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    Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.

    De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!

    Grey a encarou. Sempre era assim, por algum motivo ela gostava de olhá-lo daquela forma inquisitiva, pressionando para se explicar quando algo fora do comum acontecia. O garoto em suas costas, o mesmo de uma madrugada recente, era o que mais chamava atenção nele. A mulher franziu as sobrancelhas de leve, enquanto o paladino pensava numa forma de responder o tanto de alarde lá fora.

    — Achamos uma seita, Relena. Ele estava para ser usado num ritual.

    — Ah, entendo — respondeu a moça forte, desviando o olhar por um curto momento. — E o que você fez lá? 

    — O procedimento de sempre. Não encontrei o líder deles, e… — Seus lábios hesitaram, lembrando como Liane estava marcado no peito e os problemas que daria caso revelasse isso. — E pedi aos outros dois para encontrarem os pais da outra criança que ia ser usada para o ritual, por isso voltei sozinho.

    Relena cerrou os olhos, Grey reconheceu como ela procurava uma janela de dúvida para invadir e começar a enxurrada de perguntas. Dessa vez não aconteceu, ao menos. A mulher só acenou positivamente com a cabeça, aprovando a decisão. Quanto às duas outras meninas, Joan e Milea, elas ficaram preocupadas, especialmente a santa, que empalideceu ao encarar o menino nas costas do paladino. Seu olhar também não parecia muito amistoso, era claro como dia o quanto desaprovava tal comportamento, uma pena que o homem não entendeu o que aquilo queria dizer. 

    Ele passou pela mesa das moças e se encaminhou ao taverneiro, que o observou de maneira igual a Relena, mas diferente dela foi muito mais amigável e disposto a ajudá-lo. No caso, pretendiam pôr o menino de volta no quarto, para evitar qualquer problema desnecessário e também não deixar uma criança indefesa sozinha. Após adentrarem com a chave mestra do taverneiro e deitarem o menino numa das camas, retornaram ao andar debaixo.

    Grey apresentava um rosto exausto. Ainda estava longe de anoitecer, e sua aparência ficou péssima com o combate, muito diferente da face habitual do paladino amigável e sorridente que distribuía alegria na vizinhança. Ele esperou na mesa pela volta dos seus dois camaradas, uma das poucas coisas que o tiraria do mau humor no momento. Ainda bem que eles chegaram com boas notícias, entrando pela porta da frente com Brutus com olhos lacrimejantes e Ludio corado de vergonha.

    — Hum? O que aconteceu com vocês dois? — perguntou o paladino, estranhando o comportamento.

    — Gre-Grey, aquela me-menina… — gaguejou Brutus, batendo as mãos em cima da mesa. — A pobre coitada era um doce, seus pais estavam mortos de desesperados, Grey! E quando ela acordou, ela disse “Obrigada” junto dos pais, eu tive que voltar correndo! Não aguentei ficar na frente deles de emoção! Foi… foi lindo, uhaaaahh…

    — Esse idiota sem miolos saiu pelo meio da rua chorando feito uma criança — explicou o mago, apertando as pálpebras e se assentando numa cadeira próxima. — Eu juro, nunca mais ando com ele novamente depois do que aconteceu. Um homem crescido e alto chorando igual um bebê no meio da rua! Quis enterrar meu rosto na terra… no meu tempo, ninguém era criado para ser um chorão mole!

    — Se-Seu velho rabugento! — O brutamonte, ainda com olhos marejados de felicidade, inclinou-se na direção dele. — Como eu não ia chorar de emoção!? Sabe o que todas as crianças fazem quando olham para mim?!? Elas correm de medo, mesmo depois de salvá-las! Aquela garota foi gentil, ela disse agradeceu por terem cuidado dela e termos derrotado os caras maus! Meu coração não aguentou isso!

    O paladino mordeu a língua para controlar uma risada prestes a sair. Brutus sempre escondia esse lado manso detrás do rosto intimidador, era uma imagem equivalente a um urso de pelúcia realista; mesmo parecendo assustador por ser um urso, ainda sim era fofo. Saber que as coisas deram certo aliviou parte de sua mente cansada, que ainda procurava respostas no mistério da sala de rituais.

    Então, quando os dois pararam de discutir um com outro a respeito de como o brutamonte careca merecia ter mais maturidade, Grey pediu uma comida para descansarem. Eles fizeram uma reprise sobre o acontecimento, de como eram os estilos dos cultistas e como eles não sabiam usar nenhum tipo de magia. Se alguém soubesse, possivelmente era o líder, mas ele havia desaparecido antes de capturarem-no. 

    Antes de chamarem as autoridades, o grupo conferiu o prédio da cabeça aos pés, usando tanto detecção de energia demoníaca quanto mágica. O esforço se provou infrutífero, levando em conta que as coisas encontradas não eram nada demais. Alguns objetos foram contaminados por energia demoníaca, o que era normal de acontecer levando em conta o tempo de exposição, só que todos esperavam outro tipo de prova, um artefato ou quem sabe até mesmo um bruxo para ajudá-los.

    Os bruxos eram pioneiros nas áreas espirituais e demoníacas, seus pactos com seres de outro mundo eram muito bem conhecidos. Os bruxos podiam tanto ter um contrato com um demônio quanto um espírito qualquer, a única coisa que mudava era sua índole de acordo com o poder escolhido. Por isso, esperavam muito que alguma pessoa lá manifestasse um traço diferente de energia, porque assim poderiam interrogá-lo e solucionar o mistério.

    — Certo, eu vou purificar os itens ainda hoje lá para não correr perigo de infecção — declarou Grey, abaixando a colher no prato. — Quero que vocês fiquem vigilantes, nem pensem em sair por aí sozinhos.

    — Por favor, diga isso para o cabeça de músculos — debochou Ludio, dando de ombros. — Além do mais, só ele que faria algo assim. Eu, com a idade dele, já sabia até…

    A porta da taverna se abriu com um chute pesado. 

    Todos olharam na direção da invasora, uma mulher com cabelo negro longo, cheia de cicatrizes e rugas pela face por culpa da idade. Na cintura, ela carregava uma cimitarra e um cinto de utilidades cheio de bolsos. Suas sobrancelhas estavam franzidas, como um par de flechas flamejantes prestes a serem disparadas contra quem mirasse.

    Ela logo se voltou para a mesa do trio, focando apenas em Grey. Cada passo ecoou pela taverna silenciosa. Brutus se ergueu da cadeira, temendo que acontecesse alguma coisa contra seus colegas. Ele se pôs à frente e impediu a mulher de seguir adiante.

    — Posso ajudar em alguma coisa, moça? 

    — Pode ajudar tirando esse seu peito peludo da frente.

    — Olha, não é muito educado falar isso com outras pessoas, é melhor…

    — Ficou surdo? Saia da minha frente, antes que eu arranque sua cabeça fora.

    Um ar gelado se transmitiu por meio daquelas palavras. Grey ia se intrometer para falar algo, porém, antes mesmo que pudesse dizer qualquer coisa, ele viu o grande Brutus sendo derrubado no chão com um único golpe.


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