Índice de Capítulo

    A vila de Ramman era um pequeno e perfumado assentamento banhado pelos raios calorosos do sol.

    Embora fosse menor em tamanho comparada à vila de Zahrah, em compensação, o local era cercado por uma paisagem pitoresca, como se tivesse saído diretamente de uma pintura a óleo, com cercas se estendendo por campos infinitos de tonalidade verde-amarelada. E, à distância, montanhas íngremes que pareciam envoltas pela mãe natureza como um véu, servindo de pano de fundo inesquecível.

    Seol Jihu pagou o restante aos dois cocheiros e fechou os olhos lentamente enquanto a brisa suave o acariciava. Os ventos gentis acariciando seu rosto alegraram bastante seu humor.

    “Demos sorte.’

    Eles não encontraram nenhuma emboscada durante a viagem e chegaram ao destino antes do anoitecer. Embora não fosse algo com que precisassem se preocupar, por algum motivo, ele não conseguia evitar se sentir bem com aquilo.

    Era como se os céus estivessem abençoando sua primeira saída como o…

    Bleeeurgh…!!

    Sua paz foi rompida pelo som repentino de alguém vomitando ao lado. Logo depois, veio o som repugnante de algo caindo no chão.

    Ele saiu do devaneio e abriu os olhos, uma expressão de desagrado se formando em seu rosto. Não muito longe dali, uma garota de cabelos loiros levemente ondulados estava curvada, ocupada esvaziando o conteúdo do estômago.

    Os campos esverdeados foram instantaneamente manchados por uma massa espessa de líquido marrom-avermelhado.

    — Khya-ahk, ghyaahk!

    Ela estava tentando gritar ou vomitar? Qual dos dois?

    Depois de vomitar um pedaço assustadoramente grande de algo, Maria manteve a careta profunda enquanto enfiava o dedo indicador de volta na garganta. E então, começou a vomitar mais uma vez.

    — Foi por isso que eu disse pra beber com moderação.

    Seol Jihu caminhou até ela e deu tapinhas em suas costas.

    Era compreensível, no entanto. Ela tinha bebido demais no dia anterior e depois teve que viajar de carruagem sem parar pelas últimas doze horas, então seria um milagre se seus órgãos ainda estivessem intactos e funcionando direito.

    Maria mal conseguiu levantar a cabeça e começou a resmungar com dificuldade, do jeito costumeiro dela.

    — Haa, haa… Argh, essa porra dessa labirintite dos infernos…

    Seol Jihu tirou um pano limpo e começou a limpar os lábios cereja de Maria, todos sujos de vômito. Ela parecia pouco impressionada, mas não tinha energia para resistir, então ficou quieta por enquanto.

    — Nossa pequena Maria está passando por um sufoco, hein…?

    Chohong riu e se aproximou da dupla antes de entregar uma garrafa de vodca. Seol Jihu ofegou em descrença, mas Maria aproveitou a chance para agarrar a garrafa e tomar um gole da bebida forte.

    Ela usou aquilo como enxaguante bucal; as bochechas inflaram enquanto agitava o álcool na boca antes de cuspir tudo de volta. Em seguida, inclinou um pouco a garrafa para tomar um gole pequeno.

    Keu-heuh… Urgh! Agora sim, tô viva.

    — …

    Seol Jihu de repente pensou que álcool devia estar circulando nas veias dela em vez de sangue. Estava começando a ficar doloroso de assistir, então ele se virou para sair. Até Veronika desviou o olhar, como se já estivesse farta.

    Ela viu a expressão abatida no rosto do jovem. Suspirou e deu leves tapinhas nos ombros dele. De algum modo, aquilo ajudou a consolá-lo um pouco.

    — Parece que vamos ter que descansar por hoje.

    Mikhail balançou a cabeça em impotência. Seol Jihu concordou com essa avaliação. Não era só por causa da Maria. Viajar de carruagem por metade de um dia seguido nunca era fácil. Além disso, eles não estavam com pressa, como foi na Fortaleza Arden daquela vez.

    Os seis concordaram em procurar um local adequado para descansar e atravessaram a entrada da vila. E foi aí que isso aconteceu.

    — Eu vi! Juro que vi!

    Do nada, uma voz rouca os saudou do lado. Uma senhora em frente a uma cabana de barro com telhado de palha os observava com olhos fixos e sem piscar. Parecia ser uma Paraisiana.

    — Era um navio branco! Um navio branco lançou âncora!!

    “Um navio branco? Âncora??”

    Seol Jihu inclinou a cabeça.

    A velha agarrou com força o corrimão. Parecia que sairia correndo a qualquer momento. Foi nesse instante que um homem apareceu correndo à distância.

    — Mãe! Por que está fazendo isso de novo?

    — Eu vi! Tô dizendo que vi!

    — Eu entendi. Entendi, mãe, então por favor, volte pra dentro. Essas pessoas são Terrestres.

    — Tô dizendo que um navio branco lançou dezenas de âncoras!!

    A velha continuou gritando mesmo enquanto era empurrada de volta para dentro da cabana. O homem suspirou, impotente, e rapidamente abaixou a cabeça para o grupo.

    — M-Me desculpem mesmo! Minha mãe tem um pequeno problema na cabeça e…

    — Não, tudo bem. Não se preocupe com isso.

    A voz calma de Seol Jihu fez o homem piscar, surpreso. A postura nervosa dele suavizou um pouco.

    — Vieram por causa do pedido de subjugação?

    — Sim. Foi você quem emitiu?

    — Ah, não. Na verdade, sou responsável pela segurança da vila. Me chamo Brice. Quem emite os pedidos é sempre o chefe da vila, na verdade.

    “O chefe da vila é quem sempre cuida disso, hein…”

    Seol Jihu começou a ruminar aquelas palavras, o que levou Brice a perguntar novamente, com cautela:

    — Há algo com que eu possa ajudar?

    — Ah, sim. Precisamos de um lugar para descansar por um tempo.

    — Com certeza providenciaremos algo assim. Permitam-me guiá-los até a estalagem.

    Seol Jihu sentiu alguém tocando seu braço. Quando se virou, viu Maria balançando a cabeça.

    — Não quero respirar ar de lugar fechado agora. É meio incômodo também. Vou ficar bem se pegar um ar fresco por uma horinha.

    — Bem, foi o que ela disse. Parece que vamos nos virar bem com um espaço ao ar livre.

    — Por favor, me acompanhem. Conheço um lugar que atende aos seus critérios.

    Brice guiou o grupo até uma área aberta com uma mesa de tora aparentemente esculpida a partir do tronco de uma árvore enorme, cercada por várias cadeiras de madeira envelhecida. Ele continuava lançando olhares furtivos para trás, talvez preocupado com a possibilidade de o grupo fazer mais exigências.

    Logo que Maria encostou a testa na superfície lisa da mesa de tora, Mikhail abriu a boca:

    — Ei, líder. Se não se importar, posso fazer algumas perguntas pra ele? Já estive aqui antes, então só queria confirmar umas coisas, sabe?

    — Sério? Por mim, tudo bem.

    Seol Jihu respondeu com uma expressão que mais parecia dizer: ‘Por que está pedindo minha permissão pra isso?’

    Mikhail sorriu de forma descontraída diante da atitude do jovem.

    Como não era o líder, devia evitar se destacar demais, mas a maioria dos líderes não se importaria com esse pequeno ato de insubordinação, a menos que fossem do tipo excessivamente meticuloso.

    — Ei, você disse que se chama Brice, certo?

    — Ah, sim.

    — Não é nada demais, na verdade. Só fiquei curioso se algo mudou desde a última vez. O conteúdo do pedido, digo.

    — Não, de forma alguma. Pelo que sei, não houve nenhuma mudança.

    — Nesse caso, isso quer dizer que podemos ir direto pra zona de névoa noturna e eliminá-los antes que saiam, certo? Igual da última vez?

    — Sim, está correto.

    Mikhail assentiu com a cabeça. Brice perguntou se ele queria saber de mais alguma coisa e, ao ouvir um ‘Não, só isso mesmo’ partiu rapidamente.

    — Parece que não vai ser difícil de novo. Podemos concluir nosso primeiro objetivo indo até a zona de névoa noturna.

    Veronika se pronunciou, bocejou e se espreguiçou grandemente. Em vez de perguntar aos companheiros o que era essa tal de zona de névoa noturna, Seol Jihu a recordou a partir dos registros que leu antes de vir para cá.

    — A zona de névoa noturna é onde os variantes reaparecem a cada quatro meses, certo?

    — Isso. Fica um pouco distante, mas se andarmos rápido, dá pra chegar em no máximo duas horas. Os monstros que aparecem junto com os variantes também não são motivo de grande preocupação. Com as habilidades da nossa equipe, provavelmente vamos massacrá-los assim que aparecerem.

    — Mas não podemos baixar a guarda. Nosso líder disse que os variantes podem ter ficado mais fortes. Sem contar que apareceram Toupeiras perto de Haramark recentemente, e Lioners também surgiram na Floresta da Negação.

    Gierszal finalmente rompeu seu silêncio pesado e expressou sua opinião. Veronika deu de ombros.

    — Ei, vamos comer alguma coisa! Não comi nada desde cedo e essa fome tá me matando.

    Chohong parecia realmente irritada ao soltar essas palavras. Pegou sua mochila com um dos carregadores e tirou carne seca, frutas e pedaços de pão.

    O restante do grupo também estava com fome naquele momento, então todos estenderam as mãos para pegar sua parte.

    Seol Jihu mergulhou ainda mais em seus pensamentos enquanto mastigava a carne seca. Se quisesse, eles podiam concluir essa missão hoje mesmo e voltar para casa. Claro, ele não queria retornar tendo feito só isso.

    “Por que ninguém conseguiu encontrar a colônia?”

    Não havia resultado sem causa. Tinha que haver um motivo para os variantes continuarem aparecendo nesse lugar.

    “…Será que eu devia começar a cavar o chão ou algo assim?”

    Ele tinha se proposto a resolver esse mistério, mas simplesmente não tinha informações suficientes para isso. Até Ian acabou levantando as mãos em rendição, então essa tarefa nunca seria fácil.

    Mas, ele tinha suas suspeitas.

    Levantou-se da cadeira de madeira enquanto pegava algumas coisas para comer. Ao vê-lo se levantar, o pedaço de pão pendurado na boca de Chohong balançou para cima e para baixo.

    — Nde v-shê bhai?

    — Vou dar uma olhada pela vila.

    Seol Jihu se virou para sair após ativar os Nove Olhos. Ele tinha planejado usar a habilidade quando chegassem à zona de névoa noturna, mas achou que ativá-la dentro da vila também não seria uma má ideia.

    Afinal, era melhor ter mais informações do que nenhuma. E se tivesse sorte e esbarrasse em algo importante, melhor ainda.

    E então, depois de andar por um tempo…

    “Verde… Outro verde…”

    Ele caminhava observando à esquerda e à direita. Foi quando sentiu alguém puxando sua mão. Ao olhar para baixo, viu uma garotinha desconhecida puxando o pedaço de pão em sua mão esquerda com os dedinhos pequenos e fofos.

    — P-ã-o. Pãaao.

    Seol Jihu teve que parar de andar, já que a menina mal conseguia acompanhar o passo apressado dele com sua corridinha.

    — Heeey!!

    A garotinha deu um ‘Hiick!’ com o grito repentino vindo de algum lugar e começou a soluçar de medo.

    — O que pensa que está fazendo?! Volte aqui, agora mesmo!

    Um garoto correu apressado e puxou a mão da garotinha. Ele devia ter por volta de dez anos. Era cerca de uma cabeça mais alto que ela e parecia ser seu irmão mais velho de sangue.

    — Ele é um Terrestre, um Terrestre! Eu disse pra não chegar perto, não disse? Quer apanhar?!

    — Mas, hiiing… o pão…

    Ela queria tanto comer aquilo assim? Os olhos da garotinha que reclamava e se debatia ficaram marejados em um piscar de olhos.

    O garoto conseguiu arrastar a irmãzinha para longe, mas seus movimentos pararam de repente quando Seol Jihu se agachou sobre um joelho para ficar na altura dos olhos dele.

    — Aqui.

    Seol Jihu sorriu e estendeu o pedaço comprido de pão. Os olhos da garotinha brilharam ao ver a comida sendo oferecida. Ela então se desvencilhou do irmão atrapalhado e correu de volta até o jovem. Agarrou o pão e, ao abrir bem a boca, deu uma mordida generosa.

    Seol Jihu acariciou de leve a cabeça da menina enquanto seus lábios pequenos mastigavam com vontade.

    — Tá gostoso?

    — Tá!

    Ela sorriu radiante e continuou a morder o pão. Ele a achou adorável e não conseguiu evitar sorrir. Ela rapidamente devorou o pão, e então seus olhos brilharam ainda mais ao ver a carne seca.

    Ele a entregou para ela, e um sorriso tão largo quanto o possível se formou no rosto da garotinha, como se tivesse ganhado um presente do Papai Noel.

    — Obrigada.

    — Pronto, pronto. Ah, certo. Você quer comer isso também?

    Seol Jihu estendeu a fruta para o menino, mas ele hesitou por um instante antes de balançar a cabeça.

    — …Não, tô bem…

    — Pode pegar. Você foi corajoso ao vir resgatar sua irmãzinha, então merece uma recompensa, né?

    Seol Jihu o encorajou a aceitar. O garoto ainda hesitou por mais um pouco, mas por fim pegou a fruta. Mordeu apressado, mas então percebeu que Seol Jihu ainda estava ali e rapidamente abaixou a cabeça.

    — Muito obrigado.

    — Você é bem maduro para sua idade. Vocês dois moram nesta vila?

    — S-Sim.

    O garoto assentiu antes de perguntar algo com certa cautela.

    — E você, senhor Terrestre?

    — Não precisa me chamar de senhor ou de Terrestre, sabia? Me chama de ‘Hyung’. Vou ficar sem graça se continuar falando assim.

    — Hyung… Veio por causa do pedido?

    — Isso mesmo. Mas não se preocupe. Vamos acabar com eles com certeza.

    A atitude gentil de Seol Jihu funcionou muito bem, e a desconfiança do garoto diminuiu um pouco. Sua expressão tensa também se suavizou um tanto.

    — Não tô preocupado. Eu e minha irmã não podemos chegar perto da zona de névoa noturna mesmo.

    — Mas isso é óbvio. Lá é perigoso.

    — Bem… eu não sei.

    Seol Jihu parou de sorrir e inclinou a cabeça diante daquela resposta inesperada do menino.

    — Você… não sabe?

    — É. A Vovó Hans já foi lá uma vez, mas voltou bem e tudo mais, sabe? Quer dizer, agora ela fala umas coisas esquisitas, mas…

    O garoto parecia estar incomodado fazia um tempo, porque começou a desabafar rapidamente. Seol Jihu se lembrou da senhora idosa gritando algo na entrada da vila.

    — Tipo, sério, eu não sou mais uma criança de seis ou sete anos, então não entendo por que não posso ir lá.

    Seol Jihu formou um sorriso torto.

    — Provavelmente porque variantes continuam aparecendo lá de tempos em tempos. Os adultos só estão preocupados com você, só isso.

    — Eu sei. Mas mesmo assim, as coisas ficam seguras de novo depois que vocês derrotam eles, né? Mas eles não querem deixar a gente sair, ficam inventando desculpas estranhas e chamando isso de três tabus e tudo mais…

    O garoto resmungou baixinho consigo mesmo.

    — Hng. Um monstro vai te sequestrar pra outro mundo se quebrar um dos três tabus? Alguém acha mesmo que eu vou cair nessa história infantil?

    Os olhos de Seol Jihu se arregalaram.

    — Três tabus? Outro mundo?

    — Isso mesmo. Hyung, você também acha que é só bobagem, né?

    Os olhos de Seol Jihu agora estavam profundamente retraídos.

    — Pode me contar mais sobre esses três tabus?

    — U-uhm, isso é…

    Mmmm… O garoto massageou as têmporas antes de continuar.

    — Tá bom. Primeiro, nunca vá na direção de uma voz que vem da névoa. Segundo, nunca vá até onde uma mão está te chamando. Terceiro, se vir pessoas vestindo roupas cinza, não chegue perto e fuja. Esses são os três tabus.

    — Quem te contou isso? Foram seus pais?

    — Meus pais contaram, mas acho que o chefe da vila pediu pra eles falarem. Eu sei de tudo, viu.

    — Você pode me dizer onde o chefe da vila mora?

    Essa pergunta fez o garoto parar de responder com tanta disposição e sinais de hesitação voltaram a surgir em seu rosto.

    — Uhm… P-Por quê?

    — Quero passar lá e conversar com ele sobre uma coisa. Não posso?

    — Bem, não é que não possa, mas…

    A voz do garoto foi ficando cada vez mais baixa.

    — Se for pra pedir mais recompensa, então…

    — Recompensa?

    Seol Jihu finalmente entendeu por que os outros moradores estavam agindo de forma estranha com ele e seus companheiros.

    — Não, definitivamente não é isso. O valor da recompensa é definido no momento em que aceito o pedido, sabia? Então, não precisa se preocupar com isso, tá?

    — …Sério?

    O garoto perguntou com olhos brilhantes e inocentes. Seol Jihu só pôde suspirar por dentro.

    — Claro. Eu prometo que é verdade.

    Logo o garoto contou as direções, e Seol Jihu seguiu para seu próximo destino. A casa do chefe da vila era uma residência decente com telhas em formato de escamas nas paredes, bem diferente das cabanas de barro dos outros moradores.

    Mas, mais importante do que isso, ela não tinha nenhuma cor nos Nove Olhos.

    Os olhos de Seol Jihu se estreitaram.

    — Cara, isso é tão frustrante.

    Se ao menos ele soubesse o que esse sem cor queria dizer… Isso tornaria sua vida muito mais fácil. Mas o que podia fazer? A Gula já o havia alertado para parar de sonhar em desbloquear essa parte com tanta facilidade, afinal.

    Ainda assim, este era o primeiro lugar que não brilhava em verde dentro daquela vila. Ele não tinha certeza se isso o levaria a algum lugar, mas não perderia nada em investigar.

    Subiu os pequenos degraus e bateu à porta da frente. Ouviu uma tosse suave e a porta se abriu lentamente, revelando um velho de cabelos totalmente brancos e olhos enrugados que se arregalaram ao vê-lo.

    — Quem seria você, jovem?

    — Ah, olá. Eu sou o cara que aceitou seu pedido de subjugação desta vez.

    O chefe da vila soltou um leve gemido ao ouvir a apresentação de Seol Jihu.

    — Ah, entendo. Peço desculpas. Tenho tido problemas de saúde ultimamente e não pude vir pessoalmente recebê-lo.

    — Ah, não. Está tudo bem. Na verdade, gostaria de conversar com o senhor sobre uma coisa. Vai ser rápido.

    — M-mm. Se for sobre a recompensa, acho que não há muito a discutir…

    O chefe da vila continuou:

    — Na verdade, a maior parte do dinheiro para a recompensa vem dos fundos de apoio fornecidos pelo reino. Se deseja uma recompensa adicional, receio que seria mais produtivo conversar com os oficiais do reino. Os membros da realeza de Haramark são conhecidos por favorecer os Terrestres, então pode ser a melhor solução para ambos os lados.

    Talvez não fosse a primeira vez dele, pois o chefe da vila recitava suas palavras como se as tivesse decorado palavra por palavra.

    — Na verdade, não vim falar sobre recompensa adicional. Vim para perguntar algumas coisas a respeito desse pedido.

    — Mm? Se está falando sobre o conteúdo do pedido, na zona de névoa noturna, você vai…

    — Desculpe interromper, mas já sei tudo sobre isso. O que gostaria de perguntar é outra coisa.

    — V-Você quer me perguntar algo? Um Terrestre quer me perguntar?

    — Sim.

    O chefe da vila pareceu muito, muito surpreso então.

    — Huh… Que desdobramento estranho.

    Ele inclinou a cabeça como se não conseguisse entender nada e murmurou suavemente para si mesmo após limpar a garganta com uma leve tosse.

    — Você é o segundo, desde aquele homem, o Curte Tetas.

    — …Hã? Curte o quê?

    Seol Jihu não conseguiu evitar duvidar da própria audição.

    — Ahh, isso. Houve outro Terrestre que veio me ver, querendo conversar comigo sobre o pedido também. Achei que ele tivesse mais ou menos minha idade, e como o nome dele era tão único, acabei me lembrando.

    — O quê… o que o senhor disse que era o nome dele?

    — Curte Tetas. Disse que o sobrenome era Tetas e o nome próprio era Curte. Bem, deixei passar, já que me contou que era um nome comum no mundo de onde veio. Era um sujeito engraçado, aquele cara.

    — …

    Seol Jihu pensou que o chefe da vila poderia querer arrancar a barba do Ian ao descobrir a verdade. Só recuperou os sentidos quando viu o velho se virar.

    — De qualquer forma, por favor, entre. Somos uma vila pobre, então não podemos tratá-lo muito bem, mas como cliente, posso certamente conversar com você sobre o pedido.

    Finalmente sendo convidado para entrar, Seol Jihu se acomodou numa cadeira que o chefe da vila puxou para ele. A decoração era bem simples, mas havia muitos livros na estante. Ele fez o possível para não ficar olhando demais.

    Afinal, estava muito consciente de como os moradores se sentiam desconfortáveis com Terrestres.

    “É melhor eu ir embora assim que terminar as perguntas.”

    — Então, o que gostaria de me perguntar?

    Seol Jihu rapidamente organizou seus pensamentos quando o chefe da vila se sentou à sua frente. Havia notado mais de um ponto suspeito ao analisar todos os registros. Se algumas de suas perguntas fossem respondidas, ele sabia que poderia encontrar a pista tão procurada, o fio que desenredaria esse mistério de uma vez por todas.

    — Pelo que sei, já foram emitidos cerca de vinte pedidos de subjugação até agora. E tudo começou há bastante tempo também.

    — Isso parece certo.

    — E o pedido sempre foi emitido por você, o chefe da vila.

    — Está correto.

    Nesse momento…

    — Se for esse o caso…

    Ao ver o chefe da vila concordando com tudo sem hesitação, os olhos de Seol Jihu começaram a brilhar de forma elegante.

    — Por favor, dê uma olhada nisto.

    Ele puxou um documento do bolso interno e o apresentou ao velho.

    …Para o ancião de quem não emanava nenhuma cor.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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