Capítulo 113: Um Líder de Nível 2 (3/5)

E assim, Seol Jihu acabou desfrutando de um pequeno ‘chá da tarde’ com Agnes, tudo graças à consideração de Cinzia. Ele guiou Agnes, e sua expressão petrificada, até o Comer, Beber e Curtir. No entanto, no caminho, eles presenciaram algumas situações bastante bizarras.

— Ughk?!

Homens que vinham na direção contrária caíram sentados no chão de repente, claramente assustados com alguma coisa. Ou então…

— Uaaaahhh…!!

…Outros até deram meia-volta e correram desesperadamente, mais pálidos que uma folha de papel.

A mesma coisa aconteceu quando entraram no estabelecimento. Assim que Agnes cruzou a porta, o ambiente animado do pub caiu num silêncio absoluto.

Pouco depois, alguém soltou um ‘Hiiick?!’, e isso deu início a uma debandada em massa, com os clientes fugindo como se suas vidas dependessem disso. Não levou nem um minuto para que o local, antes lotado, ficasse completamente vazio.

Agnes parecia não se importar. Caminhou com altivez pelo balcão e lançou algo em direção ao barman congelado, que tremia enquanto recitava uma oração.

Ting!

A moeda de cobre acertou com precisão a testa do barman, que se apoiava nas prateleiras de bebidas.

— Dono do bar? Traga uma garrafa de rum, e…

Agnes olhou por sobre o ombro. Seol Jihu ainda estava parado, atordoado com tudo o que havia acontecido, e precisou de um momento para recobrar o senso e pedir hidromel. O barman trouxe as duas garrafas na velocidade da luz.

— P-Por que, uh, as pessoas estão reagindo assim a você?

— Eu também me pergunto.

— Ah, ahaha… Bem, de qualquer forma. É bom ver você de novo, senhorita Agnes.

— Imagino que sim.

Agnes respondeu com desinteresse e tomou um gole direto da garrafa. Limpou os cantos da boca com naturalidade, mas seu olhar sobre Seol Jihu era complexo.

Como deveria agir? Obviamente, ela não detestava o rapaz à sua frente. Mas, para ela, encontrar alguém fora de um contexto oficial era algo extremamente desconfortável. Disseram que ela deveria ‘desafogar’, mas ela não fazia ideia de como começar uma conversa, muito menos como conduzi-la. Naturalmente, isso fazia suas palavras parecerem duras e frias.

— Desculpa por te segurar aqui, mesmo sabendo que deve estar ocupada. Mas, na verdade, estou com um problema no meu treinamento… e talvez eu precise da sua ajuda.

— Um problema, é?

— É. Estou com dificuldades no treino.

Treinamento? Isso mudava um pouco a situação. Agnes sentiu conscientemente os músculos rígidos do rosto relaxarem aos poucos.

— Qual parte está te causando problema?

Seol Jihu contou sobre suas dificuldades com o treino de mana. Agnes ficou brevemente surpresa ao descobrir que ele já era Nível 2, mas logo retomou a compostura e deu sua opinião.

— Entendo. Ainda assim, não é algo com que precise se preocupar tanto assim.

Seol Jihu engoliu em seco. O tom de voz dela era reconfortante.

— Antes de mais nada, lembre-se: isso aqui não é mais a Zona Neutra.

Agnes ajustou os óculos e continuou:

— O Paraíso não foi feito para acomodar seu regime de treinamento como a Zona Neutra foi. Se quiser aprender alguma coisa, muitas vezes terá que conseguir com seus próprios méritos. Entendido?

— Sim.

— E em segundo lugar… Você falou em Lança de Mana, certo?

— Sim.

— O quanto você sabe sobre a arte do lançamento de dardo?¹

Seol Jihu vinha respondendo obedientemente com ‘sim, sim’, mas essa pergunta abrupta o deixou mudo.

— Sabe qual é a origem do lançamento de dardo? E as técnicas? Por exemplo, a postura correta do início ao fim, seja lançando de pé ou após uma corrida?

Só então Seol Jihu entendeu o que ela queria dizer.

— Entendi. Fui apressado demais.

— De fato. Você não sabe nada sobre lançamento de dardo, mas quer manipular sua mana pra imitar exatamente isso. É óbvio que ia fracassar. É como querer correr sem sequer saber andar.

Apesar da repreensão, ele sentia como se seus olhos finalmente estivessem se abrindo.

— Eu entendo de onde vem sua confiança. Você aprendeu a aplicar mana muito rápido. Mas, ensinar a si mesmo novas habilidades nunca é fácil. Na verdade, é normal ser difícil e confuso desse jeito.

— …

— O mesmo vale pra Circulação de Mana. Pode levar tempo, mas ainda assim recomendo que primeiro se familiarize com os fundamentos.

Seol Jihu se sentia envergonhado e aceitou a recomendação. Não podia negar que havia tratado tudo isso com leveza demais. Ficou mexendo na garrafa de hidromel com um olhar amargo, até que Agnes tossiu uma vez pra quebrar o clima.

— Mesmo assim, estou impressionada.

— Como é?

— Ouvi falar do que você fez até agora. Você poderia ter aprendido qualquer habilidade que quisesse com seus pontos de conquista, mas… É admirável que tenha resistido à tentação e ainda tente fazer o seu melhor todos os dias.

Ela o elogiou de verdade. Mesmo na Zona Neutra, ela quase nunca o elogiava, então isso significava algo. Seol Jihu sorriu, envergonhado.

— Bom, ouvindo seus conselhos, sei que vou acordar com ouro debaixo do travesseiro.

— Não sei o que isso quer dizer, mas de qualquer forma, continue se esforçando. Você com certeza vai colher os frutos no futuro, quando subir de nível e suas habilidades passarem por uma evolução fundamental.

Agnes formou um sorriso quase imperceptível. Depois deu mais algumas sugestões, esvaziou a garrafa de rum e se levantou. Seol Jihu ficou triste por ela ir embora tão cedo, mas ela também era uma Terrestre como ele. Não dava pra segurá-la ali, ainda mais sabendo que tinha uma tonelada de afazeres.

Agnes prometeu aparecer de vez em quando pra verificar seu progresso antes de se virar para partir. Eles se despediram na porta do pub. No entanto, ao ver ela se afastando, Seol Jihu arregalou os olhos ‘Opa!’ lembrando que havia esquecido de dizer algo importante.

— Senhorita Agnes!

Agnes parou ao longe e se virou para olhá-lo. Ele acenou com a mão e gritou:

— Obrigado por tudo!

Agnes assentiu uma vez e se virou de novo. Foi então que Seol Jihu gritou alto o bastante para acordar os mortos:

— E também, manda um oi pro Senhor Ursinho de…!

— Eu vou te matar!!

Swish!

Agnes cruzou a distância num piscar de olhos e se atirou sobre ele. Seol Jihu ficou surpreso com a velocidade explosiva, mas ainda assim conseguiu abrir um sorriso satisfeito. Já tinha apanhado tanto dela que esperava por esse tipo de reação.

“Dessa vez não!”

Ele sacou sua lança rapidamente e assumiu uma postura defensiva. Infelizmente, no momento seguinte, a mão dela derrubou a lança com um tapa, como se ele não estivesse segurando nada, e então disparou um golpe na cara dele como uma serpente louca.

— Eu te disse pra parar com isso, não disse?!?!

SLAP!

— Kuk!!

Só depois de apanhar até ficar todo roxo foi que Seol Jihu finalmente descobriu que Agnes era uma Arqueira de tipo assassina, de Nível 6, a apenas meio passo de se tornar uma Ranker Única.

1. Lançamento de Dardo, o esporte olímpico onde se arremessam lanças a distância; Não o jogo de bar onde se lançam pequenos dardos em um alvo.[↩]