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    “Não se trata de te deixar para trás,” Vincent disse, firme. “Eu só estou tentando te manter segura por enquanto.”

    “Isso é a mesma coisa que me abandonar,” Paula respondeu, a voz trêmula.

    “Eu não estou te abandonando.”

    Paula balançou a cabeça, incapaz de confiar nele.

    Como poderia acreditar nele depois de tudo o que aconteceu?

    E se ele a deixasse em algum lugar e se esquecesse dela? E se ele sentisse alívio assim que ela saísse de sua vista, pensando que finalmente a livraria de vez?

    Ela não podia confiar em suas palavras. Desde o início, ele parecia ansioso para se distanciar dela. Agora, ela temia que ele estivesse usando essa situação como uma desculpa para se livrar dela.

    Para alguém como ele, os empregados tinham pouco valor.

    As ordens de Vincent não deveriam ser desobedecidas, e Paula sabia disso muito bem. No entanto, saber disso não aliviava seus sentimentos. Ela odiava a ideia de ficar sozinha, longe dele. Com um movimento brusco da cabeça, ela tentou puxar a mão dele, relutante em ouvir mais.

    Mas Vincent apertou sua mão com mais força, recusando-se a soltá-la. Então, em um movimento rápido, ele a puxou para seus braços. A distância entre eles desapareceu em um instante, e Paula se viu pressionada contra seu peito. Os braços dele a envolveram firmemente, como se ele não suportasse soltá-la.

    Seu rosto estava enterrado contra o peito dele, e Paula podia ouvir o batimento constante de seu coração. Ele estava ansioso, assim como ela. Ambos tremiam, o medo compartilhado entre eles era palpável.

    “Confie em mim, Paula. Eu não vou te abandonar.”

    Sua voz, baixa e próxima, sussurrou em seu ouvido.

    “Eu não quero que mais ninguém se machuque. Mas vai ser difícil, e eu não posso te proteger se você ficar ao meu lado. Por isso, preciso te mandar para um lugar seguro. É a única maneira de manter você fora de perigo.”

    Paula não respondeu, sua respiração presa na garganta.

    “Eu vou te trazer de volta para mim,” Vincent continuou suavemente. “Eu prometo.”

    Ainda assim, Paula não disse nada.

    “Eu prometo,” ele repetiu, a voz trêmula de emoção. Suas palavras soaram como um voto, destinado a confortá-la.

    Paula sabia que Vincent estava certo. Se a pessoa que havia esfaqueado Lucas a tivesse visto, ela realmente estava em perigo. Sobreviver era o que importava. Ela entendeu que Vincent estava tentando protegê-la. Sua sinceridade tornou impossível para ela continuar resistindo.

    “Você se lembra quando eu pedi para você ficar ao meu lado?”

    “… sim,” Paula sussurrou.

    “Então, cumpra essa promessa.”

    Seu rosto se contorceu de dor com as palavras dele, mas ela forçou um sorriso. Uma risada fraca escapou de seus lábios enquanto ela levantava as mãos e segurava suas costas com força. Ela o envolveu com seus braços, puxando-o para perto com toda a força que tinha.

    “Você realmente não pode me esquecer,” ela disse, a voz carregada de emoção.

    “Eu não vou.”

    “Se você esquecer, vou te assombrar como um fantasma pelo resto da sua vida,” Paula avisou, meio brincando, mas totalmente séria.

    “Eu sei.”

    A risada suave de Vincent ecoou em seus ouvidos, mas Paula, preocupada que ele não a estivesse levando a sério, repetiu.

    “Eu estou falando sério. Eu sou séria.”

    “Eu sei.”

    Enquanto falava, Vincent virou a cabeça, o vento de fora entrando pela janela e bagunçando seus cabelos. Paula pressionou o rosto contra o peito dele novamente, os olhos ardendo com lágrimas não derramadas. Ela não ousou piscar, com medo de que suas lágrimas molhassem as roupas dele.

    Eles ficaram assim por muito tempo, abraçados um ao outro. No fundo, Paula sentiu uma certeza afundando em seu peito.

    Isso realmente era uma despedida.


    Os preparativos começaram rapidamente. Vincent instruiu Isabella para garantir que Paula fosse enviada para a casa em Novelle assim que possível.

    Enquanto isso, Paula tinha pouco o que fazer. Ela ou atendia a Vincent como de costume ou ficava trancada em seu quarto.

    Desde aquele dia, Ethan não havia aparecido, e com Lucas também desaparecido, a mansão parecia estranhamente vazia.

    Talvez por isso Paula se pegasse frequentemente dispersa. Ela estava segurando o cabo do esfregão, olhando para o nada pela janela, quando Vincent falou de repente.

    “Vamos dar uma caminhada?”

    A sugestão surgiu do nada.

    Talvez percebendo seu olhar atônito, Vincent acrescentou que o tempo estava bom como razão. Ele parecia estar recuperando suas forças, a ponto de fazer esse tipo de comentário casual.

    “Você não quer?”

    “Não, vamos.”

    Após terminar de passar o esfregão e guardar os utensílios de limpeza, Paula ajudou Vincent a se preparar para sair e trouxe sua bengala. Recentemente, Vincent vinha praticando andar com a bengala, usando-a para se guiar pelos obstáculos. Como de costume, ela lhe entregou a bengala, mas desta vez ele a deixou de lado e, inesperadamente, estendeu a mão para ela.

    “Por que sua mão?”

    “Você precisa me ajudar.”

    “Eu?”

    Paula perguntou, surpresa.

    “Sim, você.”

    Vincent abriu e fechou a mão, incentivando-a a pegá-la. Sentindo uma onda de felicidade, Paula colocou a mão na dele.

    Enquanto o conduzia pela mão, memórias das caminhadas anteriores surgiram. Ultimamente, com tudo o que estava acontecendo, não havia tempo para caminhadas, nem mesmo para ler livros juntos. Naturalmente, os chás também tinham sido perdidos.

    “Sempre é a floresta, não é?”

    “Não há outro lugar para ir por aqui.”

    “Isso é verdade.”

    Vincent olhou à frente, embora não pudesse ver. Ainda assim, durante as caminhadas, ele parecia saborear o ar fresco, as texturas que podia tocar e os sons que podia ouvir.

    Enquanto continuavam pelo caminho da floresta, Paula perguntou: “O que tem no fim deste caminho?”

    “Uma parede, provavelmente.”

    “Só uma parede?”

    “Só uma parede.”

    “Só uma parede, hein…” ela murmurou, sentindo a boca secar. Não importava o quanto andassem, o único destino que os esperava no final era uma parede sólida. O caminho que estavam percorrendo, tão desafiador para Vincent com sua cegueira, de repente parecia uma metáfora para o futuro incerto dela.

    Sentindo-se desanimada, Paula abaixou a cabeça. Um longo silêncio se estendeu entre eles. Então, inesperadamente, Vincent puxou sua mão.

    “Vamos voltar para aquele lugar da última vez?”

    “Onde?”

    “O lugar que você disse que era tão bonito que queria pular nele.”

    O lugar bonito o suficiente para pular…

    “O campo de flores cheio de flores brancas?” Paula perguntou, lembrando-se.

    Vincent acenou com a cabeça.

    “Você se lembra de onde é?”

    “Mais ou menos.”

    “Então, vamos.”

    Mas Paula hesitou. Memórias de Lucas surgiram em sua mente. Ele havia sido quem os levou até aquele campo de flores, com o rosto iluminado de excitação enquanto lhes mostrava o lugar. Ela ainda podia ver sua expressão alegre claramente, e a dor que torceu seu rosto depois.

    Uma onda de medo a envolveu, tão intensa que quase lhe roubou o fôlego. Paula permaneceu em silêncio, e Vincent, percebendo sua hesitação, apertou mais a mão dela.

    “Calma.”

    “Mas…”

    “Aquele garoto provavelmente te levou até lá porque queria te ver feliz. Mesmo depois de ter partido, ele queria que você tivesse um lugar de conforto para voltar. Tente honrar esse sentimento.”

    “Como você sabe disso?”

    “Porque ele era assim.”

    Vincent forçou um sorriso, mas era um sorriso gentil. Seu rosto, mais cheio do que antes, parecia mais saudável.

    “Vamos. Agora eu quero ir.”

    “Sim, tudo bem.”

    No fim, Paula foi convencida pelas palavras dele. Ela segurou sua mão com firmeza e virou-se, com os passos lentos e pesados. Embora estivessem apenas indo até um campo de flores no fundo da floresta, um medo inexplicável começou a tomá-la. Seu passo foi diminuindo, mas Vincent seguiu silencioso, sem fazer reclamações.

    Eles se aventuraram mais fundo na floresta, empurrando galhos e pisando em terreno irregular. Sem um caminho claro, Paula se guiava pela memória.

    Eventualmente, chegaram ao campo de flores brancas. As flores estavam tão frescas e bonitas como sempre, como se o tempo tivesse parado.

    “Chegamos.”

    “Eu sei. O cheiro da grama está forte.”

    “As pessoas geralmente dizem que tem um cheiro bom.”

    Vincent deu de ombros para o comentário dela, como se fosse indiferente às opiniões dos outros. Esse ar familiar de indiferença fez Paula se sentir mais à vontade. Ela soltou uma risada suave e o conduziu para o campo de flores.

    O vento levantou as pétalas, fazendo-as girar suavemente pelo ar. Parecia que estava nevando, e a vista era linda. Paula inclinou a cabeça para trás, observando as pétalas dançarem na brisa antes de caírem como flocos de neve.

    “Algo está caindo.”

    “São pétalas. Caindo como a neve.”

    Vincent tirou as pétalas que haviam caído em seus ombros e cabeça. Sua expressão permaneceu indiferente, sem traços de emoção. Que homem estoico.

    “Você deveria dizer que é bonito em momentos como este,” Paula comentou.

    “É bonito?”

    “Sim, é muito bonito.”

    “Se você diz, então isso é o suficiente.”

    Paula o olhou, confusa. Diferente de quando estavam caminhando pela floresta, Vincent não estava observando o que o cercava ou parecendo apreciar a experiência. Sua expressão permanecia impassível, e ela percebeu de repente, ele não queria realmente estar ali.

    “Não me diga… você me trouxe aqui por minha causa?”

    “Você tem se mostrado bastante triste desde aquele dia.”

    “Por quê?”

    Paula não estava perguntando por que ele achava que ela estava chateada. Ela estava questionando por que ele estava mostrando tanta gentileza inesperada agora. Isso não era do feitio dele.

    Vincent lentamente soltou sua mão e a encarou. Embora ele não pudesse ver, seu olhar parecia se fixar exatamente nela. Nos olhos verdes dele, Paula viu seu próprio reflexo, parada a apenas um passo de distância. Era como se seus olhos não contivessem incerteza alguma.

    O vento soprou e afastou sua franja dos olhos, revelando seu olhar confuso. As pétalas brancas flutuavam suavemente entre eles.

    “Você está com medo?”

    Normalmente, ela teria respondido com uma retórica brincalhona, perguntando o que ele queria dizer com isso.

    Mas ela entendeu exatamente o que ele estava perguntando.

    “Sim, eu estou com medo.”

    “Eu também.”

    Os olhos de Paula se arregalaram. Ela esperava que ele zombasse dela por ser covarde, mas, em vez disso, ele deu uma resposta inesperada.

    Como se antecipando ao choque dela, Vincent soltou uma risada curta e suave.

    “Você sempre fica quieta quando fica desconcertada.”

    “…”

    Fiel às suas palavras, Paula ficou ainda mais desconcertada, incapaz de falar algo.

    Enquanto ela estava ali, sem palavras, Vincent parou de rir e estendeu a mão. Uma pétala branca caiu suavemente em sua palma aberta. Ele tocou delicadamente a pétala com os dedos antes de soltá-la, deixando o vento levá-la. Uma das pétalas flutuou até Paula, roçando levemente sua pele.

    “Não vai demorar muito para que minha condição se torne pública. Alguém pode até tentar me prejudicar. Vou ter que me acostumar com isso. As palavras podem ser mais cruéis do que qualquer arma.”

    “…”

    “Sempre soube que não poderia me esconder para sempre. Eu sou um Conde. Não posso simplesmente me fechar do mundo. Muitas pessoas dependem de mim. Mas aceitar isso não tem sido fácil. A verdade é que eu estou com medo. Mesmo agora, quando penso em encarar as pessoas novamente, minhas mãos e pés tremem. Isso é patético?”

    “… Não é patético.”

    “Mesmo que seja, eu não posso evitar. Eu sou assim.”

    Suas palavras eram calmas, mas o peso delas não era leve. O fardo de sua responsabilidade era tão grande que pressionava o peito de Paula. Ela não podia nem começar a imaginar o peso das expectativas que ele carregava.

    Vincent era alguém a quem Paula tinha que olhar para cima, tanto figurativamente quanto literalmente.

    O peso que ele carregava era evidente, e sua estrutura mais robusta e forte reforçava a imagem de alguém pronto para suportá-lo.

    Diferente de Paula, que lutou para se manter em pé depois do que aconteceu com Lucas, Vincent permaneceu composto. Ele agia como se já tivesse antecipado tudo. Paula o via se preparando para voltar ao mundo, comendo sozinho, tomando banho, trocando de roupa e praticando andar sem ajuda.

    Vincent estava se treinando para viver de forma independente.

    Claro, Paula sabia que, mesmo se não estivesse por perto, outras empregadas ou empregados o ajudariam quando fosse necessário.

    Mas haveria momentos em que ele enfrentaria as coisas sozinho, interagindo com pessoas que ele não podia ver e discernindo suas verdadeiras intenções. Ele estava se preparando para esses momentos.

    Ela não era a única com medo. Ele também devia estar aterrorizado. Mas Vincent estava em uma posição onde a retirada não era uma opção. Era por isso que ele estava se esforçando tanto, se preparando para o futuro agora.

    “Se for demais, tudo bem deixar algo para trás,” Paula disse suavemente.

    “O que você está dizendo?”

    “Você não precisa se forçar por minha causa.”

    “Quem disse que estou fazendo isso por sua causa?”

    Vincent inclinou a cabeça, uma leve carranca se formando em seu rosto como se tivesse entendido errado.

    Tudo estava indo tão bem, e agora ele tinha que arruinar o momento.

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