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    Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.

    De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!

    Grey ficou ao lado de Relena o dia inteiro, até a noite enfim cair e ela entrar num sono profundo. Eles passaram horas comentando sobre o passado, relembrando da infância ou da vez que se viram de novo muitos anos depois, na época que Grey fora obrigado a ter um corte de cabelo ridículo para se adequar aos demais escudeiros que participavam na graduação para paladino.

    Era uma boa conversa, mas claramente os detalhes a respeito do que aconteceu antes de se reverem foram omitidos. Havia vergonha dentro dele sobre o assunto, preferia enterrá-lo a sete palmos do que revelar, especialmente para sua amiga querida. As risadas enfraqueceram mais e mais, então apenas restou o ronco pesado de Relena e a respiração calma do paladino, que ao vê-la bem e de rosto tranquilo, levantou-se da cadeira e saiu dos alojamentos dos doentes. 

    Queria passar mais tempo lá, mas devia se responsabilizar pelo próprio cargo, inevitavelmente tendo que realizar patrulhas ou colaborar com os demais da comitiva do bispo Vylon para uma averiguação pela cidade. Mesmo após o desastre, trabalho nunca faltava, eles necessitavam analisar cada metro quadrado e assegurar que nenhuma mancha de poder demoníaco ficou para trás.

    Em dado momento, Grey foi chamado para a tenda do bispo, apertando o passo para vê-lo. Ele estava na frente de um mapa desenhado da Vila do Dente, tendo colocado marcações com peças de tabuleiro por falta de um representativo melhor. 

    — Que bom, você chegou rápido. Como está se sentindo, paladino?

    — Estou sentindo um pouco de tudo, senhor. — Grey cumprimentou cruzando o braço pelo peito. — Posso saber por que me chamou?

    — Qual sua relação com aquele garoto? — inquiriu, puxando uma cadeira para ficar confortável enquanto bebia uma xícara de chá quente. — Aquele que ficou ao lado da heroína. Se me lembro bem, ele é neto dela.

    “Deve ser sobre Liane.” Os olhos do bispo possuíam um brilho diferente do habitual vazio, dando calafrios no paladino. — Sei muito pouco a respeito. Apenas fui simpático com ele uma vez, além de tê-lo resgatado de um sacrifício menor que ocorreu pouco tempo antes. Depois disso, Ludio se ofereceu para ensinar magia, e por fim fui resgatado por ele quando fomos presos no covil dos cultistas.

    — Interessante… — O líquido dentro da xícara balançou de um lado para o outro, ameaçando cair. — Você também falou sobre uma traidora no seu grupo? Não, me equivoquei, era uma santa possuída. Ela teve contato com o garoto?

    — Não tenho certeza, mas se não me engano a heroína e ela lutaram uma vez… Por conta do meu julgamento precoce, nos acabamos prendendo-a erroneamente e acabei ameaçando a segurança do grupo.

    Vylon absorveu as informações com o rosto impassível, procurando detalhes faltantes ou algo que pudesse lhe dar um pouquinho mais de nuance. Os relatos, feitos tanto por membros do grupo de Grey quanto Relena, batiam, coincidindo um pouco com o taverneiro e criminosos envolvidos no ataque contra o culto maligno.

    No entanto, faltavam peças no quebra-cabeça. O desaparecimento da santa Milea era uma baixa para a igreja, assim como ter sido repentinamente possuída provava que desde o príncipio alguma coisa estava fora dos eixos. A experiência de Vylon contra demônios era vasta, então sabia que se ela de fato tinha sucumbido ao mal, haveriam rastros, pois essas criaturas eram gananciosas e buscavam consumir o máximo de poder possível. 

    Em tal caso, Milea estaria no mínimo fugindo agora, mas com certeza teria alguma participação no ritual. A possibilidade de ser um demônio controlado por alguém de fora não cabia naquela situação, porque se fosse o caso, havia Grey para detectar apropriadamente um fluxo diferente de energia demoníaca. O mistério interessava bastante o bispo, que procurava um meio de conectar todos os pontos.

    — O menino apresenta talento mágico, tem uma fada consigo e sua energia não é nem demoníaca e nem divina… — murmurou, dessa vez seus olhos cruzaram a peça de um peão. — Amanhã, chame o garoto e a madame Jessia. Receio que eles tenham relação direta com o incidente ou com alguma coisa maior.

    — Por que isso, senhor? Devemos dar o credito sobre como evitaram da catástrofe ser maior.

    — É somente um incomodo que apareceu na minha mente. A mulher tem o mesmo nome da criminosa procurada no marquesado Tanite, mas é completamente diferente em aparência e você me disse que essa mulher rejuvenesceu antes de nos encontrarmos, sem contar que o garoto confrontou poder diabólico e até agora não apresentou sequela. Não lhe parece suspeito? 

    — Sim-Sim… — A expressão de Grey mudou um pouco, assustado com as deduções daquele homem. — Mas ainda assim, seria demais levá-los a um interrogatório…

    — Com certeza. A população local também entraria numa revolta se vissem sua preciosa heroína sendo arrastada por correntes e presa contra sua vontade, sem contar que ainda há outros bandidos soltos e as forças locais não se restabeleceram completamente, logo, é de se esperar que seria uma péssima escolha.

    O raciocínio rápido do bispo causava um certo atordoamento no paladino, que sabia exatamente o que ele deseja realizar, mas ainda assim não queria de nenhuma forma contribuir. Sua dívida com Liane era grande demais para traí-lo dessa forma, ia contra sua honra. Ainda assim, uma pequena pulga atrás da orelha mexia, o pressentimento de provavelmente algo ruim por trás dos panos, assim como ocorreu quando percebeu a situação de Milea.

    Era uma situação sensível, por um lado, poderia ajudar um demônio muito maior, por outro, estaria incriminando um garoto inocente. Depois de morder o lábio ao pensar muito, decidiu por um fim aquilo de uma vez por todas. 

    — Bispo Vylon, que tal realizarmos alguma atividade para os residentes e atrair aqueles dois para perto? Assim você pode dar seu veredito final e não precisaria de nenhuma ação drástica.

    As sobrancelhas do homem se levantaram em surpresa. Isso fez as engrenagens girarem pela sua cabeça.

    — Hmmmm… belíssima ideia. — Suas pupilas vazias encararam o mapa novamente, como se observassem um simples quebra-cabeça. — Descanse, paladino. Amanhã cedo darei ordem aos demais e vamos fazer uma checagem simples. Sempre levo uma Piramide da Verdade comigo, logo, deve ser breve

    Grey acenou com a cabeça, realizando uma última reverência antes de se retirar. Seu rosto não se virou em nenhum momento, tentando esconder o nervosismo a todo custo, temendo que qualquer passo em falso transparecesse seus desejos. Quando ele estava longe o bastante, Vylon apanhou o peão na mesa.

    — Que segredos você esconde, pequeno?

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