Ponto de Vista de Noelle:

    Na floresta, sob a sombra das árvores, eu encarava o meu pai com fúria. Nossas garras tremiam com a ânsia de perfurar os nossos corpos, sinto que em toda a minha vida, nunca estive com tamanho ódio quanto naquele momento. Eu queria matá-lo, fazê-lo pagar pelo que fez a mim e a minha mãe, era tudo que conseguia pensar.

    Sem hesitar, viajei pelo ambiente tão rápida quanto um raio, mas antes de conseguir atacá-lo fui bloqueada por suas garras em atrito com as minhas.

    — Você é fraca como um inseto! — esbravejou ao me lançar para o alto.

    Ao lado de ambos seus braços, duas lanças de pedra saíam do chão, indo na minha direção rapidamente. Ele ria enquanto tentava me acertar, mas, ao mesmo tempo que suas lanças chegavam próximas do meu peito, eu me preparava para contra-atacar.

    Girando meu tronco em seu próprio eixo, fiz com que meu peito e costas ficassem a centímetros de distância das lanças, criando uma abertura entre nós. Eu desci velozmente com a eletricidade escapando do meu corpo e não dando tempo nem para respirar, o ataquei com ferocidade usando minhas garras.

    — Minha magia era patética, assim como a sua… — falava enquanto bloqueava meus ataques com escudos de pedra — lembro de ter tanta vergonha de sua existência patética, que fiz com que adormecessem seu núcleo mágico para que nunca despertasse… — meu ódio apenas crescia a cada palavra — Vejo que ao menos teve um despertar interessante, para um verme do seu calibre!

    Acumulando um amontoado de rochas em suas costas, cobriu seus braços com as mesmas, fortalecendo sua defesa e acertando um golpe em cheio no meu estômago.

    — Mas você não foi a única… — tornando-se um com as rochas empoeiradas a sua volta, seu corpo se tornou uma armadura resistente e grotesca.

    — Você traiu sua mulher e filha… Traiu o seu povo… e agora… traiu a sua própria espécie…

    — Fala como se um dia eu tivesse me importado… — com uma voz densa e feral.

    Eu não podia mentir, nos últimos anos que passei ao lado das pessoas incríveis que conheci, aprendi a sempre me manter centrada, com a mente calma e focada nos nossos objetivos. Mas… dessa vez eu não consegui. Suas provocações… seu tom arrogante… seu olhar egoísta… tudo aquilo perfurava minha cabeça como uma agulha perfura um tecido. Eu não conseguia pensar em mais nada, para mim, havia apenas eu e ele… e entre nós… apenas a linha tênue entre a vida e a morte. O desejo de matá-lo.

    Em silêncio, eu o atacava com toda a minha força, saltando de uma árvore para a outra, sem o dar a chance de atacar. Eu partia suas pernas e braços com cortes preciso, descarregando a minha eletricidade em seu corpo rochoso, mas não importava o quanto eu o acertasse, as pedras caídas no chão se reerguiam e se reconstruíam, além de não ser afetado pelas descargas elétricas.

    “O que estou fazendo? Pedras e rochas não conduzem eletricidade! Não tô conseguindo pensar direito!” um breve momento de realização.

    Tomando uma certa distância, gravei duas runas idênticas em meus pulsos, para, em seguida, saltar e agarrá-lo pelos ombros.

    “Ainda é incerto, mas tenho que tentar!”

    — Por favor, FLORESÇA! — invocando em um grito, os raios que conduzi do meu corpo ao corpo de pedra do meu pai se tornaram vinhas espinhosas que o envolveram de dentro para fora.

    — Mas que truque barato é esse? — questionou furioso.

    “Isso pode funcionar!” Agora, com um novo leque de possibilidades a minha disposição, senti como se pudesse vencê-lo independente da situação “Então é assim que você se sente, Saki?”

    Ponto de Vista de Saki:

    — Eles não param de surgir! Não importa quantos deles eu destrua! — reclamei cansada de lutar contra monstros de lama.

    — Vou acabar gastando toda a minha mana nesse ritmo! — comentou Ranga.

    Em meio a sala apertada com tantas criaturas, mal podia enxergar com precisão o que estava atacando, enquanto o demônio estava no fundo da sala, apenas observando a nossa falha tentativa de o derrotar. Porém, ao seu lado, apenas por um relance, pude ver uma criatura diferente das demais, com um capuz que cobria inteiramente o seu rosto e um livro mágico levitando a sua frente.

    — RANGA! — em um rápido raciocínio, decidi usar o meu primeiro favor — A direita! Vou criar uma abertura!

    Intensificando ainda mais as chamas púrpura em meus ombros, avancei em direção ao mago, destruindo todos os lacaios que o protegiam, criando um caminho livre e aproveitando o tempo de invocação das criaturas.

    — AGORA!

    — Vamo lá, Monique, tá na hora de brilhar! — Sacando seu revólver.

    No momento em que mirava precisamente em seu alvo, imbuiu a arma com sua própria mana, a deixando com um leve brilho escuro a sua volta.

    Disparo de Ojeriza! 1

    Em um ato de desespero, o mago conjurou uma barreira mágica a sua frente, uma barreira clássica com hexágonos a formando. Infelizmente, para a sua infelicidade, sua barreira não foi de grande utilidade e a bala obscura a estilhaçou, fazendo com que o disparo o acertasse precisamente na sua testa.

    Seu corpo se desfez assim como os outros e agora restava apenas o “personagem principal”.

    — Saki! Sai daí! — Ranga gritou desesperado.

    Olhando para trás, vi Ylir logo atrás de mim, segurando um arco, adornado com cristais vermelhos e espinhosos, e exalando uma névoa sombria ao seu redor. Sua flecha, apontada a poucos centímetros da minha cabeça, passava com exatidão uma bela mensagem de “Adeus”.

    Assim que deslizou seus dedos pela corda do arco, saltei tentando evitar o pior. Sua flecha cravou em meu abdômen, gerando cristais vermelhos ao redor do furo.

    — Tudo que fizer será inútil — escutei ao pousar no chão — os Cristais de Sangue drenarão sua vitalidade antes que consiga removê-los.

    Arranquei a flecha para fora instantaneamente, mas ainda assim, os cristais cresciam ao redor do ferimento.

    — Que bom…

    — O quê? — perguntou assim que me viu pondo as mãos na flecha.

    — Estava me perguntando se teria como me livrar disso, mas pelo jeito… — cobrindo os cristais com a palma da minha mão, os agarrei com força — vai ser tranquilo! — sem hesitar, puxei para fora os cristais, derramando uma poça de sangue no chão.

    — IMPOSSÍVEL! — o demônio esbravejou confuso — A essa altura, já nem deveria ter forças para ficar de pé!

    — Aí garota — Ranga chamou — Isso aí é muito sangue…

    — Tsc… quantas vezes vou ter que repetir? Relaxa!

    “Mas ele tá certo, vai ser um problema se continuar desse jeito” antes que pudesse pensar no que fazer, senti meu corpo voar pelos céus de repente.

     Eu via o céu azul girando enquanto caía em queda livre em direção à igreja. Quando enfim consegui entender o que estava acontecendo, atravessei o telhado da igreja agressivamente, como se fosse um meteorito. O impacto do meu corpo com o solo destruiu completamente o salão principal, o transformando em ruínas.

    — Que bagunça você fez… — ouvi a voz do meu companheiro calma demais para a situação.

    — Hã? — ainda desnorteada — O que foi que aconteceu?

    — Mais daqueles monstros de lama, esse parece ser bem forte.

    — Onde ele tá? Você perdeu ele de vista? — gritei aos prantos.

    — Assim que saiu voando eu vim atrás de você

    — Pare de se preocupar comigo, vai atrás dele!

    — Não é que eu me preocupo, é que se você morrer, nosso contrato não vai valer de nada — estendendo a mão para me levantar — Então vê se presta mais atenção.

    — Qual é o da vez? — perguntei ao mesmo tempo que, de pé, tirava a sujeira da minha roupa.

    — Um touro… daqueles beeeeem grandes.

    — Hunf! Vai ser moleza! Eu só baixei um pouco a guarda, não vai acontecer de novo!

    — É bom mesmo, porque aí vem ele!

    Atravessando um grande buraco na parede da igreja, Ylir caminhava calmamente em nossa direção.

    — Me dá o seu sobretudo!

    — O quê? Nem pensar! — negou imediatamente.

    — Adianta! — ordenei enquanto parava o sangramento com a minha mão.

    — Tsc! Eu vou contar isso como um favor! — retirando sua roupa descontente.

    Por debaixo do seu sobretudo, ele vestia uma camisa preta e justa de gola alta, deixando aparente seu corpo sarado e levemente atraente.

    “Riiiiip!” O som do rasgo sendo feito na barra do seu amado sobretudo amarelo o assustou.

    — Ah, fala sério… — com uma voz chorosa.

    — Vai servir! — enrolando a parte rasgada em volta do meu abdômen, estanquei o sangramento — Toma.

    Ranga colocou seu sobretudo novamente com desânimo, quase sem mais vontade de lutar. Assim que terminei de cuidar do ferimento, senti um alto sentimento relaxante e revigorante percorrer por toda a extensão do meu corpo.

    — Uau! O que foi isso?

    — Eu disse que seria um favor! — erguendo seus ombros novamente.

    — Espero que seja o suficiente para lutar contra aquilo… — olhando para frente, logo atrás de Ylir, havia um touro.

    Foi naquele momento em que descobri que Ranga estava mentindo. O touro não era apenas grande, ele era COLOSSAL, maior do que a própria igreja. Seus olhos vermelhos transbordavam o ódio que aquela criatura demoníaca carregava em seus chifres pontudos e afiados, que brilhavam fortemente sob a luz do sol.

    Sua pele era inteiramente preta até a sua cauda e sua testa carregava uma marca estranha, semelhante às runas que Noelle usa em batalha.

    — F-Fala sério — eu via os olhos arregalados de Ranga atrás dos óculos — Como ele cresceu tanto assim?

    Ponto de Vista de Akira:

    A luta entre eu, Gwen e o homem pássaro se intensificava. Enquanto Gwen bloqueava os seus ataques com uma muralha de gelo e o mantinha distante de nós, eu contra atacava com minhas chamas em momentos oportunos.

    — Isso não vai nos levar a lugar algum! — exclamei.

    — Eu sei disso! Mas não conseguimos dar nenhum dano considerável nele, além disso, sua velocidade deve ser o maior problema!

    — Maior problema?

    — É, nossos ataques mal o acer-

    — Já sei! — finalmente tive uma ideia que poderia nos ajudar — Vamos aumentar o alcance dos nossos ataques!

    — Você é idiota? Não tem como isso funcionar! Ele é rápido demais!

    — Escuta — me aproximando de seu rosto bruscamente — Você é boa com ataques em larga escala, não é? — ela confirmou com a cabeça — então é disso que a gente precisa, vamos cercá-lo de cima para baixo e pelos lados, assim não vai ter com ele escapar voando.

    — Não sei se vou ter água o suficiente pra isso, não sou nenhum tipo de conjurador!

    — Vou dar um jeito nisso, só preciso que esteja pronta quando a hora chegar, beleza?

    — Tsc — relutante — é melhor que funcione!

    Saindo de trás da muralha, incendiei meus pés, pronto para voar.

    — Corre pro outro lado da ilha ao meu sinal! — arrancando rapidamente em direção a alguns coqueiros do outro lado da ilha — E me dá cobertura!

    As chamas em meus calcanhares aumentavam a medida que me impulsionava, como uma fogueira sendo abastecida constantemente. A ave tentava me perseguir ao mesmo tempo que disparava suas asas pontiagudas em minha direção, algumas, acertando levianamente o meu rosto e braço. Eu usava as chamas para acertar chutes nos coqueiros na costa da ilha, os deixando levemente soltos e inclinados para o lago.

    Aos poucos a criatura se aproximava cada vez mais de mim, acelerando rapidamente dando voltas na ilha, mas assim que ele estava prestes a me alcançar, foi impedido por pedaços da muralha de gelo que Gwen estava disparando. Não para a nossa surpresa, nenhum de seus ataques o acertou, porém, ao menos me deu tempo para agir.

    Virando de repente em noventa graus a caminho do outro lado da ilha, pousei entre cinco coqueiros, um ao lado do outro, cravando no meio deles meu bastão levemente queimado e gerando uma grande torrente de chamas me impulsionando mais uma vez para o centro da ilha.

    — AGORA! — gritei para minha companheira.

    Sem entender nada, o demônio ave estava estático, bem aonde eu queria que ele estivesse. Os enormes coqueiros caíam na água, a levantando como uma grande onda que cobria a ilha parcialmente.

    Ainda antes de cair no chão, contraí ambos os meus cotovelos para minha cintura, levantando apenas a palma de ambas as mãos.

    BAFO DE DRAGÃO! — afastando meus braços para frente, conjurei um imenso mar de chamas, tal como o sopro de um dragão, em direção ao demônio.

    NEVASCA PERFURANTE! — em um piscar de olhos, Gwen transformou toda a onda de água sobre a ilha em uma gigantesca parede de gelo, que, em seguida, se partiu em milhões de pequenas bolas de gelo.

    O choque entre o fogo e o gelo causaram um enorme impacto na ilha, gerando um redemoinho na água do lago ao redor e levantando uma grande nuvem de vapor.

    Nossas habilidades o deixaram sem escapatória como eu havia previsto e ambos os ataques o queimaram e perfuraram o seu corpo simultaneamente, deixando no chão apenas uma carcaça moribunda do homem pássaro.

    — Eu falei que ia dar certo! — comemorando nossa vitória.

    — É… não foi nada mal…

    “RASG!” De repente, escutei um som de algo como se estivesse rasgando.

    Olhei para trás assustado, vendo que de sua carcaça carbonizada, restou apenas a brasa.

    — ROOOOOAAAR! — um rugido estridente vindo dos céus.

    Olhei para cima com receio, um medo angustiante no meu peito. Lá, aos céus, uma ave, como uma águia, inteiramente preta e com asas abertas contra o sol. Seus olhos, vermelhos sob uma pupila preta, esbanjavam o ódio que lhe consumia, enquanto batia suas asas gerando fortes correntes de vento.

    1. ojeriza é algo como antipatia ou aversão[]

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