Capítulo 112: Um Líder de Nível 2 (2/5)
Um mês se passou desde seu retorno a Haramark.
Durante esse tempo, a vida de Seol Jihu podia ser descrita como monótona e, ao mesmo tempo, complicada.
A primeira coisa digna de nota, seu treinamento.
Ele não teve nenhum problema sério durante o regime físico da manhã. Como o prédio da Carpe Diem possuía um bom conjunto de equipamentos de academia, bastava seguir a rotina de treinos com a qual já estava familiarizado.
Mas o verdadeiro problema vinha com o treino da tarde, quando ele passava o tempo todo praticando o uso de mana.
Seol Jihu concordava 100% com a opinião de Kim Hannah de que não fazia sentido subir de nível se não aumentasse seus atributos nem aprendesse uma habilidade. Então, voltou ao templo de Gula para ver quais habilidades poderia aprender com seus pontos de conquista.
Uma delas era a Lança de Mana, que permitia criar lanças feitas de mana para arremessar. A outra era a Circulação de Mana, uma habilidade que oferecia suporte geral para aplicar mana nos movimentos do corpo.
Seol Jihu inicialmente ficou resmungando, frustrado, achando absurdo só ter duas habilidades tão ‘sem graça’ disponíveis para seu nível atual. Mas assim que começou a treinar, teve que mudar de ideia.
Ele simplesmente não conseguia entender como usar a tal Lança de Mana. Circular mana dentro do corpo e tentar materializá-la para fora eram coisas fundamentalmente diferentes.
O mesmo valia para a Circulação de Mana. Ele tentava aplicar a mana de forma constante e desesperada, mas não havia o menor sinal de que estava despertando ou compreendendo a habilidade.
Ele queria pedir conselhos a alguém, mas ninguém podia ajudá-lo. Só então percebeu por que a maioria dos Terrestres optava por gastar pontos de conquista para aprender habilidades de maneira fácil e direta.
Na verdade, ele podia ter aprendido ambas as habilidades com facilidade com os pontos de conquista que possuía. No entanto, Seol Jihu estava deliberadamente resistindo ao máximo de sua capacidade, enfrentando sozinho o mar tempestuoso do desconhecido.
E, em segundo lugar…
Se havia algo que Seol Jihu percebeu logo depois de se juntar oficialmente à Carpe Diem, era o fato de ser muito raro encontrar um trabalho ou comissão onde, assim como na Floresta da Negação, fosse possível cumprir os parâmetros da missão e ainda aproveitar os benefícios de uma expedição.
A menos que houvesse uma guerra em andamento, as missões da família real eram repassadas primeiro para as Guildas ou para organizações tão grandes quanto corporações, contanto que a missão não fosse algo completamente insano que ninguém pudesse concluir, claro. Depois, essas missões eram passadas para equipes que tivessem Terrestres Alto Ranker em seus quadros e que também mantivessem boas relações com a família real, o que tornava muito difícil encontrar uma oportunidade ‘gorda’ como a da última vez.
Mais importante ainda, o líder da Carpe Diem, Dylan, era o tipo de pessoa que nunca participaria de uma expedição que não tivesse uma chance segura de sucesso. Como resultado, Seol Jihu teve que recorrer a ganhar experiência por meio de pequenos trabalhos, como entregador ou guarda.
Mesmo na noite anterior, ele teve que acompanhar Chohong até a vila de Ramman. Recebeu um bônus modesto por acompanhá-la nessa entrega repentina, e, após concluírem o trabalho com segurança, estavam voltando. Claro, a recompensa que recebeu era irrisória comparada à expedição da Floresta da Negação.
Assim, quando retornaram a Haramark sem imprevistos, já era fim da manhã.
— Ugh, tá quente pra cacete hoje. Quente demais, sério…
Chohong caminhava abanando o rosto com as mãos. Assim que avistou o destino, seus passos começaram a desacelerar.
— Não é estranho? Não tem quase ninguém na rua hoje. Por quê?
Chohong olhou ao redor e comentou. De fato, as ruas estavam estranhamente vazias, como se algo grande tivesse acontecido enquanto eles estavam fora.
— Olha, aquele lugar ainda tá em construção… Ei, você. Tá me ouvindo, não??
— Hm?
Seol Jihu estava preocupado com seu regime de treino de mana naquele momento. Mas assim que percebeu que a colega falava com ele, saiu rápido dos pensamentos. A personalidade de Chohong não suportava o tédio por muito tempo, então se ele não reagisse a tempo, ela geralmente fazia birra como uma criança.
— Onde? …Ah.
A direção para a qual Chohong apontava era um prédio em frente à sede da Carpe Diem. No início, ele nem sabia o que funcionava ali, mas um dia acordou de manhã e viu o antigo prédio sendo demolido, dando lugar a uma nova construção.
Haramark era uma cidade relativamente grande. Então, se alguém podia simplesmente comprar um terreno e começar a erguer um prédio novo, significava que essa pessoa tinha um poder financeiro considerável. Seol Jihu se lembrou de Dylan comentando, curioso, quem seria o novo vizinho.
Seol Jihu expressou seu desejo:
— Espero que seja um restaurante.
— Por quê?
— Porque aí fica mais fácil comer.
— Pu-hah! Espera aí. Já que estamos falando nisso, por que a gente não dá uma passada no Comer, Beber e Curtir? Esse tempo tá uma porcaria de tão quente. Vamos chamar o Dylan e o Hugo e tomar umas geladas. O que acha?
Ele sabia que Chohong faria qualquer coisa por uma chance de se afogar em álcool, então assentiu prontamente e respondeu:
— Tudo bem, vamos sim, senhorita Chung Chohong.
Imediatamente, Chohong fez uma careta de repulsa.
— Eii, caramba! Quem foi que te contou meu sobrenome?!
— Já falei, foi um transeunte.
— Para de enrolar, tá? Vai falando logo!
Chohong soltou um ‘Kyahk!’ irritada, pulou nele e se pendurou no pescoço. Seol Jihu riu e foi se aproximando das escadas do prédio deles. Mas então…
Ambos levantaram a cabeça ao mesmo tempo e olharam para o terceiro andar, parando os passos de repente. Quase dez Terrestres estavam reunidos do lado de fora da entrada do terceiro andar, como se estivessem esperando por alguma coisa.
— M-Mas que diabos?
Chohong ficou imediatamente nervosa.
— O que o pessoal da Sicília tá fazendo aqui?
— O que vocês querem aqui? O que aconteceu?
Chohong soava combativa ao subir as escadas. Os membros da Sicília apenas a olharam de relance e se afastaram em silêncio.
Quando ela e Seol Jihu entraram no escritório do terceiro andar, encontraram um bom número de pessoas esperando por eles, o espaço, que já era pequeno, parecia ainda mais apertado que antes. Três pessoas estavam sentadas nos sofás; duas em um dos lados, Dylan e Hugo, e uma mulher sozinha do outro. Atrás dela, cinco ou seis pessoas permaneciam em pé, rígidas.
— Até que enfim, Chung Chohong.
A mulher de sobretudo grosso virou a cabeça para cumprimentar a dupla recém-chegada. Seu cabelo longo tinha a cor de uma cascata ensanguentada. Seus olhos escarlates brilhavam perigosamente como os de uma fera selvagem. Ao ver a cicatriz que ia da sobrancelha até a bochecha, Seol Jihu finalmente reconheceu quem era.
— Oh? É você, novato?
A ‘gerente geral’ da Zona Neutra do mês de março daquele ano, e chefe da Sicília, a organização mais poderosa de Haramark, ninguém menos que Cinzia.
— O que te traz aqui, Noonim?
Chohong avançou sem medo e perguntou enquanto se jogava no sofá ao lado de Cinzia. Com isso, Seol Jihu ficou sem lugar para se sentar, então se posicionou atrás de Dylan e Hugo, ficando de pé.
— Obviamente, só pode haver um motivo pra eu vir falar com vocês. Trabalho.
— Trabalho? Que tipo?
— Já discutimos isso. Desculpa, você não foi convidada dessa vez.
— Sobre o que vocês estavam falando, afinal?
Enquanto Chohong e Cinzia continuavam conversando em um tom até amistoso, Seol Jihu começou a observar o grupo atrás delas. Ele não sabia o motivo da visita repentina dos sicilianos, mas, mais do que isso, esperava encontrar alguém conhecido no meio deles.
Como Leorda Salvatore, ou então…
— Hm?
Foi nesse instante que uma certa mulher, alta e silenciosa, parada logo atrás de Cinzia, chamou sua atenção. Seus cabelos cor de limão estavam presos em um rabo de cavalo, e os óculos emoldurando os olhos afiados e analíticos se destacavam bastante. Seol Jihu logo reconheceu o inconfundível uniforme de empregada. Seus olhos se arregalaram, e ele começou a demonstrar uma felicidade exagerada ao vê-la novamente.
— Senhorita Ag…!!
Ele estava prestes a completar com ‘…nes’, mas fechou a boca a tempo. Não era idiota a ponto de ignorar o clima no escritório naquele momento.
— ?
Talvez ela tenha sentido o olhar dele? Agnes mantinha uma expressão fria e austera, digna da governanta de uma renomada casa aristocrática. Mas, sutilmente, desviou o olhar em sua direção. Quando seus olhos se encontraram, ele sorriu de forma inocente e acenou com a mão.
Como havia olhos demais por perto, Agnes fingiu não tê-lo notado. Sua indiferença silenciosa atingiu Seol Jihu como um soco no estômago. Ele ficou parado, olhando para ela com olhos desfocados por um momento, antes de sua mão cair, sem força, ao lado do corpo. Mais do que triste, ele parecia afundar no desespero e na decepção.
— …
No fim, Agnes suspirou sem emitir som. Então, fez um leve aceno com a cabeça e acenou discretamente com a mão. Tudo durou apenas um instante, mas foi o suficiente para revigorar o semblante de Seol Jihu, devolvendo o brilho aos seus olhos.
— Keuk…
Cinzia observou a troca entre os dois com a expressão de uma gata arteira, antes de abaixar a cabeça em sua postura habitual, sentada de pernas cruzadas. Seus ombros tremiam visivelmente. Ela deu uma risadinha enquanto mordia o cigarro preso aos lábios, como se tivesse achado aquilo absolutamente hilário. Demorou um pouco até que conseguisse voltar a falar.
— Ora, ora. Até mesmo a leoa siciliana amolece na frente do seu filhote, é isso?
— Keuk.
O pescoço de Agnes ficou vermelho como beterraba. Seus olhos arregalados lançaram um olhar fulminante para Seol Jihu.
“Por que foi fazer uma besteira dessas?!”
Aqueles olhos claramente o culpavam por tudo o que havia acontecido.
— De todo modo, já falei o que vim falar, então que tal irmos agora?
Cinzia se levantou do sofá com tranquilidade, e Dylan e Hugo a acompanharam. Chohong fez bico ao perceber que estava sendo deixada de fora e reclamou com a voz ligeiramente azeda.
— Dylan? Que história é essa?
— Hm, bem… Depois que voltarmos, eu te conto o básico. Não vamos demorar.
Dylan respondeu num tom sério e então se voltou para Seol Jihu.
— E Seol?
— Sim?
— Gostaria de ter uma conversa com você quando eu voltar. Tudo bem?
— Claro.
Ele não sabia sobre o que seria a conversa, mas aceitou prontamente. Cinzia ainda sorria quando emitiu uma nova ordem:
— Agnes, você não precisa vir.
— Perdão?
— Você já sabe de tudo, então qual o motivo de participar da reunião? Já faz um tempo que vocês não se veem, então por que não ‘desafogar’ um pouco o coração? Aposto que podem tomar uma ou duas taças e colocar a conversa em dia, né?
— M-Mas, chefe?!
— É uma ordem.
Agnes foi forçada a se calar. Enquanto isso, Cinzia soltava outra risada e se virava para sair.
— Vamos. Dylan, Hugo. Aposto que o pessoal já está nos esperando.
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