Capítulo 32
Era uma completa ilusão pensar que seria mais fácil suportar do que carregar.
Isso foi pior.
A princesa Agnes rodeou o pescoço dele com os braços em uma tentativa desesperada de estrangulá-lo.
Na verdade, não era um estrangulamento, claro, mas estava irritantemente apertada.
Ele sentiu um suave sopro em sua nuca.
Antes, tinha suado frio no espaço… e ficou nervoso com a ideia de que o desagradável odor de seu suor chegasse até a princesa.
Mas o que mais o preocupava era…
A maciez de seu corpo em suas costas o fez questionar se pertenciam à mesma pessoa.
A sensação indescritível o fez desejar desfazer-se em pó e desaparecer.
Então, caminhou e caminhou e caminhou, desenhando em sua mente os rostos dos humanos que odiava.
Preferiria que surgisse um monstro para descarregar sua raiva, mas de onde diabos eles se escondem, não iriam aparecer.
Agnes, por outro lado, não tinha ideia de como Kylo se sentia, e sua mente era um campo de flores.
Resistindo à vontade de sacudir as pernas, Agnes piscou.
— Eh? Há uma mina.
Agnes estalou a língua, desapontada, enquanto olhava para a mina aos seus pés.
Por favor, que ela pise nela.
Rezou fervorosamente, mas foi em vão.
Kylo parecia estar caminhando em linha reta, evitando as minas como se fossem a peste.
Chegaram à metade da floresta sem encontrar um único monstro.
Em vez disso, algo mais chamou a atenção deles.
Era um grande rio que nascia no meio da floresta.
Diante do rio, que fluía em um charco de sangue, Kylo a colocou no chão. O choque inundou seus rostos.
O cheiro de sangue na corrente do abrigo era apenas a ponta do iceberg.
Agnes sentiu que ia se afogar com o fedor do sangue em suas narinas. Na floresta, o denso folhagem abafava o cheiro.
— Parece que a contaminação começou por ali.
Kylo apontou para o outro lado do rio.
Não precisavam de um barco para cruzar o rio. A floresta levava até a outra extremidade do rio, e, se retrocedessem o suficiente, poderiam chegar ao outro lado.
Ele estava certo, a contaminação parecia começar lá.
Certamente, a água rio acima estava clara e não estava contaminada.
Kylo duvidava que seria possível purificar tanta água.
A contaminação era tão extensa que seria necessário todos os magos da capital para fazê-lo.
A água não só estava tingida de sangue, mas era tão espessa que poderia ser considerada completamente sangue.
— Teremos que limpar primeiro.
Disse Agnes, de pé atrás dele. Tirou uma varinha de prata de seu uniforme.
Kylo ficou atrás dela enquanto ela purificava, preparado para qualquer possível emboscada de monstros.
— Hmm…
Assim como os pensamentos de Kylo, Agnes decidiu que a purificação poderia ser difícil.
— Eu me pergunto se isso vai funcionar.
Mas ela tinha que tentar.
Talvez, se usasse o poder das pedras mágicas e tentasse várias vezes, poderia fazer funcionar.
Agnes pegou sua varinha e fechou os olhos.
Podia sentir a magia em seu corpo orbitando e viajando através de sua mão até a varinha.
Sentiu um formigamento, como um choque elétrico. Agnes concentrou-se e empurrou a magia de seu interior para a pedra mágica.
O clarão de luz foi instantâneo.
Kylo fechou os olhos e virou a cabeça diante da explosão de luz à sua frente.
Ele chegou a tempo de testemunhar um segundo clarão.
Levou muito tempo para recuperar a visão, juntamente com a imagem posterior da luz.
Kylo ficou de boca aberta.
Certamente, o rio inteiro estava fluindo com sangue carmesim apenas alguns momentos atrás, e, num instante, grande parte dele tinha sido purificado.
A água era tão clara e limpa que podia-se ver através dela. O fedor de sangue que havia picado seu nariz tinha desaparecido sem deixar vestígios.
Agnes não pôde esconder sua surpresa.
— Isso funciona?
Isso… funcionou…?
Diziam que o poder mágico da família imperial era maior do que o dos magos comuns.
No entanto, ela nunca usara a magia corretamente, então não tinha ideia de que suas habilidades eram tão grandes.
Agnes piscou surpresa e virou a cabeça.
Kylo teria visto esse momento? Talvez parecesse legal aos olhos de Kylo?
— É incrível…
Murmurou Kylo atordoado, como alguém que acabara de testemunhar algo surpreendente.
E Agnes o olhava hipnotizada.
Uma imagem posterior do turbilhão de luz ao seu redor brilhava em seus olhos.
Seus olhos, azul-celeste, brilhavam com a luz.
Eram tão bonitos que ela não conseguia desviar o olhar. Os olhos de Kylo a observavam como se fosse uma joia.
Eles estavam perdidos em seu próprio mundo.
— Líder!
Uma voz rouca chamou de algum lugar.
Ela se virou para ver um homem enorme acenando do outro lado do rio. Era Victor Craven.
Ao seu lado, uma menina pequena acenava timidamente de volta.
— Mas o que aconteceu com vocês?
Agnes se perguntou se todo o sangue que ela tinha purificado tinha ido parar neles.
Victor e Anna estavam literalmente cobertos de sangue.
Ele poderia jurar que tinham estado entrando e saindo do rio que se transformara em sangue.
— … talvez devêssemos ir lá primeiro, Líder? Parece que eles estão em um estado muito ruim…
— … sim.
As palavras de Agnes trouxeram Kylo de volta à realidade, e ele a encarou fixamente.
Vacilante, ela se colocou às suas costas, indicando que queria que a carregasse de novo.
Dessa vez, sem reclamar, Kylo a levantou.
Deveria estar ficando cansado depois de todos os milagres que ela tinha feito.
Se fosse desmaiar como ontem, era melhor estar preparado.
Os dois percorreram as bordas da floresta até chegarem ao outro lado do rio.
Foram recebidos por Victor e Anna, que pareciam como se tivessem acabado de sair de um Kid’s Café.
— Os monstros saíram como batatas. Foi uma caçada divertida.
Essa foi a versão de Victor do Kid’s Café.
— Foi incrível! Nunca aproveitei tanto uma caçada, tão completamente… nem mesmo no campo de batalha, é algo muito estranho…!
Descreveu Anna.
Agnes ouviu as duas horríveis críticas com uma expressão rígida.
E assim que terminaram, ela os purificou. Seus corpos manchados de sangue estavam limpos e frescos.
— Vão, obrigado. Senhorita Curandeira.
— Uau. Magia de purificação em sua máxima expressão.
E graças a Anna, ela pôde entender por que o rio estava tão ensanguentado.
— Os… monstros sobreviventes… juntaram os… cadáveres dos monstros… e fizeram um ritual… onde o sangue se acumulou… e…
Os monstros sobreviventes haviam reunido os cadáveres dos monstros mortos no campo de batalha e realizado um ritual de ressurreição.
No processo, o interminável fluxo de sangue se misturou com a água do rio, causando sua contaminação.
Os monstros se reuniram em um único local para realizar o ritual.
Isso explicava por que a floresta por onde Kylo e ele viajaram estava desprovida de monstros.
— Bom trabalho.
Diante das palavras de Kylo, os dois jovens sorriram ironicamente.
Os quatro vasculharam cada canto da aldeia até altas horas da madrugada, completando várias inspeções.
A busca foi minuciosa, já que as pessoas da aldeia precisavam voltar e viver suas vidas como antes.
Agnes pôde perceber que os Cavaleiros, cuja reputação estava no chão, estavam passando por momentos difíceis.
“Raymond Spencer, eles podem fazer seu trabalho do conforto da capital, e toda a fama e fortuna são para eles.”
Agnes entendia perfeitamente por que os Cavaleiros Negros odiavam os Cavaleiros Brancos.
De qualquer forma, no decorrer da busca minuciosa, eles recolheram várias minas que haviam caído na floresta.
Agnes conseguiu enfiar uma no bolso enquanto os três conversavam.
“Voltarei com Kylo mais tarde.”
Espero que possam ficar trancados com um relacionamento melhor do que o atual.
Teriam meia hora para fazer coisinhas.
Deveria ter roubado dez minas.
Com um toque de arrependimento, Agnes deu uma olhada furtiva, procurando uma oportunidade para roubar mais minas.
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