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    Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.

    De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!

    A grande confusão de Liane vinha por um motivo simples: um mar de informação corria por sua cabeça sem destino, sobrepondo a si mesmo com novos detalhes e expandindo seu conhecimento. Isso fez com que ao olhar o ambiente, um dejá vù viesse. Óbvio que já havia caminhado por aquela planície muitas vezes, porém tinha a impressão de ter feito o dobro ou triplo de vezes do que lembrava. 

    A sensação se tornava mais intensa ao encarar a floresta. De repente um mapa mental, se construiu na cabeça, com rotas claras de onde encontrar frutas gostosas e onde beber água. Também tinha rugidos de criaturas enormes, relâmpagos caindo, labaredas tremulando ao longe, e essas diversas imagens passavam em rápida sucessão durante flashes de memória. 

    — Um pouco… O que foi essa coisa? Pareceu que entraram mais coisas na minha cabeça…

    — Entendi… Espera, o que significa “filtrú” e “escaniá”? — Ele inclinou a cabeça para o lado em dúvida. “Não entendi bulhufas. Erika fala complicado.”

    O garotinho corou e revirou os olhos, tendo sido pego no meio da farsa. Nem ele sabia como esconder suas intenções, a irmã Zania até comentava sobre o quão fácil era descobrir suas mentiras.

    — Ahhh! Entendi, entendi!

    Mesmo com receio de seguir com a ideia, Liane optou por ainda matar mais aves pelo caminho, ou melhor, chegar perto para que Er’Ika fizesse o serviço. Ele não sentia nada em meio aos movimentos, então imaginou estar tudo bem, mas quando coletaram dados o bastante sobre a região por meio da absorção de memória, a entidade largou o controle. 

    Disso, veio uma dor aguda no lado esquerdo. Todos os músculos tremiam, dezenas de milhares de micro-cortes queimavam sobre sua pele, por mais que não houvesse nenhum arranhão. Liane se ajoelhou perante a dor, lágrimas escorreram pelo canto dos olhos e sua visão turvou, ao ponto do mundo ficar do avesso.

    Er’Ika conseguiu retomar o controle da mão esquerda e empurrou a testa de Liane para trás, impedindo que caísse, ao mesmo tempo que amplificou a sensação antes infernal. 

    — Tá-tá doendo… — Ele mal conseguia falar direito, a voz embargada e o choro dificultavam as palavras se formarem.

    — Ma-mas… Erika…

    Respire fundo. Eu já estou tratando de diminuir a dor. Permita que eu fique no seu braço por enquanto para amenizar o sofrimento, assim você não precisará se preocupar, tá bem?

    Ele acenou com a cabeça mais uma vez, a dormência retornou ao membro e de repente a tortura passou. Ele conseguiu ficar de pé novamente, mesmo que ainda parcialmente atordoado pelo choque, precisando de minutos para se recompor e se manter consciente.

    — Erika, o que você fez?

    — Então não é melhor você não me controlar quando possível e tentar movimentos mais leves? Tipo… levantar coisas.

    Liane agradeceu o elogio, no entanto, a impressão de desconforto ao perder a voluntariedade de uma parte sua dava certo desconforto. Uma pena que não teve tanto tempo para pensar e discutir com Er’Ika, pois em meio aos seus pensamentos bobinhos, uma voz desgraçada arruinou seu momento:

    — O que você tá fazendo falando sozinho, hein?

    A criança girou o pescoço para trás, deparando-se com Justi, o garoto loiro que quase o matou. Uma reação imediata foi de fazer a careta mais feia de sua vida, que o fez rir com tamanha agressividade vinda do coleguinha.

    — Ora, Liane, não precisa de raiva. Tudo aquilo foi um acidente. 

    — Um acidente? Você me empurrou de propósito, idiota. Eu quase morri!

    — Quase morreu? Não exagere, está inteirinho mesmo depois de descer pelo córrego. Como quer que alguém acredite que quase morreu desse jeito?

    Liane trincou os dentes e cerrou o punho direito. Sua ira estava prestes a explodir, no entanto, as palavras altivas de Er’Ika retardaram seu desejo. Vamos aplicar o plano, pequenino. Aposto que ele correrá atrás de você se fugir, e com as informações que temos, tenho certeza de conseguirmos levá-lo a um local impossível de sair vivo. Confie em mim dessa vez e seu sofrimento acabará.

    A ordem fez seu peito formigar de excitação. Sim, ele estava mais do que cansado disso, desse abuso que perdurou por anos, de tantas vezes se machucar por besteira e pela perseguição diária. Uma risada escapou de sua boca, risos verdadeiros e sádicos vazando de seu coração cheio de angústia.

    — Claro, um burro igual você não acreditaria que a irmã Zana iria aplicar uma grande punição. Bora ver quem ri por último quando eu contar pra ela!

    Aquilo imediatamente ativou o medo de Justi, que se viu obrigado a calá-lo por meio da violência e disparou em sua direção. Isso era tudo o que Liane desejava, esquivando-se das mãos do moleque e correndo para a floresta. Não demorou para ser perseguido por aquele cachorro sarnento, podendo vê-lo se aproximar mais e mais. 

    Uma pena que Er’Ika indicava a direção com comandos velozes, sobrando apenas para a criança obedecê-los e chegar a parte mais profunda da floresta, onde as copas das árvores ocupavam todo o céu. Ambos pararam no meio de uma clareira. Ele olhou para trás, vendo a expressão cansada de Justi e tendo a grande satisfação de manipulá-lo para ir tão longe por fúria cega.

    — Fi-finalmente desistiu, covarde…? — provocou o arruaceiro, suando pelo pescoço. — Agora não tem para onde ir, você pode já rezar e…

    — Não se engane, idiota — interrompeu Liane, dando as costas. — Você caiu na minha armadilha como um patinho. Quero ver só o que fará agora, longe de todo mundo…

    “Erika, eu não ligo. Apenas domine minhas pernas e realize a mesma coisa com meu braço, de usar o máximo possível delas para sairmos daqui.”

    Dormência se apoderou das coxas do garoto, ao ponto de não ter mais nenhum tato para se apoiar. Ele olhou no rosto assustado do diabinho mais uma vez.

    — Eu realmente me sinto bem fazendo isso.

    E assim, seu corpo desapareceu com uma névoa de poeira. Liane correu tão rápido que Justi não conseguia acompanhar, então, antes de se dar conta, a sua melhor vítima desapareceu diante de seus olhos, enquanto ele estava no meio da perigosa floresta, sozinho e deixado à mercê da sorte. 


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