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    — Que plano idiota.

    Essas foram as primeiras palavras murmuradas pelo chefe da vila após ouvir a explicação.

    — Vamos deixar de lado o fato de não poder mobilizar o exército por um instante. Mesmo assim, infiltrar-se às cegas com apenas um pequeno grupo de elite para destruir a instalação deles? Se disser que não subestimaram os Parasitas, então só posso dizer que seus amigos são um bando de tolos estúpidos.

    A crítica dele foi brutal, para dizer o mínimo.

    — Fazer reconhecimento adequado antes é essencial se quiser ter sucesso em uma infiltração. Mas eles se jogaram nisso sem nenhuma informação. Era óbvio que iriam falhar. Tsc, tsc.

    Seol Jihu estava prestes a retrucar alto, mas teve que conter a raiva. Afinal, o velho não havia dito nenhuma mentira.

    — Bem, ainda assim… o surgimento desses Orcs mutantes é realmente uma surpresa desagradável. Dá pra entender, até certo ponto, por que seu pessoal tomou a decisão errada na pressa.

    Hmm.

    O velho pigarreou para limpar a garganta e continuou.

    — De todo modo, imagino que o motivo da sua visita seja o meu rudium, certo?

    — Sim.

    Seol Jihu respondeu com urgência.

    — Eu lhe imploro. Sei que é um tesouro valioso, mas…

    — Não é, não.

    — …Perdão?

    — Se estivermos falando do minério bruto, sim. Mas esse material já foi processado para virar rudium, então não tem mais valor. E com o meu Ninho experimental destruído, ele não serve pra mais nada.

    Seol Jihu piscou, confuso.

    — O que estou dizendo é: pode ficar com o rudium.

    — Muito obrigado!

    Seol Jihu rapidamente curvou-se em agradecimento.

    — Bem, pense nisso como o pagamento da dívida. Mas ainda é cedo demais pra me agradecer, não acha?

    O velho então abriu um largo sorriso.

    — Certo, então. Digamos que você leve o rudium com você. O que pretende fazer depois?

    — Isso é…

    Naquele momento, Seol Jihu não soube o que responder.

    — Escute, rapaz. Já disse isso antes e repito agora. Que tal ir com mais calma?

    O velho observou o jovem com olhos experientes por um tempo antes de expressar sua conclusão.

    — Apesar de tentar parecer calmo e centrado, dá pra ver que você está fervendo por dentro.

    — Eu só…

    — Acha que eu não percebo? Rapaz, você não engana esses olhos aqui. Você finge que está bem, mas dá pra ver que está agindo com pressa e sem organização.

    Ao ouvir a palavra ‘pressa’, Seol Jihu sentiu como se levasse uma martelada na cabeça. Percebeu instantaneamente o que o chefe da vila estava tentando dizer. Fechou os olhos por um momento para se recompor.

    — Você fez bem em vir até aqui, mesmo se sentindo tão pressionado. Mas não acha que há algo mais que poderia conseguir de mim além do rudium?

    Quando o velho deu essa dica de graça, finalmente as engrenagens na cabeça de Seol Jihu começaram a girar. Isso ajudou a acalmar seus nervos.

    — Agora que mencionou… Chefe da vila, o senhor foi um Mago do Ducado de Delphinion.

    Fufufu.

    — E também trabalhou no laboratório real.

    — Trabalhei lá por muitos, muitos anos. Conheço aquele lugar como a palma da minha mão.

    O velho sorriu e se levantou da cadeira.

    — Agora nossa conversa está indo para algum lugar.

    O chefe da vila se virou para pegar a caixinha da última vez, junto com uma folha de papel relativamente grande.

    — Primeiro, vamos analisar detalhadamente a situação atual.

    O velho foi, no passado, um Mago altamente renomado. Seu corpo pode ter envelhecido, mas isso não significa que sua experiência e conhecimento tenham desaparecido da noite para o dia.

    — Você precisa considerar que não há mais nenhuma chance de se infiltrar no acampamento inimigo da forma tradicional. Aliás, talvez seja melhor dizer que nunca houve. Não existe possibilidade de os Parasitas não estarem preparados para uma situação como essa.

    A caneta do velho continuava riscando o papel enquanto ele falava.

    — De qualquer forma… a primeira operação falhou, então a segurança com certeza foi reforçada várias vezes. Portanto, a mesma tática não vai funcionar de novo. Se quiser ter sucesso, precisa atacá-los por onde menos esperam.

    — Mas… existe alguma forma de surpreendê-los assim?

    — Claro. Com esse rudium.

    O velho abriu a pequena caixa com um clique. Dentro dela havia uma pedra negra e turva do tamanho de um punho infantil.

    — Eu te disse que isso aqui é um consumível, certo?

    — Sim.

    — Originalmente, não era tão pequena. Quando fugi com ela do laboratório, era do tamanho de um pedregulho.

    Ele abriu os braços, fazendo um gesto largo.

    — Tendo isso em mente, você já se perguntou uma coisa?

    — Que coisa?

    — Olha pra mim. Sou um velho caquético. Minha força física também é bem limitada. Então, como consegui roubar um rudium gigante e escapar da segurança rígida do Império e do Ducado?

    Aquilo realmente parecia estranho. Mesmo que o projeto tivesse sido encerrado, o valor do rudium ainda deveria ser alto. Ou seja, cada unidade deveria ser fortemente vigiada. Como, então, esse velho conseguiu roubar uma?

    — A resposta certa é mágica. A magia sempre é superior a tudo.

    — Quando diz magia…?

    — Rapaz, já ouviu falar de círculo mágico de transferência?

    Os olhos de Seol Jihu se arregalaram de surpresa.

    — E se existisse uma maneira de cruzar a região de fronteira sem arriscar a vida e entrar diretamente no laboratório?

    — Algo assim é possível?

    — Bem, foi assim que eu escapei, não foi? E então? Acha que consegue atacá-los de onde menos esperam?

    Seol Jihu cerrou os punhos com força. Se o que o velho dizia fosse verdade, então…

    Enquanto isso, o velho finalmente terminou de escrever e falou:

    — Deixe-me explicar o que penso. Agora, olhe isso.

    A folha já estava completamente preenchida com textos e desenhos. Mesmo à primeira vista, parecia a planta baixa do laboratório.

    — O laboratório real tem dois andares subterrâneos e dois acima do solo, totalizando quatro.

    A habilidade artística do velho era impressionante. Seol Jihu expressou admiração e concentrou-se nas palavras do chefe da vila.

    — Não sou um Mago incrível capaz de usar magias como Dobra ou Teleporte, mas, quando se trata de círculos mágicos pré-instalados, a história muda completamente. Muito tempo atrás, usei uma pesquisa como desculpa para visitar Haramark e preparei um esconderijo nas profundezas das montanhas. Foi lá que instalei o círculo de transferência.

    — Se usarmos esse círculo mágico, podemos entrar no interior do laboratório.

    — Exatamente. Isso se o esconderijo e o círculo ainda estiverem intactos, claro. E, ao usar o círculo mágico de transferência…

    O velho desenhou um círculo em um ponto específico da planta.

    — Você será transferido para este espaço oculto aqui, no primeiro subsolo.

    — O primeiro?

    — Heh, sou do tipo cauteloso, sabe?

    O velho coçou o nariz.

    — Preparei dois esconderijos caso algo inesperado acontecesse. Bem, falo sobre isso depois.

    Tap, tap.

    O velho deu leves batidinhas com a ponta da caneta na planta baixa.

    — Vamos continuar. Acho que não vai haver necessidade de subir para os andares superiores.

    — Por quê?

    — Pode até ter sido um segredo aberto, mas ainda assim era um experimento secreto. Os andares acima do solo eram usados como dormitórios ou para outras funções secundárias. Os experimentos de verdade aconteciam no subsolo, entende?

    Seol Jihu assentiu com a cabeça.

    — Então você precisa vasculhar o primeiro e o segundo subsolo, mas… segundo minhas deduções, há uma boa chance de seus companheiros estarem no primeiro andar. Usávamos todo o segundo andar como área de experimentos, e o primeiro como uma espécie de curral. Em outras palavras, era usado mais como um estábulo.

    O velho continuou:

    — Um plano de operação precisa ser simples. O ideal é que consiga explicá-lo em uma única frase.

    Tap.

    Ele largou a caneta e apontou com a mão antes de traçar uma linha.

    — Transferir-se para o primeiro subsolo com o círculo mágico, usar o rudium para cumprir seu objetivo, retornar à sala secreta e escapar usando novamente o círculo de transferência. Esse é o plano, em resumo. Entendeu agora?

    Seol Jihu olhou para o chefe da vila com olhos cheios de admiração e inveja. Ele vinha se sentindo perdido e sem esperança, mas agora, parecia que seus olhos haviam se aberto e seu peito, antes sufocado, finalmente se libertava.

    — Chefe da vila… o senhor é um deus disfarçado?

    — Pare de falar bobagens.

    O nariz do velho visivelmente ficou avermelhado ao abrir a boca.

    — Bem, meu plano certamente tem mais chance de sucesso do que aquele plano idiota que você me contou. Porém…

    Ele hesitou um pouco antes de continuar:

    — É melhor eu ser direto. Existem três variáveis no meu plano com as quais você vai ter que se preocupar.

    O velho levantou três dedos e dobrou primeiro o anelar.

    — Primeiro: o estado atual do esconderijo.

    — O estado atual?

    — Não só do que fica na Cordilheira Arden, mas também do que está dentro do laboratório. Ninguém sabe como estão agora. Eu os escondi o melhor que pude, mas, bom… quem pode prever o futuro? No pior dos casos, você pode acabar se transferindo bem no meio dos malditos mutantes.

    O semblante de Seol Jihu ficou mais sério.

    — Só resta torcer para que tudo dê certo… Infelizmente, não há nada que possa ser feito quanto a isso. Se der ruim, fuja imediatamente. Entendeu?

    — Sim.

    — O segundo problema tem a ver com o próprio círculo mágico de transferência.

    O chefe da vila dobrou o dedo médio.

    — Eu não sei o nível dos Magos de Haramark. Mas o fato é que esse círculo mágico só pode ser mantido por, no máximo, 30 minutos. E pior: se o Mago perder a resistência ou a mana for cortada de propósito, o círculo se desativa automaticamente.

    — Ou seja, tudo precisa ser resolvido dentro desses 30 minutos.

    — Exato. O mais importante aqui é que, com ou sem mana, o círculo vai se fechar após 30 minutos. E vai levar 72 horas para recarregá-lo se isso acontecer. Entendeu onde quero chegar?

    — Existe alguma forma de aumentar a duração?

    A pergunta sincera de Seol Jihu fez o velho coçar o queixo.

    — Hmm, vejamos… Pode até parecer desculpa, e até me envergonho disso, mas magia de transferência é, por natureza, extremamente difícil de dominar. Mesmo no Império, quase ninguém conseguia ativá-la só com o próprio poder. A maioria dependia de círculos mágicos. Então, honestamente, não tenho confiança em estender esse tempo além de 30 minutos.

    — Bom, não tem jeito então.

    Seol Jihu apenas assentiu diante da declaração honesta do velho. Não era por falta de vontade, mas por pura limitação.

    — E, por fim, temos o próprio rudium.

    O velho dobrou o dedo indicador.

    — Os Orcs mutantes não devem ser criaturas de alto rank, então você provavelmente vai conseguir controlá-los até certo ponto.

    — Ou seja, tenho que tomar cuidado porque não vou conseguir controlar os de alto rank.

    — Isso é óbvio. Mas o que quero dizer é o seguinte: veja o rudium. Ele é pequeno demais. Claro, acho que você pode usá-lo sem problemas por cerca de 30 minutos.

    Seol Jihu inclinou a cabeça. Qual era o problema, então?

    — Por isso mesmo você vai ter que fazer uma escolha.

    O velho falou, agora com um tom mais sombrio.

    — Usar o rudium para destruir a instalação, ou usá-lo para resgatar seus companheiros. Essa é uma decisão completamente diferente da questão do tempo do círculo mágico.

    — Mas, não dá pra fazer os dois…

    — Pare de sonhar acordado. No fundo, esse problema se sobrepõe às outras duas variáveis. Um único erro e você falha nos dois objetivos.

    Correr atrás de dois coelhos ao mesmo tempo acaba fazendo você perder os dois. Escolha um, e concentre-se nele.

    — Entendi.

    — Muito bem. E então…

    O chefe da vila acrescentou mais algumas informações detalhadas e soltou um longo suspiro de cansaço.

    — Com isso, acho que fiz tudo que podia por você.

    Seol Jihu abriu a boca, mas logo a fechou. Queria expressar sua gratidão, mas a ajuda recebida dessa vez superava tanto suas expectativas que ele simplesmente não sabia por onde começar. Na verdade, nunca imaginou que as portas das possibilidades se abririam tanto apenas por ter vindo até aqui.

    Ehehe. Aposto que até você acha que isso tudo foi demais só pra pagar uma dívida, né?

    — É verdade. Agora parece que sou eu quem está te devendo.

    — E como pretende me pagar, hein?

    — O que o senhor tem em mente?

    A resposta de Seol Jihu fez o velho dar de ombros.

    — Bem… vamos pensar nisso depois. Vou tomar meu tempo.

    — Obrigado.

    — Guarde os agradecimentos pra depois.

    O velho sorriu de canto.

    — Primeiro, você precisa voltar vivo pra me pagar. Então, trate de não morrer.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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