Capítulo 15 - O Estranho Hóspede do Conde (5)

Mas ela não poderia dizer isso na cara dele.

“Como vai?”

“Isso é inesperado. Achei que você estaria frustrada.”

“Alguém que sabia disso continuou ameaçando os outros?”

“Foi uma ameaça?”

“Se a outra pessoa te força a fazer algo que você não quer, não é diferente de uma ameaça.”

‘Eu sei que é arrogante, mas vamos colocar de forma certa, foi uma ameaça.’

“Sim, foi uma ameaça.”

Mas Ethan teve coragem de admitir isso.

Vilão.

“Você é um vilão.”

“…”

Ele parecia ler o que estava em seu coração e apertou os olhos. Paula fez de conta que não sabia e continuou limpando as janelas.

“Eu falo sério, senhorita. Foi por isso que vim a esta mansão. Não podia ficar apenas assistindo enquanto meu amigo, o Conde Bellunita, se destruía. Isso seria inútil, para ser preciso.”

Paula suspirou e olhou para ele. Ethan continuou.

“Pode até parecer frio, mas Vincent está numa posição onde não tem escolha a não ser fazer esse julgamento. E isso, antes da segurança de Vincent, é uma questão que eu não posso aceitar. Eu não quero que Vincent faça isso. Antes de sermos amigos, também estamos envolvidos nos interesses de nossas famílias.”

Ethan sorriu de forma astuta. Ele não parecia mais o mesmo de antes, aquele que ficava triste ao ver o estado de Vincent. Agora, ele parecia um verdadeiro vilão. Isso significa que ele fez isso de propósito?

“Espero que a senhorita consiga acalmar Vincent. Para que ele possa sair do quarto.”

“Eu não tenho energia para isso.”

“Bem, eu acho que você tem muita energia.”

“Estou lisonjeada.”

Paula acenou com a cabeça e se concentrou em limpar a janela novamente. Ela ouviu uma risada por trás. Fez de conta que não ouviu e continuou com seu trabalho.

Depois de limpar o chão, ela arrumou os utensílios de limpeza. Então, olhou no relógio e foi para o escritório. Era para escolher um livro para ler para Vincent naquele dia.

Ethan a seguiu.

‘Por que você continua me seguindo?’

‘Relaxa.’

Ele não se importava com qualquer sinal de desconforto dela. Eventualmente, Ethan, que a seguiu até o escritório, olhou para dentro e perguntou:

“O que você está fazendo aqui?”

“Vou escolher um livro.”

“Você vai ler para ele?”

“Vou ler para o meu senhor.”

Ethan arregalou os olhos. Paula foi até a estante onde estavam os livros de contos de fadas e começou a olhar os títulos. Da última vez, ela decidiu pegar tudo de uma vez, mas já tinha lido todos. Não demorava muito para ler, pois os conteúdos eram curtos.

Felizmente, Vincent deixou que ela lesse para ele. Isso também foi uma das mudanças. Ele não dizia que era completamente chato como fazia no começo e não agia como se não quisesse ouvir. Ele apenas ouvia calmamente, apontando sua pronúncia e respiração de vez em quando.

“Está rápido demais. Não consigo acompanhar.”

“Ah, desculpa.”

“Você precisa ler cada letra claramente para entender. Tem que imaginar a história na cabeça para entender. Quero que você consiga desenhar a cena.”

“Vou ter mais cuidado.”

Ler sozinha e ler para os outros definitivamente era diferente. Seus olhos liam mais rápido do que sua boca, tudo enquanto ela imaginava as cenas em sua cabeça. Mas ele não podia fazer isso. Ele tinha que juntar as peças por meio da voz dela e imaginar como se estivesse montando um quebra-cabeça.

Ela achava que poderia ler os livros simplesmente porque sabia, mas isso não era tarefa fácil. Foi até uma boa escolha pegar um livro infantil para provocá-lo. Ela teve que ouvir ele corrigindo dezenas de vezes antes de conseguir contar aquela história curta.

“Você vai ler isso para Vincent?”

“Sim.”

“Vincent só ouve…?”

“No começo, ele recusava, mas hoje em dia ele ouve em silêncio. Eu já li para ele um livro de contos de fadas, mas desta vez estou pensando em fazer algo diferente.”

“…”

Ela ia trocar os livros de contos de fadas. Então, enquanto olhava os livros na prateleira de cima, onde estavam os livros infantis, sentiu uma sensação estranha na bochecha. Quando se virou, Ethan estava fazendo uma cara estranha. Seu rosto foi ficando distorcido e choroso, e os cantos de sua boca começaram a tremer. Naquele momento…

“PUAHAHAHAHAHAHA!”

Uma risada alta estourou.

Paula olhou para Ethan com os olhos bem abertos. Ethan segurava a barriga e ria.

“Ele, com aquele orgulho, foo-hoo, lendo, um livro infantil, haha. Puahahahahaha.”

Ethan se abaixou e continuou rindo. Ele não parava de rir com o olhar questionador dela. Paula não sabia o que o fazia rir tanto, mas apenas deu de ombros e desviou o olhar. O que ela percebeu até então, observando Ethan, era que ele era uma pessoa muito estranha. E o interior dessa pessoa estranha era difícil de entender.

O livro que ela escolheria para ler para Vincent estava ali, diante dele. Ela selecionou cuidadosamente os livros, abrindo-os um por um e inspecionando as letras grossas e densas.

“Eu acho que esse seria bom.”

Ethan, que havia parado de rir antes que ela percebesse, pegou um livro e o estendeu. Ao olhar o título, ela pensou que fosse algum tipo de história de aventura. Não era nem muito fino, nem muito grosso, então parecia bom para ler para Vincent.

“É um livro que Vincent costumava ler quando era mais jovem.”

“Ah.”

Até agora, eles só estavam envolvidos com os interesses das famílias. Afinal, parece que um amigo ainda é um amigo. Vendo que Ethan conhecia bem os gostos de Vincent, Paula inclinou a cabeça, agradeceu e aceitou educadamente o livro.

“Vincent gosta de romances de aventura e esse tipo de coisa. Ele leu histórias de aventura como um louco desde que era criança. Especialmente, ele leu histórias sobre aventuras em países distantes. Ele não gosta de histórias de amor. Ele nem olha para elas, pois acha chato.”

“Obrigada. Vou me lembrar disso quando escolher um livro.”

“Eu é que sou mais grato.”

‘O quê?’

Quando ela olhou para cima, Ethan estava sorrindo com um carinho raro. Não era um olhar de sedução, mas um sorriso de alívio que refletia pura felicidade.

“Fico feliz que tenha uma empregada como você por perto dele.”

‘O que isso quer dizer?’

“Lendo para Vincent um livro de contos de fadas.”

Um livro de contos de fadas.

‘Por quê?’

Ele inclinou a cabeça, cobrindo a risada que estava prestes a estourar novamente com a mão.

“O que acha, senhora? Vincent pode sair do quarto?”

“Bem, como eu poderia entender os sentimentos profundos do meu senhor?”

“Vamos fazer uma aposta?”

Foi uma sugestão repentina.

‘Aposta?’

Quando foi questionado, surpreso, Ethan continuou.

“Se você conseguir fazer Vincent sair do quarto, eu realizo um desejo seu.”

Ethan deu um passo à frente e estendeu a mão. Paula balançou a cabeça enquanto observava a mão.

“Senhor Christopher, não sei por que você está me dizendo isso, mas como já disse, não tenho poder. Sou apenas uma empregada, como eu conseguiria tirar meu mestre do quarto assim?”

O quarto era o único lugar onde ele conseguia descansar agora. Ele estava relutante em sair. Na verdade, ele nem sequer saía da cama. Claro que não poderia viver assim para sempre, mas não era fácil esperar que ele mudasse de atitude tão rapidamente.

“Então isso é uma aposta entre a empregada e eu.”

Ele agarrou sua mão. Não mudou sua expressão nem quando segurou sua mão humilde. Na verdade, apertou-a como se não fosse soltá-la.

“Eu quero que você escute. Pelo Vincent.”

“Por que você está fazendo isso comigo?”

“Acho que você é a pessoa mais fácil aqui.”

‘O que você está dizendo?’

Ela estava irritada e tentou soltar a mão dele, mas ele apertou com mais força e se recusou a soltá-la. O aperto forte pesava sobre sua pele, deixando suas mãos dormentes. Ela franziu a testa para ele.

“Me solte.”

“Eu quero poder contar com você, senhorita.”

“E se eu recusar?”

“Espero que não. Quero continuar sendo uma boa pessoa para a empregada.”

Agora ele estava fazendo uma ameaça descarada. Mesmo com a vergonha que ela sentia, ele sorriu como se nada de errado tivesse acontecido.

“Como é uma aposta, deve haver uma suposição de que eu vou ganhar. Bem, se eu ganhar, então…”

Os olhos dele se viraram para o lado. Ele parecia estar pensando por um momento, antes de olhar novamente para ela. Com os olhos arregalados, ele deixou um beijo no dorso de sua mão, como fizera quando chegou ali pela primeira vez.

“Você terá que oferecer sua cabeça.”

‘Droga.’

A mão dele fingiu cortar sua garganta. O sorriso travesso era a expressão de um vilão horrível.

‘Por que eu? Por que eu? Sou apenas uma empregada que veio para servir seu mestre.’

Ethan sorriu alegremente para ela, vendo sua expressão de choque. Agora o sorriso dele a aterrorizava.

Quem disse que ele era um homem doce?!

Ele se fazia de amigável, mas a realidade era que ele era uma pessoa desconhecida. Ela não conseguia entender por que ele tinha vindo até ali e ameaçado Vincent, anunciando que ele perdera seu nome, e por que ele lhe ofereceu uma aposta tão ridícula.

Você está tentando ajudar Vincent, ou está pedindo para que ele te ajude?

E a confusão a levou até Vincent.

“Mestre.”

Vincent permaneceu em silêncio durante toda a leitura do livro. Ouvindo sua voz com as costas contra a parede, ele estava especialmente quieto hoje. Ela não conseguia ver que expressão ele estava fazendo, pois seu rosto estava coberto pelos cabelos. Seus ombros caídos pareciam fracos.

O livro que ela trouxe não estava servindo de nada. Ver ele tão fraco também a deixava sem forças.

“Mestre?”

Ela o chamou, mas ele ainda não dizia nada.

“Anime-se. Deve haver uma maneira.”

“… não fale bobagens.”

Finalmente, uma reação.

Mas a voz que ela ouviu estava tão deprimida. A expressão dele estava irreconhecível. Seria melhor se ele gritasse ou ficasse bravo como de costume. Se ele continuasse assim, o coração dela ficaria fraco.

“O que tem de bobagem nisso? Você pode mostrar o quanto está se esforçando.”

“Como posso mostrar isso? Quer que eu te mostre como caio no chão e sinto ele? Então eu mostro o quanto você quiser.”

“Mestre.”

“Está forçando a barra. Você está só dizendo que vou contar para eles sobre a minha condição.”

Ele cobriu o rosto com as mãos. O corpo encurvado estava consciente de sua condição e sofria com isso.

A tristeza o engoliu novamente.

“Não chore.”

“Não estou chorando.”

“…”

Vincent soltou um suspiro forte. Paula temia que ele tivesse uma crise novamente. Ele era vulnerável a choques, então realmente se preocupava sempre que isso acontecia.

‘Você terá que oferecer sua cabeça.’

Além disso, ela estava incomodada com o fato de a aposta ter sido feita sob a pressão de Ethan.

Eventualmente, depois de resmungar, Paula virou o rosto para olhá-lo. Ela abaixou-se quieta para olhar seu rosto. Um semblante sombrio foi revelado. Ele não estava chorando como dizia. Mas seu rosto parecia patético.

“Vamos pensar em uma maneira juntos.”