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    Protótipo de capa Volume 1 – Ironia Divina

    Capa Volume 1

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    — Não é um bom sinal. É melhor pensarmos em um desvio.

    Os dedos de Sérgio tocaram as marcas de pneu no chão com um pesar dramático que só ele parecia sentir. Não precisava ter feito aquilo — serviu basicamente para sujar as mãos —, mas fez mesmo assim. No fundo, sabia que, para quem visse de fora, a cena poderia parecer digna de um detetive fodão de um filme barato. Era o suficiente.

    — E a Eva!? — Lúcia cruzou os braços, um gesto mais automático do que indignado. Estava se cansando do pragmatismo frio do médico. Já tinham passado, em teoria, da metade da viagem. De que adiantava agora se acovardar?

    — Você não entende como as coisas funcionam por aqui, criança — murmurou ele, limpando as mãos de forma igualmente inútil nas calças. — Se tem motos no caminho da capital, pode acreditar que teremos problemas.

    — Acha que somos mais fracos que eles? — brincou Lúcia, girando o pulso no ar como se jogasse palavras ao vento. — E, além disso, o Garm corre pra caramba. Motos conseguem voar pelo meio do bosque? Muito fácil fugir!

    Sérgio bufou.

    — Não é assim, imbecil. Você acha que eles não sabem disso? A floresta tá lotada de armadilhas. A gente correr pra lá é justamente o que eles querem. Isso vai continuar até estarmos a poucos quilômetros da capital, onde a segurança começa a apertar pra esse povo.

    — E como vamos fazer um desvio, então? 

    O homem coçou a nuca, encarando a estrada como se a resposta estivesse escrita em algum lugar invisível.

    — Ah, bem… não tinha pensado nisso — respondeu, com uma risada seca que não disfarçava o quanto estavam ferrados.

    — Então pronto. Se a gente não tem tempo pra voltar e não dá pra desviar, é só correr.

    Ela sorriu, revirando os olhos. Um sorriso quase insolente começou a nascer em seus lábios.

    Mas o sorriso morreu ali mesmo.

    — Sim, é só correr…

    Sons começaram a crescer à distância com a fala de Sérgio, que havia deixado a implicância de lado. Não eram fortes ainda, mas tinham a vibração de coisas que estavam ficando perigosamente próximas. O médico parou de brincar. Lúcia também. O homem franziu a testa, já em movimento, saltando de volta para as costas de Garm.

    — E correr muito! — completou.

    Garm não precisou ser mandado duas vezes. Já tinha ouvido o som muito antes dos humanos, mas até então não sabia o que fazer com ele. Agora sabia.

    Disparou.

    A velocidade máxima de Garm era uma experiência desconfortável para quem ainda queria manter os ossos no lugar. Lúcia e Sérgio se abaixaram sem pensar, segurando Eva como podiam. Não era coragem; era pura autopreservação.

    O mundo virou uma massa de verde e cinza que se esticava para trás. Só o som dos próprios corpos sendo castigados pelo vento preenchia os ouvidos.

    “Estão mais perto.”

    O nariz do lobo farejava compulsivamente, tentando entender aquele cheiro forte que se infiltrava nas narinas. Era o mesmo das marcas no chão… mas agora mais intenso, quase ácido. Incomodava. Mas, ao mesmo tempo, havia algo bom nele. Era estranho.

    — Não vou conseguir fugir — rosnou, sem diminuir o passo. A frase escapou como um fio de fumaça, involuntária.

    As orelhas agitavam no vento, tentando captar o que já não precisavam confirmar. Eles estavam sendo alcançados. E rápido.

    Garm estranhava a sensação. Desde que se tornara “forte” — pelo menos no que o seu conceito de força permitia — nunca ninguém o havia superado em velocidade. Correr era seu domínio. Sua garantia. Seu pequeno pacto silencioso com o mundo.

    Mas hoje, isso mudou. Ia ser alcançado, e estava odiando cada segundo disso.

    Lúcia, concentrando-se ao perceber que o lobo não estava falando por dramatização barata, ergueu as mãos. Não dava para fazer muita coisa a essa velocidade. Pensar já era difícil; manipular, um exercício de teimosia. Mesmo assim, pequenos blocos de asfalto começaram a se levantar do chão, como se o próprio caminho estivesse tentando criar obstáculos improvisados.

    Não adiantou.

    Surgindo das folhagens laterais — e trazendo um cheiro desagradável de metal quente e mana azeda — duas grandes motocicletas surgiram. Ou melhor, veículos que, por educação ou excesso de boa vontade, poderiam ainda ser chamados de motocicletas. Mas seria pedir demais da imaginação.

    Eram grandes quadrados metálicos, feios com empenho, cobertos por runas que pareciam ter sido gravadas na pressa, mas que ainda assim vibravam com energia suficiente para fazer o chão ressoar. Atrás de cada uma, preso por ganchos e hastes improvisadas, um aquário — sim, um aquário — cheio de criaturas de aspecto lamentável. Algumas ainda se mexiam em espasmos nervosos. Outras já eram só carcaças semiapodrecidas, mas todas, vivas ou mortas, emanavam a mesma essência: mana de suplemento, combustível vivo para alimentar aquelas aberrações sobre rodas.

    Os motoristas estavam focados, enfiados até as sobrancelhas em óculos grossos e capuzes gastos que provavelmente não protegiam de nada além da autoestima. Talvez servisse para o psicológico — como um amuleto que todos sabiam ser inútil, mas que ainda assim seguravam firme.

    Já os passageiros na garupa tinham funções mais específicas. Gritavam. Muito. E não exatamente poesia. As ofensas eram criativas na medida da decadência humana, e não foram poucas as vezes em que a palavra “putinhas” chegou, clara como um sino, até os ouvidos do grupo. Garm também não escapou. Em dado momento, Lúcia teve a estranha honra de ouvir alguém chamar o lobo de “tapete mijado ambulante”. Estava oficialmente registrado.

    Até ali, tudo dentro do esperado. Os inimigos eram barulhentos e visivelmente mais lentos. Com sorte, levariam meio-dia para alcançá-los — ou nem isso, se a mana deles se esgotasse primeiro, o que era uma aposta razoável considerando o peso mórbido que carregavam nas traseiras.

    O problema real veio em seguida.

    Os passageiros da parte de trás, sem aviso, levantaram as mãos com sorrisos largos demais para serem saudáveis. Em frente às motos, se manifestaram brocas — não simples cones giratórios, mas verdadeiras esculturas de metal, flutuando de forma agressiva. Cada broca era entalhada com detalhes finos, marcas geométricas que canalizavam mana com precisão absurda. Giravam tão rápido que o ar ao redor parecia rasgar.

    O primeiro toque nas barricadas de Lúcia foi o suficiente. Seus muros de asfalto, levantados às pressas, cederam como papel molhado diante de tais manifestações.

    Ela arregalou os olhos. Não era só poder bruto; era técnica refinada. Como manipuladora, sabia reconhecer a diferença. Conseguiria replicar? Talvez, em teoria. Mas fazer com aquela desenvoltura, naquele ritmo, com aquele desprezo quase preguiçoso? Nem ferrando.

    Sua mente se expandia em tempo real, como se o próprio orgulho estivesse sendo empurrado para fora do corpo a pontapés. Até ali, o máximo que vira foram manipuladores caçadores de rank C — eram bons, mas mesmo assim, a maioria não era melhor que ela. Orgulhava-se disso.

    Mas aquilo… aquilo era outro nível.

    Pela primeira vez, Lúcia, a garota prodígio, a guerreira nata, manipuladora sem igual, sentiu a pontada incômoda de algo que nunca havia sentido: inferioridade.
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    Ficaremos sem imagens por um tempo, mas logo volto a postar!

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