Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.
De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!
Capítulo 4: A Mão da Divindade do Caos
O sol raiou no dia seguinte. Liane estava deitado numa cama, apreciando a paisagem do quarto de Zana no segundo andar. Depois da tempestade, a enorme esfera de fogo trouxe arco-íris para o horizonte e o calor tão aguardado pelo vilarejo. Ontem ainda parecia uma loucura, ao ponto de causar tremores nos membros da criança ao relembrar de quando caiu dentro do rio. Seu maior medo era passar a noite do lado de fora em cima de uma árvore para evitar a morte, mas felizmente isso não aconteceu.
Com a ajuda de Er’Ika, que falava com ele internamente, ele retornou para casa. Foi uma loucura imediata, especialmente porque Justi, o menino que o empurrou no rio, esperava-o morto. Ver sua expressão de incredulidade tirou um sorriso de Liane, mas também invocou um sentimento sobrenatural de raiva, a chama acendida em seu peito era alimentada por ocasionais pulsações irritadas. Enforcá-lo com as próprias mãos ou enfiar uma das tesouras da irmã Zana na sua garganta agora parecia mais um desejo mundano que uma loucura.
O garoto tentou apagar o pensamento, além do mais, a irmã Zana lhe dizia para nunca nutrir sentimentos vingativos, no entanto, exigia um esforço colossal para conter a ira contra Justi. Há bastante tempo ambos possuíam rixa, o motivo era tão ambíguo outros acreditavam que desde sempre aqueles dois não se davam bem. A criança sabia a razão: era inveja por não receber o mesmo tratamento de Liane.
“Eu ainda assim odeio ele…”
Conte alguma novidade, pequenino. Sei disso desde ontem.
— Erika? — Ele levantou a sobrancelha, estranhando como a resposta veio tão rápido. — Você… respondeu ao que eu tava pensando?
Sim. Já comentei que tenho acesso a suas memórias, isso também se aplica a mente. Posso ouvir seus pensamentos se assim desejo.
“Isso é legal, mas eu não gosto de você respondendo tudo ao que eu penso.”
Ora, simples de resolver. Eu me absterei de ler o que você pensa, no entanto, quando precisar comunicar comigo mentalmente, terá que se concentrar em “falar” comigo.
— Entendi… O que significa “absterei”?
Um suspiro escapuliu de Er’Ika, seguido por uma breve explicação do significado. Isso logo viraria rotina, a entidade teria que falar sobre o que a palavra X e Y queriam dizer, e ao mesmo tempo plantar mentiras para tomar o favor da criança. De fato poderia se limitar a não ler os pensamentos de seu parceiro, no entanto, não havia razão para fazê-lo. Uma falsa promessa de evitar invadir o espaço pessoal em sua mente teria sequer um problema, seu pequeno parceiro não saberia que ainda lia tudo o que se passava naquele lugar escondido mesmo se quisesse.
Liane olhou para seus pés enfaixados e molhados. Com sorte, não pegaria uma infecção e nem doença, qualquer um dos dois seria fatal naquele momento. Qualquer médico se encontrava a quilômetros de distância por uma rota na floresta rumo à cidade, que inclusive poderia levá-lo a se deparar com animais selvagens facilmente, isso se ainda tivesse dinheiro para pagar o tratamento.
Er’Ika, tendo acesso a essa informação, estava controlando as menores partículas de Liane para focar na recuperação dos pés. Demorou um tempo para entender como realizar isso, provando-se bastante útil ao ter um reconhecimento completo das capacidades físicas daquela criança. Por ser magricela, dificilmente teria chances de realizar atividades comuns para outras crianças de sua idade, como escalar árvores e correr dezenas de vezes mais que um adulto.
Com certeza partes de seus membros precisariam ser amputadas se não fosse pela ajuda da entidade gerenciando o seu organismo, tomando mais consciência dos limites físicos e de qual plano de ação deveria ser mantido pelos próximos dias em prol de estabilizar aquele corpo.
Liane, eu lembrei de uma coisa e preciso testá-la. Pode sair do quarto e ir lá fora?
— Eu posso? A irmã Zana ainda tá dormindo e meus dedos tão doendo…
Você não morrerá e meu pedido é importantíssimo. Eu também queria que nos afastássemos, tem mais uma coisa para te contar e precisa ser mantida em segredo.
Ele acenou com a cabeça e, vendo a irmã sonolenta numa cadeira de balanço, saiu devagarinho pela porta. Seu cuidado em evitar rangidos ao andar pelo piso de madeira era digno de uma recompensa mais tarde, Er’Ika queria até conversar com Zana para discutir isso, contudo a moça provavelmente desmaiaria no instante que visse uma sombra flácida tentando se comunicar com ela.
Encostado na árvore e tendo averiguado os arredores, Liane deu sinal verde para a entidade sair de seu esconderijo, então a silhueta se rastejou ao redor do olho esquerdo e se demonstrou na forma de silhueta.
Primeiro, eu preciso saber: quer se livrar daquele menino Justi, que tem infernizado sua vida?
As sobrancelhas da criança se torceram de maneira esquisita, procurando lógica naquelas palavras. Depois de engolir seco e processar a informação, ele respondeu:
— Eu… eu queria. Justi é um idiota e só me causa problema, mas a irmã Zana diz que…
Liane, a irmã Zana nunca fez nada para realmente ajudá-lo do problema porque ela é incapaz. Aquelas palavras serviram apenas para evitar que você o atacasse e se machucasse no processo, porém, se as coisas continuarem assim, quem garante que você não se machucará além do reparo?
Ele mordeu a língua, sem saber o que rebater contra aquele argumento. Havia quase morrido ontem, as coisas já tinham passado do limite e seria questão de tempo até a oportunidade de falecer nas mãos daquele moleque perverso.
Por isso eu queria propor o meu plano: faça o menino segui-lo até o fundo da floresta, o mais longe possível, assim os animais o comerão e seu problema se resolverá.
— Erika, isso é perigoso demais. A irmã Zana disse para não irmos à floresta, e mesmo que eu fosse, não teria como voltar. Eu não sei o caminho de casa sem o rio…
Haha, é aí que entra a primeira coisa que queria lhe dizer, eu tenho uma forma de resolver a sua questão num piscar de olhos. Relaxe seu braço esquerdo, deixe-o meio solto e sem colocar nenhuma energia nele.
Liane olhou para o lado e evitou movê-lo, pouco tempo depois a dormência se acumulou ao redor das mãos e subiu rumo ao ombro. De repente, a ponta de seus dedos começaram a se mexer sozinhos, continuando até que todo o restante da estrutura se movesse sozinha.
Não se assuste, estou só te movendo por conta própria. É complicado de explicar, segue uma lógica semelhante à falar dentro da sua mente. Posso me apossar de uma parte de você quando está muito relaxada. Não entendo como consigo fazer isso, apenas sinto que posso.
— Isso é estranho… — Ele achava meio agoniante não se mexer voluntariamente, ainda mais quando a parte apossada cutucava-o na bochecha. — Mas pra que você quer isso?
Tudo ao seu tempo. Se abaixe para pegar uma pedra.
Liane flexionou os joelhos e a mão esquerda apanhou uma pedrinha no chão, que de uma hora para a outra foi arremessada em alta velocidade num galho, atingindo a cabeça de um passarinho. Um baque finalizou sua queda, agora só restava um conjunto de penas tingido em vermelho e guinchos agonizantes.
— E-Erika!
Relaxe. Se aproxime do passarinho, ele já está morto.
Aquelas palavras deram um frio na espinha, mas mesmo assim, obedeceu. Uma pequena poça de sangue se formou ao redor do crânio esmagado do passarinho, gerando uma carranca de desgosto por parte de Liane. O braço controlado por Er’Ika se estendeu na direção do pássaro, e então um fio esverdeado saiu de sua palma e se conectou à carcaça.
Nesse mesmo momento, a criança teve leves dores de cabeça e uma luz surgiu entre suas memórias. Era como a vista aérea da floresta inteira, cobrindo longas faixas de terra ao redor do vilarejo e até mesmo indo além, com uma cidadezinha bem na ponta dos limites da floresta.
Eis o meu poder, pequenino. Agora você pode coletar as memórias de qualquer ser que já existiu.
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