Capítulo 134: Eu Não Quero Viver Assim (5/10)
Vários dias antes, no terceiro andar do escritório da Carpe Diem.
— Um Ogro mutante??
Dylan congelou no meio do movimento de levar a xícara de chá à boca.
— Correto. A notícia veio da Federação.
— É a primeira vez que ouço falar disso. A raça dos Ogros não tinha sido aniquilada?
— Essa é uma notícia bem quente. Eu mesmo custei a acreditar, mas dizem que a situação deles piorou muito por causa do surgimento desse Ogro mutante. Ouvi dizer que não conseguiram segurar a posição e acabaram tendo que abandonar a Fortaleza Tigol.
Tang!
Dylan pousou a xícara com força.
— Não consigo acreditar.
Sua boca se abriu de surpresa — algo raro de se ver.
— A Fortaleza Tigol não era um dos pontos estratégicos mais importantes da Federação? E eles largaram assim?
— Isso mostra o quão poderoso é esse Ogro mutante.
— Que merda. Como é que as coisas chegaram a esse ponto?
Os Parasitas eram uma raça que sobrevivia, fundamentalmente, parasitando outros seres vivos. Não importava se era um cadáver ou não, eles tomavam controle dos corpos para reforçar suas forças de combate.
A Federação e os humanos não eram burros. Depois que a Aliança dos Homens-Fera foi destruída, ou melhor, depois que os Parasitas usaram os cadáveres para se multiplicar em massa, as duas forças remanescentes bolaram uma nova estratégia: incinerar todos os restos mortais, fossem de aliados ou inimigos. Eles decidiram queimar tudo, pois sabiam que aquilo se tornaria força de combate inimiga se deixado para trás.
Mas a Rainha Parasita não ficou de braços cruzados. Como se estivesse zombando dos esforços das outras forças, ela criou existências chamadas Ninhos.
Originalmente, os Parasitas, como espécie, não tinham a capacidade de conceber ou dar à luz. Ninguém sabia que tipo de bruxaria estava envolvida, mas os Ninhos, agindo como mães grávidas, e os novos tipos de Parasitas nascendo através deles causaram um choque gigantesco nas demais forças.
Isso por si só já era um baita problema. E agora, uma raça supostamente extinta, como os Ogros, aparece de novo?
— Aquela vadia parasita tá basicamente dizendo que não vai ficar só observando como as coisas se desenrolam.
Huuu…
Cinzia soltou a fumaça do cigarro e continuou:
— Aquela desgraçada tá preocupada com uma coisa só. Que nós e a Federação nos unamos.
Fazia sentido. A Federação pode até ter acolhido as Fadas das Cavernas, mas mesmo assim só conseguia se manter viva aos trancos e barrancos diante da ofensiva unificada dos Parasitas. E esse equilíbrio frágil estava pendendo contra eles por causa da aparição do Ogro mutante.
Porém, se a Federação e os humanos decidissem juntar forças, a história poderia mudar. Mesmo sendo o elo mais fraco, a humanidade contava com o apoio dos sete deuses representando os Sete Pecados Capitais. E com a chegada em massa dos Terrestres, eles não podiam mais ser subestimados.
Mas, considerando que a situação tinha chegado a esse ponto…
— Parece que, depois do incidente da Fortaleza Arden, aquela desgraçada se convenceu. E agora nos apresentou uma nova ‘solução’.
— Essa é a primeira vez que não quero ouvir falar de uma solução.
O comentário cínico de Dylan arrancou uma risadinha de Cinzia, mas ela continuou como se nada tivesse acontecido.
— A Federação acha que o surgimento do Ogro mutante indica uma evolução na capacidade dos Parasitas de gerar novas formas de vida.
— Posso entender isso como um aumento no número de Ninhos e o surgimento de novos tipos de Parasitas?
— A segunda parte, sim. A primeira, não.
Cinzia balançou a cabeça.
— Dylan. O tipo de ‘evolução’ de que estou falando aqui não é apenas melhorar os traços inatos de uma espécie já existente.
— Então o que é?
— É a mudança no método em si.
Dylan inclinou a cabeça, confuso.
— Os Ninhos são vistos como recursos valiosíssimos pelos Parasitas, já que até as Medusas, a chamada evolução final deles, nascem dessas coisas. Nunca se viu um Ninho num campo de batalha, e segundo dizem, não existem muitos por aí. Sabe por quê?
— Não faço ideia.
— Pois é. Ninguém sabe. Mas tudo tem um motivo. Talvez eles sofram algum tipo de perda desconhecida. Seja como for, tem algo que ainda não entendemos. Se não houvesse limitação, os Ninhos já teriam aparecido em massa e nos varrido do mapa.
— …
— Conclusão: os Ninhos não podem ser produzidos em larga escala. Mas e se a Rainha Parasita tivesse começado a pensar diferente sobre esse problema?
A voz de Cinzia ficou um pouco mais aguda até ali.
— Será mesmo que vale a pena aumentar o número de Ninhos se isso traz perdas desconhecidas?
— Hm?
— Se o assunto é gerar vida, por que não usar os corpos de outras espécies?
A expressão de Dylan congelou na hora.
— Cinzia, não tem como.
— Por que não? A capacidade de gerar vida…
Cinzia abriu um sorriso sutil e colocou a mão sobre o peito.
— Eu tenho.
Então apontou para Agnes, que estava de pé atrás dela.
— A Agnes também tem. E mesmo que não fossem humanas, o Paraíso tá praticamente lotado de fêmeas férteis. Concorda?
Dylan balançou a cabeça.
— Isso não faz sentido.
— Por que acha isso?
— A principal força de combate dos Parasitas é o exército de cadáveres. A gente sabe disso. Eles tomam um corpo e o controlam, beleza, mas ainda é um zumbi. Nada ali dentro funciona mais. E você tá dizendo que os órgãos internos continuam ativos?
— E se a pessoa for capturada ainda viva?
A recusa enérgica de Dylan parou de repente. Cinzia jogou o cigarro fora e prosseguiu em tom calmo:
— Por exemplo, sendo feita prisioneira.
— Você tá dizendo que existem prisioneiros vivos?
— Dylan, você devia parar com esse jeito relaxado de pensar. O Império, a Aliança dos Homens-Fera… o número de nações destruídas pelos Parasitas não é um ou dois. Só as espécies que viviam nesses lugares, você não conseguiria contar nem se tentasse. E bom, eu duvido muito que a Rainha Parasita seja uma idiota que não entende o conceito de fazer prisioneiros, ainda mais sendo capaz de devorar a Divindade Suprema desse mundo.
— Ainda assim, é difícil de acreditar.
Dylan agora parecia sem saída.
— Mesmo que sua suposição esteja certa, ainda é preciso…
— É melhor abandonar também a ideia de que os prisioneiros seriam apenas mulheres.
A fala de Cinzia quase escorregou para o tom de escárnio. Dylan agora parecia não ter mais argumentos.
— Então…
Capturar homens e mulheres vivos, infectá-los com Parasitas, transformar os órgãos internos da forma que quisessem. E então…
— Extrair todo o sêmen do homem até ele morrer, e quanto às mulheres, engravidá-las repetidamente até que deem à luz… Puts, só de imaginar já dá arrepios. Essa crise é muito pior do que qualquer um imagina.
— Exato. Acho que é hora de chegar ao ponto da minha visita.
Cinzia descruzou as pernas e se inclinou para a frente.
— A Federação nos forneceu essas informações. A solução que a Rainha Parasita criou desta vez não é um único Ogro mutante. Não. São os Orcs mutantes.
— Orcs mutantes?
— Isso. Diferente dos Ogros, a raça dos Orcs pode ser produzida em massa. Quando nasce uma ninhada, são vários de uma vez, e a carga sobre o ‘corpo materno’ é mínima. E além disso, eles conseguem se tornar uma força de combate viável bem rápido.
— Mas que diabos é isso agora?
— Presta atenção. O exército Parasita que tomou a Fortaleza Tigol escolheu não avançar. Em vez disso, resolveu ficar onde está e esperar. Mais do que isso, redirecionaram parte das forças para as regiões que fazem fronteira com os humanos. Mas ainda não invadiram. O que isso significa?
— …Merda.
Dylan fechou os olhos com força.
— A Federação acredita que o inimigo já possui a capacidade de produção em massa. Se a gente ficar parado, sem fazer nada, logo veremos uma enxurrada de Orcs mutantes em números absurdos invadindo este território.
Reforçar as forças militares mudando o método anterior, se esse plano se concretizasse, não adiantaria nada a aliança entre a Federação e a humanidade. Na verdade, seria o fim de qualquer esperança.
— E mais uma coisa. As instalações de produção em massa dos soldados estão todas distribuídas de forma uniforme ao redor das nossas fronteiras. Então, agora… consegue adivinhar o que quero dizer com isso?
Resumindo: eles produziriam em massa Orcs mutantes descartáveis e os usariam para invadir os humanos, enquanto a força principal dos Parasitas focaria na Federação. Foi nesse momento que Dylan entendeu o propósito da visita de Cinzia.
— Então, o que os sete reinos decidiram fazer?
— Já começaram a agir. Haramark não é exceção. Precisamos destruir uma dessas instalações.
— E o exército?
— Eu disse antes, não disse? Os Parasitas realocaram parte de suas tropas principais para várias regiões próximas à nossa. No momento em que o exército de Haramark fizer qualquer movimento, vai ser devorado num piscar de olhos.
— Então qual é a conclusão?
— Selecionar Terrestres habilidosos, formar um pequeno esquadrão de elite e infiltrar o campo inimigo. Só isso.
Dylan esfregou o rosto.
— Droga. Um dia desses, queria participar de uma missão que não fosse uma sentença de morte.
— Hehe. Tô no mesmo barco. De qualquer forma. Como essa questão exige urgência, Agnes foi escolhida como a líder. E da família real, o velhote e a Rosada Tarada vão participar. Também…
Dylan, que ouvia em silêncio até então, abriu a boca:
— Por acaso… o Hugo pode participar também?
— Hugo?
— Pensei que seria bom ter um Guerreiro com quem eu esteja em sintonia.
— Bom… no nível do Hugo, deve dar conta. Faça como quiser.
Cinzia deu de ombros.
— Ah, e também…
Dylan finalmente ergueu a xícara fria de chá novamente e fez outra pergunta:
— Onde fica essa instalação?
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.