continuava com uma perda significativa de dinheiro, a despeito do fluxo de investimentos realizados por um entusiasta na empresa. Foi preciso dispensar 45 colaboradores. Até mesmo um acordo de US $15 milhões para esse mesmo serviço de produção no valor de dois filmes de animação não conseguiu salvar o estúdio da constante escassez de dinheiro e mão de obra. 

    O plano original, defendido por Murphy, envolvia transmitir a série diretamente para capitalizar uma recente mudança de mercado. Joseph, no entanto, ansiava por um lançamento nos cinemas. Ele imaginou seus personagens saindo da tela, uma experiência imersiva para crianças de todo o mundo. 

    À medida que as semanas se transformavam em meses, o impasse nas negociações tornou-se uma realidade sufocante. Dois meses de reuniões culminaram num golpe esmagador. O acordo fracassou, deixando o projeto de Joseph à deriva em um mar de incertezas. 

    O desespero o corroeu. Seu sonho estava à beira do colapso.

    Foi em meio a esse turbilhão de desespero que uma ideia radical surgiu na sua mente. Russell sempre fantasiou em dar vida às suas criações, saindo dos limites do papel e da animação celular. Impulsionado por esse desejo antigo, ele embarcou em uma incansável odisséia de pesquisa.  

    Acessá-lo não era para os fracos de coração. Era necessário um navegador específico equipado com ferramentas de anonimato, uma jornada labiríntica através de servidores proxy espalhados por todo o mundo.

    A landing page, desprovida de gráficos chamativos ou slogans cativantes, era uma tela austera em preto obsidiana. Letras vermelhas, que lembravam sangue seco, rabiscavam o nome Funebris Latus na parte superior.  Não havia menus, botões ou guias manuais. Apenas uma única inscrição tremeluzente em uma fonte que lembrava cera pingando: 

    Fale o que você deseja.

    Hesitante, digitou:

    Dar vida às minhas criações.

    A tela permaneceu preta por um momento, então uma única linha de texto se materializou:

    O preço da criação é alto. Você está disposto a pagar?

    Abaixo da pergunta, uma lista começou a se materializar.

    1. O participante deve estar preparado para um compromisso inabalável com o ritual. Não há como voltar atrás quando o processo começa.
    2. Antes de aceitar o acordo, uma frase específica precisa ser recitada três vezes: “Eu te ofereço e entrego minha carne junto com minha alma”, garantindo o sucesso na aquisição do benefício desejado.
    3. A traição é estritamente proibida. O participante fica vinculado uma vez “infectado” e qualquer tentativa de enganar a entidade resultará em consequências desastrosas. Essa consequência é permanente, deixando o participante “para sempre sem alma e corpo”.
    4. Materiais específicos estão vinculados ao resultado desejado. Neste caso, a tinta preta é necessária para que o ritual dê vida aos personagens animados. Nenhuma outra cor é aceitável.

    Enquanto Joseph rolava a tela, uma onda de náusea tomou conta dele. Isso era uma espécie de pacto, pensou ele, uma barganha faustiana onde o preço não era medido em dólares, mas em algo muito mais precioso. 

    Com a mão trêmula, digitou:

    Sim. Estou disposto.

    Cego pelo seu desespero crescente, não conseguiu ver a ameaçadora tendência subjacente. Esta não foi uma simples transação comercial; cheirava a algo muito mais sinistro. 

    Mesmo consumido pela necessidade de prevalecer na sua batalha, Joseph ignorou o crescente desconforto. Ele faria o que fosse preciso, não importava o custo. 

    Seguindo a primeira instrução, procurou uma lâmina de barbear esterilizada e, com uma careta, cortou uma lasca fina da ponta do dedo indicador; traçou um símbolo nas tábuas empoeiradas do piso de seu estúdio; em seguida veio a tinta preta que, ao despejá-lo no símbolo, o ar estalou com uma carga estática, provocando arrepios na espinha.

    O tempo se estendeu por uma eternidade. O relógio na parede batia impiedosamente às 23h40. Um grito arrepiante rasgou o ar, as tábuas do piso abaixo do símbolo começaram a se contorcer e gemer.

    Uma luminescência esverdeada e doentia vazou das rachaduras, iluminando uma visão que marcaria para sempre a sanidade de Joseph. Gavinhas pegajosas e escuras irromperam dali, contorcendo-se e pulsando como serpentes monstruosas. 

    Surgiu uma massa disforme, uma paródia grotesca da vida. Era vagamente humanóide, uma forma bulbosa. Duas órbitas vazias abertas no centro, desprovidas de olhos, mas de alguma forma parecendo olhar diretamente para Joseph. 

    Esta, ele percebeu com um choque de horror, era Ruth. Não o personagem vibrante e excêntrico que ele acatou de uma criança, mas uma zombaria grotesca. No entanto, uma sensação distorcida de triunfo emergiu através dele. Ele tinha feito isso. Ele deu vida à sua criação, embora de uma forma mais adequada a um pesadelo do que a um desenho animado infantil.  

    Um sorriso arrepiante surgiu em seu rosto, um forte contraponto ao olhar vazio e sem piscar da criatura diante dele. A ambição de Joseph deu origem a uma realidade horrível, um testemunho dos perigos de interferir com forças além da compreensão humana.  

    — Isso… finalmente. — Russell lhe observava dos pés à cabeça. — Deve servir. Você vai nos trazer boas vitórias. Eu conto com sua colaboração.

    Restou no rosto de Ruth apenas um sorriso torto e ligeiramente irritado. Em passos lentos a criatura se aproximava do homem.

    — Hm? O que foi?

    Ele se afastava sem entender suas intenções, afinal, havia feito tudo de acordo com o que se pedia. Desde sacrificar seu próprio sangue para trazê-lo, até tentar dominá-lo. Aquilo espantava-o, da mesma forma que desconfiava do trabalho que fez para convocá-lo. 

    — Não está certo… Por que tá agindo assim?

    Uma verdade, tão inegável quanto a criatura diante dele, o atingiu. A sua ambição cega, a sua fome desesperada de sucesso, tornaram-se o combustível que acendeu esta negociação monstruosa.

    Ele não criou um ser vivo – ele criou um reflexo de sua própria avareza. Seu maior erro não foi o ritual em si. Seu foco era colher recompensas imerecidas, roubar o sucesso do terreno fértil de sua própria criatividade.

    O ritual funcionava como um espelho. Concedia desejos, mas apenas se eles ressoassem nas partes mais profundas e primordiais do suplicante. O anseio de sucesso de Joseph, não contaminado pelo duro enxerto da criação, manifestou-se como essa zombaria.

    — Obrigado por isso.

    Isto foi uma violação, não uma criação.

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