Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.
De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!
Capítulo 99: Cruzando a Fronteira
Dilia, Topax, Grey e Cristal partiram do vilarejo. Houveram inúmeros agradecimentos, abraços e presentes de despedida, mas aquelas duas crianças, que se conheceram e brincaram tanto no tempo que ficaram juntos, apenas trocaram soquinhos um no outro antes da carroça rumar pela estrada de terra. Os cavalos, as silhuetas e o feno encolheram lentamente, em determinado momento se tornaram indistinguíveis do horizonte com o sol nascendo.
As pessoas acenaram conforme viam a imagem diminuir, e Relena, mesmo subindo o topo das colinas para ver novamente seu amigo, ainda teve como xingar pela última vez aquele amigo. Grey quis enterrar o rosto contra o feno quando sua mãe ouviu aquela balburdia, e com certeza receberia uma coça por ter uma amiga boca suja, se é que ele próprio não tinha absorvido aquele palavreado.
A viagem seguiu igual a primeira, com passarinhos cantando no dia quente de verão. Quem pudesse, teria uma coberta sobre a cabeça para se proteger dos raios de sol, mas aqueles três se contentaram com chapéus de palha e um assento duro de madeira. Ocasionalmente, comerciantes apareciam no meio da estrada, a frequência era o bastante para pegar algum recurso em falta para o restante da viagem.
Num desses encontros, o garoto se deparou com um sujeito andando num cavalo que possuía diversas bolsas nas sela. Eles pararam para uma negociação, mas o que atraiu seus olhos foi a espada pendendo acima de uma das mochilas, escondida numa bainha preta como a noite, sua existência se diferia de todas aquelas outras coisas do comerciante, atraindo-o de uma forma inexplicável.
O homem, reparando no olhar fixo do menino, perguntou:
— Isso te chamou a atenção? — Ele puxou a espada da bainha, revelando um fio impecável e a estrutura de metal temperada, com nenhum traço de ferrugem. — Desculpe, mas é minha, não está a venda.
Um suspiro desapontado saiu da boca de Grey. Isso não importava, mesmo que estivesse, o dinheiro para comprá-la seria grande demais para caber no orçamento.
Dilia pôs a cabeça para fora da carroça e encarou o sujeito, igualmente analisando a arma e a forma que a luz refletia na superfície. Era uma verdadeira obra de arte até para ela, que não se familiarizava muito com armas. O olhar desapontado do filho gerou um pequeno espinho em seu coração, mas se possível, queria ao máximo evitar dele se meter com objetos desse tipo.
— Se me permite perguntar — o comerciante falou, guardando a espada de volta no lugar —, para onde estão indo?
— Para o Mosteiro Prateado — respondeu Onix, acenando com a cabeça e entregando as moedas na mão do sujeito em troca de suprimentos.
— O Mosteiro, é? Hmmm… pois tomem cuidado, dizem que monstros apareceram com mais frequência nos últimos meses. São só rumores, mas eventos estranhos tem ocorrido durante a noite.
— Certeza que bandidos não estariam espreitando pela mata a essa hora? Estamos no verão, é plausível ser outros humanos trazendo problemas.
— Infelizmente, pelo que fui informado, os eventos pela noite são mais macabros para simples bandidos. — O comerciante se aproximou e cochichou no ouvido de Onix: — Rituais, sacrifícios, mutilações; não importa, eles fazem o que bem querem. Tome cuidado.
O cocheiro acenou positivamente, vendo o comerciante partir para longe. Em seguida, olhou para Dilia, que somente por aquele sinal entendeu que havia uma coisa fora do lugar. Ela observou a floresta de outra forma, um misto de raiva e pavor. A viagem seguiu, faltavam poucos dias até se depararem com o Mosteiro.
Este se localizava numa serra além do território do conde Minus. Supostamente, ficava num marquesado próximo da fronteira, Se tudo desse certo, eles conseguiriam atravessar com as novas identidades forjadas e com o apelo de uma criança no colo. Não houveram surpresas após encontrarem aquele comerciante, a viagem seguiu tranquila até durante as noites, mas nem Onix e Dilia dormiam direito temendo uma sombra aparecer em meio as árvores.
Eles pararam na fronteira, onde foi colocado um posto de guarda. O motivo disso era que o outro lado era melhor acessado por uma ponte sobre um grande rio chamado Canal Verde, enquanto os demais lados possuíam terreno desregulado e prolongavam demais a viagem. Sendo assim, a única forma de passarem em segurança era por meio daquela passagem.
Havia, é claro, pessoas de todos os lugares entrando ou saindo dali, precisando antes passarem por uma ponte até serem inspecionados. Onix quem se prestou para conversar com o guarda, ao mesmo tempo que Dilia confortou Cristal em panos e a segurou no colo.
— Você e sua esposa estão se mudando para a região vizinha para atender ao funeral do seu irmão e viver com a família dele, correto?
— Sim, isso mesmo, senhor.
— E porque está indo lá com uma filha recém-nascida? Não teme dela pegar uma doença ou morrer no caminho?
— Senhor, eu estou escapando da pobreza e fome. Não consigo sustentar todas as nossas bocas e reuni o possível para suportar esse caminho inteiro, quando chegarmos lá, será mais possível de sobrevivermos.
O guarda estava com certo ceticismo, olhando para a bela mulher na carroça e o garoto. Ambos não pareciam magros para quem dizia passar fome, logo, ele passou reto e se aproximou dos dois, analisando-os da cabeça aos pés. O pirralho em especial estava um pouco gordinho, causando mais estranheza. Era óbvio que um pai faria o possível para manter seu filho saudável, mas aquilo estava suspeito.
— Menino.
— Ah! Si-Sim?
— Qual foi a última vez que você comeu?
— Seu guarda, não pergunte isso para ele…!
— Calada, mulher, quero ouvir da boca do próprio moleque.
Grey se intimidou pelo olhar julgador daquele homem, ao ponto de quase cair na cama de feno na carroça. Ele engoliu seco, fazendo uma conta nos dedos para tentar direito quantas horas faziam desde a última refeição, uma pena que memória não era lá um forte.
— Eu-Eu não lembro…
— Pense um pouco mais, tem certeza que não lembra?
— Não, não lembro. Pode fazer três… cinco? Não sei…
Aqueles murmúrios o fizeram entender. O guarda largou um suspiro e seguiu em frente, ordenando para os demais abrirem os portões e permitirem a passagem daquela família. Se a situação fosse miserável assim, havia pouco o que se fazer. Ele torceu por dentro para que eles chegassem ao seu destino, sem ter a menor ideia de que os murmúrios de Grey se referiam a horas e não dias.
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