Capítulo 55 - A empregada secreta do conde (8)
O corpo inteiro de Paula tremeu quando o som estridente cortou o ar da noite.
Ela mal teve tempo de gritar antes que suas pernas falhassem, fazendo-a cair para trás. O impacto repentino com o chão tirou o ar de seus pulmões, mergulhando-a momentaneamente na escuridão.
Quando seus olhos se abriram novamente, seu coração disparava, batendo tão forte que parecia ecoar em seus ouvidos. A dor pulsava em todas as partes de seu corpo, mas ela forçou-se a se sentar, tentando entender o que havia acabado de acontecer. Uma esfera de luz cegante piscava à sua frente, fazendo-a proteger o rosto com a mão. Piscando contra a luminosidade, ela mal conseguiu distinguir a silhueta de uma figura se aproximando através do brilho.
À medida que a figura se aproximava, a respiração de Paula falhava. Seus olhos se alargaram em reconhecimento.
“Por que você está aqui…?” A voz de Ethan estava cheia de incredulidade.
O peito de Paula apertou, sua mente disparando. Ethan, de todos os lugares. Ela não esperava vê-lo ali. Ela olhou por trás dele, notando a fonte da luz cegante, um carro estacionado a alguns metros, com os faróis ainda acesos. Atrás de Ethan, estava um homem que ela não reconhecia, observando-a com uma expressão confusa.
Seus olhos se moveram rapidamente de um lado para o outro, procurando pela sua bolsa. Encontrou a alça e a segurou firmemente, puxando-se para ficar em pé.
Ela precisava fugir. Não podia ficar ali.
Mas, quando ela se virou para sair, a mão de Ethan disparou, agarrando seu braço.
“Você está bem?”
Sua voz estava cheia de preocupação, mas Paula se estremeceu com o toque, puxando o braço para longe.
“Solte!” ela gritou, dando vários passos para trás. Ela viu a surpresa passar pelo rosto de Ethan enquanto ele congelava, sua expressão endurecendo.
Percebendo o quanto sua voz soou áspera, o coração de Paula acelerou. Ela não estava pensando direito.
Ela precisava continuar se movendo.
“Desculpa,” murmurou rapidamente, a voz trêmula. “Eu preciso ir. Só… continue o seu caminho.”
“Aonde você vai?” Ethan insistiu, as sobrancelhas franzidas enquanto dava um passo mais perto.
A respiração de Paula falhou na garganta, e ela instintivamente deu outro passo para trás, apertando a alça da bolsa com mais força. Ela estava preparada para se defender, se fosse necessário.
“Senhorita.”
“Não se aproxime!” ela gritou, a voz trêmula de medo.
Ethan parou, seus olhos escaneando seu rosto. Ela podia ver confusão misturada com crescente preocupação em seu olhar. Ele não entendia o que estava acontecendo, e ela não tinha tempo para explicar. Precisava continuar.
“Por favor… só fique longe,” a voz de Paula quebrou enquanto ela dava mais um passo para trás, vacilante.
“O que está acontecendo? Por que você está com tanto medo?” Ethan perguntou, sua voz suavizando, mas com uma ponta de urgência. Seus olhos permaneciam fixos nos dela.
Paula engoliu em seco, sua mente girando. Ela não tinha tempo para perguntas. Cada segundo ali parecia um risco, um possível atraso que poderia custar-lhe tudo.
“Por que você está aqui a essa hora?” ela perguntou com firmeza, desesperada para desviar das perguntas.
“Você não deveria estar indo a algum lugar?”
“Estou indo ver o Vincent,” Ethan disse com urgência. “Há algo importante que preciso discutir com ele.”
“Então vá,” Paula respondeu, a voz quase um sussurro. “Só vá.”
“Não até você me dizer o que está acontecendo,” Ethan insistiu, o olhar penetrante enquanto ele lia o medo que ela não conseguia esconder.
Seu coração batia forte no peito, e seu corpo se enrijecia enquanto ela procurava uma rota de fuga. Ela não podia ficar ali. Precisava ir embora.
De repente, um som de folhas se movendo veio de trás deles, fazendo ambos virarem a cabeça para a fonte. O barulho ficou mais alto e mais próximo, fazendo o pulso de Paula disparar.
Não. Não, não, não.
Eles já tinham a alcançado. Era tarde demais.
Os olhos de Paula se voltaram rapidamente para Ethan, o pânico a tomando. Ele a observava intensamente, tentando entender o terror que ela sentia. Seu rosto se contraiu ao perceber o perigo, embora não o entendesse completamente.
Sem pensar, Paula sussurrou as palavras que queimavam dentro dela há uma eternidade.
“Por favor… me ajude.”
A expressão de Ethan mudou. Seus olhos se alargaram de surpresa, depois se endureceram com determinação. Ele virou-se em direção ao som das folhas, antes de voltar sua atenção para ela. Sem hesitar, ele segurou seu braço com mais firmeza, mas não de maneira agressiva.
“Está tudo bem. Confie em mim,” ele disse, sua voz firme e calma, apesar da tensão no ar.
Paula hesitou por um momento, buscando nos olhos de Ethan algum sinal de engano. Havia algo em sua voz, uma gravidade que a fazia sentir que podia confiar nele. Lentamente, ela assentiu.
Ethan agiu rapidamente, guiando-a até o carro. Ele abriu a porta e a ajudou a entrar, depois subiu no banco ao lado dela. O motorista, seguindo as instruções de Ethan, ligou o motor rapidamente.
O carro rugiu e disparou pela estrada, os pneus fazendo barulho sobre o solo enquanto deixavam para trás a floresta escura.
Paula manteve os olhos fixos na janela, a respiração superficial e irregular enquanto se afastavam. Ela olhou para trás e viu figuras surgindo dos arbustos de onde ela estivera momentos antes. Seu peito apertou com medo, se tivesse esperado mais um momento, eles a teriam alcançado.
Ela não estava imaginando isso. Alguém estava atrás dela.
Um suor frio escorreu por suas costas enquanto a realidade se instalava. Ainda assim, junto ao medo, uma onda de alívio a invadiu. Ela tinha escapado, pelo menos por enquanto.
Ethan quebrou o silêncio, sua voz séria. “O que aconteceu? Por que você estava correndo? E o que você estava fazendo aqui no meio da noite?”
Paula não respondeu imediatamente, os olhos fixos na estrada à frente enquanto tentava controlar a respiração.
“Você parece alguém fugindo de um perigo,” Ethan acrescentou, os olhos penetrantes enquanto avaliava sua aparência desleixada.
Paula permaneceu em silêncio, apertando a bolsa no colo. O turbilhão dos momentos passados fervilhava dentro dela, mas ela não conseguia encontrar palavras para explicar tudo.
“Sério?”
Paula permaneceu em silêncio, os olhos fixos na estrada enquanto o olhar afiado de Ethan atravessava sua tentativa de esconder a verdade. Sua agitação crescia enquanto ele tentava juntar as peças do que ela estava escondendo.
“Por que? Por que essa pressa no meio da noite?”
“Houve circunstâncias,” Paula respondeu baixinho, a voz trêmula.
“Que circunstâncias poderiam te levar a fugir assim? Algo aconteceu com o Vincent? Você foi expulsa?”
“Não,” ela balançou a cabeça, mas os olhos estreitos de Ethan mostraram que ele não estava convencido. Ela repetiu sua negação, até acenando com a mão para enfatizar.
“Então o que é? Você precisa me dizer.”
“Só não faça mais perguntas e me deixe sair do carro, por favor.”
“Senhorita Paula.”
“Por favor, estou implorando.”
“Isso tem a ver com o James?”
Ao mencionar James, os olhos de Paula se alargaram com preocupação. O rosto de Ethan ficou sério.
“Ouvi do Vincent que você estava presente na cena,” disse ele, seu tom carregado de preocupação.
Paula olhou rapidamente para o banco do motorista. Não estavam apenas ela e Ethan no carro; havia outra pessoa ali. Aquela conversa não era para ser ouvida por qualquer um.
“Está tudo bem,” ela disse, tentando tranquilizar Ethan com um olhar discreto para o motorista.
“Mas…”
“Confie nele. Você não precisa se preocupar.”
A expressão séria de Ethan tranquilizou Paula de que o motorista era confiável. Mesmo assim, Paula não conseguiu reunir coragem para continuar aquela conversa pesada. Permanecia em silêncio, o peso de sua situação pressionando-a profundamente.
“Desculpe,” Ethan disse de repente, seu pedido de desculpas pegando Paula de surpresa. Ele ofereceu um sorriso amargo.
“É irônico dizer isso agora, mas eu sabia. Eu sabia que o James estava envolvido na morte do meu pai. Mesmo sabendo, eu não queria acreditar.”
“Por que…?” Paula perguntou, a voz mal mais que um sussurro.
“Porque ele era um membro precioso da família. Eu queria acreditar que ele não poderia ter feito algo tão horrível, que foi apenas um acidente, que ele não poderia ser responsável. Eu me enganei com pensamentos assim. Mesmo vendo-o mudar, se afastando e desconfiando de mim, eu queria acreditar no contrário. Eu o respeitava e amava, mesmo não sendo parentes por sangue.”
A revelação de Ethan foi inesperada, seu comportamento calmo contrastando com o choque de Paula.
“James era filho da segunda esposa do meu pai, não filho biológico dele. Ele nasceu do casamento anterior dela. Quando ela se casou com meu pai, ela trouxe o James com ela. Mais tarde, meu pai e a segunda esposa tiveram o Lucas.”
“…”
“Meu pai não se importava com linhagens sanguíneas. Ele realmente amava o James e permitiu que ele herdasse o título para evitar discriminação. Mas o James estava ansioso. Ele temia não ser completamente aceito, mesmo que se tornasse o Conde. Meu pai não se importava, mas os outros o pressionavam. Eles acreditavam que apenas uma linhagem pura deveria continuar a família. Então, o James começou a desconfiar de mim, mesmo que eu nunca tivesse a intenção de tomar o lugar dele.”
Uma sombra de tristeza envolveu o rosto de Ethan. Apesar do sorriso, ele não conseguia esconder a dor que ainda estava presente em seus olhos. Seu olhar distante parecia refletir sobre o passado, e Paula escutava em silêncio, sentindo o peso de suas palavras.
“Mas eu nunca imaginei que ele fosse fazer algo assim… Lucas, Vincent… eu esperava, com todo o meu coração, que não fosse verdade.”
Ethan suspirou profundamente, repousando a testa sobre as mãos entrelaçadas. Sua postura curvada e os ombros tremendo falavam de uma dor profunda. Sua respiração estava pesada, cada expiração carregada de sofrimento.
A tristeza gera arrependimento, pensou Paula. Ela compreendia a dor de Ethan, mas também estava profundamente consciente do sofrimento de muitos outros: seu pai havia morrido, seu irmão estava ferido, Vincent havia perdido a visão e ficado imobilizado, e Ethan estava consumido pela angústia. Embora não conseguisse condená-lo, ela se perguntava se as coisas poderiam ter sido diferentes se ele tivesse encarado a verdade mais cedo.
Paula olhou para fora da janela, onde os arbustos altos roçavam o vidro. A vista sem sentido pouco ajudava a distraí-la da gravidade da conversa. Ela se virou de volta para Ethan, buscando clareza.
“Senhor Christopher.”
“Sim?”
“Por que você está me contando tudo isso?”
Ela queria entender por que, sendo apenas uma simples empregada, ele estava compartilhando com ela detalhes tão íntimos e dolorosos.
Ethan levantou o olhar, um sorriso tênue tentando suavizar seus traços. Ele olhou para fora da janela, sua expressão agora refletindo uma mistura de resignação e aceitação.
“Você sabia? Há uma floresta dentro dos terrenos do castelo, uma floresta artificial. Só a família real e alguns nobres privilegiados têm permissão para entrar. Eles chamam de Floresta Secreta. Dizem que as pessoas vão até lá para confessar segredos que não podem contar em nenhum outro lugar.”
Paula se lembrou de Lucas mencionando tal floresta, embora ela sempre tivesse considerado uma mera lenda.
“Paula, você é como essa floresta para nós.”
Ethan olhou de volta para ela, sua expressão desprovida de calor. O sorriso fraco havia desaparecido, substituído por uma postura fria e inquietante.
“Você é calma, gentil, e guarda bem segredos, o que facilita para nós confiarmos em você. Mesmo agora, você compartilhou coisas comigo que não compartilhou com mais ninguém. Sabe o que isso significa?”
“Não.”
“Pense bem. Por que revelaríamos segredos tão cruciais para uma empregada como você?”
“…”
“Porque podemos te descartar a qualquer momento.”
O sorriso de Ethan se tornou sombrio. Seu rosto antes triste agora exibia um toque sinistro, seus olhos castanhos brilhando com uma luz afiada e perturbadora que fez a pele de Paula arrepiar.
Ela agarrou com força a alça da sua bolsa, seus olhos encontrando os dele com uma mistura de medo e desafio. Instintivamente, ela sentiu que não deveria recuar. Tremendo, ela tentou esconder seus dedos trêmulos. Naquele momento, a dura realidade do status nobre de Ethan e a precariedade de sua própria posição a atingiram profundamente.
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