Índice de Capítulo

    Seol Jihu deixou a casa do chefe da vila e subiu direto na carruagem que o esperava. No caminho até lá, ele estivera tenso, apressado, cheio de preocupação. Mas agora, na viagem de volta, sentia-se um pouco mais calmo, mais centrado, provavelmente graças ao chefe da vila.

    Com a mente mais tranquila, a primeira pessoa em quem pensou foi Chohong. E, junto disso, veio uma onda de culpa.

    Para ser sincero, ele não chegou a sentir que fora traído pelas ações dela. Pelo menos, não a esse ponto. Ele meio que conseguia imaginar por que Chohong tentou mentir daquele jeito.

    Mas, quando ouviu a verdade, ele ficou realmente irritado com ela. Seria justo dizer que foi por ter se sentido ferido e decepcionado? Ele não tinha certeza, mas… enfim, era algo nesse sentido. A emoção que sentira na hora não era algo que conseguisse descrever com clareza em palavras.

    “Tenho certeza de que a Chohong também estava sob muita pressão.”

    De qualquer forma, agora que pensava com mais clareza, percebia que sua atitude não havia sido das melhores. Ele errou. O que será que passou pela cabeça dela ao ouvir que o destino de seus antigos companheiros de batalha era completamente desconhecido? Ele com certeza devia ter sido mais compreensivo com a situação dela.

    “Será que eu peguei pesado…?”

    …Preciso voltar, pelo menos por enquanto. Foi o que Seol Jihu decidiu, segurando com firmeza os itens que o chefe da vila havia lhe dado.


    O sol da manhã já brilhava intensamente no céu quando ele chegou a Haramark. Seol Jihu pagou o restante ao cocheiro e correu com todas as forças de volta ao prédio do escritório. Estava exausto, não havia dormido nem por um instante, mas a vontade de mostrar a ela o resultado do que havia conseguido era maior.

    Subiu as escadas num impulso e escancarou a porta do terceiro andar. Deu de cara com Chohong. Ela andava de um lado para o outro no cômodo, mas seus passos pararam naquele instante. O rosto tomado pela ansiedade se contorceu de imediato.

    Inesperadamente, ela não disse nada logo de cara. E ele jurava que ela começaria a gritar com ele assim que o visse. Mas, ao vê-la em silêncio, apenas olhando para ele, Seol Jihu começou a se sentir cada vez mais desconfortável só de ficar parado ali. Presos naquele silêncio estranho, os dois apenas se encaravam, imóveis.

    Quem quebrou o impasse foi Chohong.

    — …Onde você estava?

    A voz dela era baixa, contida, como se estivesse engolindo um monte de coisa ao mesmo tempo. Parecia até um pouco irritada também. Seol Jihu fechou a porta atrás de si e entrou com cuidado.

    — Você estava me esperando?

    — Isso mesmo. Esperei por você, seu idiota de merda.

    A voz de Chohong ficou mais áspera. Na verdade, tremia visivelmente. Era óbvio que ela estava tentando ao máximo conter o impulso de gritar.

    — Agora tá feliz por ter feito a mesma coisa comigo?!

    — Mesma coisa o quê?

    — Você fez isso só pra se vingar, não foi?! Seu cabeça de peixe, mesquinho, estúpido!!

    Ela finalmente explodiu. Seol Jihu fez bico em resposta.

    — Se é isso que você acha… fico um pouco decepcionado.

    — Decepcionado?! Você disse que tá decepcionado?!?! Você… como é que você…

    — Me desculpa.

    Seol Jihu não disse mais nada. Apenas juntou as mãos e se curvou em um pedido sincero de desculpas.

    Keuhk!

    Chohong engasgou com um som abafado e se virou de costas. Respirou fundo por alguns instantes antes de limpar o canto dos olhos com os punhos cerrados. Dessa vez, foi Seol Jihu quem se surpreendeu.

    — O que é isso? Você tá chorando? Essa é mesmo a Chohong que eu conheço?

    — Quem tá chorando?! Me solta! Seu filho da puta fedido!

    Seol Jihu tentou abraçá-la com delicadeza, mas ela girou os ombros e afastou as mãos dele com um tapa. Ainda assim, não havia força nenhuma naquela resistência.

    — Desculpa. De verdade.

    — Droga. Acha que eu gostei de mentir pra você? Você não faz ideia do que eu passei.

    — É verdade. Fui mesmo um idiota mesquinho.

    Seol Jihu continuou pedindo desculpas.

    — E, e você também, seu idiota. Para com isso. Você vive rindo, todo alegre, mas aí do nada fica sério daquele jeito… faz ideia de como isso me assustou?

    Chohong despejou toda a frustração e mágoa como uma represa rompendo de vez.

    — Eu sei. Eu sei. Não vou mais fazer isso de novo.

    — Idiota. Seu bastardo fedorento. Você nem sabia o que eu tava passando.

    U~ tsutsutsu~, minha bebê. Minha bebê tava muito machucada por dentro, né~?

    — Para de palhaçada. Ou eu vou te arrebentar de verdade.

    — T-Tá bom, tá bom. Vamos sentar primeiro. A gente conversa com calma.

    Seol Jihu precisou de bastante esforço para acalmá-la. Chohong encostou a cabeça no peito dele e fungou de leve de vez em quando. Mas não chorou de verdade. Apenas os olhos ficaram um pouco vermelhos.

    Ela podia parecer uma mulher feita de puro aço, mas no fim das contas, ainda era um ser humano. Uma mulher. E vinha sofrendo uma pressão imensa nos últimos dias. Quando Seol Jihu a fez se preocupar daquele jeito, ela finalmente parou de reprimir tudo e deixou que transbordasse.

    — Tá, então.

    Algum tempo depois, Chohong levantou o olhar para ele de forma sutil.

    — Onde você foi?

    — Vila Ramman.

    — Por que lá?

    — Antes de responder isso, quero perguntar uma coisa.

    Chohong hesitou, mas assentiu com a cabeça. Já que tinha chegado a esse ponto, parecia desnecessário continuar escondendo as coisas.

    — O que vocês decidiram fazer?

    — A gente ia… ter outra reunião hoje.

    — Pra discutir a estratégia? Que horas?

    — Provavelmente já começou, seu idiota. Por sua causa, eu nem fui. Virou uma bagunça.

    — Bom, então. Melhor irmos, mesmo que atrasados.

    — É… acho que você tem razão, mas…

    Chohong deixou a frase morrer no ar, antes de continuar.

    — Sei lá. Eu só não sei mais o que dá pra fazer. A gente se reúne, conversa e conversa todo dia, mas o resultado sempre é o mesmo. Queremos resgatá-los, mas não sabemos como.

    Como essa era uma história com a qual ele podia simpatizar, Seol Jihu acenou com a cabeça de forma um tanto exagerada.

    — Você não devia ter guardado tudo pra si, sabia? Numa hora dessas, devia ter vindo pedir ajuda pro seu oppa aqui.

    — Oppa uma ova.

    Chohong deu uma risadinha com a brincadeira leve de Seol Jihu.

    — Tá bom. Já que tocou no assunto, me diz uma coisa. Você tem um plano, então?

    — Claro que tenho.

    Ele respondeu na hora.

    — …O quê?

    Chohong o encarou, atônita. Enquanto isso, Seol Jihu se levantou do sofá.

    — H-hei…? O que você acabou de…

    Kiik…

    Ele abriu a porta, deixando a luz do sol invadir o ambiente e formar um halo ao redor de seu corpo. Voltou-se para olhar Chohong, que ainda estava sentada no sofá, e abriu um sorriso radiante.

    — Vamos lá resgatá-los.

    Um pequeno gesto, um grande impacto.

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