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    Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.

    De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!

    Eu devia ter imaginado que curar outro corpo era mais complicado.

    O comentário de Er’Ika continha desdém, mas não sem motivo. Após todas aquelas lutas e absorções, inevitavelmente a entidade atingiu outro patamar no que cabia às suas funções, conhecimentos e agilidade. Atualmente, ele estava interagindo com energia divina para entender suas funções, coisa que não foi possível antes devido a delicadeza da situação.

    No começo, havia entendido os três tipos de energia como as ferramentas de um médico, a energia demoníaca tirava as partes ruins, a energia divina reconstruía a forma e a mana serviam de remendos para manter a estrutura de pé. Essa concepção se provou arcaica quando teve um momento a sós com Jessia, querendo saber dos resultados do seu experimento.

    O corpo dela está voltando ao estado original. Por que isso acontece? As células deviam ser completamente novas…

    Liane não incomodou seus pensamentos, na verdade, agia como um assistente fornecendo o suprimento de energia para continuarem naquela atividade. A bandida permaneceu sentada de costas, com o garotinho apoiando as mãos contra as escapulas e emitindo um pequeno brilho. 

    Aquilo era para fornecer o máximo de atenção à Er’Ika, de forma que não pensasse em nada além dos fenômenos ocorrendo no corpo da mulher. Sua curiosidade atiçada investigou cada centímetro, comparando as memórias no seu banco de dados, especialmente com aquele cultista esquisito.

    As informações por ele fornecidas se provaram extremamente valiosas, já que por causa delas que Er’Ika pode rejuvenescer Jessia, porém, não esperaria que o efeito colateral era como o organismo reagia tentando retornar ao seu estado anterior.

    Tenho uma suposição… Talvez o corpo esteja rejeitando essas energias externas e expelindo muito lentamente, é por isso que os efeitos de juventude estão passando.

    “A gente consegue resolver isso? Se andarmos com ela do jeito de antes, não acho que daria para esconder a identidade dela daquele cara estranho.”

    Concordo, é muito arriscado sairmos se a heroína voltasse com uma aparência envelhecida. Talvez ficasse um pouco irreconhecível, e assim poderíamos aproveitar para sair dessa vila, mas esse plano pode erguer as suspeitas do bispo e ganharíamos um belo alvo nas costas.

    — Vai demorar mais? — reclamou Jessia, arregalando os olhos. — Tenho que me preparar, não posso ficar nos joguinhos da sua fadinha, pirralho.

    — Ela… ela só vai demorar mais um pouquinho.

    Diga que estou vendo uma forma de tornar essa juventude ser eterna.

    — Ela acabou de dizer que está tentando te deixar jovem pra sempre!

    — Sério? Que carinha legal, dá pra esperar mais um pouquinho se é o caso…

    Liane largou um suspiro de alívio, concentrando-se de novo em bombardear energia. Er’Ika, por sua vez, retomou a análise e dessa vez deu atenção aos órgãos. Essas estruturas realizavam muito trabalho, sendo também uma das responsáveis pela saúde. Alguns deles já apresentavam problemas menores, como funcionalidade menor e produção lenta de hormônios. 

    Dessa vez, a entidade usou sua consciência como um tipo de tesoura, agulha e linha, tratando o corpo como um grande pedaço de tecido para ser cuidado. Certas partes foram remendadas, outras tiveram sua estrutura muito alterada, enquanto outros permaneceram intocados devido ao estado. Já previa uma possível falência de órgãos cedo ou tarde, era natural devido idade, porém, se acontecesse durante o processo de readaptação do organismo, nada poderia ser feito. 

    Er’Ika cortou a conexão e voltou para a mente de Liane, perambulando de um lado para o outro como se estivesse num pensamento profundo. Reparando nisso, o garoto afastou as mãos, recuando um pouco para trás na cama e enfim encarando de novo Jessia.

    Pequenas rugas apareceram abaixo dos olhos pela noite, e naquele dia, poucos fios grisalhos surgiram na raiz do cabelo. A ajuda do deus retardou esses efeitos, tornando o cabelo mais vívido e o rosto menos cansado. Os nervos de Liane se acalmaram, crente de que nenhum dos dois entraria em problema.

    Ainda lembrava da vez que encontrou-se com o bispo Vylon pela primeira vez, sentia algo de errado nele, uma falta de humanidade que não se encontrava em outros. Era semelhante ao sentimento que Er’Ika lhe transmitia quando ia por vertentes lógicas, mas se diferenciava porque ao menos em Er’Ika haviam nuances de emoção, diferente daquele homem, que parecia um defunto caminhando.

    Jessia pegou a espada apoiada na escrivaninha próxima da cama e se levantou, guardando a arma na bainha. 

    — Eu darei uma saída. Quero arranjar um grupo de novo, se você me entende. Não é seguro viajar sozinho, nós tivemos muita sorte. 

    Esse comentário pegou o menino de surpresa, seus olhos acompanharam-na se aproximar da porta e abrí-la. No momento, eles usavam uma casa abandonada nas partes mais afastadas da vila, aquela região também era usada de abrigo para os outros residentes, ninguém desejava morrer de frio lá fora.

    Liane quis chamá-la para ficar, mas preferiu ficar quieto. Desde quando ficava agradado na presença daquela maníaca? Talvez tivesse desenvolvido algum problema mental para tal coisa acontecer, daria o nome de “estocolmo” apenas por soar engraçado. De qualquer forma, era melhor que ela saísse, assim teria como conversar sozinho por um tempo com Er’Ika.

    O garoto acenou em despedida e ouviu a porta fechar. Ele saltou da caminha rumo ao piso, abrindo sua mochila e pegando o livro de magia emprestado por Ludio para lê-lo. Virou um certo costume, além de que às vezes era legal aprender as coisas que a entidade na sua cabeça repassava para tentar. No entanto, dessa vez, era muito fácil perder o foco.

    “Er’Ika, será que a irmã ainda tá viva?”

    Por que me pergunta a essa hora?

    “Jessia disse que é perigoso sair sozinho, e tem muita coisa assustadora lá fora. Aquele demônio, aqueles loucos… ela consegue sobreviver a tudo isso?”

    Abano meus tentáculos para você, pequenino, porque não faço a menor ideia. Pode ser que sim, pode ser que não.

    “Não brinque com isso, não tem graça.”

    Ora, não tem muito o que eu fazer. É uma rolagem de dados, pode ser que a encontremos logo, ou pode ser até que ela esteja desaparecida ainda. Pelo menos, mantenha-se perto daquela mulher enquanto pode, é a sua segurança no momento. Cedo ou tarde, procuraremos ela de novo.

    Liane não gostou de pensar nisso, dava um gosto amargo na boca. Fazia muito tempo que não via Zana, e isso lentamente estava começando a mexer nas suas paranoias cada vez mais.

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