Capítulo 37 - As circunstâncias do conde (7)
Paula tossiu e Lucas a tapou nas costas, perguntando se ela estava bem. Depois de conseguir se acalmar um pouco, ela olhou surpresa para Lucas.
‘O que você disse agora? Quem é bonita? Eu? … Você está com a visão ruim?’
“Bonita…?”
Vincent perguntou. Paula de repente voltou à realidade e olhou para ele.
“Quem é bonita?”
“Sua empregada, irmão.”
Lucas respondeu com firmeza. Era uma resposta decidida, sem hesitação. Paula olhou para ele de novo.
‘Ele está brincando comigo?’
Ela se perguntou em silêncio.
Lucas foi direto. Era uma resposta sem qualquer hesitação. Paula o observou novamente.
‘Será que ele está maluco?’
“Ela é bonita?”
“Sim.”
“Sério? Sério mesmo?”
“Sim, sério.”
Lucas olhou para Paula e respondeu. Quando os olhos deles se encontraram, Lucas sorriu docemente. Paula se perguntou se ele estava tirando sarro dela. Mas não havia um pingo de falsidade no rosto dele.
Vincent, que estava em silêncio por um momento, murmurou baixinho.
“Ela é bonita…”
“Ela fica tão bem com o branco puro.”
“Ela é bonita.”
“Muito.”
As palavras de Vincent atingiram Paula como uma pedra. Ele demonstrou um momento incomum de perplexidade.
Mas foi Paula quem ficou mais perplexa.
Ela não entendia o que Lucas estava dizendo.
‘Você viu meu rosto direito? Se não, te apresento minha testa agora. Que parte desse rosto poderia ser considerada bonita? O quê? Talvez o gosto dele seja um pouco diferente,’ Paula pensou, querendo perguntar.
“Sim. Ela é muito bonita.”
Mas, devido a Vincent, que falou novamente, Paula não pôde perguntar. Ele parecia meio atordoado. Mas Paula não podia se dar ao luxo de verificar seu estado.
“Sim. A ponto de se apaixonar à primeira vista.”
A boca de Paula se abriu com as palavras chocantes. Vincent também levantou os olhos, talvez surpreso e curioso. Lucas era o único que ainda tinha um sorriso agradável no rosto.
‘O que fazer? Esse homem é estranho!’
“Por que você me olha assim?”
“Eu não sei se devo dizer isso.”
Em vez de perguntar “Você está maluco?”, Paula acenou com a mão para ele. Lucas deu de ombros levemente. Quando Paula se aproximou, ela cobriu a boca com a mão e sussurrou para que só ele ouvisse.
“Você tem algum gosto único?”
“Eu nunca realmente pensei sobre isso, mas é bem comum.”
“Mas por quê?”
“O que você quer dizer?”
A resposta dele era que ele realmente não sabia. Paula abriu a boca frustrada. Então, ela deu uma olhada em Vincent. Ele estava em silêncio desde então. Seu rosto estava calmo, mas ela podia perceber os pensamentos nele. Ela não sabia mais nada, mas sabia que a imagem dela tinha sido organizada na cabeça dele.
“Se você disser isso, ele vai entender errado.”
“Quem?”
“Meu mestre.”
“Tem algo para entender errado?”
Paula não entendia por que esse homem estava agindo assim. Ela estava prestes a contra-argumentar diretamente, mas então hesitou.
‘Espera, eu realmente preciso corrigir ele? Pensando bem, não há nada de errado para mim.’
Paula queria ser lembrada como uma pessoa bonita aos olhos de Vincent.
‘É, ele não está fazendo nada de mal.’
Paula estava surpresa, mas era um elogio que ela nunca mais ouviria na vida. Para ser sincera, foi bom. Era a primeira vez que ela ouvia que era bonita o suficiente para que um homem se apaixonasse. Mesmo que fosse apenas algo educado, qualquer mulher ficaria feliz em ouvir isso.
“Que tipo de mal-entendido?”
“Ah, nada.”
Paula abaixou a mão que estava cobrindo a boca e endireitou o corpo. Lucas inclinou a cabeça. Paula limpou a garganta e falou para que Vincent também ouvisse.
“Eu sou uma pessoa muito tímida, então, mesmo que você diga isso de boa intenção, eu preferiria que dissesse essas coisas quando estivermos sozinhos.”
“Tudo bem.”
“…”
A audácia de Paula era engraçada, mas Lucas, que respondeu, também era audacioso. Vincent franziu suavemente a testa quando ouviu aquilo.
Mas Paula não mentiu dessa vez. Ela decidiu ser mais audaciosa.
“Aonde vamos dar um passeio?”
“Nós estamos indo para a floresta.”
Depois de beber o chá que restava, eles seguiram para a floresta atrás da edificação. Ainda estava tranquilo ali. E dava uma sensação boa. Admirando as árvores e as folhas que se destacavam nos galhos retorcidos, Lucas de repente se virou para outra direção.
“Senhor Lucas, esse não é o caminho.”
“Eu acho que por aqui tem mais para ver.”
Ele apontou para a esquerda. O que ela deveria fazer…? Paula olhou diretamente para Vincent, e ele assentiu, dando permissão.
Seguindo Lucas, eles entraram mais fundo na floresta. Como não havia um caminho claro, ficou desafiador caminhar. Paula afastava os galhos que bloqueavam o caminho, e quando obstáculos perigosos apareciam, ela avisava Vincent com antecedência. Vincent segurava firme sua mão e seguia cauteloso.
Eventualmente, chegaram a um espaço cercado por árvores densas. Paula ficou impressionada. Uau, quem diria que um lugar assim existiria na floresta?
“Uau!”
“Não é bonito?”
Lucas perguntou em resposta à reação de Paula. Paula balançou a cabeça e não conseguia tirar os olhos da cena à sua frente.
Um espetáculo de flores se desdobrava diante dela.
Ela não tinha visto nada parecido com um jardim de flores no caminho até ali. No entanto, um grande campo de flores estava nesse espaço. Flores brancas e frescas se moviam suavemente como se estivessem dando as boas-vindas. Ao redor, as árvores estavam envolvidas como se estivessem protegendo as flores.
Não era algo ostentoso. Era mais elegante do que chamativo. Em termos de esplendor, os jardins da mansão eram melhores. Era compreensível, pois eles se esforçam para criar beleza a cada momento. Mas ali, a sensação era completamente diferente. Intocado pelos humanos, mostrava a beleza criada pela natureza. Só de olhar para isso, a mente dela se acalmava.
“Como você encontrou um lugar assim?”
“Eu esbarrei nele enquanto passeava por aqui, quando estava entediado.”
“É realmente bonito. Tão, tão bonito.”
Lucas riu com a voz empolgada de Paula, dizendo que era bonito. Ela admirava as flores brancas de diferentes ângulos. As flores brancas puras estavam densamente agrupadas, o que era fascinante.
“Mestre, mestre. As flores são tão bonitas.”
Paula balançou a mão de Vincent, que estava atrás dela. Ele parecia estar procurando pela flor de que ela estava falando.
Paula sorriu amplamente e o guiou para o jardim de flores. As flores que estavam ali também tinham longos caules. A flor alcançava sua cintura pequena, e elas se balançavam ao redor das coxas de Vincent, roçando nelas.
“Agora estamos dentro do canteiro de flores.”
“Tem muitas?”
“Muitas. Elas cobrem toda essa área.”
Paula foi explicando aos poucos o cenário ao redor. As árvores que protegiam a área, as flores que preenchiam o espaço aberto, as pétalas brancas como a neve que deixavam marcas ao serem tocadas, a brisa passando e o vasto céu azul acima de tudo isso.
Era uma beleza perfeita e completa, com tudo se encaixando.
“É surreal ver todas elas florescendo assim. Eu vi algumas flores aqui e ali enquanto vinha, mas não estavam agrupadas desse jeito.”
“Sim.”
“Se você tivesse visto com seus próprios olhos, teria com certeza admirado.”
“A sua reação já é o suficiente para mim.”
Ao contrário de Paula, que estava empolgada, Vincent reagiu com calma. Mesmo assim, Paula sorriu feliz. Depois de repetir várias vezes o quanto estava bonita, ele finalmente assentiu, concordando.
Paula lhe entregou uma flor. Seguindo seu exemplo, ele se curvou um pouco, e as flores brancas balançaram suavemente nos dedos longos e bonitos dele.
“Eu quero pular nela.”
“Então, pule.”
“Mas todas as flores vão ser esmagadas.”
“Você só precisa pular com cuidado.”
‘Será que ele está brincando comigo?’
Paula pensou, mas o olhar de Vincent estava fixo na flor em sua mão. Sua mão tocava a flor novamente. E depois tocava novamente, e outra vez, como se tivesse medo de quebrá-la. Parecia gostar.
Ela se agachou ao lado dele e enterrou o rosto nas flores. A fragrância das flores invadiu seu nariz.
“Cheira bem também.”
“Todas cheiram igual.”
“Mesmo assim.”
Paula continuou sentindo o cheiro das flores, e Vincent continuava tocando mais flores. Lucas, que chegou ao lado deles, olhou para eles com um sorriso orgulhoso.
“Você gostou?”
“Com certeza!”
“E você, irmão?”
“Não está mal.”
O sorriso de Lucas se ampliou ao ouvir as palavras positivas.
Paula assentiu e olhou para a vasta extensão de flores. Ver uma cena tão revigorante fez com que ela quisesse caminhar mais dentro. Então, ela se levantou de repente e balançou a mão que segurava a dele na frente dele. Vincent a olhou, confuso. Paula fez de conta que o puxava para perto. Ao perceber a intenção dela, ele endireitou a coluna.
Paula o conduziu para mais dentro. Vincent a seguiu, e Lucas seguiu atrás de Vincent.
“Mestre, abra a mão.”
Ela mexeu a outra mão, e as flores tocaram suavemente os dedos dele. Lucas, que estava seguindo Vincent, viu o que ela estava fazendo e riu. Então, ele estendeu a mão, imitando o gesto dela. As flores mal tocaram sua mão. Ao ver isso, ela não pôde deixar de sorrir com alegria.
“Mestre, rápido, rápido!”
“Irmão, rápido, rápido.”
“…”
Com a pressa, Vincent hesitou e levantou a mão. E foi abrindo lentamente os dedos. As flores ficaram presas entre os dedos e escorregaram para fora conforme ele os abria.
‘Será que ele sentiu isso?’
Vincent abriu os dedos mais amplamente. Agora sua mão estava cheia de flores.
Olhar para sua expressão suave e meio atordoada fez Paula se virar e acelerar o passo. A sensação das flores tocando sua cintura era um pouco cócega. O vento bagunçando seu cabelo era refrescante. Ela queria correr. Queria correr para frente. Os passos atrás dela também começaram a acelerar gradualmente. Não, eram os passos dela que se apressaram. Em algum momento, ela se viu correndo pelo campo de flores.
‘Como se eu fosse uma flor.’
‘Como se o vento estivesse me levando.’
Então, quando Paula parou de andar, ela chegou ao final do canteiro de flores sem perceber o quanto ele era grande. Ela estava ofegante. De repente, Lucas apareceu de lado. Ele também imediatamente se curvou e ofegou.
“Você corre rápido.”
“Ah, desculpa. Não era para eu correr.”
Depois de ver Lucas ofegante, Paula percebeu que realmente havia corrido. Ela se empolgou, mas parou no meio do caminho. Com certeza foi uma surpresa para os dois que estavam atrás dela.
Depois de se desculpar várias vezes, ele fez um gesto de que estava tudo bem. Paula ainda estava ofegante enquanto olhava para o céu.
Então, de repente, Lucas soltou uma gargalhada. De alguma forma, parecia uma risada feliz.
“Faz tempo que não corremos assim. Você está se sentindo bem, irmão?”
Lucas olhou para trás. Só então Paula olhou para Vincent. Atrás deles, Vincent estava respirando pesadamente. Sua respiração estava forte, e seus cabelos dourados se destacavam depois de correr. Ele notou as bochechas coradas.
As mãos deles, ainda entrelaçadas, estavam suadas. Paula entrou em pânico e se aproximou dele.
“Desculpe, mestre. Você está bem?”
Ele não respondeu à pergunta dela, apenas piscou suavemente os olhos. Ele tinha o rosto de um sonho.
Vincent olhou carinhosamente para as mãos entrelaçadas, ofegante.
Atrás dele, Lucas riu novamente e se sentou. Paula se virou surpresa para Lucas. Uma risada alegre ressoou.
“Mestre?”
Paula perguntou novamente, olhando para Vincent.
Os lábios de Vincent, que estavam abertos devido ao cansaço, se apertaram.
“Sim.”
Seus olhos esmeralda, que estavam focados nas mãos entrelaçadas, se ergueram para olhar para Paula.
“É bom.”
O rosto dele parecia de alguma forma mais leve.
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