Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.
De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!
Capítulo 94: Realidade de uma Aventura
Grey adentrou uma das tendas armadas pelos sacerdotes do Exército Branco. Ele mostrou sua identificação de antemão, junto do colar e avisou que ficaria ali para uma visita. Logo passou pelas cortinas dividindo os quartos, era surpreendente a velocidade com que os demais agiam e a pureza para o serviço, no entanto, um desconforto mexia com seu coração.
Não demorou para chegar na ala de Joan, a antiga ladina do grupo de mulheres, que estava deitada na cama com os olhos semicerrados e uma respiração fraca. O rosto era doente, os dedos desgastados após aquela tortura indicavam uma dor profunda. Partia o coração vê-la nesse estado, mas o paladino se manteve forte e deixou uma pequena caixa próxima à cama, em seguida olhando para a outra pessoa lá dentro, Brutus, que dormia no chão.
Muito provavelmente o sono duraria bastante, o mesmo não dava para ser dito de Joan, cujos olhos rolaram lentamente na direção de Grey. A boca dela tentou se mexer para falar algo, obrigando-o a se aproximar mais e tomar um lugar ao lado. Ao invés de palavras saírem, apenas o vento quente entrando e saindo pela garganta serviu de som.
— Me desculpe — disse o paladino. — Eu não devia ter feito aquilo, e não sei se um dia me perdoará, Joan. Sua mãe e seu pai provavelmente me amaldiçoarão pelo resto da vida agora, levando em conta o status de nobre deles.
Ele estendeu a mão, um brilho místico emergiu da palma, caindo em pequenos pontinhos brilhantes sobre a moça acamada. Aquilo era seu poder curativo, que vinha se empenhando em descobrir como usar nas outras pessoas, para seus companheiros não se machucarem novamente. Comparado às habilidades curativas de um sacerdote, era nada, carregando somente a culpa por tal erro.
— Espero que você melhore, Brutus com certeza vai te ajudar no que der e vier. Bem, talvez já tenha percebido, mas esse cara é mole e valoriza muito sua amizade.
Um sorriso brotou no rosto de Grey, no entanto, o peso daquelas palavras marcaram as dores dentro de si. Joan também demonstrava o mesmo, gotas escorreram pela ponta dos olhos enquanto o silêncio refletiu o sofrimento e angústia de antes. Era impossível saber se ela o culpava por tudo, se um ódio existia no âmago e se queria matá-lo naquele momento.
Independente disso, o paladino fez tudo o que pôde para ganhar algum perdão. Mesmo com o lado lógico avisando que não havia culpa, ele não conseguia ignorar como seus desejos egoístas de salvar aquela vila igual heróis trouxe tamanha desgraça. Se esperasse alguns dias, aquela tragédia não aconteceria aos seus amigos.
Um suspiro fugiu dos pulmões, seus pés o tiraram daquela ala, levando-o para a próxima pessoa. Hesitação se espalhou da cabeça aos pés, suas mãos tremiam perante a cortina, mas ele precisava seguir em frente. Puxou o pano de uma vez, adentrando o cômodo onde uma outra mulher estava deitada, uma de cabelo espetado, olheiras e com a face pálida.
Pelo visto, sono era um termo desconhecido para ela, mesmo com os olhos fechados ficava mais do que claro como estava acordada. Grey não esperou por nada, apenas fechou as cortinas atrás de si e ficou perto da cama, esperando pacientemente que ela se mexesse. Para variar, isso não aconteceu. O corpo de Relena continuou estático, como um defunto dentro de um caixão.
Aquilo atiçou os nervos do paladino. A paranoia de sua morte prematura inundou a mente. Ele se inclinou para frente tentando conferir sua respiração, apenas para ser surpreso por um dedo entrando diretamente no nariz.
— Ai, desgraça! — Grey deu um passo para trás e pôs a mão na narina, que doía horrores. — Eu só estava te conferindo, por que você tem que ser assim?!
— Porque eu não gosto quando alguém fica literalmente em cima de mim cheirando meu chulé.
Relena mostrou a língua e sentiu a maior vontade de chutá-lo na bunda, porém, devido a falta de energia no corpo inteiro, teve que ficar somente no desejo. Uma risada fraca lhe escapou, com a cabeça afundando mais uma vez no travesseiro e os olhos cansados encarando o pano branco do topo da tenda.
— Por que veio pra cá, hein? Deve ter muito trabalho com os almofadinhas dos paladinos.
— Vim para conferir Joan e você. Me sinto mal quando até nisso levo reclamações…
— Ohhh, não fica assim, bebezão. Logo logo você volta a uma aventura heroica de novo e sai por aí conhecendo umas garotas, sabe? Era melhor não ter vindo. Eu tô toda acabada…
— Relena, eu queria te falar que…
— Ah, desculpinhas? Não precisa, tá tudo bem. Por que você não vai aproveitar o dia lá fora?
— Mas…
— Para de me incomodar, essa sua atitude é de gente pé no saco, sabia? Aproveita um pouco o dia e…
— Relena!
Aquele grito emudeceu a mulher. O semblante de Grey se tornou sombrio, os olhos pesavam por causa de noites sem dormir, igual a própria pessoa na sua frente. Pesadelos retornavam durante a madrugada para atormentá-lo, cada mísero dia mais se parecia com o inferno do que a aventura radiante de antes. Ele se sentou na beirada da cama, cheio de marcas de expressão devido ao estresse.
— Por favor, pare com isso. Eu não quero ir lá fora, não quero ficar longe de você.
Relena abaixou o rosto, envergonhada pelo que tinha acabado de falar. Ela quis espantá-lo para não ser vista num estado decadente, a humilhação de ter que esconder as feridas da batalha e de como seu ser foi violado de maneiras inumanas manchava sua honra. Engoliu seco, imersa na aura sombria que aquelas tendas tinham, o choro de pessoas que perderam seus entes queridos ressoava pelos ouvidos.
Nenhum deles falou nada, o que mais diriam perante a um cenário catastrófico? No entanto, o momento ficou gravado em ambos, aquele instante de angústia e depreciação que tanto odiavam reviver.
— Isso me lembra de… antes.
— Antes? — indagou Grey. — Se refere ao que?
— Quando éramos pequenos e quando nos encontramos de novo. Toda vez que a gente se vê, uma desgraça acontece…
— Não, não é, vai me dizer que se esqueceu daqueles momentos felizes?
— Momentos felizes? Sério? Então me diga, sabichão, que momentos felizes foram esses?
Pela primeira vez, Grey conseguiu sorrir um pouco de alegria ao começar a desenterrar a história de seus passados.
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