Num piscar de olhos, Nerim desapareceu de onde estava.

    Rilven se moveu num instante e interceptou o soco devastador que o garoto tentou desferir em um dos alunos. O impacto foi brutal, as ondas de energia da colisão ecoando pelo chão da clareira.

    — Um tenente de Taeris, diante de mim? — ele disse, ajustando os ombros sob o peitoral brilhante. — Nada poderia ser mais apropriado para testar minha nova força.

    Nerim sorriu diante do desafio, a armadura de berílio pulsando com energia. Derrotar um oficial do Exército Imperial não seria apenas uma vitória, seria a prova definitiva de que ele era forte o bastante para a Academia.

    O tenente Rilven o lançou para trás com um único golpe bem posicionado, o estrondo da luta reverberando pelas árvores. Ele deslizou sobre o chão de metal gasto, mas, ao invés de se irritar, sorriu. O brilho intenso das runas em seu peitoral se intensificou, absorvendo a força do impacto.

    — Interessante — murmurou Nerim, girando os ombros. — Eu já esperava que um simples golpe não bastaria. Mas isso apenas torna a vitória mais satisfatória.

    Ele rugiu e avançou novamente, seu punho envolto por uma energia densa, cada golpe com a intenção clara de esmagar. O tenente tentou desviar os socos com movimentos calculados da parte plana da espada, mas os impactos estavam sendo demais para ele.

    — Isso é tudo? — perguntou, arqueando uma sobrancelha, tentando disfarçar. — Achei que teria algo mais impressionante.

    Nerim cerrou os dentes e liberou ainda mais energia. O berílio suportava a tensão, suas runas brilhando como estrelas incandescentes. Ele recuou um passo, respirando fundo. Ele sentia a força do metal reforçado percorrer seu corpo, amplificando seus movimentos e aumentando sua resistência.

    —  Você está me subestimando!

    Com a energia subindo, Rilven começou a perder o tempo do garoto.

    As runas do peitoral pulsavam e cada soco vinha com um peso a mais, como se Nerim carregasse outro corpo dentro do dele. O oficial lia o quadril, antecipava o braço, mas o meio-compasso falhava: um direto abriu a guarda, o segundo entrou na costela e tirou o fôlego, o terceiro bateu na lâmina e a arrancou num estalo que subiu pelo punho e adormeceu os dedos.

    Nerim entrou com um cruzado que empurrou Rilven para um tronco, mudou o peso e enfiou um direto no queixo; a cabeça bateu na casca e voltou tonta. O peitoral brilhou de novo e o próximo soco veio como marreta no ombro. Rilven tentou agarrar a cintura para travar; o garoto quebrou o clinche com um giro curto e um joelho seco no estômago que o pôs de quatro.

    Veio mais um golpe na têmpora, outro nas costelas; cada impacto afundava terra e folha ao redor. Rilven rolou para evitar o terceiro, mas Nerim já estava em cima, uma mão no colarinho, a outra levantando para descer com tudo.

    O oficial ergueu o antebraço por instinto, visão tremida, ouvido zunindo, e, por um instante, ficou à mercê do aluno.

    Kalamera e Marco se olharam uma vez só e pularam.

    Nerim ergueu o punho para terminar. A lâmina de Marco entrou no meio, travando o golpe a um palmo do rosto do tenente. O choque correu pela arma até o pulso; Marco cedeu meio passo, manteve o fio no punho fechado do garoto e empurrou de volta.

    Nerim sorriu, virou o quadril e tentou outro soco por baixo; Kalamera chegou pelo flanco, quatro braços num só movimento. Num meio passo, ele se adiantou e entrou por dentro da guarda dela; a mão fechou no braço inferior com um aperto de morsa.

    O mundo virou: Nerim a ergueu no impulso e lançou. Kalamera cruzou a clareira, bateu numa raiz alta e rolou, tentando achar o chão.

    Marco adiantou a lâmina para afastá-lo de Rilven. Nerim respondeu com uma rasteira seca, tirou o tenente do caminho com o pé e, num gesto rápido, pescou a espada caída. Testou o peso no punho, o peito brilhando em verde, e apontou o fio para Marco.

    — Não sei quem vocês são, mas ninguém vai me impedir de entrar na Academia.

    Marco concentrou-se. Não era um lutador, não havia crescido em um mundo onde batalhas eram o centro da existência. Ele era um astronauta. Seu sonho sempre fora alcançar o espaço, e ele o alcançara. Mas agora estava ali.

    Ele havia pedido para que Lou-reen o treinasse para que pudesse se defender. Para não ser um peso morto. Para ser útil a ela. Ele não queria lutar, mas também não podia perdoar o que fizeram com Kalamera e essa era a chance de provar que poderia fazer a diferença.

    Então, não hesitou.

    As runas da armadura de Nerim explodiram em luz conforme ele disparou a uma velocidade assustadora. Marco forçou seus músculos ao limite e acelerou, desviando no último segundo. Viu o movimento do jovem elfo antes mesmo que ele começasse a se mover.

    Ouviu as palavras de Faey nítidas em sua memória:

    — Velocidade sem controle é previsível.

    O choque dos ataques criava pequenas explosões de ar conforme os dois trocavam golpes em alta velocidade, um tentando superar o outro. Marco se defendia e contra-atacava sempre que via uma brecha, sentindo o peso do treinamento intenso começar a valer a pena.

    Nerim rugiu de frustração.

    — Fique parado, maldito!

    Mas Marco não ficaria. Ele não era um guerreiro de Taeris, mas era um astronauta. E mesmo em meio ao combate brutal, sua mente já trabalhava uma solução para virar o jogo.

    O combate se intensificou.

    Marco girou a espada nas mãos, sentindo o peso da lâmina. A cada golpe, sua confiança crescia. O tempo de treinamento com Lou-reen havia esculpido nele algo que antes não existia: gosto pelo combate. Ele começava a compreender a linguagem das lâminas, o ritmo do duelo, a satisfação de cada movimento bem-executado.

    Nerim avançava com fúria, seus golpes rápidos e impiedosos. Mas Marco via os ataques antes mesmo que acontecessem. Ele se esquivava com precisão, bloqueava com eficiência e revidava com uma força calculada. A luta se deslocava pela clareira, e Marco aproveitou cada erro do garoto, forçando-o até um canto, onde não havia mais espaço para recuar.

    De repente, uma memória preencheu sua mente.

    Não era sua.

    Era do Cetro.

    A visão se desdobrou diante dele como se estivesse acontecendo naquele instante. Clyve em meio ao caos de uma batalha. Com um único golpe brutal, ele lançou um oponente contra uma parede. O homem gemeu, caído, ferido, implorando por misericórdia, mas não houve hesitação nos olhos de Clyve. Apenas sede de sangue. A lâmina mergulhou no peito do inimigo, arrancando sua última súplica em um som sufocado.

    Marco sentiu a mesma fúria crescer dentro dele. O desejo de terminar a luta, de cortar Nerim ali mesmo. Ele apertou o cabo da espada com mais força, sua visão se estreitando sobre o inimigo vulnerável à sua frente. Poderia acabar com aquilo agora.

    A postura de Marco mudou: quadril à frente, ombro baixo, a lâmina alinhada para entrar e atravessar. Ele avançou sem hesitar, mirando o vazio entre as costelas.

    O aço vinha descendo quando uma mão pegou seu pulso. Rilven surgiu do lado, joelho no chão, rosto marcado de terra, e travou o braço de Marco com firmeza seca. A lâmina parou a dois dedos do peito de Nerim.

    — Chega. — A voz do tenente não era de súplica.

    O aviso o trouxe de volta. Seus olhos se arregalaram. O que ele estava prestes a fazer?

    Kalamera viu a brecha e entrou. A mão de baixo travou o aro das correias; a de cima pescou a selenita e girou um quarto de volta até sentir o “cloc” do pino solto; a terceira riscou uma runa em X, só o bastante para quebrar o traço; a quarta entrou por dentro do couro e cortou a tira.

    O brilho morreu de vez; o peso da peça caiu meio dedo e o fôlego dele falhou um instante, surpresa antes da raiva.

    Kalamera recuou um passo, já de guarda, e olhou Marco rápido, só o suficiente para mostrar o susto com a ferocidade que vira nele, antes de voltar os olhos para o garoto, agora sem o verde no peito e com o corpo inteiro procurando onde pôr a força que ficou sem casa.

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