Capítulo 00 - Prólogo
Era um lugar sombrio, e o rangido só piorava a atmosfera. A cada passo dela, o som de suas botas ecoava. Por isso, ela pisava com ainda mais cuidado.
Com as costas levemente curvadas, avançou sem pressa. Quando chegou à porta familiar, parou.
Segurou a respiração antes de abrir a porta.
Whoo, whoo, whoo
Depois de uma inspiração profunda, girou a maçaneta.
Uma escuridão ainda mais densa que a do corredor invadiu seus olhos. Ela hesitou em entrar naquele quarto onde quase nada era visível.
Mas já estava acostumada. Entrou e puxou a cortina pesada. Um feixe de luz tão forte que a fez fechar os olhos.
Mesmo assim, terminou de abrir as cortinas e se virou.
Foi então que algo voou em direção ao seu rosto.
Thud!
Era o relógio de mesa, que bateu no parapeito da janela e caiu no chão. Ela olhou para o objeto quebrado e depois ergueu os olhos.
Na cama, no canto mais afastado, havia uma forma arredondada coberta por um lençol. A única mão visível segurava a borda do tecido com força, tremendo de medo.
“Sai daqui.”
Uma palavra abafada e rouca saiu dali.
Havia uma raiva profunda naquela voz.
Ela ignorou e pegou o relógio caído. A superfície de madeira estava arranhada, com um prego saltado. Inutilizável. Deixou-o de lado e pegou os lençóis novos que trouxera. Deu uma olhada rápida no quarto bagunçado.
Pratos quebrados, talheres espalhados, cacos de vidro pelo chão. Nada naquele lugar estava intacto.
Começou a recolher os destroços, passo a passo. A cada movimento, a figura na cama estremecia.
“Sai.”
A voz ecoou de novo.
Mais uma vez, ela fingiu não ouvir e se aproximou da cama. O homem se encolheu, tentando se afastar, mas só conseguiu esbarrar na mesa de cabeceira antes de recuar ainda mais. Não tinha mais nada para atirar nela — restava-lhe apenas fugir, mas para onde? No fim, só conseguiu se encostar na parede, impotente.
Ela esticou a mão. Ele a afastou com violência.
“Não me toque.”
Que pena.
Sem reagir, ela puxou o lençol de uma vez. O homem, antes envolto no tecido, perdeu o equilíbrio e ficou exposto.
Cabelos dourados desalinhados, veias saltadas no pescoço e nos ombros tensos. Seu olhar desceu — era fácil imaginar o corpo magro e ressecado sob as roupas.
Quando levantou os olhos de novo, viu seu rosto de perto — suado, pálido, a respiração acelerada. Tentou tocá-lo, mas ele a repeliu novamente.
“Não encoste em mim!”
O grito foi ensurdecedor.
“Eu disse para você sair! Vaza! Some daqui!”
As palavras cortantes fizeram com que ela soltasse um suspiro profundo.
Seu rosto pálido agora estava vermelho de raiva. Os lábios ressecados soltavam uma respiração áspera. Mesmo assim, seus dedos brancos de tanto apertar ainda seguravam o lençol, como se fosse sua última defesa.
“Vai embora. Por favor, fecha isso!”
“Acalme-se, meu Lorde.”
“Sai! Sai! Some daqui!”
Como era de se esperar, sua respiração começou a falhar. O rosto antes vermelho esmaeceu, e ele agarrou o peito, sufocado.
Ela o puxou para seus braços, tirou um inalador do bolso e o colocou em sua boca. Enquanto isso, passou a mão em suas costas, falando baixo:
“Respire devagar.”
Ele obedeceu, engolindo o ar com dificuldade. Aos poucos, seu peito agitado foi se acalmando. Quando a crise passou, ela retirou o inalador.
“Hah… hah…”
“Já está melhor.”
Seu rosto estava encharcado. Os fios dourados, molhados de suor, grudaram no vestido dela. Ela afastou-os com cuidado, como um gesto de reconhecimento. Quando as pálpebras pesadas se abriram, olhos esmeraldas — quase translúcidos — a encararam.
Foi então que ele a empurrou com força.
“Ahh!”
Num instante, ela caiu da cama!
A saia levantou, revelando a roupa íntima. Enquanto se debatia, ainda desorientada, o rosto dele apareceu à sua frente.
Seu olhar, antes vago, desceu lentamente.
Será que ele está me encarando?
Aquele rosto pálido, ainda absurdamente bonito, dominou sua visão.
Seus lábios úmidos se abriram.
“Sai.”
Ela franziu a testa, irritada.
Enfim, é um idiota.
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