Capítulo 135: Eu Não Quero Viver Assim (6/10)
— E bem, de algum modo conseguiram evitar as patrulhas e se aproximar do alvo, mas…
Cinzia finalmente concluiu sua longa explicação e deu uma tragada profunda em seu cigarro, olhando para Agnes na cama.
— Resumindo: a missão foi um fracasso retumbante. Só duas pessoas conseguiram voltar. Foi isso que aconteceu.
Seol Jihu ainda tinha esperanças. Os rostos de Dylan, Hugo e Teresa Hussey surgiram em sua mente. Sentiu o coração despencar no peito e perguntou com hesitação:
— Isso quer dizer que…
— Ainda não podemos chegar a essa conclusão.
Ian interveio naquele momento.
— Eu vi com meus próprios olhos. Havia Orcs mutantes circulando. Isso significa que o inimigo realmente possui uma instalação de produção em massa…
Ian deixou a frase morrer, mas Seol Jihu não precisava ouvir o restante para entender.
— Eles podem estar sendo mantidos como prisioneiros.
— …Não posso afirmar com certeza, mas parece ser esse o caso.
Ian formou uma expressão amarga.
A equipe de expedição estava próxima do destino, mas foi descoberta durante a infiltração e teve que lutar para sair do cerco inimigo, com forças vindas de todos os lados. O único motivo pelo qual Ian conseguiu voltar vivo foi graças a Agnes. Se não fosse pela luta desesperada dela, nenhum dos dois teria conseguido romper o cerco nem despistar os perseguidores.
Mas, no fim das contas, Agnes ainda era humana, e havia um limite para o que podia fazer. Já estavam em desvantagem esmagadora, e ela simplesmente não tinha capacidade de resgatar todos os outros quando o grupo se separou.
Depois de um breve silêncio, Seol Jihu se manifestou:
— Precisamos resgatá-los, não?
— É justamente sobre isso que estamos aqui discutindo.
Ian respondeu primeiro.
— Mesmo deixando a missão de lado, é claro que queremos dar um jeito de resgatá-los.
— Mas então, por que…
— Mas como?
A cabeça de Ian baixou, enquanto seu rosto se nublava com uma expressão indescritível.
— Montamos o melhor time possível em Haramark, e mesmo assim falhamos. Agora que fomos descobertos, a segurança deve estar ainda mais rígida. A menos que a gente arrisque uma aniquilação total com um ataque frontal, estimamos que as chances de resgate sejam quase nulas.
E mesmo o ataque frontal era problemático. A diferença entre atacar e defender era tão grande quanto céu e terra.
Desde o início da invasão, os humanos nunca tomaram a iniciativa de atacar. Já tinham dificuldades suficientes apenas tentando se defender. Agora, iriam atacar o acampamento inimigo? Não sabiam nem se o ataque realmente aconteceria, e mesmo que acontecesse, seria quase o mesmo que se atirar direto nas presas do tigre.
— E quanto a cooperar com a Federação?
— Já pensamos nisso. Foram eles que nos passaram a informação, então com certeza devem estar operando seus próprios esquadrões de infiltração, mas…
Ian ficou um tempo pensativo, antes de balançar a cabeça.
— Eles provavelmente já sofreram perdas tremendas tentando se defender até agora. E mais importante: considerando que precisaram abandonar a Fortaleza Tigol, devemos assumir que a situação da Federação também está péssima.
Seol Jihu cerrou os punhos, inconscientemente.
A esse ponto… Será que a diferença de forças era mesmo tão grande? Será que tudo o que podia fazer era ficar parado assistindo, impotente?
— Essa história de “entre a cruz e a espada” nunca fez tanto sentido na minha vida. Continuamos tentando encontrar um caminho, mas não conseguimos enxergar uma saída.
“O que eu deveria fazer?” Seol Jihu vasculhou desesperadamente suas memórias. Infelizmente, não havia como lembrar do conteúdo de um sonho tão antigo.
“Eu devia ter anotado tudo assim que acordei.”
— Se ao menos alguém como Sung Shihyun ainda estivesse por aqui…
O desânimo tomou a voz de Ian, que lamentou sem energia.
Foi então que Seol Jihu abriu a boca novamente.
— Onde?
— Hm?
— Essa instalação. Onde ela fica?
Ian não respondeu de imediato. Primeiro, olhou para Chohong em busca de uma reação. Mas, apesar de parecer bem contrariada, ela não disse nada. Só estalou a língua e desviou o olhar. Ian entendeu o que se passava na cabeça dela e falou com cautela:
— Seol, preciso enfatizar que essa é uma questão em que você não pode se envolver. Não é possível. E não deve ser.
— Mestre Ian.
— Por favor, não me entenda mal. Não estou subestimando suas capacidades. Mas tanto o evento da Floresta da Negação quanto a defesa da Fortaleza Arden foram brincadeira de criança comparados a isso. Não — mais importante ainda, essa situação pode ser o ponto de virada que definirá o rumo da história daqui em diante.
— Ainda assim, você pode me dizer a localização, não pode?
Ian umedeceu os lábios. Levou um tempo refletindo, até que…
— …Bom, se for só a localização.
Disse com uma expressão impotente.
— Fica no Ducado de Delphinion.
E, naquele momento…
— É o laboratório real.
…os olhos de Seol Jihu brilharam.
Chohong não voltou imediatamente ao escritório da Carpe Diem. Na verdade, seria mais correto dizer que ela não conseguiu voltar.
Seol Jihu se virou, em transe, e foi embora assim que as explicações chegaram ao fim. Nem sequer sugeriu que voltassem juntos. Na verdade, ele não disse nada. Chohong sentiu o peso da presença dele se afastando em silêncio, como uma pressão pesada crescendo pelas costas.
— Maldição.
Chohong ficou andando de um lado para o outro nos arredores do escritório por um bom tempo, até finalmente subir os degraus ao lado do prédio a passos largos.
Ela respirou fundo e escancarou a porta, apenas para encontrar Seol Jihu já pronto para partir. Ela ficou parada ali, encarando-o sem reação enquanto ele organizava a mochila com movimentos meticulosos.
— Você…
— …
— Ei, você. O que você tá fazendo?
— Tenho um lugar pra onde preciso ir.
Seol Jihu respondeu sem sequer se virar. Chohong quase pulou de susto, mas logo soltou uma risada nervosa.
— Não é aquilo, né?
— Aquilo o quê?
— Você tá bravo e quer me mostrar isso, é isso? Tá bom, tá bom. Entendi. Ei, vamos nos acalmar e sentar pra conversar como adultos. Certo? Vamos conversar um pouco, hã?
Seol Jihu soltou um riso sarcástico.
— Do que você tá falando? Acha que eu entraria sozinho no acampamento inimigo?
Se não fosse isso, seria mesmo um grande alívio. Ainda assim, o rosto de Chohong estava tomado por uma mistura confusa de emoções. Mas Seol Jihu ignorou completamente, jogou a mochila no ombro e, por fim, pegou sua lança. Ninguém se vestiria daquele jeito a menos que estivesse prestes a sair da cidade por um bom tempo.
— E pra onde é que você pensa em ir, então?
— Não precisa se preocupar com isso.
— O quê?
— Eu vou resolver isso sozinho. Quero fazer isso com a minha própria força, entende?
Seol Jihu passou direto por Chohong. Ela fechou os olhos com força e agarrou rapidamente o braço dele.
— Você vai mesmo agir assim?
— Agir como?
— Ei, seu!! Tá bom, espera. Tudo bem. Me desculpa por não ter te contado nada, mas…
— Não, não é isso — Seol Jihu parou de repente e respondeu secamente. — Você me contou sim, alguma coisa. O problema é que você mentiu, só isso.
Chohong hesitou. Os olhos dele estavam tão frios e duros quanto o ar que enchia o escritório. Ela rangeu os dentes e gritou.
— M-Mas você também fez isso!!
— …
— Eu sei que te preocupei, mas até você…!!
— Pelo menos eu avisei antes, não avisei?
Ele cortou suas palavras como uma lâmina afiada.
— E além disso, eu nunca menti pra você.
O rosto de Chohong foi empalidecendo aos poucos. Seol Jihu soltou o braço dela e saiu pela porta.
— O-Onde você vai?!
Ele desceu os degraus em silêncio.
— Ei, Seol!! Seeeeeol!!
A voz suplicante dela ecoou no ar, mas a figura dele logo desapareceu de sua vista.
Seol Jihu subiu numa carruagem. O cocheiro hesitou no começo ao ouvir o pedido: chegar ao destino o mais rápido possível e esperar até que o jovem terminasse o que precisava fazer por lá. Mas assim que uma moeda de prata foi apresentada, o brilho nos olhos do cocheiro mudou na hora. A distância não era tão longa, e aparentemente não havia razão boa o bastante para recusar.
Graças a isso, Seol Jihu conseguiu reduzir pelo menos oito horas de viagem, mas já era madrugada quando chegou à Vila Ramman. Ainda assim, cada segundo contava, então ele correu como se quisesse voar e bateu na porta de uma certa casa familiar com força.
— Chefe da vila! Chefe da vila!
Foi como um raio caindo do nada. O chefe da vila havia passado o dia inteiro tentando decifrar aquele enigma e só conseguiu adormecer há pouco. Agora, acordado bruscamente por aquele barulho, abriu a porta às pressas, assustado. Ao ver quem estava ali, sua expressão ficou primeiro abobalhada, depois rapidamente se transformou em irritação.
— Rapaz, onde foi que você esqueceu seus modos dessa vez?!
— Chefe da vila…
— Poupe-me! Você tem ideia de que horas são?!
— Eu, uh, sinto muito.
Seol Jihu se curvou rapidamente e pediu desculpas.
— Mas…
Ele não conseguiu terminar a frase. O chefe da vila logo percebeu a urgência no jovem e acalmou parte da sua irritação.
— …Parece que você está com um probleminha.
— Sim, o senhor está certo.
— E veio cobrar a dívida, acertei?
— Mais do que isso… Eu realmente preciso da sua ajuda, chefe da vila.
O velho arqueou uma das sobrancelhas. O jovem à sua frente era um Terrestre que havia descoberto sua verdadeira identidade. Comparado ao jeito calmo com que havia analisado cada ponto naquela ocasião, agora sua postura parecia bem diferente. Era evidente que ele tinha seus motivos.
— Entre. E, por favor, eu lhe imploro. Abaixe a voz.
— Entendi. Muito obrigado.
— Sente-se aqui. E respire fundo. Agora, explique com detalhes o que aconteceu. Mesmo que o problema seja urgente, tentar resolvê-lo às pressas nunca leva a uma boa resposta.
Seol Jihu se acomodou na cadeira que o chefe da vila indicou. Controlou a respiração pesada e começou a explicar tudo o que havia acontecido.
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