Capítulo 10 - Mestre Maluco (10)
Não importa o quanto você tente, não pode ser desfeito. Não pode ser mudado. Então, como se supera isso? Como se vive em um inferno assim?
A figura, que estava encolhida, tremendo com o ranger repentino dos dentes, se ergueu. O lençol que o cobria deslizou, revelando seu rosto. Paula arregalou os olhos de surpresa. Sua testa estava tingida de vermelho.
“Sua testa…”
Cambaleando, ele segurou a mão dela. Agarrou seu rosto, encarando-a com espanto. Seus longos cabelos caíram para trás.
Ela, instintivamente, o empurrou.
‘Não faça isso! Não faça!’
“Larga—!”
“Olhe para mim!”
Ele tentou segurar seus pulsos, seu rosto, mas ela se afastou, contorcendo o corpo. A briga continuou até que ela caiu sobre a cama. Ele subiu em cima dela, tentando segurá-la com firmeza, como se estivesse decidido.
Seus cabelos caíram em desordem, revelando seu rosto várias vezes. Paula o empurrou pelo rosto, bateu no ombro dele, tentando afastá-lo, mas não adiantava. Ele segurou seu rosto quando ela tentou se arrastar para fugir.
Os dedos secos dela se fecharam no cabelo dele, como se quisesse arrancá-lo. Ele grunhiu de dor ao puxá-la para perto.
“Olhe para mim!”
Então, ela abriu os olhos, e os olhares dos dois se encontraram.
A respiração deles estava ofegante. Os olhos esverdeados e enevoados dele a lembraram de algo: ele era cego.
‘Sim, esse homem não pode me ver.’
Ele não podia vê-la. Isso era um alívio.
“Como se supõe que eu viva assim? Em que se acredita? Isso quer dizer que você entende o que eu sinto? O medo de não enxergar nada, você conhece? Como poderia saber o desespero de não saber se a outra pessoa está sendo gentil ou se tem a intenção de me matar? Se quer me ferir ou me proteger?”
Os olhos escuros estavam cheios de amargura. A mão que segurava seu rosto tremia.
Não era assustador.
Era doloroso.
“Minha vida fracassou. Agora, não há mais luz para mim.”
Ele estava se desfazendo em seu próprio estado.
“Se você tentar—”
Vincent riu com desprezo.
Era só isso que ela tinha a dizer?
Seus olhos se encheram de decepção.
“Anime-se. Você consegue. Você pode superar se tentar. Eu não quero mais ouvir isso. No fim, são só palavras. É fácil dizer isso porque você não está cega como eu. Fácil demais. Não diga essas coisas. Porque meus olhos nunca mais verão a luz do dia.”
A raiva estava em sua voz, palavra por palavra. Seu medo transparecia na respiração entrecortada.
“Mas o que você quer que eu tente? O que um tolo cego pode fazer…?”
Seu rosto, que se retorcia pouco a pouco, parecia triste.
Como uma criança deixada sozinha em um lugar vazio.
Mas como alguém tão rico, com tanto prestígio e poder, poderia parecer tão miserável?
Paula podia sentir sua dor, mas não conseguia entendê-lo.
Ele estava certo.
No fim, ela era uma estranha.
“Então você quer morrer? Sozinho assim, se esgotando?”
“Isso não é possível? Entre a vida e a morte, você pode escolher a morte.”
“É verdade.”
“…”
Ela estendeu a mão e segurou a dele, que ainda tocava seu rosto.
Mãos frias.
“Você pode escolher.”
Ela poderia dizer algo superficial. Mas não disse. A dor dele era profunda demais para isso. Então, desistiu. Seria arrogância tentar consolá-lo.
“A realidade não é um conto de fadas. Dizem que Deus só dá fardos que podemos suportar, mas eu não acredito nisso. Está difícil? Cabe a mim decidir se continuo ou não. Você tem essa liberdade, e ninguém pode fazer nada quanto a isso.”
“…”
“Só me avise antes de morrer. Eu não quero ter que lidar com um cadáver e toda a bagunça de repente.”
‘Porque eu também preciso de tempo para me preparar.’
Ela tirou a mão dele do rosto e o empurrou pelo peito. Desta vez, ele se deixou afastar. Ela se levantou.
A luz da lua ainda brilhava pela janela. Ela queria mostrá-la a ele. Mas, mesmo que abrisse a cortina, aquela luz nunca alcançaria Vincent.
“Até lá, eu sempre estarei ao seu lado.”
Ela se virou para ele e viu seu rosto vazio.
“Eu não tenho medo. Você pode me matar quando quiser. Como eu já disse antes, mesmo se eu morrer, ninguém virá lamentar ou recolher meu corpo. Você não precisa se preocupar.”
“…”
“E mais uma coisa: o mestre estava errado. Às vezes, o mundo que você pode ver é ainda mais assustador.”
Como uma mãe que abandonou os filhos que deu à luz. Como os irmãos mais novos que foram espancados até a morte pelo próprio pai, morreram de fome ou foram vendidos para um bordel.
Como sua própria vida.
“Você tem muita coisa. Você tem o amanhã. Então, já que ainda pode respirar, que tal tentar? Tornar a vida um pouco melhor?”
“… é tudo inútil.”
“Não estou pedindo que faça algo agora. Só estou dizendo para pensar nisso como se fosse a última vez. Qualquer coisa. Comer na hora certa, tomar banho com água quente, vestir roupas novas, sair do quarto.”
“…”
“Se sentir medo, pode fugir de novo. Há espaço suficiente para se esconder. Você pode se esconder aqui e sair quando estiver pronto. O que há de tão assustador nessa mansão enorme, com dinheiro, poder e empregados que se preocupam com seu mestre?”
“Tudo é… assustador. Dinheiro, poder, interesse, esta mansão.”
“É melhor do que nada.”
‘Pelo menos você pode fugir.’
“O mestre deve estar enganado, mas viver sem nada é ainda pior.”
Ela já havia visto muitos cegos como ele. Um bebê nascido cego e abandonado pelos pais, um idoso que adoeceu e teve que arrancar os próprios olhos, um jovem pai de família que perdeu a visão em um acidente e ainda precisava sustentar a casa. Como Vincent, eles também teriam que viver na escuridão para sempre. Mas eles não podiam se dar ao luxo de se encolher em um quarto confortável.
Para sobreviver, precisavam trabalhar. Para eles, a fome era mais assustadora do que a cegueira. Precisavam suportar o abandono, as críticas e as zombarias apenas para conseguir respirar por mais um dia.
Todo mundo vive no inferno.
Alguns são pobres, outros têm pais ruins, alguns sofrem acidentes, e outros enfrentam um amanhã sem enxergar o futuro.
“Se você construir aos poucos, a mudança vem. Seja qual for. Como a luz iluminando este quarto escuro.”
“…”
“Você sabia que a lua no céu é linda?”
‘Tão linda que eu queria te mostrar.’
‘Se eu mostrasse, será que você pararia de pensar em morrer?’
Mesmo com essas palavras, Vincent não levantou a cabeça. Apenas se enrolou ainda mais no lençol. Ela estendeu a mão e ergueu o rosto dele. Um único feixe de luz atravessou os olhos enevoados de tom esmeralda.
Lindos.
Os olhos dele brilhavam sob o luar.
Era a primeira vez que ela ficava tão perto de alguém. Todos sempre olhavam para o rosto dela com repulsa, então ela andava de cabeça baixa, evitando os olhares.
Terceiro, Alicia sempre a olhava com desconforto. O pai dela, ao vê-la, mordia a língua. Paula tinha medo de encará-los. Por isso, nunca cortou a franja. O cabelo longo ajudava a esconder um pouco seu rosto feio.
Mas agora…
“Não abaixe a cabeça.”
Seu coração acelerou. Será que não teria problema? Ele nem podia vê-la, de qualquer forma. Talvez pudesse ser honesta. Pela primeira vez, encontrou alguém cara a cara.
Se os sentimentos dele podiam alcançá-la, então os dela também podiam chegar até ele.
“Isso é real.”
Ela passou os dedos pela testa manchada de vermelho. A pele estava machucada, rasgada. Será que ele tinha batido contra a parede por medo do pesadelo? Para não dormir de novo? Talvez quisesse sentir que aquilo era real.
“Seja forte.”
‘Pode não gostar, mas estou tentando.’
De qualquer forma, não havia caminho de volta. O destino dela já tinha sido selado por algumas moedas de ouro.
Ou vivia ali, ou morria.
Ao lado daquele mestre cego.
Em segredo.
Os olhos esmeralda tremeram em confusão. Então, lentamente, os dedos trêmulos tocaram o rosto dela. O olhar perdido se moveu, focando nela.
Os olhares se encontraram.
“Você…”
E então, de repente, algo a atingiu com força, jogando seu rosto para o lado.
Hã?
Num instante, sua visão girou. Logo depois, seu corpo caiu para trás.
Tum!
O impacto veio junto com uma dor latejante e familiar na parte de trás da cabeça.
… o que foi isso?
Ela ficou caída no chão, os olhos arregalados.
Já tinha sentido isso antes.
“Eu já tinha percebido, mas você fala coisas demais.”
A voz dele soou calma.
Ela piscou algumas vezes, tentando se recompor, e se sentou. Ele já estava de novo na cama, enrolado nos lençóis. A imagem do homem tremendo após o pesadelo havia sumido completamente.
“Não te avisei para tomar cuidado com o que diz?”
E ainda por cima, um aviso frio.
Por um momento, ela tentou entender a situação.
“Se cuide da próxima vez.”
“… vou tomar cuidado.”
O mestre de temperamento horrível estava de volta.
Ela esfregou a parte de trás da cabeça, que doía depois de bater no chão, e olhou para ele. O rosto tranquilo, a testa levemente franzida.
“Pare com isso antes que eu arranque seus olhos.”
De qualquer forma, ele sempre percebia esse tipo de coisa.
Ela abaixou os olhos ao ouvir o aviso dele.
A energia se esvaindo, os ombros caindo. Passou as mãos pelo rosto, frustrada.
Se levantou, olhando para ele, que continuava com o rosto afundado no travesseiro. Deu um passo em direção à porta.
“Para onde você vai?”
“Ah, eu… estou voltando para o meu quarto.”
“Por quê?”
“O quê?”
“Você disse que ficaria até eu me acalmar.”
“Acho que você já se acalmou o suficiente.”
“Nem um pouco. Quem vai estar ao meu lado? Meu coração ainda treme de medo.”
“…”
‘Não, eu só estava sendo gentil!’
Ela prendeu um grito e lembrou-se de quem era o homem à sua frente, então fechou a boca.
“Fique aqui até eu dormir.”
“Tá, tá.”
O rosto dele imediatamente se fechou com a resposta pouco sincera. Mas ela não ligou e se sentou no chão de novo, encarando a lua por entre as cortinas.
Imaginando socá-lo na cabeça.
Atrás dela, o som da respiração dele enchia o quarto.
A respiração tranquila seguiu por um longo tempo.
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