Índice de Capítulo

    Pode ter levado meio dia para chegar à vila de carruagem, mas a viagem de volta a pé levou quatro dias de caminhada ininterrupta.

    Maria nem se deu ao trabalho de dizer nada e foi direto para o templo. Mesmo que a reação adversa tivesse sido leve, uma Cerimônia ainda era uma Cerimônia no fim das contas. Ela mencionou que precisava orar e se recuperar em um templo onde o deus residisse, a fim de evitar possíveis perdas.

    Por outro lado, Mikhail e Veronika pareciam relutar em se despedir assim de repente. Era bem óbvio o motivo: as habilidades, o discernimento e toda a conduta de Seol Jihu durante a missão haviam deixado uma impressão marcante neles.

    Era difícil estimar o quanto ele ainda cresceria, considerando o quão impressionante já era no Nível 2. Eles não tinham nada a perder se se aproximassem dele desde já. Afinal, quem sabia o que poderia acontecer no futuro?

    Mikhail concluiu seus cálculos mentais e fez uma sugestão amistosa de tomarem umas juntos. Disse que pagaria pelas bebidas como forma de agradecimento por terem suas vidas salvas, ele e Veronika.

    Seol Jihu também começou a mexer com seu ábaco interno. Já tinha sentido isso antes, e agora não era diferente, ele não simpatizava muito com aqueles dois. No entanto, suas habilidades provavelmente teriam um bom salto ao chegarem ao Nível 4. Pensando no futuro, não seria uma má ideia manter um bom relacionamento com eles. O mais importante, porém, era que Chohong, amante de bebida grátis, deu várias indiretas de que queria ir, então ele não teve escolha senão aceitar.

    Naquele dia, Seol Jihu seguiu o que o bar prometia: comeu, bebeu e se divertiu até quase cair de tanto beber. Cantou alto e alegre com Chohong no caminho de volta para o escritório. Tomou um banho revigorante mais do que merecido e se deitou de costas na cama. Depois de dormir várias noites seguidas no chão duro e implacável, aquela cama modesta parecia ser o lugar mais macio e confortável do mundo inteiro.

    “Isso é tão bom.”

    Ele realmente gostava do cheiro de pessoas vivendo ao seu redor. Não estava mais sozinho. Agora, era um Terrestre que havia feito seu ninho em Haramark.

    Um sorriso satisfeito surgiu em seu rosto enquanto pensamentos iam e vinham em sua mente. Seu semblante continuou sereno e feliz enquanto ele mergulhava no sono.


    Ele só percebeu que Dylan e Hugo não estavam no escritório na manhã seguinte ao seu retorno a Haramark.

    Como as bagagens usuais dos dois não estavam por ali, não parecia que tinham saído para um simples passeio, mas Seol Jihu deixou pra lá. Afinal, ele já sabia que os dois tinham uma missão para cumprir.

    Não fazia ideia de quanto tempo ficariam fora, mas, considerando que Cinzia veio pessoalmente falar com a dupla, a missão claramente não era do tipo que terminava em um ou dois dias.

    E como Ian também foi envolvido, Seol Jihu não pôde deixar de se perguntar se a família real estava de alguma forma por trás disso.

    “Peraí.”

    Então isso significava que só ele e a Chohong estavam morando naquele prédio? Não era meio como um casal morando junto?

    — Ohh, sim. Isso sim é refrescante. Isso realmente acorda a gente para sempre, não é?

    Foi aí que ouviu a voz familiar dela. Chohong tinha acabado sua rotina matinal de treino e cura de ressaca, tomado um banho e saía do banheiro sacudindo o cabelo molhado.

    “Uau…”

    Não importava quantas vezes visse aquilo, ele não conseguia evitar.

    Aquelas coxas firmes saindo do contorno dos shorts curtos. Os glúteos arredondados e bem torneados que se conectavam com as coxas. As linhas arqueadas que subiam dali e formavam curvas lindas como as de um vaso de porcelana branca, com o umbigo no centro chamando a atenção. E o peito, mais destacado do que antes sob a regata branca.

    Talvez ele tenha encarado por tempo demais, porque Chohong parou de beber água e lançou um olhar estranho.

    — Que cara é essa?

    — Q-Que cara o quê?

    — Seus olhos estão tremendo que nem duas minhocas, e o filtrum embaixo do seu nariz tá quase arrastando no chão…

    Chohong se jogou no sofá e se acomodou. Seol Jihu rapidamente tomou o lugar ao lado e começou a acariciar o cabelo dela como se fosse seu novo passatempo favorito. Os fios ainda molhados brilhavam naquele tom prateado hipnotizante. Pareciam tão bonitos e macios que ele não conseguiu parar de tocar.

    Chohong mordia uma fruta, mas um calafrio percorreu sua espinha. Ela virou a cabeça e flagrou Seol Jihu agarrando algumas mechas do seu cabelo para esfregar o rosto nelas.

    — …O que você tá fazendo?

    — Hm? Ah, é que é gostoso de tocar, sabe? E também é bonito de ver.

    — Para com isso. Tá me dando arrepios.

    — Queria que seu cabelo ficasse assim pra sempre.

    — Para de sonhar, vai? No mais tardar, ele deve voltar à forma orig… Ai, já falei pra parar com isso!

    Seol Jihu tentou amarrar o cabelo dela em forma de lacinho, então ela ficou irritada e sacudiu a cabeça com força. Todo o esforço dele para criar o laço perfeito foi por água abaixo, e ele só pôde lamentar a perda em silêncio.

    — Você bateu a cabeça? Tá parecendo um tarado desse jeito!

    — Por favor, deixa eu tocar mais um pouco? Você me trata como travesseiro, então é justo, né?

    Argh, seu…

    Chohong ameaçou jogar a fruta nele, mas deu uma mordida generosa em vez disso.

    Orya!

    Em seguida, se deitou no sofá e esticou as pernas sobre o colo dele. Sem querer ficar por baixo, Seol Jihu também agarrou os cabelos dela.

    — Solta agora. Ou então…

    — Então abaixa as pernas.

    Hng!

    Chohong bufou em desafio. Suas bochechas inflavam e desinflavam enquanto mastigava, até que falou com ele:

    — Ei.

    — ?

    — Vou ao templo hoje. Quer ir junto?

    — Mas eu sou da Gula. Você não é da Ira ou da Inveja?

    — Argh, fala sério. Você é Nível 2, sabia? Não importa onde você vá, desde que não seja Nível 4.

    Ela tinha razão.

    — Além disso, também tô pensando em dar uma passada no templo da Gula.

    — Sério? Mas por que você iria no templo da Gula?

    Seol Jihu estava usando as coxas dela como tamborim improvisado, mas parou de bater assim que ouviu isso. Será que…?

    — Peraí. Sério mesmo?

    — Não é nada certo ainda. Vou saber quando chegar lá.

    Chohong manteve uma expressão desinteressada. Evitou encará-lo e ficou focada em mastigar a fruta. Mas não conseguiu esconder por completo os cantos dos lábios se curvando pra cima de vez em quando. Seol Jihu, por sua vez, abriu um sorriso radiante.

    — Sério? Vai virar Nível 5?

    Ele cutucou a lateral dela, e Chohong se contorceu no sofá, explodindo em gargalhadas.

    — Ai, já falei que primeiro tenho que ir lá ver!

    Ela continuava rindo enquanto ele a fazia cócegas.

    — Por que não disse nada?

    — Não esperava que fosse aparecer um Ninho do nada, né?

    — Já decidiu qual caminho vai seguir?

    — Ainda não. Não quero saber da Invidia. Se for com a Ira, viro Templária. Se for com a Gula, tem uma boa chance de eu virar Cruzada.

    — Templária, Cruzada… Que inveja. Até os nomes são estilosos.

    Seol Jihu saltou do sofá.

    — Então não temos tempo a perder. O que você tá esperando? Vamos logo!

    — Calma aí. Eu vou depois do café da manhã, tá? Além disso, acha que virar um Alto Ranker é fácil assim?

    — Não é?

    — Do Nível 5 pra cima, só experiência não basta. Eles também contam seus pontos de contribuição.

    — Pontos de contribuição?

    Chohong já tinha terminado a fruta. Limpou as mãos e assentiu com a cabeça.

    — Pontos de contribuição, pontos de conquista, dá no mesmo. Eles avaliam quanto serviço você prestou ao Paraíso até agora, essas coisas.

    — Se não tiver o suficiente, não dá pra chegar no Nível 5?

    — Bom, é meio difícil dizer, porque…

    Chohong inclinou a cabeça de um lado pro outro antes de continuar:

    — Sabe, até a família real se envolve quando chega a hora de avançar pro Nível 5.

    — A família real? Sério?

    — Sim. Você vai até o templo e é reconhecido lá, depois cumpre a missão que a família real te dá. Só então pode subir de nível. É tipo um exame de promoção.

    — Tem que passar por tudo isso? Sem exceções?

    — Bom, obviamente já houve casos de pessoas que avançaram de nível sem precisar passar por um teste, mas isso só acontece com quem contribuiu muito mesmo ao chegar no Nível 4. Sabe, aquele tipo que não gasta nenhum ponto de conquista e só vai de um campo de batalha pro outro. Mas praticamente não tem Terrestres assim.

    Seol Jihu murmurou para si mesmo:

    — É mais complicado do que eu imaginava.

    Chohong deu de ombros.

    — Fazer o quê. Quando se chega nos níveis mais altos, a forma como as pessoas te tratam muda. Ah, mas guerreiros ainda têm a vida mais fácil que sacerdotes, com certeza.

    — Quão difícil é para os sacerdotes, então?

    — Ouvi dizer que tem que preparar uma porrada de oferendas e ainda provar seu valor de alguma forma. É tudo bem chato.

    Seol Jihu assentiu.

    — Ser sacerdote não é tão fácil quanto parece, né?

    — Pode apostar. Se for ver bem, toda classe tem seus prós e contras. O mesmo vale para os magos.

    — De qualquer forma, que tal comemorarmos hoje à noite?

    Chohong foi pega de surpresa.

    — Comemorar? Eiii, nem precisa. Não é algo que mereça comemoração.

    — Claro que é. A Carpe Diem tá prestes a ganhar seu segundo Alto Ranker.

    — Tô dizendo que não precisa. É até meio vergonhoso.

    Seol Jihu segurou facilmente a mão que ela agitava em protesto e a puxou para mais perto.

    — Não seja assim e vamos fazer isso. Permita-me esbanjar esta noite para que eu possa obter algo de você em um futuro próximo, está bem?

    — S-Sério? B-Bom, se é por esse motivo… Então, por que não?

    Ela provavelmente não se sentia nem um pouco mal por alguém estar comemorando por ela, porque parou de fitar ele de canto de olho e se levantou do sofá fingindo estar rendida. Mas um sorriso brilhante florescia em seu rosto pálido. Ficava muito bem nela. Ela abriu a boca para falar entre sorrisos.

    — Será que tudo bem só nós dois comemorarmos?

    — Aí não tem jeito. Quando o Dylan e o Hugo voltarem, a gente faz outra comemoração.

    — Kek! Já consigo imaginar a cara do Hugo. Quando ele descobrir que subi de nível antes dele, vai ter uma baita crise de dor de barriga de inveja.

    Os dois riram alto e deixaram o escritório juntos.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (3 votos)

    Os comentários estão desativados.
    Nota