Capítulo 126: A Ira do Rei (3/3)
Chohong deu um leve impulso no chão. Com esse simples movimento, ela voou e pousou suavemente próximo à posição do Ninho.
A criatura entrou visivelmente em pânico e recolheu os tentáculos que rastejavam em direção aos inconscientes Mikhail e Veronika. Em seguida, lançou três, quatro deles na direção de Chohong, que avançava voando, mas…
Tuh-tuh-tuh-tung!!
Todos os ataques foram bloqueados por seu escudo triangular invertido, brilhando com uma luz prateada. A Donzela de Batalha nem sequer se moveu de onde estava. Bastou levantar levemente o braço para desviar os ataques. Ao fazer isso, chamas prateadas pareciam arder intensamente nos olhos de Chohong.
No momento em que ela balançou sua maça, todos aqueles tentáculos explodiram em pedaços. Os fluidos corporais que se espalharam não tiveram nem tempo de molhar o chão; evaporaram no ar por causa da conflagração divina que ardia ao seu redor.
O Ninho soltou um grito estridente quando seus longos apêndices começaram a queimar vivos com as chamas prateadas. Ao perceber que sua oponente havia passado por algum tipo de transformação, a criatura apressadamente recolheu todos os tentáculos, exceto um, que permanecia estendido para além da saída.
No entanto, todos os tentáculos que haviam sido recolhidos começaram a hesitar, como se tivessem sido tomados pela confusão.
Chohong havia desaparecido.
Seol Jihu estava ocupado arrastando os inconscientes Mikhail e Veronika até onde Maria estava, mas até sua mandíbula caiu. Ele piscou apenas uma vez, e Chohong já estava flutuando no ar. Seus olhos dignos e inabaláveis encaravam o Ninho de cima. Ela desceu graciosamente em um arco e esmagou com força o corpo principal do Ninho com sua maça.
POW!!
A superfície semelhante a um tumor cedeu até não aguentar a força e explodiu. Os fluidos avermelhados que jorraram como uma fonte também foram engolidos pela conflagração divina de Chohong, que subitamente expandiu de tamanho.
Wuuuueeehh-!!
Pela primeira vez nessa batalha, o corpo principal do Ninho foi atacado. A criatura soltou outro grito alto e recuou apressadamente.
Contudo, a velocidade de Chohong o superava. Ela colou no inimigo e balançou a maça mais uma vez. Outro buraco horrível explodiu no corpo do Ninho e foi tomado pelas chamas prateadas. A criatura se contorceu selvagemente de dor.
Chohong desapareceu de seu campo de visão mais uma vez. Isso já era prova suficiente de que sua velocidade havia ultrapassado em muito a capacidade do Ninho de perceber movimentos.
A criatura devia estar furiosa. Trinta e tantos tentáculos dispararam em direção ao teto, e começaram a golpear, empurrar e atacar furiosamente em todas as direções.
Kwang! Kwang! Kwang! Kwang!
O chão ao redor tremeu violentamente e cuspiu poeira para o ar. Os tentáculos agora vinham acompanhados do som do ar sendo rasgado enquanto atacavam indiscriminadamente toda a área ao redor. Os ataques frenéticos do Ninho, ao perceber o perigo à sua vida, eram tão poderosos que Seol Jihu, que se aproximava furtivamente para ajudar, não teve escolha senão recuar instintivamente.
“Não posso interferir nisso.”
O que era ainda mais inacreditável era o fato de que Chohong estava no meio de toda aquela fúria.
Shwing! Shwing!
Só de ouvir os sons vindo da batalha já era o suficiente para quase fazê-lo se mijar, e ainda assim, todos aqueles tentáculos flexíveis como chicotes que varriam tudo ao redor erravam Chohong por uma margem de um fio de cabelo.
Chohong se esgueirava como um rio fluente. Seus olhos estavam semicerrados; a forma como desviava dos tentáculos com os braços estendidos lembrava uma patinadora graciosa. Tamanha era a imagem que a descrição dos tentáculos sendo sugados por ela antes de escorregarem parecia descrever perfeitamente a situação atual.
Chohong girou elegantemente o corpo, e seus cabelos prateados giraram junto como vários bambolês. Rastros de luz prateada ficaram para trás enquanto ela aparentemente flutuava em direção ao alvo, até que enfim rompeu a parede de tentáculos e acertou com precisão mais uma maçada no corpo principal do Ninho. Com isso, um terceiro grito ecoou.
Seol Jihu arfou de empolgação. As brasas moribundas da esperança estavam sendo reacendidas.
“Podemos vencer!”
Ele tentou procurar uma brecha que pudesse explorar. Foi então que percebeu que o estado de Chohong havia mudado novamente.
Sua expressão antes serena se contorceu levemente. Suas bochechas pálidas estavam coradas, e sua respiração havia se tornado mais pesada também. Ele achou ter visto um lampejo de ansiedade em seu rosto.
Ele não sabia exatamente o que estava acontecendo, mas, independentemente disso, sabia que a situação estava começando a mudar de novo. O poderoso Ninho, que antes parecia invencível, agora tremia bastante. Mais da metade de seus tentáculos já não podia mais ser usada, e uma grande parte de seu corpo estava queimada e enegrecida. O mais importante era que, dessa vez, o maior ganho estava no fato de que seu enorme corpo havia encolhido de maneira visível.
Contudo, o Ninho não ficou apenas observando. Os tentáculos restantes se expandiram drasticamente. Então, junto aos sons de ar escapando de balões furados, um líquido espesso esverdeado foi vomitado por todos os lados.
Não era apenas um ou dois tentáculos soltando o líquido, e por isso, ele pensou por um instante que água estivesse jorrando de uma fonte gigante quebrada. Mesmo assim, Chohong não estava em lugar nenhum. Para ser mais exato, ela já havia recuado bastante antes mesmo de o líquido tocar o chão.
Quando sua carta final conseguiu apenas derreter o solo ao redor, o Ninho explodiu de pura raiva.
Chohong também cerrava os dentes. Ela ergueu o escudo à sua frente e correu desesperadamente para frente. Essa devia ser a brecha de que ela falara antes, Seol Jihu sincronizou seu movimento com o dela e, segurando firmemente sua lança, também avançou correndo.
Havia apenas uma chance. Ele se preparava para dividir sua energia interna, que fervia como um dragão em ascensão, em duas partes e canalizá-las para a lança e para o brinco, mas então…
Chohong desviou com um tapa o tentáculo que o Ninho lançou com raiva, mas começou a cambalear instável sobre os pés.
— Chohong?!
Seol Jihu ficou profundamente abalado e só então percebeu que a luz prateada ao redor dela havia enfraquecido muito.
…Não, ele estava errado. A luz havia se dissipado completamente. Sua armadura, seu escudo, tudo.
— Ah!
Ao mesmo tempo, a expressão de Chohong parecia a de alguém acabando de acordar de um sono profundo. Ela conseguiu dar mais alguns passos antes de cair de joelhos. Ofegava, e sua mandíbula frouxa se abriu, fazendo o suor acumulado pingar pelo queixo. Como se tomada por amargura, seu rosto se contorceu de forma lamentável.
A razão para isso era simples. A Saia da Valquíria aumentava o poder de combate do usuário ao invocar o espírito da Donzela de Batalha. Isso permitia que o poder de batalha da usuária alcançasse o de um Alto Ranker, mas só podia ser mantido por no máximo 30 a 40 segundos. Depois disso, vinha um caso extremo de exaustão.
Chohong sentia toda a sua força esvair a cada segundo, enquanto lutava para controlar a respiração. O Ninho também parecia estar atordoado. Só mais um golpe, um único golpe, e aquilo poderia chegar ao fim.
— Eu ainda nem…
“…Criei uma abertura de verdade.”
Seu cálculo estava errado por causa da resistência do Ninho, que superava todas as suas expectativas.
Agora que Chohong estava fora de combate, Seol Jihu não teve escolha senão hesitar. O Ninho e seu corpo em convulsão, expandindo-se com urgência, também perceberam o estado estranho dela.
Wuuuooooh?
O Ninho finalmente decidiu erguer um de seus tentáculos, mas voltou a estremecer fortemente. Chohong continuava imóvel, mas outra energia, diferente, porém igualmente poderosa, surgia de algum lugar atrás dela.
— Heeuup-!
Maria inspirou profundamente e se levantou lentamente. Seol Jihu viu o crucifixo sobre o altar se despedaçar em poeira diante dela, e seus olhos brilharam de compreensão.
Ela parecia prestes a desabar a qualquer instante, mas de algum modo Maria conseguiu recuperar o equilíbrio e ergueu ambas as mãos bem alto.
— Mall Te Oculorum Meorum!
Logo em seguida, feixes de luz branca estalaram em direção ao céu como uma corrente elétrica, formando um enorme martelo. O aglomerado de luz continuou a se expandir, demonstrando um poder que não podia ser subestimado. O Ninho ficou visivelmente alarmado.
Ninguém ali podia mais ficar parado só observando. Seol Jihu ativou imediatamente o Brinco Festina. Enquanto isso, o Ninho entrou em pânico e lançou um tentáculo com tudo em direção a Maria. Suas sobrancelhas se ergueram alto enquanto ela gritava:
— Mjolnir!
A luz ofuscante explodiu. Os olhos de Seol Jihu, que estava prestes a avançar, se arregalaram. Ao mesmo tempo, Chohong virou-se rapidamente para trás, em puro choque. Sob o martelo de luz que caía como uma retribuição divina, um tentáculo solitário voava como uma flecha em direção à Sacerdotisa. Maria olhava atônita para o tentáculo, com o rosto coberto de suor e uma expressão estupefata.
Naquele momento dividido em frações de segundo…
Quais foram os pensamentos que passaram pela cabeça de Seol Jihu diante da única oportunidade criada através do esforço inacreditável de todos?
Ele tinha certeza de que Maria morreria. Mesmo Guerreiros tinham dificuldades em suportar os tentáculos e tentavam desviar deles, então não havia chance alguma de uma Sacerdotisa sobreviver a um golpe direto.
Seus passos, antes direcionados ao Ninho, fizeram uma curva de noventa graus.
Boom!
Ele ativou a habilidade de acúmulo do brinco e convocou cada gota de energia que podia para correr. Achou ter ouvido alguém chamar seu nome, mas ignorou e simplesmente avançou. Maria apertou os olhos com força quando o tentáculo se aproximou de sua posição num piscar de olhos.
— Merda…!
No momento seguinte, a caverna subterrânea foi tomada por um clarão ofuscante e um som trovejante. O barulho era tão alto que a sensação de alguém abraçando-a e até mesmo os gritos do próprio Ninho foram completamente abafados.
Instantes depois, os olhos de Maria se entreabriram e ela prendeu a respiração de forma abrupta. Seol Jihu a abraçava com força. Ela achou que ele havia se sacrificado por ela, mas, contrariando suas expectativas, ele estava completamente bem.
Ele também estava atônito com aquilo. Nem teve tempo de se proteger. Apenas a puxou, acreditando que conseguiria bloquear o golpe de alguma forma. Mas, então, tanto ele quanto Maria estavam totalmente ilesos. Ele piscou várias vezes, mas logo descobriu o motivo. Chohong estava de pé diante deles, com o braço esquerdo erguido.
— C-Chohong!!
Seol Jihu foi tomado por um alívio momentâneo, mas logo a realidade caiu sobre ele e ele gritou alto. As costas de Chohong tremiam violentamente.
Creak, creak.
Ela virou a cabeça como uma marionete com os fios cortados, e com o rosto sem energia, seus lábios tremiam levemente.
— …Ei, seu… idiota… burro…
Ela inspirava e expirava com dificuldade, abaixando o braço esquerdo dolorosamente devagar.
— Eu disse… pra aproveitar a chance…
— …Cho, Chohong?
— Mas… você escolheu… salvá-la…?
— V-Você…
Seol Jihu sentiu que havia algo muito errado. O braço esquerdo de Chohong não podia ser visto. Para ser exato, não havia mais nada abaixo do cotovelo. E ao olhar mais de perto, viu que suas costas estavam gradualmente sendo tingidas de carmesim. O rosto de Seol Jihu ficou atônito.
— …Mas, pensando bem…
Ao ver a expressão dele, os lábios de Chohong se curvaram. Era um sorriso solitário e triste.
— …Isso é bem a sua cara…
Com isso, seu longo cabelo negro esvoaçou no ar. Lentamente. Chohong caiu lentamente. Só depois de cair é que ele percebeu o grande buraco em seu peito esquerdo. Sua armadura quebrada, o braço perdido, até mesmo o nariz afilado que subia e descia com tanta dificuldade, tudo parou de se mover.
A princípio, não houve mudança na expressão de Seol Jihu. No entanto, seus olhos começaram a tremer violentamente e seu rosto pareceu envelhecer mais de dez anos em um instante.
Ele não conseguiu fazer nada. Não deveria ter ficado esperando por uma chance. Não, ele deveria ter sido o responsável por criá-la para os outros. Mesmo que isso custasse sua vida. Mas nem isso conseguiu fazer.
O arrependimento veio tarde demais. E, junto a ele, um sentimento de impotência e a consciência de sua própria fraqueza.
Thump!
Seu coração disparou. Seus batimentos se aceleraram.
Maria, que observava o estado de Chohong, ergueu a cabeça apenas um pouco. Para sua surpresa, o Ninho ainda estava vivo.
Levou uma surra da maça de Chohong e ainda foi atingido diretamente pelo Mjolnir, e mesmo assim ainda estava vivo. É verdade que seu estado era deplorável no momento, mas, independentemente disso, ainda respirava. Sua vitalidade tenaz a fez ranger os dentes.
E não era só isso. De repente, ele começou a emitir sons de deglutição e iniciou um processo de regeneração.
Mjolnir definitivamente havia infligido um ferimento fatal. No entanto, bolhas fervilhavam, e a carne acinzentada continuava a subir. Logo, ele cuspiu uma lança e um escudo. Ao ver isso, Maria soltou uma risada amarga.
— Hah.
Se seus olhos não estavam enganados, então aqueles armamentos pertenciam a Gierszal. Em outras palavras, ele tentou escapar sozinho e foi morto no processo. O Ninho, gravemente ferido, estava absorvendo o cadáver para se recuperar. Ela se perguntou por que ele tentava tanto atrair os humanos caídos, mas agora entendia o motivo.
“Idiota de merda. Até na morte, você é completamente inútil.”
Por um lado, ela se sentia arrependida. Talvez devesse ter orado por um feitiço mais forte. Em vez de querer reduzir o efeito colateral, tentou acertar o tempo certo e escolheu um feitiço que lhe permitisse terminar a Cerimônia no tempo. E essa decisão seria seu arrependimento final.
— …Eu não devia ter vindo.
Murmurou Maria, abatida. O Ninho agora havia recuperado algumas partes de si e levantou vários tentáculos, que começaram a se agitar.
Wookikiki.
Ele soltou até um som estranho, que parecia uma risada de escárnio.
— Por que você não me deixou morrer?
Maria fez um biquinho e apoiou a cabeça fraca contra o peito de Seol Jihu.
— Se você tivesse aproveitado a brecha, pelo menos você e a Chohong estariam…?!
Mas então, seus olhos se arregalaram.
Thump! Thump! Thump! Thump!
A frequência cardíaca dele era rápida demais para ser normal.
Brrrr.
Ela sentia até o corpo inteiro dele tremer incontrolavelmente.
E então aconteceu.
Crack… crack…
Ela ouviu o som de dentes rangendo, tão suave e ao mesmo tempo arrepiante, que custava a acreditar que fosse produzido por um ser humano. Maria se encolheu e ergueu a cabeça cautelosamente.
— Você…?
Naquele instante…
【Sua habilidade inata, Visão do Futuro, foi ativada.】
Maria viu claramente.
Ela viu o jovem com um fio de sangue escorrendo pelos lábios. Não, ela viu o jovem com o rosto retorcido, semelhante ao de um rei demônio da carnificina e da loucura.
Como se estivesse em transe, ele se afastou de Maria. Segurava a lança com tanta força que o cabo parecia prestes a se despedaçar.
De repente.
Morte… uma intenção assassina clara e distinta envolveu o corpo de Maria. Era uma intenção tão sinistra que só de estar perto dela, seu corpo se arrepiou inteiro.
— Não…
Como o uivo de uma besta, um rosnado reprimido escapou de sua boca.
— Não fode…
Seus olhos injetados de sangue começaram a emitir um brilho carmesim. Uma quantidade inacreditável de energia se espalhou, e o chão abaixo se rachou e tremeu.
A batalha final.
Era o retorno do demônio do campo de batalha, aquele que outrora devastara inúmeros campos de batalha sem jamais encontrar resistência.
— NÃO FODE COMIGO, SEU FILHO DA PUTA!!
No momento em que seu rugido de fúria sacudiu toda a caverna subterrânea…
BOOM!!
Os fluidos corporais do Ninho jorraram. Maria arregalou os olhos em descrença e virou rapidamente a cabeça para o lado. Lá estava, uma única lança que explodiu parte do corpo do Ninho. Até a própria criatura demorou um segundo para reagir. Seus tentáculos, que dançavam zombeteiramente, recuaram tomados de medo.
— C-Cuid…!
Maria estava prestes a gritar ‘Cuidado!’ mas não conseguiu, sua mandíbula simplesmente caiu. Um tentáculo voou na direção de Seol Jihu, mas ele apenas estendeu a mão. Despertou uma quantidade colossal de mana, agarrou o tentáculo… e o esmagou com a mão nua!
Rasgo!
O tentáculo se contorceu loucamente, como se o Ninho estivesse em frenesi por causa da dor intolerável de sua carne sendo dilacerada.
Seol Jihu jogou fora o tentáculo, e sua lança começou a ressoar alto. Parecia estar chorando. Quase imediatamente depois, uma aura de lâmina de coloração gélida, com cerca de um metro de comprimento, surgiu na ponta da lança.
“Impossível!”
Quantas surpresas mais ela teria que aguentar hoje? Maria viu claramente a aura flamejante e congelante saindo da lança, e gritou mentalmente em puro espanto.
“Aquilo… aquilo é uma habilidade acessível apenas a Guerreiros de Rank Único…?!”
Mais especificamente, era uma habilidade que apenas uma pequena parcela de Rankers Únicos era capaz de usar. E, se sua memória não falhava, ela só a vira uma única vez durante toda sua carreira como Sacerdotisa em Paraíso.
A Arte Secreta do Highlander de Nível 7 – Onda de Qi da Espada.
Seol Jihu girou o braço com força. A lâmina azul-gélida de energia cintilou para a esquerda e para a direita como se exibisse um espetáculo de luzes. Num piscar de olhos, todos os tentáculos presos ao corpo principal do Ninho foram cortados e caíram com estrondos no chão. Aquelas malditas coisas, tão resistentes e persistentes até então, foram reduzidas à inutilidade completa.
E não parou por aí. Como se anunciasse que aquilo era apenas o começo, Seol Jihu agarrou a lança com ambas as mãos e começou a golpear e cortar como um louco. Toda vez que o Qi da espada de Seol Jihu tocava o Ninho, pedaços de carne voavam junto com seus fluidos corporais.
— Uwaaaahhh!!
Em algum momento, o Ninho parou de se mover completamente. No entanto, a lança de Seol Jihu não parou. Seu estado furioso era tão assustador que até Maria recuava assustada.
Assim, ele golpeou e fatiou até que o Ninho se tornasse uma pasta de carne.
Quanto tempo passou assim?
Puck!
Sua lança cravou o chão. Ele havia golpeado por tanto tempo que o corpo principal já praticamente desaparecera. Tudo que restava era uma massa disforme de carne escurecida e retorcida.
— Haaa… haaa…
Seol Jihu recuperava o fôlego naquele mar de pedaços e fluidos antes de finalmente recobrar a consciência. Olhou ao redor, atônito, por um ou dois segundos. Então, virou bruscamente a cabeça para trás e gritou:
— Maria!
Correu rapidamente até onde ela estava. Maria se encolheu e recuou instintivamente, mas parou ao ver a expressão no rosto dele e a forma como se comportava.
Sua expressão havia voltado ao normal. A mudança era tão drástica que ela não pôde deixar de pensar que o que viu antes havia sido uma alucinação.
Maria abriu a boca com cautela, os olhos ainda cheios de desconfiança.
— Você… O que você é, afinal?
— Hã?
— Tá de sacanagem comigo?! Se você tinha esse tipo de poder, por que não usou desde o começo…?! — Maria gritou alto, acrescentando — A gente não teria passado por tanto sofrimento! Você tem ideia do quanto eu perdi hoje?!
— E-Eu também não sei o que aconteceu. Eu vi a Chohong caindo, e… minha mente apagou…
Seol Jihu balançou a cabeça com força. Maria fez uma expressão ainda mais incrédula. Continuou resmungando de forma amarga, sem parar.
— Para de palhaçada, tá? Isso é igualzinho àquela porcaria de protagonista que tá morrendo e de repente pula cheio de energia nova só porque a heroína derramou umas lágrimas.
— M-Mas antes disso, por favor, salva a Chohong!
Seol Jihu percebeu rapidamente seu erro. Maria já havia realizado uma Cerimônia, não? Será que ela conseguiria realizar outra?
Maria rapidamente sentiu o pulso de Chohong por um instante, e suas sobrancelhas se ergueram de imediato.
— Vai buscar o braço dela. Agora!
— Hã? M-Mas… e o efeito colateral…?
— Você acha que o Mjolnir é um feitiço de alto nível tipo Cura de Ferimentos Colossais? Eu dou um jeito nisso, então vai logo buscar essa porcaria!
Foi um alívio. Seol Jihu rapidamente localizou o braço separado de Chohong e o trouxe de volta.
— Ela ainda não morreu. Está fraco, mas ainda consigo sentir o batimento do coração dela. Além disso, não passou tanto tempo assim, então ainda dá pra tratar.
Ela enfatizou a palavra ‘tratar’ e arregaçou as mangas como uma especialista. Rapidamente, conjurou o feitiço.
— Cura de Ferimentos Massivos.
Um raio de luz morna envolveu suavemente todo o corpo de Chohong. Maria aparentemente achou que um feitiço só não seria suficiente, então recitou outros adicionais. O buraco no peito de Chohong foi se fechando aos poucos, e o braço separado começou a se reconectar.
— Ela vai ficar bem? Vai sobreviver, né?
— Já fiz tudo o que podia. Agora depende da própria paciente. Bom, ela já rala em Paraíso faz tempo, então duvido que vá morrer por causa de um choque desses.
Maria respondeu de forma seca e se levantou, provavelmente para verificar o estado de Mikhail e Veronika também.
Será que ela quis dizer que as chances de sobrevivência eram boas? De fato, Chohong não era nenhuma fraca. Era uma mulher forte. Enquanto ainda respirasse, poderia ser tratada, era isso que Maria devia ter querido dizer.
Sentindo-se aliviado agora, Seol Jihu deixou escapar um suspiro.
— Ah…
Só então uma terrível sensação de exaustão bateu com força em sua consciência. Esse era o preço por ter forçado sua mana além dos limites apenas para utilizar uma habilidade de alto nível, vários reinos acima de seu estágio atual.
Ele caiu sentado, mas não conseguiu se manter ereto e simplesmente deitou de costas. Lançou um olhar para o rosto adormecido de Chohong, que agora parecia sereno e tranquilo.
Ele não conseguia lembrar direito do que havia acontecido. Sua memória se apagara no momento em que viu a mensagem sobre a Visão do Futuro.
Mas, independentemente do que tenha sido, eles haviam saído vivos. Ele achava que ia morrer, mas estava vivo agora.
Mais importante que isso, Chohong não morreu. Acima de tudo, ele queria ficar feliz com isso e comemorar de coração.
— Olha só pra esse cara…
Maria voltou para perto dele e soltou uma risada amarga ao vê-lo deitado ao lado de Chohong.
— Ei, você não tá achando que eu vou carregar quatro pessoas pra fora daqui, né?
— N-Não dá pra fazer uma pausa? Eu tô realmente exausto agora…
Maria o encarou por um tempo. Estava claro que não estava totalmente convencida. Do nada, porém, começou a esfregar os olhos com força.
Plic, plic.
Suas lágrimas caíram sobre o rosto de Seol Jihu, que fez uma leve careta.
— Pronto, agora você já pode se mover, né?
Seol Jihu ficou momentaneamente sem palavras.
— Não quero ficar mais aqui. Quero sair daqui agora.
Seol Jihu concordava com ela 100%, mas infelizmente, estava por um fio de cair no sono profundo, vencido pelo cansaço.
— Qual é o problema? Cadê aquele gás extra de novo? Minhas lágrimas não são o suficiente pra você?
Maria murmurou de forma sarcástica, os olhos ainda molhados.
— Não, bom, não é isso…
Seol Jihu ficou pensativo por um instante antes de falar com franqueza o que sua mente cansada conseguiu formular.
— Acho que é porque você não é a heroína dessa história, senhorita Maria.
— …
Maria o encarou em silêncio antes de dar um chute forte na lateral dele.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.