Muralhas de Sadra

    A noite estava silenciosa no alto da muralha. Marco rabiscava anotações precisas, desenhando as constelações que conseguia visualizar e marcando a posição de cada estrela. O cetro flutuava tranquilamente ao seu lado, girando lentamente, como se também observasse o céu.

    Seus olhos se perderam nas constelações, e, por um instante, ele não estava mais ali. Estava em casa, ainda criança, sentado no quintal, com a voz suave de sua mãe guiando seus olhos pelo céu.

    — Um dia eu quero voar com as estrelas, mamãe.

    — Você vai ter que se tornar um astronauta quando crescer, para fazer isso.

    — As-tro-nau-ta… — O pequeno Marco experimentava cada sílaba como um segredo recém-descoberto.

    — Astronauta?

    A voz grave arrancou Marco de suas lembranças. Ele piscou, confuso, e virou-se para trás.

    Dois homens estavam parados à entrada da muralha. Não vestiam os uniformes do império, mas carregavam espadas na cintura. Seus olhos avaliavam Marco como predadores que encontraram uma presa desprevenida.

    — Quem são vocês? — Marco franziu a testa, apertando o pergaminho entre os dedos.

    O mais alto sorriu de lado.

    — Então você é o homem que caiu do céu na hora certa, hein?

    O outro soltou um riso curto.

    — Fiquei sabendo que matou o grande Clyve com uma bundada.

    — Que jeito ridículo de morrer. Ainda mais para alguém que se dizia tão forte.

    Marco se levantou devagar, agarrando os pergaminhos com uma das mãos e o cetro com a outra. Disfarçadamente, olhou ao redor. A única saída estava bloqueada por eles.

    — São soldados do império? Por que não estão de uniforme?

    Os dois ignoraram a pergunta.

    — Esse aí é o cetro do Clyve, certo?

    — O que contém uma runa capaz de destruir o mundo…

    — Artefato interessante.

    — Bem, nós o queremos.

    Marco sorriu.

    Sem dizer nada, lançou o cetro na direção deles, com força. Os homens acompanharam o movimento sem se mover, mas, antes de tocá-los, o cetro parou no ar e voltou suavemente para a mão de Marco.

    Ele girou o artefato nos dedos.

    — Como podem ver, ele se recusa a me deixar.

    Os dois se entreolharam, e então, quase ao mesmo tempo, sacaram suas espadas.

    — Já fomos informados disso.

    O outro inclinou a lâmina levemente para o lado, e um brilho mortal passou pelo metal.

    — Por isso vamos levar a sua mão junto.

    Marco encheu os pulmões, preparando-se para gritar por ajuda.

    — SOC—

    O golpe veio antes que ele pudesse terminar. Um dos homens avançou com uma rapidez assustadora e socou seu estômago com força brutal. O ar foi arrancado de seus pulmões em um choque silencioso. Seu corpo foi lançado para trás, caindo de joelhos no chão de pedra.

    Marco apertou o abdômen, os olhos arregalados em choque. A dor se espalhava em ondas quentes, e sua visão escureceu por um instante enquanto tentava puxar o ar de volta para os pulmões.

    Levantou os olhos.

    Os dois homens estavam diante dele, impassíveis, lâminas brilhando sob a luz da lua.

    Marco nunca havia sentido isso antes. Aquela sensação densa, sufocante. O desejo de sangue que exalava dos dois.

    Marco tentou se mover, mas a dor em seu estômago ainda pulsava, tornando seus movimentos lentos e pesados. Um dos homens chutou seu peito, jogando-o de costas contra o chão de pedra.

    — Moleque frágil, hein? Achei que o “homem que caiu do céu” teria mais resistência.

    O outro riu e pressionou o pé contra o pulso de Marco, forçando-o a abrir os dedos. Assim que viu a oportunidade, o homem agarrou o cetro com firmeza e puxou com força.

    Por um instante, o objeto pareceu ceder, tremendo em suas mãos como se resistisse. Então, de repente, uma pulsação de energia percorreu o cabo, e o cetro se libertou num movimento brusco, disparando de volta para a mão de Marco como um ímã retornando ao seu polo.

    — Mas que inferno… — o homem rosnou, dando um passo para trás. — Ele realmente não larga essa coisa…

    Antes que Marco pudesse reagir, mãos ásperas agarraram sua gola e o ergueram no ar. A força do inimigo era absurda—ele sentiu os pés deixando o chão enquanto era arrastado para a beirada da muralha. O vento frio da noite soprou contra seu rosto quando seu corpo foi suspenso parcialmente sobre o vazio.

    — Agora vamos testar outra teoria… — disse o agressor, apertando seu pescoço. Marco se engasgou, tentando puxar ar, mas a pressão aumentava. — Será que você sobrevive a uma segunda queda?

    Marco lutou, tentando soltar as mãos do homem, chutando no ar, mas foi inútil. Ele viu o outro se aproximar com a espada em mãos.

    — Melhor garantir que o cetro não vá junto.

    O homem ergueu a lâmina. Marco tentou gritar, mas não havia ar em seus pulmões. A espada desceu.

    Dor.

    Uma dor absurda, aguda, cortante. O som da lâmina atravessando carne e ossos ecoou no silêncio da muralha. O sangue jorrou quente de seu ombro enquanto um choque percorreu todo seu corpo. O mundo girou.

    O braço direito de Marco caiu no chão da torre, ainda segurando o cetro.

    Depois, os homens o soltaram.

    Seu corpo tombou para trás, e a muralha desapareceu de sua visão.

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