Capítulo 41
A Condessa Gray pediu desculpas.
— Eu disse à Sra. Ross que faria os arranjos para ela me acompanhar em breve…
A Sra. Ross era a única dama próxima da Condessa.
Ela também era a esposa de um nobre da corte sem terras, mas era mais sociável que a Condessa Gray.
O rosto do Visconde Gray corou.
— Como quiser…! Faça direito, faça direito, faça direito, o que ganho com meus esforços nesta casa!
O Visconde Gray sentiu-se repentinamente irritado, como de costume.
A mesa silenciou diante do repentino surto.
Os filhos do Visconde olhavam com olhares desaprovadores, mas ninguém falou.
Kylo observou a cena com tranquilidade.
A irritação desnecessária do Visconde Gray esfriou e ele suspirou.
Tossiu envergonhado e mudou de assunto.
— Aliás, ouvi dizer que a princesa mudou… que se tornou muito gentil, ao contrário de antes, de acordo com os nobres que vi.
— … e mesmo?
A expressão do Visconde Gray se enrugou novamente diante da pergunta da Condessa.
— Sim! Foi o Visconde Midleton quem disse! Sua esposa, que estava no chá, contou! Achei justo que você soubesse antes de mim!
— …
A Condessa revirou os olhos quando seu marido mais uma vez perdeu o controle repentinamente.
O Visconde continuou, soando irritado para dizer o mínimo.
— Que diabos, tenho que correr para cima e para baixo pelos corredores porque você não consegue conquistar o coração das damas? Estou fazendo tudo o que se espera de mim, e o que diabos você está fazendo bem? Eduque seus filhos como deve ser e deixe sua família te ajudar!
— …
— Olhe todas as joias que tenho te dado para você presentear as damas da nobreza, e todos esses presentes caros e você nem consegue um convite para um chá!
Gritou o Visconde, batendo com o punho na mesa.
O rosto da Condessa corou de vergonha.
— Não importa como eu olhe para isso, não consigo acreditar que estou passando por essa vergonha na frente desse bastardo…!
Além disso, embora seu marido tivesse dito que era um presente caro, as joias que ele lhe havia dado para subornar as nobres eram todas pequenas e insignificantes.
Era impossível que joias tão insignificantes chamassem a atenção de uma dama distinta.
A Condessa tinha muito o que dizer, mas ficou em silêncio.
Tudo isso era culpa de Kylo, aquele maldito bastardo.
A Condessa olhou para Kylo como se quisesse esmagá-lo, como se toda essa desgraça fosse culpa dele.
Quando seus olhares se encontraram, Kylo bebeu tranquilamente um gole de água.
A Condessa relutava em beber um gole de água nesta casa, muito menos em ter esse bastardo imundo aqui.
Quando Kylo era mais jovem, a Condessa o havia trancado em um estreito armazém por vários dias.
A razão era que ele não chamava seus filhos de senhores e puxava o cabelo deles.
A Condessa o manteve no escuro, sem comida nem água para beber.
Sua mãe, a criada, era uma mãe sem coração. Não se importava se seu filho morresse de fome.
Ao contrário dela, não tinha sentimentos maternais.
Um filho ilegítimo nascido de uma mãe assim, que nojo.
Quando ela abriu a porta do armazém depois de alguns dias, o jovem Kylo chorava e suplicava baixinho.
— Senhora, fiz errado… perdão…
Enquanto o menino suplicava desesperadamente por água, a Condessa mandou que seus servos jogassem água suja sobre seu corpo.
Aquele menino fraco, sujo, rato e ilegítimo estava agora sentado diante dela.
Tomando um gole de água de um copo limpo, Kylo a encarou.
— …
Seus olhos azuis, ao contrário dos turvos de seu marido, eram como lâminas afiadas.
Por um momento, ela estremeceu com a ideia de que ele seria chamado de assassino no campo de batalha, mas a Condessa não desviou o olhar do bastardo.
Foi o Visconde Gray quem quebrou a tensa atmosfera, acalmando sua própria raiva.
— De qualquer forma, agora que ele se acalmou, esta é nossa oportunidade. Benjamin. Bradley. Não me desapontem desta vez. Vocês terão a chance de cumprimentá-la naturalmente, então sejam cavalheiros.
— Sim, pai.
— Sim.
— E prestem mais atenção à sua aparência e forma de se vestir!
— … sim, querida.
Com isso, o jantar acabou, e sem hesitar, Kylo saiu da mansão e se dirigiu ao palácio imperial.
Enquanto cavalgava de volta para seus aposentos, a imagem da Condessa olhando para ele com ódio ficou gravada em sua mente.
A Condessa o atormentara desde que ele era muito jovem.
Fingia ser generosa na presença do Visconde Gray, mas quando ele não estava, o castigava com crueldade.
O alimentava com comida que os criados jogavam para o gado, o batia até ele sangrar e o degradava completamente para que nunca ousasse ocupar o lugar entre seus filhos.
Graças a ela, ao Kylo atual não restava orgulho para esmagar.
Ele estava disposto a se curvar pelo sucesso a qualquer momento.
Era algo que ele aprendera desde muito jovem.
Kylo finalmente se deitou na cama de sua cabine, como esperado, mas não dormiu facilmente.
Era estranho estar tão cansado e pesado e não conseguir dormir.
Uma coisa rondava sua mente.
As palavras do Visconde Gray antes.
— Aliás, ouvi dizer que a princesa mudou… que se tornou muito gentil, ao contrário de antes, de acordo com os nobres que viam.
Algo estranho havia acontecido durante sua ausência da capital.
A palavra “gentil” e a princesa Agnes eram duas combinações improváveis do mundo.
Kylo riu internamente do rumor.
Era impossível que a mulher fosse amável.
Claro, ela estava um pouco mais moderada do que antes, mas… moderada?
Na verdade, Kylo não entendia muito bem essa palavra.
Nunca conheceu alguém em sua vida que fosse amável com ele, e ele também não tinha sido amável com ninguém.
Forçando-se a fechar os olhos, imaginou seus irmãos, a quem odiava tanto, lado a lado com a princesa Agnes.
O Visconde Gray queria emparelhá-la com Bradley ou Benjamin.
Em sua mente, eles eram completamente inadequados.
Lady Agnes, por mais suja que fosse, não estava em posição de se associar com esses homens.
Ela era astuta.
Conhecia muito bem sua beleza e posição.
Por isso escolheu Raymond Spencer.
Ele não precisava imaginar os dois juntos, Raymond Spencer e a princesa Agnes.
Seriam um par feito no céu, tal como retratado pelo famoso pintor.
Família real, nobre e virtuosa por nascimento.
Raymond Spencer, que, ao contrário de um filho ilegítimo, era perfeito em todos os sentidos…
Kylo uma vez olhara de cima para a nobreza.
Ele havia feito um nome como mercenário antes de se juntar aos Cavaleiros Negros.
Todos pareciam tão fracos.
Era patético para ele que homens mais fracos que ele pudessem ser cavaleiros e empunhar espadas.
Mas Raymond Spencer era diferente.
Raymond Spencer era um homem para quem o termo “senhor de uma casa nobre” era apropriado.
Havia uma nobreza nele que irradiava de seu próprio ser que Kylo nunca poderia igualar.
O simples contato visual o fazia sentir-se derrotado e inferior, e o halo que ele emitia o fazia sentir-se ainda mais humilde.
Sentia-se como um miserável verme na presença de Raymond.
A razão pela qual ele se sentia tão miserável era simples de precisar.
O olhar em seus olhos.
A forma como o olhava como se estivesse olhando algo feio.
Não era como o olhar desdenhoso da princesa Agnes.
Os olhos de Raymond desprezavam a própria existência de Kylo, sua pessoa. Era como olhar para um criminoso feio, uma imundície que manchava tudo o que era limpo.
No geral, Raymond Spencer era amável com todos ao seu redor, mas Kylo era o único a quem ele sentia tanto desprezo.
Não era apenas isso, é claro.
Quando lutava contra demônios no campo de batalha, Raymond Spencer os olhava da mesma forma que olhava para Kylo.
Isso significava que Raymond Spencer o via como um ser humano no mesmo nível dos demônios.
Então, quando estava diante de Raymond, ele se sentia feio além de seu corpo, feio em sua alma.
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