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Capa Volume 1 – Ironia Divina
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Capítulo 62 - O Constante
*Essa é uma prévia da reescrita! Ainda está crua, sem o polimento final, mas logo ganha forma. Se notar algo fora do lugar, toda ajuda é bem-vinda!
Por dentro, o Último Reduto era, de forma estranha, absurdamente acolhedor.
Não acolhedor no sentido convencional de almofadas fofas e atendentes sorridentes — mas acolhedor como uma tempestade de verão que, apesar de barulhenta, te faz esquecer que está molhado.
A primeira coisa que chamou atenção não foi o cheiro de bebida ou o calor das chamas controladas — era o som. Um emaranhado de vozes, risos soltos e pelo menos três músicas tocando ao mesmo tempo, cada uma de um canto diferente, como se estivessem em uma batalha épica pela supremacia acústica. Nenhuma ganhava. E, de algum jeito inexplicável, aquilo não destruía o ambiente. Pelo contrário: dava-lhe uma espécie de identidade. Um caos funcional. O tipo de lugar que parecia dizer “bem-vindo” e “se prepare para uma surra se causar problemas” na mesma frase.
O salão era amplo, iluminado por globos de mana suspensos em cabos tortos, isso somado a um toque de decoração que misturava madeira envernizada e estruturas metálicas com um bom gosto quase suspeito. Não era uma taverna medieval improvisada, tampouco um bar futurista e sem alma. Era algo no meio. Moderno o bastante para ter encanamento decente e iluminação estável, mas rústico o suficiente para fazer você desconfiar se o banco em que está sentado já não foi usado como arma em uma briga anterior. E, pela quantidade de cicatrizes no chão e buracos mal disfarçados nas paredes, a resposta era provavelmente sim.
O público também não era o que se esperava de um lugar assim. Não havia brasões de guildas, nem insígnias flamejantes anunciando o nome de algum grupo glorioso. Os presentes não pareciam caçadores, nem se portavam como mercenários. Talvez fossem exploradores, ou comerciantes com mais músculos do que o bom senso costuma permitir. Talvez fossem só pessoas perigosas demais para se enquadrar em qualquer categoria civilizada, ou o contrário, tão elegantes que iam ali para poder extravasar um pouco. Um amontoado de pessoas que ultrapassaram há muito tempo a necessidade de pertencimento e qualquer rótulo.
Ana observou tudo com o olhar analítico. Era fraca, e tinha noção disso, mas não imaginava que fosse tão fraca assim. Os guerreiros que viu em Barueri pareciam crianças em comparação com tais presenças imponentes. No entanto, o restante do Ironia Divina foi ainda mais afetado.
Em Aurórea, mesmo na vila pequena onde cresceram, já haviam topado com guerreiros de ranking elevado — claro que tinham. Caçadores em grandes patrulhas, mercenários que paravam para reabastecer e seguir adiante. Todos tinham uma coisa em comum: poder. Quebravam crânios com um olhar mais sério que o normal, ou cortavam pedras só porque não tinham mais nada para cortar. O poder os permitia viver de forma inimaginável para civis.
Mas aqueles ali? Aqueles estavam em outra liga. Apesar dos sorrisos desenhados, transbordavam perigo.
As armas que carregavam não eram forjadas — eram arrancadas. De monstros que os jovens do Ironia Divina mal tinham coragem de pesquisar no bestiário. As armaduras pareciam feitas de camadas que misturavam ossos, placas rúnicas e, pelo jeito, boa parte da criatividade do usuário. E os itens rúnicos… bom, Ana duvidava que até mesmo quem os usava soubesse explicar exatamente o que faziam, o que não impedia ninguém de ativá-los com confiança absurda.
— Talvez a gente devesse só pedir uma água e sair de fininho — murmurou Alex, os olhos vagando de mesa em mesa como quem lê um cardápio e só encontra pratos que mordem de volta.
Ana deu um meio sorriso e sentou-se devagar, escolhendo uma mesa próxima à parede, onde podia observar a sala sem parecer que estava observando. Se espreguiçou, estava surpreendentemente cansada. Os outros a seguiram em silêncio, meio desajeitados, meio prontos para fugir. As mãos pairavam perigosamente próximas das armas baratas que haviam conseguido emprestadas para a missão, como se isso fosse fazer alguma diferença ali.
— Eu vou dormir um pouco — murmurou a líder, largando um pequeno saco de moedas no centro da mesa. — O jantar hoje é por minha conta. Revezem quem descansa e tentem não se embebedar antes de eu acordar. Ou pelo menos esperem até pagar.
Antes que uma das atendentes, uma mulher loira de feições suaves, mas olhar astuto, se aproximasse o suficiente para pegar seus pedidos, adormeceu.
Um sono de qualidade, mas que não durou mais de cinco segundos.
— Vocês são do grupo da nova rainha de prata?
A pergunta caiu como uma pedra num lago de hesitação. Os jovens se entreolharam por um momento, depois encararam Ana, que sequer abriu os olhos.
— Depende — resmungou, com voz arrastada — da definição de “grupo” e da sua intenção ao perguntar.
A loira sorriu com a tranquilidade de quem lida com gente desconfiada desde o berço.
— Calma, é só burocracia. Vocês estão com os itens que a Madame enviou, certo?
Ana resmungou alto, ainda com as pálpebras bem fechadas, e acenou a mão para Brayner, que sem demora pegou dois livros bem lacrados. Não se incomodou em perguntar como a jovem sabia quem eram, ainda lembrava da velocidade da grande ave que viu de relance no céu pouco depois de ter se despedido da taverneira.
— É só isso? Missão encerrada?
— Encerrada? Ah, querida… não. — A atendente riu, apontando ritmicamente para diversas linhas de um extenso formulário que chiava de formalidade. — Assine aqui. E aqui. Mais uma vez aqui. E tem uma parte atrás também.
Ana o pegou com certa preguiça no movimento. Leu dinamicamente e assinou com pressa, sem dar a devida atenção ao que quer que estivesse concordando.
Foi quando um homem se aproximou. Alto, bem alinhado, com cabelos grisalhos cortados com precisão militar. Não parecia arrogante, mas havia um peso em sua presença que automaticamente baixava o volume das conversas ao redor.
— Então você é a Ana — disse, sem floreios — a patrona que andou fazendo barulho lá embaixo. A fraca, segundo alguns. A persistente, segundo outros.
Ana o observou com a cabeça levemente inclinada, um olho ainda semicerrado.
— Provavelmente sou. E você é o amigo da Madame?
— “Amigo” é uma palavra generosa, mas… sim. Pedro, o Constante. Dono do Último Reduto.
Ele falava num tom próximo ao oficial, mas com um toque de informalidade treinada — como quem sabe a importância de ser leviano no momento certo.
— Vi que completou a entrega. Só não sabia que chegaria tão cedo. Ainda não preparei o pagamento, mas… posso compensar isso com um jantar, hoje à noite, com seu grupo.
— Amanhã — disse Ana, voltando a se recostar.
Pedro arqueou uma sobrancelha, claramente não acostumado a ser recusado de forma tão seca.
— Perdão?
— Amanhã — repetiu ela, os olhos já se fechando de novo.
O homem permaneceu ali por alguns segundos, como se ponderasse a resposta ideal. Depois, apenas assentiu.
— Amanhã… um almoço, então.
Sem mais palavras, se afastou, como se fosse ele quem tivesse decidido isso.
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