Capítulo 121: Tabu (3/3)

Tendo decidido se livrar dos mutantes antes do fim do dia, a equipe partiu rapidamente da vila de Ramman.

Seguiram a pé, sem o auxílio de carruagens; Maria e os carregadores, obviamente, estavam posicionados no centro da formação, com Gierszal e Chohong em cada um dos flancos. Na frente, Veronika ia à frente como líder, com Mikhail servindo de escolta. Seol Jihu assumiu a retaguarda. Não pôde evitar se sentir estranho ao se encontrar na mesma posição que antes era ocupada por Dylan.

Graças ao ritmo acelerado, o grupo conseguiu chegar ao destino cerca de uma hora e meia depois.

Esse lugar era chamado de Zona de Névoa Noturna porque uma névoa desconhecida cobria a área conforme a noite se aproximava.

Quando chegaram, foram recebidos por uma paisagem completamente oposta à de Ramman. Nada da natureza pitoresca, viam apenas um terreno seco e áspero cobrindo uma região montanhosa.

Seol Jihu estudou cautelosamente a topografia. Conseguiu notar três, quatro pontos interessantes sobre aquele lugar. Primeiro, as inclinações eram bastante íngremes e havia centenas de elevações dentro do seu campo de visão. As alturas dos montes variavam bastante, então havia muitas áreas que ele não conseguia ver de imediato.

O solo também parecia estranho. A vegetação estava ressecada, virando cascas amarelas, e havia muitos buracos misteriosos e de aparência incomum no chão.

E, por fim…

— …Está amarelo.

Seol Jihu prendeu a respiração depois de escanear a paisagem com os Nove Olhos. Toda a Zona de Névoa Noturna brilhava com a cor de ‘Atenção Necessária’.

— Veronika! Consegue ver alguma coisa? Não importa o que seja.

— Nada. Se tem algo realmente problemático nesses mutantes, é o fato de que eles não deixam rastros.

— Pois é, tem até uma história famosa de um Grande Explorador, um Arqueiro Alto Ranker, que desistiu de rastrear esses mutantes. E toda essa situação virou um mistério depois disso.

Mikhail sorriu e acrescentou. Seol Jihu caiu em profunda contemplação.

Seus cálculos estavam errados. Achava que, ao chegar no local, ativaria os Nove Olhos e procuraria algo suspeito. No entanto, se toda a área estivesse com aquela cor…

“Por ora, é melhor me manter alerta e observar qualquer coisa estranha.”

Seol Jihu apertou firmemente o cabo da lança e observou ao redor. Tinha medo de deixar passar qualquer detalhe, então redobrou a atenção.

De repente, os passos de Veronika pararam abruptamente.

— O quê…

Mikhail estava prestes a dizer ‘…foi isso?’ quando imediatamente desembainhou a espada ao ver Veronika se abaixar e fazer um rápido sinal com a mão. Gierszal também ergueu sua lança e escudo, e Chohong se preparou, encarando tudo à sua volta. Só Maria bocejou grandiosamente até quase deslocar a mandíbula, e então estalou a língua com desdém.

Cinco minutos se passaram após a parada. Veronika levantou o corpo lentamente de novo.

— Isso é estranho. Juro que ouvi…

No momento em que inclinou a cabeça e olhou para o lado, algo caiu e se lançou sobre o topo de sua cabeça.

Seol Jihu se agachou reflexivamente, mas logo ouviu um longo — Uwaahhhk!

Recuperou o foco e abaixou o olhar, encontrando um objeto acinzentado se enrolando pela cabeça e torso de Veronika.

— Ahhhk! Ahahahk!

Ela se debatia em pânico. Mikhail, ao seu lado, apressou-se a golpear o objeto com a espada. O corte foi profundo, mas não conseguiu arrancá-lo.

— Droga!!

Mikhail praguejou e ergueu a lâmina, mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, Chohong surgiu como um projétil e, com uma precisão assustadora, deu um chute no objeto como se fosse uma bola de futebol.

Riiiip!!

O som de carne sendo rasgada ecoou, e o amontoado cinzento, parecido com argila, jorrou ‘sangue’ ao ser lançado longe.

— Euuhk!

Veronika fez uma careta ao ver o pescoço e o peito cobertos de sangue.

— O-O que foi isso?! O que aconteceu?

— V-Veio do topo da colina…??

— M-Mas!

— É, é como assimilação. Aquilo tava esperando pra emboscar a gente, fundido na colina…

Veronika gaguejou com grande dificuldade.

Seol Jihu olhou à frente e acabou tendo que olhar duas vezes. O grande objeto, agora dividido ao meio, começou a se contorcer antes de se unir novamente, e então se ergueu lentamente. Alcançou quase dois metros de altura e então…

— …Um homem??

…Começou a tomar a forma de um homem feito de argila. Se havia algo de diferente, era que, em vez de braços, as extremidades dos membros terminavam em pontas semelhantes às de uma lança. Mas isso não era tudo.

Wuuoooo… Wuuuooooooo…

Uivos estranhos começaram a ecoar por todas as colinas.

— Droga! São os mutantes!!

Chohong gritou.

— Isso é impossível! Essas coisas não tinham um poder como assimilação antes!

— Para de falar besteira! Meio-dia!

Chohong rugiu de raiva. Mikhail seguiu o instinto e voltou o olhar para frente, começando a se desesperar.

Os mutantes que começaram a aparecer não eram só um ou dois. Trinta? Quarenta? Cada um deles portava os mais variados ‘armamentos’ onde deveriam estar os braços. Num piscar de olhos, o caminho à frente foi tomado pela cor cinza.

Swish! Swish!

Veronika conseguiu se levantar à força e disparou uma rajada de flechas. Ambas acertaram em cheio o variante que tentara emboscá-la, mas a coisa nem pareceu se importar e começou a correr de volta em direção ao grupo. O rosto dela empalideceu de surpresa.

Se esses monstros chegassem mais perto, toda a equipe seria cercada em questão de instantes.

— Droga! Mikhail! Vem comigo!

— E-Espera…!

Chohong avançou com força, segurando firme a maça. Mikhail não pôde mais hesitar e correu atrás dela, os dentes apertando o lábio inferior com força.

Seus longos cabelos negros esvoaçaram conforme ela desceu a maça com tudo.

POW!!

A cabeça do variante explodiu como barro, e ele cambaleou de forma instável. Ela passou direto por esse e começou a avançar como um rinoceronte enlouquecido.

Derrubou cinco, seis criaturas em questão de segundos, mas então sentiu algo estranho atrás de si.

— Droga!

Virou-se imediatamente e ergueu o braço esquerdo.

Boom!!

Uma barreira circular disparou do antebraço erguido e bloqueou o ataque furtivo do variante que mirava em suas costas. Ela rapidamente explodiu a cabeça da criatura ofensora e começou a ranger os dentes.

— Ei, seu imbecil! Você devia estar cuidando das minhas cos…?!

Uma expressão de incredulidade preencheu o rosto de Chohong. Aqueles mutantes que ela achava ter derrubado para sempre estavam de pé novamente, em perfeito estado, e agora cercavam Mikhail.

Ele se desesperava, balançando a espada longa para todos os lados, mas todas as partes cortadas dos mutantes voltavam ao normal num piscar de olhos. Pior ainda, o que teve a cabeça destruída pela maça dela começou a regenerar rapidamente, com bolhas surgindo ao redor das feridas.

— Habilidade de regeneração?!

Chohong grunhiu e disparou como um raio para retomar o massacre dos mutantes ao redor de seu companheiro. Conseguiu chegar a tempo de salvá-lo, mas Mikhail já tinha sofrido um ferimento profundo e cambaleava quando ela o alcançou.

Chohong rangeu os dentes com força. Veronika ainda disparava suas flechas, mas isso não estava ajudando em nada. Ela se lembrava de ter ouvido que os novos mutantes seriam mais difíceis de lidar, mas definitivamente não esperava uma diferença tão grande assim.

— Continuam agindo como uns idiotas mesmo, hein.

Maria observava em silêncio e zombava. Estendeu a mão com o crucifixo à frente e falou:

— Luxu, Lu, Luxuria.

Boom!

Junto da sua voz desinteressada, uma barreira semitransparente envolveu os dois na linha de frente com um estrondo firme. Era resistente o suficiente para suportar os mutantes que se lançavam contra ela.

— Bem, já comprei tempo suficiente pra eles, mas…

Maria lançou um olhar de lado.

— Se os rumores não forem exagero, espero que ao menos consiga abrir uma rota de fuga pra esses dois idiotas.

Seol Jihu apertou a lança com força, sem dizer uma palavra. Veronika só podia oferecer suporte com suas flechas, enquanto o papel de Gierszal era o de guardião. Ou seja, ele era o único Guerreiro de verdade que restava.

“Nesse caso.”

Sem um pingo de hesitação, Seol Jihu avançou com a lança azul apontada à frente. Já havia ativado sua mana ao máximo nesse ponto.

— Ei!

Assim que sua mente registrou o grito preocupado de Chohong, ele golpeou a cabeça do variante que se virava para enfrentá-lo.

Riiiip!

“Hmm?”

Só depois de cortar o inimigo até a virilha foi que Seol Jihu percebeu, surpreso, o incrível poder de corte da lança. A sensação satisfatória de rasgar uma argila endurecida foi transmitida diretamente às suas mãos.

“Ei, isso tem uma pegada ótima, hein?”

E isso não foi a única coisa boa que aconteceu.

— O-O que é aquilo?

Chohong deixou escapar um suspiro surpreso ao observar a cena do interior da barreira. O mesmo valeu para Seol Jihu. Sabia que aquelas coisas podiam se regenerar, então já estava preparado para um segundo ataque, mas então…

Crack, crrrackle!

Gelo azul-pálido começou a se formar e se espalhar a partir do ferimento do variante. A criatura tentou se recompor várias vezes, mas no fim, não conseguiu e se derreteu por completo, como se tivesse sido sugada de volta para o chão.

“Congelamento!”

Os olhos de Seol Jihu brilharam em compreensão ao observar com mais atenção a lâmina da lança, que ainda exalava aquele ar congelante. Chohong assistia àquilo, meio atordoada, até que também entendeu o que estava acontecendo e começou a murmurar um cântico. Ele não teve tempo para ver a maça dela sendo gradualmente envolvido por luz, pois estava ocupado demais colidindo contra o fluxo cinzento que vinha em sua direção.

Slice!

Depois de cortar a perna esquerda de outro variante, Seol Jihu teve plena certeza de sua descoberta. Enfiou a lança na testa do monstro caído e voltou a manipular sua mana.

Pow!

Disparou à frente com a ajuda do Brinco Festina, e a horda de mutantes começou a se separar como se ele fosse Moisés realizando um milagre. Mais do que isso, a lança ficava mais leve em suas mãos à medida que despejava mana nela. Pela primeira vez em muito, muito tempo, ele conseguiu executar Estocada, Golpe e Corte à vontade.

E assim, pulverizou instantaneamente dez, onze mutantes no chão, mas então…

— …!!

Os mutantes de repente ignoraram completamente suas próprias vidas e pularam sobre ele, braços abertos. Ele conseguiu derrubar os que vinham pela frente, mas as criaturas ainda o cercaram e se agarraram aos seus lados, costas e pernas.

“Droga!!”

Ele rapidamente derrotou os que estavam agarrados aos seus flancos, mas, nesse ponto, suas costas e tornozelos já estavam presos pelos mutantes.

— Keuk!!

Do nada, sentiu uma dor abrasadora subir pelas costas. Seol Jihu rangeu os dentes, as sobrancelhas se arqueando com força. Incapaz de se mover, só pôde observar, impotente, enquanto um dos variantes, com o braço em forma de lança apontado para seu peito, avançava contra ele!

— Luxu, Lu, Luxuria!

De repente, seu corpo ficou livre novamente. Seol Jihu rapidamente confirmou que os mutantes que o seguravam, assim como o que avançava contra ele, haviam parado e agora caíam lentamente. E Maria estava apontando seu crucifixo em sua direção com uma expressão orgulhosa no rosto.

— Valeu!

Seol Jihu gritou levemente e logo tratou de decepar os pescoços dos mutantes caídos. Ao terminar, girou rapidamente o corpo. Ele sozinho havia massacrado mais de dez inimigos, mas ainda restavam mais de trinta. E bem, todos eles agora estavam voltados para ele, claramente perdendo o interesse pela barreira. Não precisava ser um gênio para entender que seu novo alvo era ele.

“Isso é péssimo…”

Se fossem uns dez, ele não se importaria em enfrentá-los todos, mas isso…

No momento em que Seol Jihu mordeu o lábio inferior…

— Vamos lá!

Chohong saltou para fora da barreira. Em seguida, avançou impiedosamente pelos mutantes que se viravam apressados e colou as costas firmemente nas de Seol Jihu.

— Tem certeza de que pode sair tão cedo?

— Bom, agora eu entendi como as coisas funcionam. Graças a você.

Chohong sorriu e apontou com a maça, agora incandescente, para o variante que perdera a cabeça segundos atrás. A coloração cinza-acinzentada imediatamente se queimou até virar carvão.

— Até quando vocês vão ficar escondidos aí?!

Maria gritou, irritada. Mikhail suava profusamente enquanto se concentrava. Seus ferimentos já haviam sido curados por magia de cura antes mesmo que Seol Jihu percebesse. Só depois que uma aura azulada cobriu sua espada foi que Mikhail gritou de volta:

— Pronto! Pode remover a barreira!

E com isso, a barreira de fato foi desfeita.

— Seus filhos da puta fedorentos. Como ousam me ferir?

Mikhail rosnou com fúria e voltou à batalha, girando a espada envolta em aura azul com raiva.

— Ei.

Chohong, ainda com as costas coladas às de Seol Jihu, falou calmamente.

— Que tal filmarmos umas cenas de ação iradas aqui?

Seol Jihu sorriu ao ouvir a sugestão dela.

Pouco depois, os dois avançaram em direções opostas.

Ele manipulou a lança para cortar o braço do variante que vinha em sua direção, e logo em seguida passou para uma Estocada direto no pescoço. Quando a criatura caiu segurando o pescoço, com o gelo se espalhando rapidamente por todo o corpo, Seol Jihu usou-a como apoio para saltar um pouco à frente e girar a lança em um arco largo.

Agora que tinha aliados cuidando de seus pontos cegos e Maria oferecendo suporte no momento certo, Seol Jihu se deixou envolver completamente pela performance de sua nova lança e focou todo o seu ser na batalha, realizando uma dança vertiginosa na qual se tornava um só com a arma. Até se esqueceu de respirar.

Quando enfim recuperou os sentidos após a onda desenfreada de matança, o entorno já estava tomado por mutantes derrotados, derretendo em poças de nada.

— Sabe… acho que você devia dar uma passadinha num templo quando essa missão acabar.

Chohong ‘desligou’ a luz da maça e riu.

— Sua força está entre Nível 3 e Nível 4. Tenho certeza de que vai subir de nível logo.

Seol Jihu regulou a respiração pesada e abaixou a lança. Mikhail o encarava como se ele fosse um monstro ou algo assim, mas quando seus olhares se cruzaram, ele rapidamente juntou as mãos e abaixou a cabeça.

— Desculpa, mil desculpas! Eu não sabia que essas coisas podiam se assimilar e regenerar desse jeito.

— Nah, tudo bem. Mas e aquela habilidade agora há pouco?

— Habilidade? Ah, quer dizer aquela coisa da luz azul?

— Sim, aquilo é Qi da espada?¹

— Qi da espada? Ah, quem dera. Só um Mestre da Espada de Nível 7 consegue usar isso. Não, pode pensar como uma aura, algo assim.

Mikhail acenou com as mãos, rindo de maneira despreocupada, antes de assumir uma expressão mais séria.

— Mas, falando sério, você é mesmo Nível 2?

Seol Jihu já estava acostumado a lidar com esse tipo de mal-entendido, então conseguiu contornar a pergunta sem dificuldades.

Os combatentes levemente feridos se recuperaram ao beber poções de cura, enquanto Maria permaneceu ao lado de Veronika, que tinha sofrido ferimentos bem mais graves que os outros.

Com isso, a primeira batalha chegou ao fim. Inicialmente, o grupo havia sido pego de surpresa pelas habilidades mais poderosas dos mutantes, mas agora que sabiam como lidar com eles, as próximas lutas deveriam ser bem mais simples. E mais importante ainda, a batalha tinha sido consideravelmente mais fácil graças ao suporte pontual da Sacerdotisa sempre que se encontravam em apuros.

Ao ver Maria curar Veronika por completo com apenas um feitiço, Seol Jihu começou a assentir com a cabeça como um sábio.

“É, foi uma ótima escolha trazer ela.”

1. Qi é similar/equivalente a Mana ou Energia, Qi da espada se refere a manifestação física da Energia de alguém. Normalmente, Qi da Espada/Aura da Espada é o termo dado a habilidade do ápice de controle sobre uma arma, onde a energia, Qi, cobre a lâmina aumentando sua capacidade de corte, alcance, resistência e poder.[↩]