Capítulo 93
Agnes olhou para Raymond, que voltava a sentar-se ao seu lado, como se fosse um sinal.
Damian sentou-se diante deles, admirando-os como se apreciasse uma pintura.
— Agora que penso nisso, vocês ficam muito bem juntos, ainda mais com seus uniformes de escolta.
— …
Ele se esforçou.
Agnes começava a sentir pena por Damian.
Ele devia ter percebido o desconforto, mas não se abalou.
Depois de um tempo murmurando para si mesmo, ele se levantou de repente.
— Ah, espere. Tenho algo para você… espere um momento.
— …
— …
Os dois ficaram sozinhos no desconfortável piquenique.
Agnes olhou ao redor.
Os serviçais do príncipe herdeiro, que estavam tão próximos momentos antes, estavam distantes.
Ela optou por se distrair para passar o tempo.
Mas voltar sua atenção para o lago foi uma decisão equivocada.
Ela ouviu a voz grave de Raymond.
— Quando era mais jovem, a princesa gostava muito deste lugar.
— …
Agnes virou a cabeça para olhar para Raymond. Ele olhou para o lago e depois de volta para Agnes.
— Era por causa do rumor de que a Fada dos Sapos aparecia aqui nos dias de chuva.
— … Sim, me lembro.
Agnes não sabia por que Raymond tinha trazido o assunto à tona.
Ainda estava fresco em sua memória.
Como Raymond tinha se tornado frio com ela da noite para o dia.
Claro, não fazia sentido.
Ela não entendia quando era mais jovem, mas talvez Raymond acreditasse que seu fracasso em evitar a morte de sua mãe fosse por causa da promessa que ele tinha feito.
— Colocamos nossos impermeáveis e esperamos perto do lago por muito tempo, até a Fada dos Sapos aparecer.
— …
— Mas a Fada dos Sapos não apareceu, e em vez disso, brincamos na chuva.
Agnes não respondeu.
Ela se lembrou de como ria enquanto corria sob a chuva.
Os serviçais os perseguiam, temendo que pegassem um resfriado, e Agnes e Raymond aproveitavam o momento como se estivessem brincando de pega-pega.
— E naquele dia…
Raymond estava prestes a continuar.
Agnes o interrompeu.
— Realmente precisamos ouvir o resto da história?
Seu estômago revirou.
A expressão de Raymond começou a se desfazer enquanto Agnes soava desconfortável.
— … Acho que não, está muito frio, vou voltar para a carruagem.
Agnes se levantou e se dirigiu à carruagem.
Raymond, que ficou sozinho, ficou paralisado, incapaz de se mover.
Um estranho sentimento o invadiu.
Um momento atrás, Agnes parecia ter percebido o que ele ia dizer.
Ele se perguntou se ela teria percebido que ele estava prestes a trazer à tona a história de sua mãe.
Não era um pensamento absurdo.
Um momento atrás, ela claramente…
Ele arrepiou-se.
O que se seguiu foi uma epifania.
“Agnes está mentindo.”
Ela estava mentindo ao dizer que não se lembrava.
“Estranho”, ele pensou.
Mas por quê? Há alguma razão para isso?
Agnes não tinha nenhum motivo para fingir que tinha esquecido dele.
Seu coração batia forte e sua garganta se apertava como se estivesse se afogando.
Talvez…
No passado, ele tinha descartado seus sentimentos como mera obsessão e possessividade.
Mas Agnes tinha chamado isso de amor.
Agora ele entendia.
Entendia que Agnes o amava com todo o seu coração…
A face de Raymond se contorceu.
Ele entendeu por que Agnes o tinha rejeitado, até mesmo mentindo sobre sua perda de memória.
Ela…
Agnes tinha… dado a ele uma chance, uma chance de rejeitá-la implacavelmente, de odiá-la.
Uma chance de escapar sem culpa.
Uma chance de encontrar liberdade.
Uma chance de escolher outra pessoa sem a desculpa de que Agnes tinha perdido a memória.
Os cantos de seus olhos se aqueceram.
Ele não tinha pensado que Agnes iria tão longe.
Tinha pensado que ela aproveitaria a oportunidade e ficaria com ele para sempre…
Quando percebeu que ela fez isso de propósito para que ele se sentisse melhor consigo mesmo, seu estranho estado de espírito desconfortável se acalmou de alguma forma.
Sim, havia uma chance.
Ele precisava recompensar Agnes por se preocupar tanto com ele.
Ele precisava parar de machucá-la.
Ele não podia ser como seu pai, que tinha abandonado sua mãe.
Depois da dor agonizante em seu coração, veio a esperança.
Agnes não o tinha esquecido.
Ela ainda estava apaixonada por ele.
— Você não vai dividir a carruagem com o Sir Spencer? Por que não?
Um momento depois.
Agnes tinha fugido para a carruagem, e Damian a seguiu.
Ela estava cansada e queria chegar em casa rapidamente, então ele concordou, mas estava desconcertado com a recusa dela em compartilhar a carruagem com Raymond.
— O que aconteceu?
— …
— Diga ao seu irmão, Agnes. Vou ouvir.
A testa de Agnes franziu diante das palavras de Damian.
Como… de repente ele tinha se tornado um irmão atencioso?
Agnes sentiu um arrepio percorrer sua espinha.
— Não te disse? O Sir Spencer me dá dor de cabeça e me deixa desconfortável.
— … Sim, mas você parecia bem no caminho, não?
— Não, não estava. Sentia como se minha cabeça fosse explodir.
— … Entendi.
Disse Damian e se ausentou por um momento.
Agnes recostou a cabeça no encosto da cadeira, aliviada por saber que a viagem para casa seria tranquila.
Mas, um momento depois.
Damian entrou na carruagem e ocupou o assento onde Raymond havia se sentado antes.
— O que está acontecendo?
— Pensei em conversar com minha irmã durante o trajeto.
— …
A carruagem começou a se mover.
Agnes olhava pela janela.
Mas Damian insistiu.
— Agnes, tem certeza de que não se lembra de quanto queria se casar com o Raymond?
— …
— Você tinha seus motivos. Raymond Spencer é o melhor homem para o trabalho.
— … Sim, eu sei.
— Bem, você não vê também o Raymond em seus olhos agora? Seu coração não acelera só de olhar para ele?
— …
— Se você disser que quer se casar com Raymond, seu irmão aqui pode resolver tudo.
— …
— Raymond Spencer vai aceitar, é claro. Só estou dizendo para não se deixar influenciar pelos rumores e olhar para ele mais de perto. Combinado?
— Ah…
— Estou te dizendo, Raymond Spencer é o melhor homem para o trabalho, Agnes, e você vai se arrepender se o deixar escapar.
Murmurou Damian rapidamente.
Agnes suspirou.
“Olha… se você gosta tanto assim do Raymond, deveria se casar com ele…”
Na verdade, vocês eram o casal mais popular do gênero… de longe… Personagens conhecidos…
Estavam tão ligados que até ela, que nem se interessava por eles, pensava que era oficial… Então, se quiserem se casar, façam isso…
Agnes engoliu as palavras que não pôde dizer.
Até que chegaram ao palácio, teve que suportar os elogios sobre Raymond até doer os ouvidos.
Damian lamentou o fracasso do piquenique.
Mas no dia seguinte.
A expressão de Raymond quando chegou ao seu lugar parecia de alguma forma um pouco mais relaxada.
Esperava que ele estivesse muito decepcionado com o que aconteceu ontem.
“Alguma coisa boa aconteceu enquanto eu não estava ontem…?”
A expressão de Raymond ainda era séria, mas Damian, que conhecia Raymond melhor que ninguém, percebeu.
Raymond parecia estar de muito bom humor.
“Bem.”
Damian percebeu que precisava de algo de estímulo.
Então, chamou Raymond Spencer.
— Você queria me ver?
— Sim. Não é hoje o dia em que Kylo Gray vai acompanhar a Agnes?
— Sim, é.
Diante da resposta de Raymond, o príncipe esfregou o queixo e refletiu.
— Não pensei que esses dois fossem tão amigos…
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