Capítulo 30 - Hora do Chá com o Conde (12)

Um homem estava em frente a Violet. Ao vê-lo, o rosto de Violet se iluminou de alegria. Quem seria ele? Paula, ao se aproximar e inclinar a cabeça, ouviu a conversa entre os dois.

“Onde você estava? Nem estava no quarto.”

“Fazia um tempo que eu queria dar uma olhada pela mansão.”

“Você veio conosco e desapareceu.”

“Tem muitos lugares para ver.”

Paula sentiu um clima estranho na conversa. Olhando para outra pessoa, ela reparou no cabelo castanho do homem, mas não conseguiu identificar quem ele era, já que ele não virou o rosto para ela. Quando chegou perto, o homem estava indo em direção a Vincent.

Ela colocou o bule e os petiscos na mesa e olhou para a nuca do homem que conversava com Vincent.

“Quem é aquele cavalheiro?”

“Ele é o irmão mais novo do Ethan.”

“Irmão do senhor Christopher? Você tem irmãos?”

Quando Paula perguntou, um braço apareceu por trás dela. Ao se virar, viu Ethan ali, com um petisco na boca.

“Tenho um irmãozinho muito legal. Vou apresentá-lo à senhorita. Meu irmão tem um rosto suave, uma personalidade boa e é muito popular. Não se oponha a ele, porque ele é difícil de lidar.”

“Não gosto de você.”

“Todo mundo diz isso e acaba se apaixonando por mim.”

“Você é muito confiante.”

“Porque sou um irmão orgulhoso.”

Ethan riu travesso. Paula deu de ombros. Queria ver o rosto do homem, para entender o orgulho de Ethan pelo irmão. Então, olhou novamente para a nuca do homem, que justamente naquele momento se aproximava dela.

Mas o rosto que ela viu de perto era familiar.

“Saudações, senhorita. Ele é meu irmão mais novo. Olá, também. Ela é a senhorita que está atualmente servindo Vincent.”

“Muito prazer.”

O cabelo castanho balançou com o vento. Era agradável ouvir uma voz suave. Continuava elegante e refinada. Quando seus olhares se cruzaram, o homem piscou e estendeu a mão educadamente.

“Este é Lucas Christopher.”

“Christopher…”

Paula nunca imaginou que o homem que conheceu na floresta fosse o irmão mais novo de Ethan. Perguntou-se se haveria outra coincidência como aquela e o olhou fixamente. Lucas inclinou a cabeça. Só então Paula percebeu que havia ficado sem fala. Ela apertou a mão dele e cumprimentou-o também.

“Pra, prazer em conhecê-lo.”

Depois de um breve cumprimento, Paula estava prestes a soltar sua mão, mas ele a segurou mais forte e levantou-a. Ao mesmo tempo, o calor de seu corpo pressionou a parte de trás de sua mão.

“Por favor, me chame de Lucas.”

Foi uma saudação muito elegante e educada. E ela o lembrou de alguém. Ele realmente era irmão de Ethan.

“Está tendo muito trabalho por causa do meu irmão? Da senhorita também. Todo mundo é tão dramático.”

“De jeito nenhum. A senhorita gosta de mim.”

“Será?”

A mente de Paula estava tão vazia que ela não conseguiu responder à pergunta. Ela olhou para o homem à sua frente. Ele soltou sua mão e seguiu conversando com Ethan. Violet interveio entre os dois.

“Todo mundo é demais. Mantenha isso em segredo deles.”

“Desculpe. Porque meu irmão não quer você.”

“Eu também sou do tipo que respeita os sentimentos das pessoas.”

“Tsk-”

Violet resmungou, mas não disse mais nada. Ethan e Lucas riram de forma apologética. Através da conversa deles, Paula percebeu que o homem chamado Lucas também sabia sobre a condição de Vincent.

Ao mesmo tempo, algo que Vincent disse um dia veio à mente. Ela olhou para Vincent. Ele bebia seu chá, com uma expressão tranquila. Não estava surpreso, nem aterrorizado.

A hora do chá ficou mais movimentada à medida que mais pessoas se juntaram. Mas, entre tudo isso, Paula não pôde deixar de sorrir.

Uma relação amigável, não importava quem olhasse. Mas algo estranho começou a surgir. Paula não sabia se deveria julgar aquilo, mas algo… estava estranho.

Paula se afastou novamente, alegando que iria reabastecer o bule que o novo convidado havia esvaziado. Foi até a cozinha, encheu o bule e andou por aí de novo. Ela estava tentando afastar pensamentos desnecessários, mas viu alguém do outro lado.

Era Lucas.

“Todo mundo parece feliz.”

Lucas sussurrou suavemente com a voz que, mesmo baixa, era audível. Seus olhos, que estavam fixos no céu, se voltaram para ela. Ele sabia que ela estava vindo. O vento bagunçou seu cabelo.

Paula assentiu com a cabeça.

“O que está fazendo aqui?”

“Só para respirar um pouco de ar fresco. Pensando bem, não perguntei seu nome.”

“Ah, sou Paula.”

“Paula. Paula. Paula…”

Era definitivamente seu nome saindo da boca dele, mas era uma voz doce, como se estivesse chamando algo precioso. Paula coçou a nuca, sentindo uma leve cócega sem motivo.

“Paula. Ouvi muito sobre você do meu irmão. Você é uma pessoa legal.”

“É uma honra.”

Paula não acreditava que Ethan tivesse falado algo legal sobre ela.

‘Você não falou mal de mim, né?’ Paula franziu levemente a testa e rapidamente endireitou a expressão.

“Eu te vi na floresta, não foi?”

“Sim.”

“Alguém disse que você era alguém que testava meu irmão. Você entregou a carta direitinho?”

Só então uma memória esquecida veio à mente. Paula falou apressada.

“Ah, hum, posso saber onde você encontrou a carta?”

“Eu a encontrei jogada em frente à mansão, quando estava saindo. Achei que deveria entregá-la, mas não tinha ninguém por perto, então pensei que fosse importante e fiquei com ela. Enquanto explorava a mansão, acabei te encontrando na floresta e a entreguei a você. Era algo importante?”

“… ah. Sim. É importante. Obrigada por ter me dado ela.”

Pensando que quase perdeu a carta preciosa, Paula se sentiu muito grata pela consideração dele. Fez uma pequena reverência. Lucas deu uma risada breve.

“E o Vincent? Como ele está?”

“Ele está bem.”

“Parece que sim. Ele está melhor do que eu esperava. Achei que ele ia ficar trancado no quarto, mas está me surpreendendo.”

“O quê?” Quando Paula perguntou novamente, piscando os olhos, ele sorriu. Ele riu, então se parecia com Ethan.

“Meu irmão não te contou?”

“O que é isso…?”

“Eu sou o culpado por ele está cego.”

“…!”

Como…? O que…?

‘O que você disse agora? O que diabos esse homem está falando?’

“Olhei para o rosto e percebi que você sabia quem eu era. Você estava me observando com desconfiança o tempo todo. Nunca pensei que o Ethan fosse te contar isso. Não esperava que meu irmão falasse isso, mas deve estar confiando muito em você.”

“Ah, eu, eu…”

“Não fique tão surpresa.”

Lucas deu um passo mais perto. Paula se afastou rapidamente. Seu coração bateu forte. O medo se espalhou depois da confissão chocante. Num instante, o homem à sua frente se tornou assustador. Seu sorriso estava estranho.

‘Foi essa família que me deixou assim.’

Aquela voz, que tinha sido excessivamente calma, ressoou novamente em sua cabeça. Paula deu um passo para trás e segurou seu coração que estava batendo forte. Como se entendesse sua reação, Lucas continuou sorrindo.

“Fico feliz que seja como imaginei.”

Paula estava prestes a perguntar o que ele queria dizer com isso, mas um som de farfalhar surgiu. O olhar dele e o dela se voltaram simultaneamente para o som. Vincent estava ali. Ele também parecia surpreso, como se tivesse sentido a presença de alguém.

Paula rapidamente virou a cabeça para olhar para Lucas. Depois olhou novamente para Vincent. Não sabia como ele tinha chegado ali, mas agiu mais rápido do que ela imaginava. Ela passou por Lucas e segurou o braço de Vincent. Instintivamente, pegou o braço dele e o puxou para o outro lado.

“Você…”

“Bem, antes de tudo. Só vá. Vá. Por favor, só vá.”

Vincent estava prestes a dizer algo, mas fechou a boca diante da insistência de Paula. Ela olhou por cima do ombro enquanto o conduzia rapidamente para o outro lado. Através do vento uivante, ela viu o homem. Lucas estava olhando naquela direção. Ele havia confessado que foi ele quem causou a cegueira de Vincent.

Seu coração disparou novamente. O suor escorria pelas mãos que seguravam Vincent. Ela se agarrou ao braço dele com força, com medo de perdê-lo devido ao suor. Os olhos que a seguiam pelas costas eram aterrorizantes.

Ela imaginou que Vincent também sentia isso.

“Por que você está tão assustada? O que é isso?”

“Precisamos sair daqui por enquanto, e depois eu te conto.”

De repente, Vincent parou de andar. Paula rapidamente o puxou de volta, mas ele não se moveu. Ela puxou, mas ele ainda não se mexia. Eventualmente, seus passos pararam. Virando-se, ele falou primeiro.

“Me conte o que está acontecendo.”

“Senhor. Eu vou te contar quando estivermos longe daqui.”

“Agora, me conte.”

Ele demonstrou que não ia se mover nem um passo até que ela falasse. Agora não era hora para isso! Paula olhou por cima do ombro. O homem não estava mais ali. Mas ela temia que ele os seguisse a qualquer momento. Engoliu em seco.

“Com licença, é realmente ele?”

“O quê?”

“Senhor… ele.”

A pergunta retornou, e Paula respondeu como se estivesse frustrada.

“Ouvi dizer que o irmão mais novo de Ethan Christopher, Lucas Christopher, fez os olhos do senhor ficarem assim.”

“… o quê, Lucas?”

“Sim.”

Vincent ficou em silêncio por um momento. Paula ficou mais assustada. Ela achava que a resposta seria positiva. No entanto, a resposta que veio foi diferente do que ela esperava.

“Não.”

“Senhor. Por favor, não esconda isso. Você precisa evitar ele.”

“Não é bem assim.”

“Então, quem diabos fez isso com você?!”

Sem perceber, ela fez uma pergunta proibida. Ignorou o aviso de não fazer isso. Também estava confusa. Enquanto choramingava, com a mente complicada, Vincent respondeu com um suspiro.

“James Christopher.”

“Quem é ele?”

“Irmão de Ethan por parte de pai.”

Um vento forte uivou. O vento que passou bagunçou seus cabelos. A mente de Paula, já tão confusa, estava prestes a explodir, mas Vincent estava tão calmo que parecia um sonho.

“Foi ele quem me deixou assim.”

Vincent não mudou suas palavras.

Verdade.

Ele estava dizendo a verdade. Ele acabou de revelar a ela, uma simples empregada, a verdade que vinha tentando manter em segredo.

E então, Paula percebeu que havia ultrapassado uma linha que não deveria ter cruzado.

A verdade sobre a gentileza que Lucas lhe mostrou…