Capítulo 127: O Lamento de Maria (1/3)
Seol Jihu não conseguiu resistir às reclamações insistentes de Maria e se forçou a levantar do chão. Ele arrastava Mikhail e Chohong, enquanto Maria carregava Veronika para fora da caverna subterrânea.
Eventualmente, deixaram toda a região montanhosa para trás e voltaram ao acampamento inicial. Só então ele sentiu, de verdade, que havia sobrevivido ao encontro mortal. Lágrimas ameaçaram escorrer de seus olhos, mas ele as conteve.
Maria, no entanto, chorou. Embora seu jeito de falar fosse um tanto grosseiro, no fim das contas, ela ainda era humana como ele. Seol Jihu sentiu uma certa afinidade por ela e esboçou um sorriso silencioso.
— Tá rindo de quê, hein?! Vai se foder, tá achando engraçado ver alguém chorar?
— ….
Aparentemente, as lágrimas de Maria eram pela perda do crucifixo que teve de sacrificar durante a Cerimônia. Ela disse algo sobre ser um item que nem todo o dinheiro do mundo poderia comprar, mesmo que se tentasse considerar o valor dele.
Maria havia perdido seu artefato mais valioso, e sua aparência também estava um caos. Talvez fosse inevitável que acabasse desabando em lágrimas, considerando o estado deplorável em que se encontrava.
Seol Jihu tentou consolá-la o mais gentilmente possível com um:
— Mas conseguimos resolver o mistério.
Mas Maria se irritou imediatamente e rebateu gritando:
— E a fama bota comida na mesa agora?!
Ela então começou a despejar todo tipo de lamento, críticas e suspiros.
— Eu não devia ter vindo com vocês. Se soubesse que isso ia acontecer, esquece 15 moedas de prata, nem por 150 moedas eu teria dito sim!
Mas Seol Jihu também tinha algo a dizer sobre isso.
— Bom… se você tivesse ficado do meu lado na votação…
— Eu não sabia que ia virar esse inferno!
Maria agarrou a gola dele e começou a sacudi-lo num surto de raiva. Gritava, — Por quê?! Por que você não me convenceu melhor?!
Ela já não pensava com clareza. Respirava como um touro enfurecido, levantou-se de onde estava sentada e marchou até onde Mikhail e Veronika ainda dormiam. Então, começou a chutá-los sem dó, repetidamente.
“…Ela pirou de vez.”
Seol Jihu suspirou com cuidado e simplesmente desviou a atenção dela. Em vez disso, olhou preocupado para Chohong. De forma misteriosa, seu cabelo ainda permanecia em um tom prateado brilhante. Com essa aparência, ela parecia outra pessoa completamente diferente. Estava incrivelmente bela, como uma deusa adormecida, deitada em silêncio.
Seol Jihu acariciou os fios macios de seu cabelo por mais algum tempo antes de deitar calmamente ao seu lado, ainda segurando uma mecha em sua mão.
Já era de manhã quando ele abriu os olhos. Percebeu também que havia dormido profundamente, esquecendo completamente que deveria estar de vigia. Algo assim nunca deveria acontecer, mas, naquele estado de exaustão, era inevitável.
Os primeiros a recobrar a consciência foram Mikhail e Veronika. No começo, estavam confusos e sem entender o que havia acontecido, mas depois que Seol Jihu explicou tudo o que ocorreu durante e após a batalha, eles compreenderam a situação. Quando souberam que Gierszal havia fugido assim que ficaram inconscientes, começaram a rugir de raiva.
— Aquele filho da puta do Gierszal…!
Mikhail bufava, com o rosto vermelho.
— Desgraçado de merda. Vai ver só! Eu vou contar pra todo mundo, não só em Haramark, mas em qualquer canto desse Paraíso, pra ele nunca mais conseguir se juntar a grupo nenhum!
Como diz o ditado, más notícias correm rápido. O impacto de um boato espalhado assim poderia ser devastador. Nenhum Terráqueo acolheria alguém que abandonasse seus companheiros no meio de uma batalha.
Seol Jihu teria feito o mesmo, se fosse necessário. Mas, no fim das contas, já não havia mais essa necessidade.
— Não precisa.
— Hã? Por quê?
— Ele já está morto.
Só de lembrar daquele momento, Seol Jihu ficava com raiva. O Ninho havia absorvido o corpo de Gierszal e se recuperado do ferimento fatal que Maria e Chohong arriscaram suas vidas para causar. Se sua ‘Visão do Futuro’ não tivesse ativado a tempo, todos eles teriam morrido ali mesmo.
— Bem feito pra ele.
— Ainda bem que morreu. Desgraçado.
Aquelas reações não eram exatamente o que Seol Jihu esperava. Eles pareciam companheiros de longa data. Em vez de se sentirem amargurados ou até tristes, comemoravam de verdade. Mikhail falou ao ver a expressão no rosto de Seol Jihu:
— Não precisa sentir pena de um desgraçado desses, sabe?
— Não, não é isso. Não estou com pena.
— Ele foi quem jogou fora o elo de confiança entre nós. Cometeu um dos tabus de Paraíso. Se era pra agir por conta própria, por que entrou num grupo, então? Era melhor ter ido brincar sozinho.
Essas palavras não estavam erradas. Mikhail umedeceu os lábios, observou o jovem em silêncio por um tempo e então juntou as mãos em um gesto de desculpas.
— Me desculpa.
— ?
— Não só por causa do Gierszal, mas, bom… Você estava certo. Não devíamos ter entrado naquela caverna. Mas a ganância falou mais alto, e…
Veronika também abaixou o olhar, como se não tivesse mais nada com que se justificar.
Se fosse ser honesto, aquele grupo realmente não atendia aos padrões de Seol Jihu. Comparado à expedição anterior, eles estavam vários níveis abaixo. Samuel e Veronika, por exemplo, estavam em ligas completamente diferentes, como o céu e a terra.
Mas, por outro lado, foi esse o grupo que ele conseguiu reunir. Esses dois deram o melhor de si. Pelo menos, não tentaram fugir como aquele lá, e só isso já era algo.
Talvez fosse por isso que Seol Jihu pôde rir.
— Tá tudo bem.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.