Capítulo 111
Não queria que chorasse tanto por sua morte, por isso não escreveu seu nome na nota.
Agnes fechou os olhos, contente por ter tomado a decisão certa.
Um brilho emanou da ponta de seus dedos e uma lágrima rolou por sua bochecha.
Não eram lágrimas de medo ou arrependimento.
Estou muito grata por ter morrido em seu lugar.
Esta dor não é nada comparada à sua.
Posso morrer muitas vezes mais.
A pedra mágica na ponta do bastão se moveu.
Imediatamente, um tremendo brilho pulsou, se espalhando em um instante.
Era uma enorme explosão de luz, como uma estrela ardente.
Era uma luz tão grande que até as pessoas ao longe podiam vê-la.
Os que testemunharam a cena de repente se lembraram de uma antiga lenda enquanto contemplavam a deslumbrante imagem de luz.
O poder do primeiro Imperador para selar todos os demônios sob a terra com um raio de luz.
Era verdade que, milhares de anos depois, nasceria um herói capaz de usar o poder do Primeiro Imperador.
Mesmo que esse herói fosse alguém que ninguém esperava.
Menos mal que Agnes se apressou.
No momento em que ela desapareceu em uma explosão de luz, Kylo estava escalando a encosta da montanha.
A imensidão da explosão devastou a já desolada montanha nevada.
Por pouco ele evitou ser arrastado para baixo, se agachando sob uma árvore gigante.
Uma sensação premonitória o invadiu.
Um momento depois, a luz desapareceu e a montanha voltou ao silêncio.
Kylo sabia que sua inquietação era injustificada.
Suas pegadas se sobrepuseram às de Agnes.
Contrariando suas expectativas, ele subiu a montanha em silêncio, sem uma única queixa ou resmungo.
Mas se sentia sozinho.
O frio intenso que lhe cortava os ossos, não era nada.
Há muito tempo sua mente havia se acostumado a suportar frios mais ferozes.
O caminho para a morte foi bastante tranquilo.
De certa forma, foi estimulante, como se finalmente tivesse encontrado seu caminho.
Enquanto seguia o caminho que outro já havia trilhado, pensava em sua amada.
Ela era a primeira pessoa que o fazia sentir assim.
Era um sentimento lindo que teria sido injusto se ele morresse sem o experimentar, mas também era vergonhosamente feio.
Era uma pena que não pudesse ver seu rosto uma última vez.
Mas não importava.
Ele tinha gravado seu sorriso na retina para poder vê-la facilmente quando fechasse os olhos.
Mas quando chegou ao topo, não encontrou a paz da morte que esperava.
Ele estava devastado.
Era como se tivesse pisado no chão de uma cidade onde a guerra havia terminado e só restava a morte.
Cada passo o arrepiava.
As fendas que rasgavam o ar como serpentes com a boca aberta não estavam em lugar algum, nem mesmo quando ele limpava os olhos e procurava.
Não havia nada além de uma estátua gigante de um deus antigo.
Kylo olhou lentamente ao redor. A neve era branca e silenciosa.
Mas a área ao redor da estátua não estava tão coberta de neve como deveria. Lá viu algo brilhante.
Ao se aproximar lentamente, o objeto se tornou visível.
Sua mão tremeu ao perceber o que era.
Devagar, ele o pegou com hesitação, e era um colar conhecido.
Como…?
Por que? Por quê…?
Kylo olhou ao redor, segurando o que certamente era de Agnes.
Não, não, não… Não pode ser, tem que ser mentira.
Era um pensamento ridículo. Tinha que ser isso.
A Princesa Agnes certamente estava no Palácio Imperial, e mesmo que isso fosse dela, não poderia ter chegado antes dele.
Então não poderia ser…
Ele examinou um pouco mais o ambiente ao seu redor, só por garantia, e algo chamou sua atenção.
Olhando através da neve, viu um pequeno pedaço de papel.
Removeu a neve para ver o que era.
Era uma carta manuscrita de alguém.
Seu rosto se contorceu ao ler rapidamente o conteúdo.
Sentiu como se estivesse sonhando. Definitivamente era um sonho.
Kylo olhou ao redor mais uma vez.
Talvez já estivesse morto.
Talvez fosse por isso que estava vendo todas essas bobagens.
Por que diabos…?
As lágrimas escorreram por suas frias bochechas. Ele não conseguia acreditar.
O conteúdo da carta, o fato de estar sozinho aqui.
Kylo desceu a montanha, com a carta e o colar na mão.
Ele tinha que ver com seus próprios olhos.
Não podia acreditar que Agnes realmente tinha desaparecido deste mundo.
Tinha que ser mentira.
Descendo a montanha, ele foi direto para a capital, mas não precisou viajar muito longe.
A notícia da morte da princesa Agnes já se espalhara por todo o império.
Ao passar pelas aldeias que precisava atravessar para chegar à capital, viu as pessoas chorando.
E quando percebeu que suas lágrimas eram pela morte de Agnes, ficou paralisado.
O chão desabou sob seus pés.
Ainda assim, ele não conseguia acreditar.
Isso não pode ser verdade. Como poderia ser?
Ele tinha que ver com seus próprios olhos.
Mas como poderia verificar?
Ela já se fora.
Kylo mal conseguia respirar, com a garganta apertada.
Ainda assim, ele não podia perder a esperança de encontrá-la, então continuou a caminhar em direção à capital.
A dor era quase insuportável.
Ele não conseguia acreditar que houvesse alguém neste mundo que o amasse.
E que fosse a mulher que ele tanto desejava.
Ele não conseguia acreditar que alguém morreria apenas para salvar sua vida.
Alguém que tinha feito algo por ele.
Alguma vez alguém me tratou com algo que se assemelhasse ao mais puro dos corações?
Não, nunca.
Sua mãe o trouxe ao mundo como uma ferramenta para resolver suas dívidas, e quando não pôde usá-lo para o propósito que desejava, o tratou como lixo sem valor.
Seu pai era igual. Mesmo quando estava coberto de sangue e implorava por sua vida, ele fingia não o ver para não ofender sua esposa.
Cada vez que ele fugia por sua vida, eles o traziam de volta para tirar vantagem dele.
Não havia ninguém neste mundo que realmente se importasse com minha felicidade ou segurança.
Então ele não entendia.
Por que alguém tão nobre como você morreu por minha culpa, por culpa de um desgraçado como eu?
Tudo em que havia acreditado que valia a pena em minha vida tinha desmoronado.
Ele não era nada.
A única pessoa que nem mesmo conhecia, a única pessoa que vivia para ele, se foi.
O sentido do mundo tinha se apagado.
Meu mundo agora é só escuridão.
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