Capítulo 76
Mas, por que nossa princesa…?
Por que ela se esforça tanto para aparentar quando está com Kylo Gray? Por que finge ser adorável enquanto mexe os cílios na frente dele…?
Por que tira uma soneca no colo de um homem tão perigoso, tão indefesa? Por que diabos se contorce e sorri timidamente na frente de Kylo Gray?
— Isso é estranho…
— Você tem certeza de que os médicos estão fazendo uma inspeção adequada?
Sussurraram as criadas, olhando para Agnes.
Depois do picnic com Kylo Gray.
A princesa Agnes estava cantarolando e lendo.
Felizmente, não parecia que Kylo Gray tivesse feito nada desrespeitoso à princesa.
Mesmo assim, as duas estavam nervosas.
Finalmente, a menos nervosa das duas, Chloe, se aproximou cautelosamente do lado da princesa e perguntou.
— Minha Senhora, como foi sua conversa com o Lorde Gray?
— Foi confortável sua soneca? Sente algum desconforto na garganta?
Agnes a olhou e então para as criadas que se aproximavam.
“Hmph…”
Nos círculos sociais, corriam rumores sobre a princesa.
Que ela tinha ficado tão traumatizada por Raymond que perdeu toda memória dele. Depois de hoje, mais um rumor seria adicionado à lista.
Rumores de que a princesa Agnes convidaria Kylo Gray todos os dias.
Aproveitaria a oportunidade para aumentar a reputação de seu favorito. Agnes sorriu, com os cantos dos lábios crispados.
— Há algo que eu não disse…
— O que?
— O quê?
Mais uma vez, ela estabeleceu as bases, e seus olhos se iluminaram de curiosidade.
— Bem, não é a primeira vez que o Lorde Gray me salvou a vida em uma missão…
Com isso, Agnes se afastou.
Segundo suas histórias, Kylo Gray era o maior herói do mundo, um homem cavalheiresco e justo.
Era uma narrativa estreita e centrada em realizações, mas para Agnes não importava. Ela o elogiava como se ele fosse um artista.
— Meu Deus, ele é tão corajoso…
— Devemos tê-lo mal interpretado…
As mulheres de ouvidos atentos não demoraram a se envolver na história de Agnes.
Agora, a partir de amanhã, o círculo social da capital saberia o quão maravilhoso Kylo era.
Isso não significaria que haveria algumas jovens que naturalmente se apaixonariam por ele?
Isso me agrada.
Por mais que gostasse de ter o monopólio de seu favorito, não queria ser uma tola de visão estreita.
Mais companheiras Otakus sempre eram bem-vindas.
Kylo viveria neste mundo pelo resto de sua vida, não morreria como na novela. Melhorar sua reputação, então, era a última tarefa de Agnes.
— E assim — disse Agnes pela última vez para suas atônitas criadas. — Então eu quero que ele seja tratado com justiça a partir de agora.
Isso era tudo o que ela queria.
Que todo mundo soubesse o quão maravilhoso era seu favorito.
Que ele se sentisse um pouco menos inferior por não ter sido reconhecido por ninguém em sua vida.
Que pudesse olhar para o mundo com um pouco mais de compaixão.
Isso espero sinceramente.
Pouco depois de se encontrar com Kylo no palácio da princesa.
Raymond foi direto para seu escritório.
Ele não podia mais ficar lá.
Quando lhe disseram que ele estava lá, Agnes se recusou a encontrá-lo.
Então apareceu Kylo Gray.
Ele não conseguia acreditar que Agnes se recusara a encontrá-lo, mas que Kylo Gray o chamara diretamente.
Raymond ainda podia ver a imagem do corpo sem vida de Agnes quando fechava os olhos.
Ele se sentou novamente em sua cadeira, sentindo-se terrivelmente tonto.
Durante a última noite, Raymond não conseguira dormir, se perguntando se Agnes havia morrido novamente.
Os médicos diziam que ela estava saudável.
Não importava quantas vezes a examinassem, os resultados seriam os mesmos.
Não havia nada de errado com Agnes exceto sua memória.
Sim, exceto sua memória.
— …
Raymond estivera nervoso o tempo todo de que Agnes morresse novamente.
Demorou para perceber o que acontecera.
Agnes perdera a memória.
Apenas sua memória com ele, para ser preciso.
O médico disse que era raro, mas possível. Em alguns pacientes, as lembranças dolorosas podem ser apagadas de suas mentes.
Na vida de Agnes, ele fora a dor. Reconhecer esse fato o fez rir com desprezo.
Sim, deve ter sido bastante doloroso.
Ele sabia melhor do que ninguém o quanto gostava de Agnes.
E ele sempre a havia rejeitado friamente. Às vezes até se cansava de ser tão frio.
Mas nunca mais olhou para ela.
Era porque a odiava.
Não havia desculpas.
Arrepender-se agora não mudaria o que acontecera.
Mas…
Raymond estava estranhamente nervoso.
Insuportavelmente ansioso.
Não conseguia fazer nada, como um homem que perdeu algo muito precioso.
Como Agnes poderia esquecê-lo, muito menos qualquer outra pessoa?
Desde criança, ela esteve obcecada por ele até o ponto do fastio.
Toda a sua vida ela ansiou e cobiçou o seu afeto.
Mas, como poderia esquecer de si mesma, quanto mais de outra pessoa?
Finalmente, finalmente, ele decidiu pedir desculpas…
Todas as suas resoluções foram em vão.
Suas desculpas já não significavam nada para ela.
Ela não se lembraria de nada sobre ele.
— Hmph…
Estava difícil respirar.
Sua visão estava embaçada e ele estava se afogando, como quando viu Agnes morrer.
Foi então.
A porta de seu escritório se abriu de repente e era o príncipe Damian.
— Raymond!
Os olhos de Damian se arregalaram de alarme ao vê-lo hiperventilando e sem fôlego.
— Maldição… Ei, tragam um médico da corte, agora!
Os criados que vieram com Damian se levantaram.
A visão de Raymond piscou enquanto ele desmaiava.
Em sua visão embaçada, ele viu uma visão de Agnes.
— Não, não é Raymond.
— Mas, princesa…
— Eu não quero, Raymond, você prometeu que seria meu par!
Gritou Agnes, aos dezesseis anos, com uma voz cheia de malícia.
Vestida com um vestido colorido e muito maquiada, ela parecia muito mais madura do que sua idade.
Raymond a olhou sem emoção e suspirou cansado.
— Já respondi — disse — não posso acompanhar a princesa, pois devo estar como par de outra dama.
— Por que não, então com quem vou entrar, você prometeu e agora está voltando atrás?
A voz estridente perfurou seus ouvidos irritados. Raymond não se lembrava de ter feito uma promessa a ela.
E mesmo que tivesse, qual era o sentido, se ela não se lembrava?
— Não me lembro.
— … quem é? Com quem você vai ser par?
Quando sua resposta foi fria, a princesa Agnes mudou de alvo.
Não fazia sentido continuar com raiva dele, então ela iria punir a dama em seu lugar.
Ele estava farto de tudo isso.
Raymond engasgou com a ideia de ser arrastado por ela pelo resto de sua vida.
Por que ela nem estava doente?
Ele sentiria pena dela se ela estivesse fisicamente fraca.
— Por que, se eu te disser quem é, você vai intimidá-la de alguma maneira infantil novamente?
— Não, não vou, só…
— Até quando você vai ser tão obstinada quanto uma criança, se continuar agindo assim, ninguém ficará ao seu lado.
— … eu, só preciso de Raymond. Não preciso de mais ninguém.
— Eu irei embora do seu lado antes de qualquer um.
— … eu, eu não vou te deixar ir.
Agnes falou com uma voz decidida, como se não tivesse intenção de perder.
Uma atitude arrogante, como se pudesse ter tudo o que quisesse.
Raymond a odiava ao ponto de tremer.
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