Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.
De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!
Capítulo 5: O Infortúnio Destino
A grande confusão de Liane vinha por um motivo simples: um mar de informação corria por sua cabeça sem destino, sobrepondo a si mesmo com novos detalhes e expandindo seu conhecimento. Isso fez com que ao olhar o ambiente, um dejá vù viesse. Óbvio que já havia caminhado por aquela planície muitas vezes, porém tinha a impressão de ter feito o dobro ou triplo de vezes do que lembrava.
A sensação se tornava mais intensa ao encarar a floresta. De repente um mapa mental, se construiu na cabeça, com rotas claras de onde encontrar frutas gostosas e onde beber água. Também tinha rugidos de criaturas enormes, relâmpagos caindo, labaredas tremulando ao longe, e essas diversas imagens passavam em rápida sucessão durante flashes de memória.
Como está se sentindo, Liane? Tonto?
— Um pouco… O que foi essa coisa? Pareceu que entraram mais coisas na minha cabeça…
Porque entraram. Eu estabeleci uma conexão com o corpo daquele pássaro e roubei as memórias dele para você. Posso escolhê-las de acordo com meu querer, ou seja, eu filtro para pegar somente as importantes. Aparentemente existe um tempo para escanear e injetar as novas informações, dessa vez não demorou porque essa criatura é pequena e não viveu tanto tempo.
— Entendi… Espera, o que significa “filtrú” e “escaniá”? — Ele inclinou a cabeça para o lado em dúvida. “Não entendi bulhufas. Erika fala complicado.”
Se não tiver entendido, basta dizer. É muito óbvio adivinhar pela forma como você fala.
O garotinho corou e revirou os olhos, tendo sido pego no meio da farsa. Nem ele sabia como esconder suas intenções, a irmã Zania até comentava sobre o quão fácil era descobrir suas mentiras.
Imagine que você é um copo e as memórias são água. O que fiz foi tirar um pouco da água do pássaro e jogar no seu copo, fazendo sua mente saber mais do que agora.
— Ahhh! Entendi, entendi!
Que bom, pois vamos repetir isso mais algumas vezes. Eu quero que você continue andando por aí em busca de mais animais pequenos, vai nos ajudar muito a colocar o plano em prática.
Mesmo com receio de seguir com a ideia, Liane optou por ainda matar mais aves pelo caminho, ou melhor, chegar perto para que Er’Ika fizesse o serviço. Ele não sentia nada em meio aos movimentos, então imaginou estar tudo bem, mas quando coletaram dados o bastante sobre a região por meio da absorção de memória, a entidade largou o controle.
Disso, veio uma dor aguda no lado esquerdo. Todos os músculos tremiam, dezenas de milhares de micro-cortes queimavam sobre sua pele, por mais que não houvesse nenhum arranhão. Liane se ajoelhou perante a dor, lágrimas escorreram pelo canto dos olhos e sua visão turvou, ao ponto do mundo ficar do avesso.
Não apague! Mantenha-se firme!
Er’Ika conseguiu retomar o controle da mão esquerda e empurrou a testa de Liane para trás, impedindo que caísse, ao mesmo tempo que amplificou a sensação antes infernal.
— Tá-tá doendo… — Ele mal conseguia falar direito, a voz embargada e o choro dificultavam as palavras se formarem.
Eu sei que está doendo, mas você não morrerá, confie em mim!
— Ma-mas… Erika…
Respire fundo. Eu já estou tratando de diminuir a dor. Permita que eu fique no seu braço por enquanto para amenizar o sofrimento, assim você não precisará se preocupar, tá bem?
Ele acenou com a cabeça mais uma vez, a dormência retornou ao membro e de repente a tortura passou. Ele conseguiu ficar de pé novamente, mesmo que ainda parcialmente atordoado pelo choque, precisando de minutos para se recompor e se manter consciente.
— Erika, o que você fez?
Eu inibi os receptores de dor. Você ainda está machucado nesse lado, por isso não force. Acho que seu corpo não se acostumou a minha presença, pois quando tento fazer algum movimento que é necessário mais força, acaba sendo usado mais do que deveria.
— Então não é melhor você não me controlar quando possível e tentar movimentos mais leves? Tipo… levantar coisas.
Ótima ideia. Não esperava você ter esse nível de inteligência, pequenino.
Liane agradeceu o elogio, no entanto, a impressão de desconforto ao perder a voluntariedade de uma parte sua dava certo desconforto. Uma pena que não teve tanto tempo para pensar e discutir com Er’Ika, pois em meio aos seus pensamentos bobinhos, uma voz desgraçada arruinou seu momento:
— O que você tá fazendo falando sozinho, hein?
A criança girou o pescoço para trás, deparando-se com Justi, o garoto loiro que quase o matou. Uma reação imediata foi de fazer a careta mais feia de sua vida, que o fez rir com tamanha agressividade vinda do coleguinha.
— Ora, Liane, não precisa de raiva. Tudo aquilo foi um acidente.
— Um acidente? Você me empurrou de propósito, idiota. Eu quase morri!
— Quase morreu? Não exagere, está inteirinho mesmo depois de descer pelo córrego. Como quer que alguém acredite que quase morreu desse jeito?
Liane trincou os dentes e cerrou o punho direito. Sua ira estava prestes a explodir, no entanto, as palavras altivas de Er’Ika retardaram seu desejo. Vamos aplicar o plano, pequenino. Aposto que ele correrá atrás de você se fugir, e com as informações que temos, tenho certeza de conseguirmos levá-lo a um local impossível de sair vivo. Confie em mim dessa vez e seu sofrimento acabará.
A ordem fez seu peito formigar de excitação. Sim, ele estava mais do que cansado disso, desse abuso que perdurou por anos, de tantas vezes se machucar por besteira e pela perseguição diária. Uma risada escapou de sua boca, risos verdadeiros e sádicos vazando de seu coração cheio de angústia.
— Claro, um burro igual você não acreditaria que a irmã Zana iria aplicar uma grande punição. Bora ver quem ri por último quando eu contar pra ela!
Aquilo imediatamente ativou o medo de Justi, que se viu obrigado a calá-lo por meio da violência e disparou em sua direção. Isso era tudo o que Liane desejava, esquivando-se das mãos do moleque e correndo para a floresta. Não demorou para ser perseguido por aquele cachorro sarnento, podendo vê-lo se aproximar mais e mais.
Uma pena que Er’Ika indicava a direção com comandos velozes, sobrando apenas para a criança obedecê-los e chegar a parte mais profunda da floresta, onde as copas das árvores ocupavam todo o céu. Ambos pararam no meio de uma clareira. Ele olhou para trás, vendo a expressão cansada de Justi e tendo a grande satisfação de manipulá-lo para ir tão longe por fúria cega.
— Fi-finalmente desistiu, covarde…? — provocou o arruaceiro, suando pelo pescoço. — Agora não tem para onde ir, você pode já rezar e…
— Não se engane, idiota — interrompeu Liane, dando as costas. — Você caiu na minha armadilha como um patinho. Quero ver só o que fará agora, longe de todo mundo…
Liane, era para ter continuado. Seus pés já estão machucados demais e essa breve interrupção pode custar a sua fuga.
“Erika, eu não ligo. Apenas domine minhas pernas e realize a mesma coisa com meu braço, de usar o máximo possível delas para sairmos daqui.”
Se é o que quer…
Dormência se apoderou das coxas do garoto, ao ponto de não ter mais nenhum tato para se apoiar. Ele olhou no rosto assustado do diabinho mais uma vez.
— Eu realmente me sinto bem fazendo isso.
E assim, seu corpo desapareceu com uma névoa de poeira. Liane correu tão rápido que Justi não conseguia acompanhar, então, antes de se dar conta, a sua melhor vítima desapareceu diante de seus olhos, enquanto ele estava no meio da perigosa floresta, sozinho e deixado à mercê da sorte.
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