Capítulo 46 - Sombra
*Essa é uma prévia da reescrita! Ainda está crua, sem o polimento final, mas logo ganha forma. Se notar algo fora do lugar, toda ajuda é bem-vinda!
Como se tivesse ouvido e decidido responder à pergunta de Júlia da maneira mais dramática possível, uma figura esbelta pousou ao lado da espada gigante com graça mortal. Era claramente uma mulher, embora o termo talvez não fosse suficiente para defini-la; algo em sua aparência parecia ultrapassar a simples descrição humana.
Sua armadura negra — que, na verdade, lembrava mais um vestido gótico de gosto questionável do que proteção prática para batalhas — encaixava-se perfeitamente ao corpo, exibindo curvas que sugeriam uma intenção mais estética do que defensiva. Longos cabelos brancos ondulados desciam suavemente até o meio de suas costas, separados em sua frente por dois chifres finos e elegantes, surgindo naturalmente de seu crânio como se fossem acessórios cuidadosamente planejados.
Olhos cinzentos e frios encaravam o grupo com a tranquilidade perturbadora de quem poderia perfeitamente atravessá-los apenas com aquele olhar. Ana sentia claramente a aura de poder emanando da recém-chegada — quase uma presença física que podia ser tocada, embora preferisse muito não o fazer.
Sem ter tempo de considerar as opções, Ana agarrou Júlia pelo braço e lançou-a bruscamente para trás, onde os outros aguardavam com expressões que misturavam confusão e pânico. Quase perguntou “Quem é você?”, mas logo concluiu que, além de inútil, seria uma pergunta retórica destinada à frustração imediata. Provavelmente não obteria resposta, e se obtivesse, não seria algo agradável ou reconfortante.
Optou então pela solução mais racional e direta possível: correr.
Puxou os companheiros e começou uma fuga frenética. Enquanto suas pernas trabalhavam arduamente para colocá-los fora do alcance da ameaça desconhecida, Ana não conseguia evitar amaldiçoar mentalmente sua sorte. Não era exatamente supersticiosa, mas aquela merda toda a estava incomodando cada vez mais.
Talvez fosse melhor aceitar que a realidade decidira tornar sua vida num espetáculo de humor macabro.
Os devaneios irritados foram interrompidos por um suspiro delicado vindo das costas do grupo, acompanhado por um murmúrio baixo que ecoou estranhamente claro aos ouvidos atentos.
— É decepcionante…
A voz era melodiosa, quase doce, o tipo de voz que faria sentido ao contar histórias para crianças antes de dormir — embora Ana duvidasse seriamente que isso fosse parte dos planos imediatos da mulher misteriosa. Uma breve ilusão de conforto atravessou seus pensamentos antes de ser brutalmente despedaçada pelo som inequívoco do aço rasgando a terra, seguido pelo zunido familiar e desconfortável de metal girando no ar em alta velocidade.
Mal teve tempo de registrar o arrepio subindo por sua nuca quando a espada gigantesca surgiu ameaçadoramente em sua direção. Seu corpo agiu mais por instinto do que por estratégia: interrompeu a corrida abruptamente e ergueu sua pequena faca num bloqueio desesperado, torcendo para que o metal estivesse disposto a fazer seu trabalho hoje.
O impacto foi violento o suficiente para quase fazê-la desistir no mesmo instante, seus músculos protestando com veemência e suas articulações ameaçando entrar em greve. Felizmente, seu orgulho teimoso falou mais alto, obrigando-a a manter a firmeza.
Apertou os dentes. Resistiu.
— Se espalhem! Fujam! — gritou, tentando retomar o controle da situação, mas sua voz foi brutalmente interrompida por um golpe certeiro no estômago. O chute roubou todo o ar dos seus pulmões, lançando-a para cima em um arco humilhante, como se a gravidade tivesse decidido entrar na brincadeira de mau gosto que era sua vida.
Enquanto pairava momentaneamente no ar — uma situação bastante desagradável, diga-se de passagem — Ana viu-se encarando diretamente os olhos cinzentos da mulher misteriosa. Um sorriso discreto surgiu naqueles lábios antes indiferentes, mas foram os olhos que realmente prenderam sua atenção.
“Belos… e completamente vazios”, pensou num instante de lucidez resignada, enquanto assistia impotente a um minúsculo punho fechado se aproximar rapidamente, prometendo um encontro particularmente desagradável com seu maxilar.
Ou talvez nem tão inevitável assim, já que, em um inesperado gesto heroico e provavelmente estúpido, mas que Ana apreciou mesmo assim, uma flecha cruzou o espaço que as separava. A flecha não acertou seu alvo, evidentemente — isso seria pedir demais da sorte naquele dia —, mas passou perto o bastante para obrigar a atacante a se afastar alguns centímetros preciosos.
Ana aproveitou imediatamente essa minúscula brecha para terminar seu trajeto descendente, aterrissando numa pose desajeitada, porém eficaz, e imediatamente impulsionou-se para longe da inimiga, puxando o ar desesperadamente de volta para seus pulmões.
— Eu disse para fugirem, seus idiotas.
— Cala a boca! — retrucou Júlia, num grito feroz que deixava claro que suas flechas seguintes não seriam disparadas com a intenção de errar novamente.
Os demais também não estavam exatamente assistindo passivamente ao caos se desenrolar. Marina, com olhos arregalados de terror e determinação — uma combinação perigosa, para dizer o mínimo —, se afastava cuidadosamente do centro do conflito, lábios já começando a se mover. Alex avançava com passos firmes e cautelosos, com sua lança posicionada em perfeita expectativa, aguardando pacientemente o momento certo para agir. Felipe, por outro lado, corria pelo flanco oposto, apertando com firmeza determinada a escopeta improvisada, uma expressão obstinada em seu rosto pálido.
O problema, é claro, estava no fato de que a intrusa de armadura negra e chifres ornamentais também não tinha ficado simplesmente parada admirando a cena. Com uma expressão de indiferença gélida, quase como se Ana tivesse deixado de existir no exato momento em que atingiu o chão, a mulher avaliou rapidamente cada membro do grupo. Foi um cálculo preciso, feito com o olhar frio e analítico de quem claramente já havia participado desse tipo de confronto muitas vezes antes.
Com uma decisão tomada em segundos, avançou direto para Felipe. Era compreensível: o jovem com um braço só parecia um alvo irresistivelmente fácil. Ele ergueu a arma, mas antes mesmo que pudesse apertar o gatilho, a inimiga já havia se protegido parcialmente com a espada. Fragmentos do tiro ricochetearam contra a armadura, fazendo-a recuar minimamente, mas não o suficiente para impedir que abandonasse a arma gigantesca e lançasse um chute giratório elegante e devastador, acertando Felipe em cheio na lateral do corpo.
O rapaz voou como uma boneca de pano, atingindo violentamente uma árvore próxima e cuspindo sangue enquanto deslizava para o chão. Mesmo assim, obstinado como sempre, tentou recarregar a arma com a boca, num ato simultaneamente admirável e lamentavelmente patético. A atacante apenas bufou, quase como se estivesse ofendida pela tentativa.
De onde estava, Ana observava atentamente a postura da mulher, sentindo uma inesperada admiração crescer em seu peito. Era difícil não respeitar aquele nível absurdo de domínio corporal e confiança absoluta, uma elegância sinistra e quase perfeita.
Avance! Ad victoriam!
“Ad mortem parece muito mais apropriado no momento…”
Você não quer protegê-los?
“Claro que não”, respondeu mentalmente, com a irritação de quem odeia admitir fragilidade até para si mesma. “Eu só quero sair viva daqui.”
Então por que mandou que fugissem?
Ana não respondeu. Sua respiração acelerou, percebendo que também fazia parte dos idiotas.
No entanto, quanto mais a inevitável situação se instaurava em sua mente, mais de uma adrenalina intensa parecia gritar no fundo de seu peito. Talvez… talvez não fosse tão ruim lutar um pouco. Não podia negar que a ideia tinha seu apelo.
Mesmo assim, sensata o suficiente para perceber o desastre iminente caso não controlasse seus impulsos, Ana interceptou rapidamente Alex antes que ele corresse desesperadamente em direção ao irmão. Um simples gesto que também deteve Júlia, cuja flecha estava trêmula no arco, ainda incapaz de encontrar uma abertura precisa para disparar sem atingir um aliado.
— Me larga, Ana! — Alex protestou, num tom que tentava soar mais ameaçador do que de fato conseguia. Não ajudava o fato de ele estar tremendo ligeiramente, algo que Ana preferiu ignorar diplomaticamente.
— Calma — respondeu ela, firme, sem o soltar.
— Calma? Você ficou maluca? Ela vai matar meu irmão!
Ana respirou fundo, puxando-o de leve pelo ombro, sem parecer nem um pouco impressionada pela agitação quase histérica dele.
— Aí é que tá… olha aquilo.
Alex franziu as sobrancelhas, mas ainda assim diminuiu a resistência e voltou a olhar para Felipe.
A cena, de fato, era estranha o suficiente para dar razão para a pausa. A Sombra, após o golpe inicial, chutou para longe a arma antes do novo disparo, eliminando qualquer risco imediato que pudesse existir. Um segundo chute atingiu a têmpora do jovem, lançando-o direto para o doce alívio da inconsciência. E então, contrariando qualquer expectativa dramática, a atacante não o golpeou novamente. Em vez disso, simplesmente usou a ponta da bota para virá-lo de costas, revistando seus bolsos com uma eficiência entediada, como alguém que procura uma moeda perdida em um sofá velho. Não encontrando nada além de decepção, ela suspirou profundamente e voltou o olhar frio ao restante do grupo.
Ana entendeu rapidamente o que estava acontecendo ali. Sem hesitar, levantou a voz, apontando energicamente para a entrada da caverna que havia escapado da atenção da inimiga — ou assim esperava.
— Está ali! Dentro da caverna! — gritou e gesticulou exageradamente, fazendo todos se sobressaltarem, inclusive a mulher misteriosa, que ergueu levemente uma sobrancelha como se duvidasse da sanidade geral envolvida naquela situação.
— É sério! — Ana insistiu com convicção teatral. — Você quer a tal bolsa, não quer? Então entra lá e pega logo essa porcaria!
Júlia não conseguiu conter um riso baixo e nervoso. Não era exatamente o momento apropriado para gargalhadas, mas situações assim tinham a tendência a trazer à tona tais inconveniências.
— Impressionante como a gente consegue ferrar absolutamente todas as missões — Júlia sussurrou em direção a Alex, com um sorriso resignado.
— É o nosso destino, ruiva. Já aceitei que a pobreza eterna é nossa fiel companheira — respondeu o guerreiro, tentando manter um ar leve, embora seu rosto estivesse pálido o bastante para rivalizar com o cabelo da mulher à frente deles.
Marina também conseguiu relaxar um pouco com aquela breve interação. É claro que a sensação de alívio não durou muito tempo, porque momentos de leveza do tipo tendem a acabar rápido demais.
— Se largarem as armas e se afastarem, prometo que não mato vocês — anunciou a Sombra após certa ponderação. Preciso revistá-los.
— Sabe, a sua mão agarrada com tanto carinho nessa espada não passa muita confiança… — observou Ana, cruzando os braços num gesto propositalmente relaxado.
A mulher ergueu os ombros com uma indiferença calculada, quase teatral, lançando um suspiro de impaciência.
— Bem, eu tentei ser razoável. Não tenho tempo
Sem mais aviso ou cerimônia, voltou a avançar rapidamente contra eles. Ana suspirou, a mulher podia ter esperado um segundo por mais uma resposta, talvez ela aceitasse o acordo.
Uma merda.
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