Capítulo 28
O feitiço de purificação em si não consumia tanta energia, mas depois de curar tanta gente, provavelmente Agnes já não tinha mais energia.
— Você pode continuar com a purificação? Você não está com uma boa aparência, está tonta?
Kylo perguntou descontraidamente, percebendo que o canto dos lábios de Agnes tremia enquanto ela sorria.
As comissuras dos lábios dela tremiam de riso, mas Agnes não deixou que isso a detivesse.
— Oh, acho que posso estar meio tonta…
Com isso, Agnes se contorceu, inclinou-se, segurou o braço de Kylo e apoiou a cabeça em seu ombro.
Surpreso pelo contato repentino, Kylo empalideceu.
Não tanto pela vergonha de ter tocado Agnes, mas pela ansiedade de que algo pudesse estar errado com a princesa e sua própria segurança pudesse estar em perigo.
Os espectadores também a olhavam com preocupação.
— Movam a princesa imediatamente!
Em seu pânico, Kylo nem percebeu que havia mudado Agnes de braço.
Mas Agnes rapidamente acenou com a mão e disse.
— Não! Acho que posso me apoiar em você por um tempo. Posso purificar a água imediatamente, então vamos para o rio.
Assim…?
Kylo olhou para Agnes confuso. Dessa forma…
Agora Agnes segurava seu braço e apoiava a cabeça em seu ombro. Era impossível andar nesse ritmo. E se…?
Kylo percebeu o que ela queria dizer.
Ela queria que ele a levantasse e carregasse como se fosse sua serva.
Ela era uma princesa até os ossos. Parecia não se importar em tratá-lo como um servo, mesmo que ele fosse seu superior.
Kylo não teve escolha senão envolver as costas de Agnes com o braço e deslizá-lo sob seu joelho para segurá-la como uma princesa.
— Hein?
Agnes, que só esperava um pouco de apoio, ficou surpresa quando Kylo a pegou no estilo de princesa.
“Por quê?”
A vergonha durou pouco. Agnes soltou um grito de alegria.
Com ela nos braços, Kylo seguiu o soldado e o chefe até o córrego.
Agnes jogou os braços ao redor do pescoço dele com naturalidade. Por vontade própria, seus rostos se aproximaram.
— Você está bem?
Kylo perguntou a Agnes, que apertava os olhos; a tontura devia ser bastante forte.
Mas…
“É mais leve do que eu pensava.”
A princesa Agnes era tão leve que não parecia estar carregando uma pessoa.
Pela primeira vez, ele percebeu que, por mais feroz que fosse, afinal de contas, ela era uma mulher frágil.
E os braços finos ao redor do seu pescoço, tão desesperados, a faziam parecer ainda mais frágil.
Um corpo magro, dependendo unicamente dele. Kylo sentiu que seu pescoço tremia desnecessariamente de tensão.
Enquanto isso, Agnes, com os olhos ainda fechados com força, pressionou ainda mais a bochecha contra o ombro forte dele, saboreando o momento.
Endurecido pela batalha, o corpo de Kylo era tão duro quanto uma grande rocha.
Cheira bem.
Agnes se perguntou como ele poderia cheirar tão bem e quis levantar a cabeça para cheirar sua nuca.
Mas, infelizmente, os passos de Kylo eram rápidos e largos.
— Chegamos.
Num instante, estavam perto do córrego. Kylo cuidadosamente baixou Agnes ao chão.
“Pena.”
Agnes estalou a língua e fingiu que ainda estava tonta.
O chefe e o soldado olharam para o córrego surpresos.
— Está pior do que esta manhã…
Disse o chefe com voz desesperada.
O córrego estava conectado ao rio da aldeia. A água potável era importante, por isso o abrigo temporário foi construído aqui.
O rio, grande e limpo, era um orgulho para a aldeia, mas ter o sangue de um monstro o turvando assim…
Uma lágrima se formou no canto do olho enrugado do chefe.
— O que fazemos?
Diante da pergunta do soldado, Kylo olhou seriamente para a água do córrego.
Era pior do que ele esperava. A cor da água não era apenas vermelha, era sangue.
A água até cheirava a sangue de monstro.
Será suficiente para limpar?
Kylo olhou para Agnes com olhos ansiosos.
— É possível?
Agnes olhou para o córrego com expressão séria e depois virou-se para o soldado.
— Pegue um pouco de água do córrego.
— Sim, sim!
O soldado pegou um balde de madeira que estava ao seu lado e correu rio abaixo. O balde se encheu de sangue e cheiro de peixe.
Agnes fechou os olhos e estendeu a mão para concentrar sua atenção. Da ponta de seus dedos finos emanava uma luz azul.
Fluiu para a água do balde e começou a borbulhar.
As bolhas se dissiparam com um brilho de luz, deixando para trás nada além de água limpa e purificada.
— Ohhh…!
O chefe soltou uma exclamação esperançosa e verificou a água limpa.
Não havia cheiro de sangue de jeito nenhum.
O rosto do chefe se iluminou enquanto ele pegava a água com as mãos e a bebia. Após dois dias sem beber água, ele estava encantado.
— Pode ser purificado, mas só serve para beber por enquanto. Com o tempo, teremos que purificar a fonte rio acima.
Kylo concordou com as palavras de Agnes.
— Por enquanto, reúna os aldeões e os soldados e os faça buscar água.
Kylo deu instruções ao soldado, que se apressou para o centro do abrigo.
— Deve haver alguns barris grandes de carvalho!
O chefe também correu.
Agnes ficou sozinha com Kylo.
— Argh…
Fingindo estar tonta novamente, Agnes se apoiou nele.
Ela se preocupava que fosse antinatural fingir estar fraca quando na realidade estava saudável, mas não havia dúvida aos olhos dos outros.
— Você ficou tonta de novo?
Kylo perguntou surpreso.
Agnes jogou os braços ao redor do pescoço dele tão despreocupadamente como se quisesse outro abraço.
Com uma expressão desajeitada, ele a pegou novamente como uma princesa.
Para ser honesto, Kylo estava surpreso.
A princesa Agnes sempre tinha achado desagradável até fazer contato visual com ele.
Mas agora, não só conseguia falar com ela facilmente, como ela se apoiava nele.
Na melhor das hipóteses, estava sendo tratado como um servo, mas ele mentiria se dissesse que não se sentia lisonjeado.
Mas será que ele estava abraçando-a muito forte pelo pescoço?
Kylo se perguntava se estava se aproximando demais, mas a maneira como ela se contorcia com os olhos fechados indicava que deveria estar sendo firme.
Havia uma certa desesperança em seus braços finos que quase o fez sentir pena dela.
Talvez a princesa Agnes estivesse em um estado em que nem mesmo estava consciente de quem a segurava.
Ainda assim, ele a admirava por purificar a água.
Ele pensou que não poderia aprender mais sobre ela, mas ela era mais capaz do que ele imaginava.
Sem perceber que sua avaliação dela havia mudado ligeiramente na mente de Kylo, Agnes simplesmente desfrutava do aroma dele e do toque de seus músculos fortes.
Quero morrer aqui.
Ao contrário do que Agnes esperava, ela não teve que dar mais do que alguns passos antes de se levantar novamente.
Kylo a deixou no centro do abrigo e foi buscar água com seus soldados.
Agnes se sentou em uma cadeira que trouxeram para ela e esperou que o barril de carvalho fosse preenchido com sangue.
As crianças a observavam com curiosidade e fascínio.
Os três grandes barris de carvalho logo estavam cheios de sangue.
Quando estavam prontos, Agnes estendeu a mão novamente.
Os aldeões a observaram, com os olhos muito abertos, como se não quisessem perder esse momento.
Era raro ver magia pessoalmente.
Ao fechar os olhos, uma luz azul emanou da ponta de seus dedos e começou a purificar a água.
Todos os olhos estavam encantados com ela.
A partir desse dia, pelo menos aos olhos dos aldeões, ela era um anjo.
Quando terminou o feitiço de purificação, eles receberam água limpa.
As pessoas que estavam sedentas há dois dias faziam fila para beber.
— Você está bem?
Kylo perguntou enquanto se aproximava de Agnes.
Ela aproveitou para apoiar-se em seus braços, fingindo estar tonta novamente.
Mas…
— Hein…?
Desta vez, era real.
Ela desmaiou imediatamente, sentindo a cabeça girar.
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