Capítulo 120: Tabu (2/3)
A expressão do chefe da vila não mudou muito enquanto lia o documento. Seol Jihu iniciou a próxima fase da conversa.
— Até agora, os esforços de subjugação nunca falharam. Sempre, sem exceção.
Ele manteve a voz firme e continuou:
— Houve duas ocasiões em que o reino enviou voluntariamente forças de subjugação para a Vila Ramman. No entanto, essa atitude é compreensível se levarmos em conta o fato de que queriam melhorar a estabilidade da região de Haramark ao conter as aparições frequentes dos mutantes.
O chefe da vila ouviu em silêncio até então, mas começou a dar sinais de que não estava acompanhando mais o raciocínio do jovem.
— Não entendo o que está tentando me dizer, rapaz.
— Ouvi dizer que o senhor é sempre quem emite os pedidos.
— Sim, de fato, sou eu.
— A equipe que recebeu a missão três meses atrás era composta por quatro Níveis 2, um Nível 3 e um Nível 4. E a média de Nível encontrada na Carpe Diem é de 3,75. Embora ele não tenha vindo hoje, é uma diferença considerável o fato de termos um Alto Ranker em nossa formação.
— A razão de ter enviado o pedido à Carpe Diem não foi só por sua fama, mas também porque ouvi dizer que vocês aceitam trabalhos menores.
O chefe da vila balançou levemente a cabeça e devolveu o documento a Seol Jihu. O velho não estava errado quanto a isso. Afinal, ele já havia acompanhado a Chohong como entregador e também trabalhado como guarda várias vezes.
— Posso estar sendo presunçoso aqui, mas…
Seol Jihu guardou o documento de volta no bolso interno e falou com cautela:
— Gostaria de saber como o senhor consegue emitir os pedidos com tanta precisão, chefe da vila.
A sobrancelha do ancião arqueou-se levemente.
— Não havia nenhuma informação detalhada sobre os mutantes, mas o senhor sempre emitiu missões para equipes capazes de lidar com eles com facilidade.
— …
— Tudo bem. O senhor pode ter interesse em como os Terrestres operam. E como chefe de uma vila com centenas de moradores, estaria carregando a responsabilidade pela segurança deles. Não estou tentando criticá-lo. Na verdade, acredito que o senhor tem tomado as decisões corretas.
— …
— No entanto, ouvi dizer que, como os restos dos mutantes se desintegram rapidamente após a morte, é praticamente impossível realizar qualquer tipo de pesquisa sobre eles. E também não parece que haja alguém fornecendo informações ao senhor.
Seol Jihu tomou seu tempo e prosseguiu calmamente:
— Mas o senhor sempre enviou pedidos para equipes capazes de resolver o problema, como se soubesse o que aconteceria a seguir. E isso não foi uma ou duas vezes, mas mais de vinte vezes seguidas.
O chefe da vila fechou os olhos em silêncio. Depois, soltou um longo suspiro e falou:
— No fim das contas, está suspeitando de eu ter feito alguma coisa, não é?
— De forma alguma. Independentemente do que o senhor estivesse fazendo, acredito que, no final, estava tentando proteger esta vila. Eu respeito esse esforço.
— Respeito, é…
O chefe da vila sorriu de forma aberta.
— Que coisa estranha. Você poderia simplesmente ter deixado passar. Um Terrestre demonstrar tanto interesse assim… Como era o termo mesmo? NPC de Missão? Teve um Terrestre que me chamou assim uma vez. Bem, pelo menos agora me sinto melhor do que daquela vez.
— Um NPC de Missão…
Tratar uma pessoa real como um NPC… Seol Jihu só pôde esboçar um sorriso torto ao perceber que realmente havia pessoas assim por aí.
— Agora entendo o que está querendo saber. Já que disse que não desconfia de mim, vou considerar que está certo quanto a isso. Vou tomar isso como pura curiosidade, e nada além disso.
— Isso quer dizer…?
— No entanto, não é algo tão grandioso quanto parece.
O chefe da vila fechou os olhos.
— Já se passaram sete anos desde que os mutantes apareceram pela primeira vez.
Ele criou uma breve tensão enquanto continuava:
— No início, nem precisávamos emitir pedidos. A força de segurança da vila era suficiente para lidar com eles, afinal.
— Entendo.
— Porém, percebi que, com o tempo, à medida que novos mutantes surgiam, sua força aumentava pouco a pouco. No fim, até sofremos uma baixa. Foi uma falha minha ter subestimado a ameaça, e aceitei totalmente a responsabilidade. Depois disso, comecei a emitir pedidos.
— Entendo o que está dizendo. Mas…
— Deixe-me terminar.
O chefe da vila abriu os olhos.
— Sei muito bem que tipo de seres vocês são. Ouvi dizer que ficam mais fortes pela graça dos deuses. Que coisa invejável. Mas isso não significa que somos civis impotentes esperando como tolos pela ajuda chegar.
Seus olhos envelhecidos brilharam como se chamas brancas ardessem em seu interior.
— Neste momento, sou o chefe de uma vila pequena e insignificante. Mas, há muito tempo, fui um soldado leal do Império. Cheguei a lutar contra a abominável horda dos Parasitas. As experiências e percepções que adquiri não desapareceram só porque envelheci.
— Não foi isso que eu quis dizer.
— Acha que isso é tudo? Esta é uma vila muito pobre, que não pode pagar recompensas capazes de atrair o interesse dos Terrestres. Mas o que você acha que aconteceria se eu enviasse um pedido para o primeiro grupo que encontrasse, e eles fossem aniquilados? Já pensou nas consequências que uma história dessas teria para esta vila no médio e longo prazo?
Seol Jihu fechou a boca.
— Se me enganei em algo, então não tenho desculpas a oferecer. No entanto, acreditei que equipes que não se importassem tanto com dinheiro de recompensa assumiriam os pedidos desta vila. E foi por isso que continuei a emiti-los. Essas são as minhas razões.
Seol Jihu não aceitou aquelas palavras completamente, mas agora que o chefe da vila estava sendo tão direto, ele não sabia mais o que dizer. Além disso, o velho havia fechado a boca, como se indicasse que já dissera tudo o que queria dizer sobre o assunto.
Quatro ou cinco segundos de silêncio depois, o chefe da vila voltou a falar.
— Há mais alguma coisa sobre a qual esteja curioso?
Seu tom agora estava bem mais próximo de um ‘vá embora’ do que antes, mas Seol Jihu suportou pacientemente e fez outra pergunta.
— O senhor disse que fez parte do exército do Império.
— Ainda está perguntando sobre isso? Já não disse antes? Eu era…
— Por acaso, ouviu falar da pesquisa secreta que o Império conduziu após a invasão dos Parasitas e durante a guerra que se seguiu?
Os olhos do chefe da vila se arregalaram em total surpresa. Sua reação superou as expectativas de Seol Jihu.
— E onde foi que ouviu falar disso?
— Encontrei nos registros históricos. Dizia: ‘Um relatório sobre os experimentos conduzidos pelo Império durante a guerra foi recuperado. A pesquisa visava a produção em massa de tipos especiais de soldados para combater os Parasitas. Apesar de alguns poucos sucessos, no fim, o projeto foi considerado um fracasso, e o fechamento total de todos os centros de pesquisa foi ordenado com urgência. Houve forte resistência à decisão, mas a pesquisa acabou encerrada’.
— Vejo que a versão no livro de história é bem curta e concisa.
O chefe da vila sorriu amargamente.
— Isso está errado?
— Bem, só um pouco. Era meio que um segredo aberto, afinal.
— Pode me contar mais?
— Hmm, não sei. Nem eu sei tanto assim.
O chefe da vila alisou a barba lentamente.
— Os altos escalões do Império se sentiram ameaçados pela habilidade parasítica da horda dos Parasitas e iniciaram a pesquisa, isso está certo. Mas, pelo que me lembro, um dia simplesmente anunciaram o fracasso do projeto e começaram a fechar as instalações de pesquisa espalhadas pelo interior.
— Vendo que houve resistência ferrenha a essa decisão, deve ter havido algum potencial no projeto.
— Eu não saberia dizer. Eu era apenas um soldado raso, então o que esperava de mim?
— Ah. Me desculpe.
— Não precisa se desculpar por isso. No entanto, a não ser que estejamos falando do pedido em si… Ficar conversando assim por um tempo já me deixa cansado, entende?
O chefe da vila suspirou pesadamente. Seol Jihu olhou em silêncio para o semblante cansado do velho e se levantou devagar. Ele ainda estava com os Nove Olhos ativados esse tempo todo.
— …Tudo bem. Obrigado por tirar um tempo do seu dia para conversar comigo.
— Não sei por que trouxe esse assunto à tona, mas bem…
Quando o jovem se virou para sair, uma voz envelhecida e baixa veio por trás dele e o fez parar.
— Essa parte da história não tem nada a ver com a Vila Ramman. Se quiser aprender mais sobre esse assunto, talvez seja melhor procurar por sobreviventes do Ducado de Delphinion.
— Ducado de Delphinion?
Seol Jihu virou a cabeça até a metade.
— Era um ducado que cooperava com o Império nessa pesquisa. Acredito que o centro de pesquisa principal também ficava no território deles. Bem, eles acabaram sendo destruídos e suas terras agora pertencem aos Parasitas.
O chefe da vila soltou um longo suspiro.
— Mas… Ouvi rumores de que certo mago de Delphinion não conseguiu aceitar a decisão de abandonar a pesquisa e… E que ele não desistiu, roubou os dados e equipamentos importantes, e se escondeu em algum lugar. Se não tiver sido morto nesses anos todos, então com certeza ainda está vivo por aí.
— Entendo…
— É tudo o que sei. Rezo para que meus devaneios tenham lhe sido úteis.
Seol Jihu fez uma reverência ao sair da casa.
Quando finalmente retornou para onde o resto do grupo estava, Chohong ficou imediatamente furiosa com ele.
— Onde você esteve esse tempo todo? Sabe o quanto se atrasou? Eu tava realmente achando que você tinha nos dado o bolo ou algo assim!
— O que foi? Aconteceu alguma coisa?
— …Não, nada.
Ela desviou o olhar com o rosto descontente. Enquanto isso, Maria parecia já recuperada, com a aparência visivelmente melhor.
— E então, o que vamos fazer? O sol ainda tá no céu.
— Vamos indo. Quero dizer, lidar com os mutantes primeiro pode facilitar a solução do mistério, não?
Veronika, designada como a guia, deu sua opinião. O restante do grupo demonstrou sinais de concordância, então Seol Jihu também assentiu com a cabeça.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.