Capítulo 108
— Agnes. — ele a chamou pelo nome, apenas conseguindo conter suas emoções. Era como nos velhos tempos, os dias distantes em que eles eram muito próximos.
Quando ele a chamava pelo nome, ela sempre sorria para ele.
Por sorte, ela não mencionou seu título, mas disse algo inesperado.
— Na verdade, eu tinha algo para te dizer.
— …
Raymond ficou paralisado, prestes a perguntar se ela ainda sentia algo por ele, para ir direto ao ponto.
Seu coração batia descontroladamente.
Sua respiração ficou agitada com a esperança de que talvez… apenas talvez.
Raymond esperou as próximas palavras de Agnes, tentando manter a calma.
— Sinto muito por tudo.
— … O que…?
Agnes soltou um pequeno suspiro e o encarou intensamente.
Ela já havia decidido assumir o destino de Kylo.
Quando alguém enfrentava a morte, lembrava-se das coisas que precisava resolver.
Pedir desculpas a Raymond era parte desse processo.
É claro que ela não havia planejado ser tão franca, mas agora era sua chance, já que estaria ocupada assim que chegasse à capital.
Seria embaraçoso para ele, mas ela não sentia mais necessidade de mentir e fingir que havia perdido a memória.
— Sinto muito por tê-lo perseguido, foi uma forma de violência, fossem ou não puras minhas intenções.
— …
Raymond tinha dificuldade em entender o que Agnes estava dizendo.
Agnes estava admitindo que sua perda de memória era, na verdade, uma mentira? A despreocupação com que ela admitia isso o envergonhava.
— Sei que fui unilateral demais com você quando éramos mais jovens. Acho que simplesmente… não queria te deixar sozinho. — disse Agnes em voz baixa.
Não fazia sentido mentir agora.
Ela sentia que devia pedir desculpas a Raymond pelo menos uma vez antes que tudo acabasse.
Desde criança, ela sempre esteve sozinha desde que sua mãe e sua babá morreram.
As pessoas não se aproximavam dela com medo de que ela se tornasse violenta, e ela tinha que lidar sozinha com essa solidão.
Era assustador e a aterrorizava, e ela supunha que Raymond sentia o mesmo.
Ela o seguia incansavelmente, preocupada que ele estivesse tão assustado e aterrorizado como ela havia estado.
Agora ela via que seu torpe consolo tinha sido venenoso.
Então, ela queria se desculpar.
— Sinto muito, sei que deve ter sido doloroso. — disse Agnes, recordando vividamente o desgosto e o desagrado no olhar de Raymond.
Antes era ressentimento, agora era culpa.
Ela estava falando sério, embora não pudesse mudar o que acontecera.
Passou por ele enquanto ele ficava boquiaberto com um leve pedido de desculpas.
Ela tinha que se preparar para voltar à capital.
Bam.
Raymond não se moveu nem mesmo depois que Agnes desapareceu de sua vista e a porta se fechou com estrondo.
O tempo parecia ter parado.
Ele não conseguia pensar.
Agnes se tornara uma mestra em fofoca.
A governanta estava encantada com o progresso.
Quando os Cavaleiros Negros retornaram à capital, já havia histórias sobre o heroísmo de Kylo Gray circulando pela capital.
Como resultado, foram recebidos por uma grande multidão em seu caminho de volta para a capital.
As pessoas gritavam o nome de Kylo e o aplaudiam.
Agnes olhou para a multidão, que era maior do que ela esperava.
Ela sempre sonhara com essa cena.
Kylo havia voltado para casa da guerra e sentira um muro entre ele e Raymond ao ver tanta gente o elogiando.
Isso partiu seu coração.
Agora, havia tanta gente reconhecendo-o.
Talvez agora sua solidão parecesse um pouco melhor.
Agnes queria que ele fosse feliz naquele momento mais do que qualquer outra pessoa.
— …
Mas ao contrário do que ela esperava, Kylo não estava feliz.
Seu olhar desviava-se frequentemente para Agnes e para Raymond, ao seu lado.
Os aplausos dirigidos a ele eram agradáveis, mas não eram tangíveis nem audíveis.
Tudo que ele via era Agnes.
Ele estava incomodado com o fato de Raymond Spencer estar se aproximando cada vez mais dela.
Apesar de sua determinação de abandonar a cobiça, ele não conseguia se livrar do sentimento de pesar.
Quando chegaram ao palácio imperial, o Imperador elogiou os Cavaleiros Negros por seu trabalho.
Logo após, uma reunião do conselho foi convocada.
Os rostos de todos estavam sombrios e desesperados.
Uma nova fenda havia aparecido.
Eles sabiam muito bem que isso era apenas o começo.
— … O templo já respondeu? — perguntou o Imperador.
À sua ordem, os servos balançaram a cabeça.
A situação era grave.
O Imperador declarou estado de emergência e anunciou ao povo.
Eles foram instruídos a não sair de casa, caso outra fenda aparecesse.
O Imperador leu e releu as instruções do Imperador.
Ele lamentava sua incompetência e impotência.
Mas não havia outro remédio imediato.
Os cavaleiros do Império, com suas gloriosas insígnias, foram enviados imediatamente por todo o continente.
O povo entrou em pânico, temendo que um demônio pudesse atacar novamente a qualquer momento.
Os dias seguintes foram desastrosos.
A premonição de uma repetição da última guerra infernal atormentava a todos.
No meio deste horror, as pessoas sonhavam com o reaparecimento dos heróis das lendas.
Alguns dias depois de retornar à capital, Agnes acordou sobressaltada.
Ela bocejou e chamou sua criada.
— Ugh… Acho que estou ficando doente de alguma coisa. Meu corpo está pesado e estou com dor de cabeça. Chame o médico da corte.
— Sim, Princesa.
O médico da corte chegou rapidamente.
Ao ver o estado de Agnes, o médico da corte balançou a cabeça.
Depois de lavar seus olhos e examiná-la, ele não encontrou sinais de resfriado.
Mas não podia ignorar o fato de que ela estava doente.
— Parece que sua recente missão a deixou exausta, e sugiro que descanse em seus aposentos por enquanto.
— Entendo.
Agnes assentiu obedientemente às palavras do médico.
Com isso, o médico partiu, e Agnes virou-se para a criada.
— Vou descansar em meus aposentos por enquanto, e diga às minhas criadas que não precisam vir ao palácio até que eu as chame.
— Entendi, Princesa.
— E já que estou com dor de cabeça, demita todos os servos. Vou para a cama.
— Sim, minha senhora.
E com isso, Agnes ficou sozinha no silencioso quarto.
Apenas um número mínimo de servos estava fora da residência da Princesa.
Os cavaleiros da guarda haviam sido enviados de volta a seus postos originais devido ao Estado de Emergência.
Os cavaleiros foram enviados para várias partes do Império, então Kylo provavelmente estava em alguma missão.
Agnes pegou suas coisas e vestiu o uniforme dos Cavaleiros Negros.
A grande mochila estava bastante cheia, como se contivesse muitas coisas.
Isso é grande demais…
Apesar de ter embalado o mínimo na mala, parecia grande demais.
Agnes passara os últimos dias organizando as mercadorias com lágrimas nos olhos.
Algumas das fotos tinham sido doadas anonimamente para os organizadores do café de aniversário de Kylo.
Com a popularidade de Kylo, não havia dúvida de que haveria demanda.
Mas havia algumas coisas, como os bonecos feitos à mão e os acessórios, que ela não podia doar nem jogar fora.
Só podia levá-los consigo.
Agnes levantou a bolsa como se não tivesse outra opção.
Depois, como em um ritual final, ela se aproximou da cama.
Um raio de luz emanava de sua mão em direção a algo que estava na cama.
Era um bichinho feito com sua magia que iria substituir Agnes por um tempo.
O bichinho, que era idêntico a Agnes, estava deitado na cama, profundamente adormecido.
Quando terminou, ela se aproximou da janela e abriu as cortinas.
O céu estava excepcionalmente limpo.
Era um dia sem nuvens.
O céu estava alto e o vento fresco.
— É um dia lindo para morrer — disse Agnes, abrindo a janela com uma breve apreciação.
Era o dia do desaparecimento da Princesa.
O bichinho, uma réplica exata de Agnes, se movia de acordo com um padrão: comer, falar, dormir.
Parecia anormalmente calmo, mas os criados pensavam que estava doente.
E assim, por muito tempo, ninguém percebeu.
Que a princesa havia desaparecido para morrer.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.