Capítulo 78
— Que diabos?
Foi um momento que para um parecia uma cena de conto de fadas e para outro um filme de terror.
No instante em que fez contato visual com Raymond e o viu sorrir.
Agnes fechou a janela de repente.
Bam!
“Oh, está quente, ia dormir com a janela aberta…”
Uma sensação arrepiante percorreu sua espinha como se ela não tivesse sentido o calor antes.
Arrepiante… Quem é esse cara sinistro e por que está olhando para os quartos dos outros à noite?
Agnes não entendia.
Ele não é um perseguidor, é?
Lembrou-se da vez em que Raymond a chamou de assustadora e se sentiu ainda mais ressentida. Claro, a reação poderia ter sido diferente dependendo da outra pessoa.
Se fosse Kylo espiando sua janela lá embaixo, Agnes teria pulado pela janela do segundo andar sem hesitar e teria aterrissado com estilo.
E teria desfrutado de um encontro à luz da lua.
Mas era Raymond Spencer.
Ele é louco?
Era a única coisa que ela conseguia pensar.
Agnes fechou meticulosamente as cortinas e voltou para a cama para dormir.
Passaram-se muitos dias desde então.
Kylo entrava e saía do palácio todos os dias, como prometera.
A desculpa permitiu que ele dispensasse o servo do visconde Gray, que o visitava diariamente. Ele dizia estar ocupado, mas na realidade, tinha pouco a fazer.
Tudo o que tinha que fazer era fazer companhia à princesa Agnes e levá-la para passear.
Não era um trabalho difícil.
Ainda assim, todos os dias, Kylo sentia um peso sobre seus ombros. Preferia fugir da capital em uma missão.
Tudo por causa da princesa Agnes, que era um sopro de ar fresco para ele.
Os médicos diziam que não havia nada de errado com ela.
Mas para Kylo, ela estava claramente louca.
Claro, poderiam ser as sequelas do acidente. Provavelmente melhoraria com o tempo.
O problema era… que ele estava muito agitado pelo estranho comportamento da princesa.
Cada vez que ela sorria para ele, cada vez que dizia uma palavra amável.
Sua mente agitava-se como um veleiro em uma tempestade, com ondas agitadas e mares tempestuosos.
Kylo perdia o sono todas as noites.
Sentia-se patético por se deixar levar tanto. Mas qualquer um que estivesse em seu lugar entenderia.
Encarar o sorriso de uma donzela tão gentil quanto uma pétala de flor flutuando era deixar-se embalar por qualquer um.
Isso não quer dizer que ele tivesse essa atitude com todo mundo.
Ele sorria para suas servas e criadas, mas tinha um carinho especial por ele. Isso não podia ser confundido, e por isso Kylo não o entendia.
Era Raymond quem Agnes havia apagado de sua memória.
Isso significava que ela ainda se lembrava de odiá-lo, então por que de repente estava sendo tão doce?
O que aconteceu ontem o confundiu ainda mais.
Estavam dando um passeio quando se sentaram um ao lado do outro em um banco próximo. Kylo estava sentado, rígido e nervoso.
Estava nervoso e congelado em seu lugar porque a princesa Agnes estava sentada ao seu lado, com o braço em volta dele.
Estava esperando o tempo passar.
De repente, seu dedo roçou sua bochecha.
Ele virou a cabeça, assustado, e encontrou seus olhos malva. A princesa entornou os olhos em meia-lua e sorriu, mostrando-lhe as pétalas que tinha na mão.
— As pétalas estão na sua bochecha.
— … Obrigado.
— Você sabe? As flores combinam muito bem com você.
— …?
Ele não entendeu o contexto.
Por um momento, questionou suas palavras. A árvore florida acima de suas cabeças balançava com uma brisa quente.
Algumas pétalas caíram sobre as bochechas, os ombros e as costas das mãos de Kylo.
A princesa Agnes soltou uma gargalhada.
Ele não entendeu por que ela estava tão feliz.
Ele não se sentiu mal.
Porque não era uma risada zombeteira, era uma risada pura e limpa.
Sentiu como se seus ouvidos fossem purificados com o som de sua risada. Ele se perguntou se era porque ela estava rindo dele.
Agora ele havia chegado ao ponto de ter a ilusão de que não podia contar a ninguém.
Às vezes, ele achava que parecia…
“É ridículo, mas…”
Sim, ele sabe melhor do que ninguém que é uma tolice…
Mas em momentos como esses.
Era como se fosse ele quem ela gostava.
“Se outros ouvissem isso, diriam que ele perdeu a cabeça.”
Claro que diriam.
Faz sentido a princesa Agnes, ninguém mais, se apaixonar por um homem que ela desprezou?
Mas se não fizesse sentido, toda a situação não teria sentido.
Os rumores sobre ele circulavam nos círculos sociais há algum tempo.
Diziam que, após salvar várias vezes a vida da princesa, ela confiava profundamente nele como cavaleiro…
Rumores se espalharam sobre ele como se fossem verdadeiros, até mesmo anedotas que não eram.
Como resultado, os nobres que encontrava pelo castelo começaram a cumprimentá-lo cordialmente.
Isso era tudo o que precisava.
Até nobres que nunca havia visto antes começaram a lançar olhares favoráveis para ele.
Tudo começou com a princesa Agnes.
Talvez ele quem tivesse enlouquecido. Então essa ilusão é impossível.
Parece que a princesa Agnes gosta dele… Ele não conseguia entender o que ela estava fazendo. Ele se perguntava se ela estava tentando humilhá-lo, colocando-o deliberadamente em uma falsa sensação de segurança.
Mas ele não podia fazer nada, mesmo que ela estivesse lhe pregando uma cruel peça.
Cada vez que olhava nos olhos dela e a via sorrir, seu coração parecia parar. Naquele momento, não importava o que ela estivesse tramando.
Era um sorriso tão poderoso que ele poderia perdoá-la mesmo se ela o estivesse usando para levá-lo a um fim ruim.
Ele se sentiu o maior tolo do mundo.
As coisas estavam ficando sérias.
Esta manhã, ele até tinha sido convocado pelo Imperador.
Ele foi convocado para uma audiência privada, onde apenas seus colaboradores mais próximos eram permitidos, e foi perguntado secamente.
— Sim, ouvi dizer que todos os dias a princesa Agnes envia alguém para te buscar.
— … Sim, Majestade.
— Na sua opinião, qual é o estado da princesa Agnes? Os médicos dizem que não há nada de errado com ela.
— Parece que ela está em excelente saúde.
— … Não só fisicamente, mas mentalmente também?
— … Sim. Não há nada questionável, exceto que ela está mais gentil do que antes.
O Imperador Alexander olhou para Kylo com estranheza.
Seu olhar parecia atravessá-lo, e ele não conseguia respirar facilmente.
O olhar do Imperador era experiente, mas havia um traço de suspeita nele, uma dúvida sobre sua relação com Agnes.
— Estou preocupado que Agnes esteja te incomodando, e tenho ouvido coisas boas sobre você… Em primeiro lugar, agradeço por tê-la salvado tantas vezes.
— Só estava fazendo o que precisava ser feito.
— Mesmo assim, não posso ignorar isso. Vou te recompensar mais cedo ou mais tarde.
— É um prazer, Sua Majestade.
— A propósito… estou me perguntando se há algum outro rumor circulando, porque não gosto da ideia de Agnes estar envolvida em um escândalo.
Ele reconheceu imediatamente as palavras veladas.
Ela estava dizendo que não toleraria nenhum escândalo entre ele e a princesa.
— Não vai acontecer. Ninguém vai espalhar tais rumores sobre a princesa.
— E, no entanto ela parece confiar profundamente em você, não é?
— Ela confia pouco, Majestade, mas tenho certeza de que não há com o que se preocupar.
— Bem, se você diz assim, acreditarei em você.
Kylo havia demonstrado sua inocência com uma negação veemente, mas…
Talvez o Imperador tivesse percebido.
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