Capítulo 92
Quando Agnes se levantou e se lavou, disse às suas criadas:
— Hoje vou passar o dia todo no meu quarto lendo, então não me perturbem.
As criadas entenderam imediatamente o que ela queria dizer.
Ela não queria encontrar Raymond Spencer.
Assim a princesa agia nos fins de semana.
As criadas saíram dos aposentos da princesa e anunciaram aos criados que esperavam.
— A princesa estará lendo hoje em seus aposentos, então, por favor, não a perturbem.
O mordomo assentiu em sinal de compreensão.
Emma e Lois entraram no quarto e viram Raymond Spencer de pé na porta.
Emma sentiu uma pontada de pena… mas as criadas não podiam fazer nada a respeito.
Fiel à sua palavra, Agnes não deu um passo fora de seus aposentos naquele dia.
Mas no dia seguinte, ela não pôde evitar.
Damian tinha vindo visitá-la.
Quando ela se sentou cara a cara com o visitante na primeira hora da manhã, Agnes estremeceu.
De alguma forma, pensou que sabia por que ele tinha vindo.
“Você está aqui por causa de Raymond.”
Ou talvez não, sugeriu Damian, com um rosto incomumente brilhante.
— Agnes, você gostaria de fazer um piquenique com seu irmão depois de todos esses anos?
— …
Quantos anos ele tinha para pedir um piquenique?
Agnes resistiu ao impulso de dizer isso na cara dele.
Então Damian sorriu e disse.
— Acontece que hoje estou livre, então vim brincar com você como seu irmão mais velho. Você costumava me perseguir para brincar quando era pequena, e agora não quer?
Odiava como Damian soava, mas não se atrevia a recusar.
Agnes olhou pela janela e se desculpou.
— … o tempo não está muito bom, não é?
Realmente, estava nublado. Não era um dia adequado para um piquenique com todas aquelas nuvens escuras.
— Então devemos ir mais longe. Não adianta ficar em seu quarto porque está nublado. Se prepare. Vamos.
Diante de sua insistência, Agnes não pôde deixar de se levantar de um salto.
Seria ruim para sua reputação se soubessem que o ignorou depois de tudo que Damian tinha feito.
Além disso, não faria bem algum ser pego discriminando abertamente Raymond e Kylo.
Os seguidores de Raymond não tolerariam.
Seria melhor usar a desculpa de hoje para descartar os rumores.
Então, com a ajuda de suas criadas, Agnes trocou de roupa e saiu pela porta pela primeira vez em um dia.
Raymond Spencer, que permanecia impassível no batente da porta, inclinou a cabeça para ela.
Vestido com o mesmo uniforme que Kylo, era tão bonito quanto uma estátua bem moldada.
Mas era uma beleza que agora não fazia nada por Agnes.
— Venha, vamos.
Disse Damian, que, como Raymond, a estava esperando.
Seus servos carregavam sacolas de piquenique como se estivessem indo para um piquenique de verdade.
Agnes os seguiu relutantemente.
Mas quando viu a carruagem esperando do lado de fora do prédio, sua expressão se enrubesceu.
— Vamos de carruagem?
Ela achava que iria apenas para os Jardins Imperiais…
Damian a encorajou rapidamente, sabendo que ela diria não.
— Suba, não é longe.
— …
Agnes subiu na carruagem e lançou um olhar descontente.
Mas seu rosto ficou ainda mais sombrio quando Raymond subiu na carruagem em seguida.
Damian observou a porta da carruagem se fechar e depois se virou para a carruagem ao lado com uma expressão alegre.
Agnes deliberadamente manteve o olhar longe da janela, tentando não ver Raymond sentado na frente dela.
— …
Raymond, por outro lado, a observava intensamente.
Era a primeira vez que ele se sentava tão perto dela desde o acidente.
No passado, ela havia invadido seu espaço de maneira rude e sem permissão.
Pulava e o cercava com o braço, sussurrava em seu ouvido ou insistia em caminhar ao seu lado.
Era tudo muito irritante, mas ele já estava acostumado…
Era uma sensação estranha ver Agnes sentada tão longe dele.
Uma Agnes que não lembrava dele.
A Agnes que sentia um estranho interesse por Kylo Gray.
Todos esses eram adjetivos difíceis de associar com Agnes.
E agora parecia não gostar dele.
Como se seu eu do passado o odiasse.
— …
Na atitude fria de Agnes, que evitava deliberadamente o contato visual, reconheceu seu antigo eu.
O coração lhe apertou no peito.
Ele se perguntou se Agnes se sentia assim naquela época.
Era isso que se sentia ao ser ignorado e rejeitado?
Uma sensação estranha de nervosismo o invadiu.
Era uma sensação que vinha tendo nos últimos dias.
Ele se sentiu incomumente nervoso enquanto lhe contavam onde Agnes estava e o que estava fazendo com Kylo Gray.
Odiava quando ela o incomodava, mas agora sentia que enlouqueceria se não a visse.
Sentindo a garganta queimar, ele engoliu em seco e olhou nos olhos de Agnes.
Seu olhar não estava nele, mas em coisas sem sentido fora da janela.
O impulso de agarrar seu rosto e manter seu olhar fixo nele era avassalador.
— Princesa.
— …
Ele a chamou nervoso, e ela levantou os olhos para ele relutantemente.
No momento em que seus olhos se encontraram, Raymond sentiu um arrepio percorrer sua espinha.
Finalmente, seu olhar estava sobre ele.
Mas seus olhos malva não continham nenhuma emoção.
Nem verdadeiro desejo, anseio ou amor. Nenhuma dessas emoções desordenadas estava lá.
Isso lhe deu uma estranha sensação de medo.
— Fale quando eu ordenar, Lorde Spencer. — disse Agnes com frieza.
Raymond olhou para ela surpreso e depois abriu a boca.
— O que você estava lendo ontem?
— … preciso relatar isso?
— Estava curioso, é só isso.
— Isso soa como uma pergunta pessoal.
— Como futuro prometido, é uma pergunta normal.
— Futuro prometido?
Agnes perguntou com incredulidade.
Como se lhe contassem uma mentira, Agnes voltou a olhar pela janela sem responder.
Raymond estava furioso.
Futuro prometido, essa era sua palavra favorita.
Aquela que sempre o obrigava a usar…
Quando ela trazia o assunto, ele a afastava com repugnância.
Mas, por quê?
Por que, ele tinha tanto desejo de ouvir a palavra prometido de sua boca.
Por que agora estava…?
Raymond apertou os punhos com firmeza.
Não podia ficar com raiva de Agnes por não se lembrar dele.
De qualquer forma, não havia nada que pudesse dizer a ela.
Porque agora…
As palavras se transformariam em flechas e voltariam para ele.
Eles chegaram a uma grande floresta nos arredores da capital.
Havia um grande lago próximo, era um lugar onde os nobres costumavam fazer piqueniques.
No entanto, a carruagem não parou perto do lago, mas em frente a um pequeno lago próximo.
Ao descerem da carruagem, Agnes reconheceu aquele lugar. Era um local onde costumava brincar com Raymond quando criança.
Ela suspirou e olhou ao redor.
O céu estava nublado e o vento soprava forte, como se prenunciando chuva.
— Agnes, venha aqui! — chamou Damian, que havia chegado primeiro.
Em frente ao lago havia uma grande toalha de mesa e Damian estava sentado sobre ela.
Agnes observou a sobremesa que estava disposta com elegância e soltou um pequeno suspiro.
Ela não podia acreditar que estavam fazendo um piquenique.
A área ao redor deles estava deserta. Era improvável que mais alguém viesse fazer piquenique com aquele clima.
Agnes se aconchegou e sentou ao lado de Damian.
— Você se lembra? Costumávamos vir aqui quando éramos crianças.
— … sim.
— Raymond também vinha, não se lembra?
— Não, não me lembro.
Respondeu Agnes com frieza, e Damian franziu a testa.
— Sir Spencer, se aproxime.
Damian ousou sentar Raymond ao lado de Agnes.
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