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    Protótipo de capa Volume 1 – Ironia Divina

    Capa Volume 1

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    Notas ressoavam pelo convés com o ritmo de uma marcha fúnebre… curiosamente animada. Um paradoxo musical que não decidia se queria lamentar os mortos ou convidá-los para dançar.

    A maioria dos presentes parecia apreciar. Doía, sim, aquela dor acompanhada por memórias tão vivas que davam até um leve desconforto — como encontrar cartas antigas escritas por alguém que já não existe, mas que ainda assina com o mesmo nome.

    Nyx sempre teve esse efeito nas pessoas. Com sua voz, fazia a cidade sorrir. Agora, restava só a lembrança. Nostalgia é uma droga traiçoeira, e Ana sabia disso melhor do que ninguém. Mas mesmo assim, continuava a tocar. Sentia que era um eco que valia a pena alimentar.

    Naquele momento, a capitã tentava não pensar em nada.

    A princípio ficou receosa, mas Niala assumiu o leme do Collectio com uma competência fria de quem havia nascido para isso. Já ela, por sua vez, vinha logo atrás, conduzindo a velha Aurora Mercante. Não tão perto a ponto de ser engolida pela aura opressora do navio voador, mas próxima o suficiente para deixar claro que fazia parte do comboio. Um equilíbrio visual e emocional.

    O nome soava pomposo demais para o que o navio era de fato. Feio, limitado, mas prático — assim, começava a simpatizar com ele. Tinha um charme desleixado, uma honestidade desbotada. O tipo de navio que não tentava ir além do que deveria, algo que os navios de guerra, com seus símbolos, canhões vaidosos e casco reluzente, jamais ofereceriam. 

    Era simples. E ela precisava de simples.

    Se tivesse que passar mais duas horas cercada pelo ar abafado em que estava antes, com aquele cheiro constante de ressentimento condensado… bem, alguém morreria. E não necessariamente ela.

    Deixou ao seu lado apenas o suprimento mínimo — algo que ela mesma consumiria — e um punhado de mascarados calados e obedientes. Nada além. Não queria distrações, tampouco surpresas. Eram eficientes e estranhos o suficiente para assustar qualquer curioso.

    Não era por cautela. Era autopreservação. Ana ainda sentia os resquícios da mana reversa latejando em seu corpo, como uma febre contida. Qualquer estresse poderia quebrar o frágil equilíbrio que lutava para manter. Melhor evitar riscos — e pessoas — até que sua própria carne parasse de gritar por violência.

    — Temos notícias do Collectio. Parece que estamos perto.

    Ana abriu os olhos com lentidão, como quem desperta de um estado mais profundo que o sono. Parou de tocar, e sem pressa, prendeu o instrumento às costas, posicionando-o ao lado da arma negra, aquela aberração encapuzada em panos velhos e amarras frouxas. 

    — Vamos poder nos aproximar?

    A pergunta carecia da necessidade de explicações. O Collectio era… notável. Mesmo quando parado, exalava uma presença que não passava despercebida, e mesmo que a absorção de mana afetasse apenas alguns metros que o circundavam, podia trazer problemas se acontecesse no meio da cidade. Isso sem contar o pequeno detalhe do sequestro em andamento no porão — mas, honestamente, isso era o de menos.

    — Sim. Não parece haver muita gente. As docas são bem afastadas umas das outras…

    — Ótimo. — Ana soltou o ar como quem largava um saco de pedras. — O leme é seu, Miguel. Assim que baixarmos, vai com a Niala para longe. Contornem a cidade até eu dar o sinal.

    O secretário mascarado acenou. Não com entusiasmo, claro. Mas também sem resistência. Gostava do plano? Provavelmente não. Mas também não estava em posição de opinar. Ele sabia, melhor que ninguém, o quanto era fácil despertar o ódio dos que ainda viam sua falta de mana como pecado.

    Com um meio sorriso e um aceno silencioso, Ana o deixou. Começou a escalar o mastro principal do Aurora. Os músculos gostaram do esforço, e chegou ao cesto de vigia rapidamente. Dispensou com um gesto curto o mascarado que já estava ali, e assumiu seu lugar. O vento estava mais limpo ali em cima, então encheu seus pulmões em uma inspiração profunda.

    Em seguida, usou o mínimo de mana possível para reforçar a visão — qualquer uso excessivo ainda fazia sua cabeça latejar como um sino maldito. Mas foi suficiente.

    Ali estava ela.

    Mare Euphoria.

    A cidade pirata flutuante. Um arquipélago artificial de promessas mal resolvidas, flutuando com arrogância no azul inquieto do Caribe ocidental.

    Era um nome pretensioso, debochado até, como se aquele amontoado de aço pudesse realmente ser um lugar de alegria. Pelas histórias de Madame, aquilo era um oásis de loucos, românticos e canalhas. Um lugar que ria na cara da tragédia e vendia felicidade líquida em copos sujos. Teatro de sobreviventes e oportunistas, ou paraíso para quem já não tinha mais nada a perder.

    Também segundo ela, um lugar que Ana iria gostar.

    E parecia estar certa, a cidade era, de fato, um espetáculo. Nunca aparecia no mesmo lugar duas vezes, como um segredo que prefere continuar sussurrado. Era uma anomalia ambulante, construída sobre nove porta-aviões colossais, todos costurados com tanta teimosia e improviso que pareciam prestes a se desmanchar — mas nunca desmanchavam. Não se estendia por mais de um quilômetro em nenhuma direção, o que criava uma sensação de que tudo ali estava compactado além do saudável.

    Metade desse espaço era tomada por uma planície de concreto rachado e sujo, onde aeronaves repousavam quase reverentes. Algumas eram relíquias de uma era que a maioria só conhecia por histórias mal contadas; outras, adaptações bizarras para o novo mundo, aonde voar era mais vontade do que ciência.

    Ana reconheceu muitas delas. A maioria, na verdade.

    Sentiu uma pontada — nostalgia talvez, ou só uma lembrança muscular de um tempo onde era comum encarar a morte de nariz empinado dentro de um cockpit.

    Fazia tempo, mas sentia falta dos céus. O Collectio era um consolo… um bom consolo, inclusive, mas ainda era um navio. E navios, por melhores que fossem, não ofereciam a experiência insubstituível de rodopiar no ar dentro de uma cápsula de aço leve demais, com o vento cortando a pele e a gravidade perguntando o tempo todo se você realmente tinha o controle da situação.

    Os navios, no entanto, eram o meio mais comum ali, espalhados pelas docas improvisadas que apareciam a cada centena de metros. O vento ainda era um recurso barato, e engenheiros talentosos o suficiente para construir motores de mana potentes eram raros como ouro.

    Em um piscar de olhos, atracaram. Sem pompa, sem cerimônia. Uma chegada funcional.

    E foi aí que a merda aconteceu.

    Assim que Alex desceu do Collectio, sentiu o corpo reagir — um efeito natural, uma readaptação. A mana voltou a fluir com força, um retorno que ele aceitou como um viciado reencontrando a droga favorita. Mas havia um detalhe: ele subestimou o quanto havia evoluído.

    O primeiro passo já foi suspeito. O segundo, barulhento. No terceiro, o chão de aço rangeu como se tivesse sentimentos. E então cedeu.

    Afundou.

    Nada dramático, só… afundou. Como argila sob o sol. O impacto fez vibrar não apenas o metal sob seus pés, mas também a noção ainda maior da nova força que se espalhou por seus músculos. 

    Ele sorriu. Treinar sob condições extremas não fora em vão. Queria testar urgentemente, então testou. Mas, como uma onda inevitável, outros tripulantes começaram a imitá-lo — como se fosse um novo tipo de brincadeira. 

    Era viciante sentir o corpo responder, ver os próprios limites se expandindo. A mana circulando livre, os músculos agradecendo, a autoconfiança inflando perigosamente.

    Mas é claro que ninguém ali teve o bom senso de parar. Buracos surgiram aqui e ali, depois ali também. 

    E foi assim que, sem nem perceberem, se viram cercados por duas vezes mais guardas do que eles próprios. O tipo que surge quando você ameaça — mesmo sem querer — derrubar uma cidade inteira no oceano.

    Ana chegou atrasada. O suficiente para não poder evitar nada, e cedo demais para fingir que não conhecia os envolvidos.

    Olhou ao redor. Viu os rostos suados, os pés afundados, os buracos no chão. Suspirou e apertou as têmporas. Então sorriu. Um daqueles sorrisos tortos, forçados, que nunca convencem ninguém — nem mesmo ela própria.

    — Prometo pagar… — disse a capitã, com a suavidade de um bom vendedor de porta em porta.

    Não adiantou muito, é claro. Mas, pelo menos, foi educada.
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    Ficaremos sem imagens por um tempo, mas logo volto a postar!

    Estou meio sem tempo e não estão saindo resultados bons…

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